JESUS CRISTO É O NOSSO PERDÃO
Geraldo Barboza de Carvalho
"Jesus Cristo é nossa vítima de expiação, nosso perdão" 1Jo 2,2. O que significa expiar, perdoar?
O perdão mana da natureza de Deus que é amor e ama perdoar. O povo de Israel experimentou o amor de Javé: "Javé se afeiçoou de vós e vos escolheu, não por serdes o mais numeroso de todos os povos: ao contrário, sois o menor dentre os povos; mas, por amor a vós, pra manter a promessa que jurou aos vossos pais. Por isto, Ele vos fez sair com mão forte da servidão no Egito",e o perdão do seu Deus e Pai: "Javé, Javé! Deus de compaixão e clemência, lento pra cólera e cheio de amor
e fidelidade. Ele não vai disputar perpetuamente, seu rancor não dura para sempre. Javé não nos trata conforme nossos erros nem nos devolve segundo nossas culpas. Como um pai é compassivo com seus filhos, Javé é compassivo com os que crêem nele; porque ele conhece a nossa estrutura,
lembra-se do pó que somos nós. Ele guarda o seu amor a milhares, tolera a falta, a transgressão, o pecado, mas não deixa alguém impune, castiga os pais nos filhos até a terceira geração, mas age por amor até a milésima geração (desproporção entre a duração da culpa e a largueza do perdão: terceira x milésima geração). Abandone o ímpio os seus pensamentos maus e o seu mau caminho
e volte para Javé, pois terá compaixão dele, para o nosso Deus, que é rico em perdão. Por acaso tenho eu prazer com a morte do ímpio? Porventura, não alcançará ele a vida se converter-se dos seus maus caminhos e formar um coração novo e um espírito novo"? Ex 34,6-7; Dt 5,9; 7,6; Sl 102 (103) 8-14; Is 55,7; Ez 18,23.31. Amor é ternura, aconchego, proteção, paz. Perdão é amor sofrido,
compassivo, que compartilha a dor, a desgraça do amado. Perdão é amor que resgata o amado da escravidão e lhe restitui a liberdade. Perdoar é limpar, expiar a falta e a culpa e restaurar a vida do amado da ameaça de morte. Na antiga aliança, o perdão de Deus era dado ano a ano no Dia do Perdão, o Yomkipur, num ritual de expiação. Mas o efeito do perdão não era mágico: da parte de
Deus, pecado e culpa eram expiados, mas o povo precisava mudar de vida pra o perdão ter efeito
na vida do povo. Como o povo não se convertia, pois continuava a praticar más ações, todo ano se repetia o ritual da expiação sobre um bode. O bode expiatório era ritualmente carregado com os
pecados do povo, levado para o deserto da Judéia, onde morria de fome e sede, matando consigo os pecados do povo. Este ritual se repetia ano a ano porque não apagava por completo o pecado
do povo, que continuava devedor diante de Javé (Hb). Com o tempo, o Yomkipur tornou-se ritual
vazio, de desagrado, não de desagravo a Javé: o povo pedia perdão, Javé perdoava, mas o povo não se convertia. Javé estava furioso com o povo e repelia seus rituais. "Que me importam vossos
inúmeros sacrifícios. Estou farto da gordura de bezerros cevados e holocaustos de carneiro. Neles não tenho prazer. Basta de trazer-me vãs oferendas: elas são para mim um incenso abominável. Quando estendeis as vossas mãos, desvio de vós os meus olhos; ainda que multipliqueis a oração, não vos ouvirei. Vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos: tirai da minha vista vossas más ações. Cessai de praticar o mal, aprendei a fazer o bem. A penitência que me agrada é romperes os grilhões da iniqüidade, repartires o teu pão com o faminto, acolheres na tua casa os pobres desabrigados, vestires quem vês nu, não te esconderes daquele que é tua carne. Se fizeres isto, tua luz romperá como a aurora, a cura das tuas feridas se operará rapidamente, tua justiça irá à tua frente e a glória de Javé irá na tua retaguarda. Então clamarás e ele responderá: mesmo que teus pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão alvos como a neve" Is 1,11-18; 58,6-8. A essência humana é amar, fazer o bem. O pecado mina a identidade de quem peca, ofende Deus e rompe os laços com os irmãos. Pra restituir ao ser humano a identidade corrompida, Deus prometeu anistiar as injúrias do povo rebelde, dando-lhe chance de voltar ao caminho do bem, da vida ética. Perdão
exige mudança de vida. Sem isto, é apenas ritual vazio que ofende o Deus santo que ama perdoar. Ninguém engana Deus, pois "Ele vê, não como o homem, tomando em consideração a aparência, mas ele olha o coração, conhece os segredos do coração" 1 Sm 16,7. O povo abusa da bondade de Javé, sua rebeldia dá canseira em Javé, mas ele não desiste, porque o amor é incansável, seu ofício é amar até "o inóspito, o áspero; amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas e nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão" Carlos Drummond de Andrade/Amar. O amor teimoso de Deus chama-se compaixão, misericórdia, perdão incondicional. "Tu te compadeces de todos, pois tudo podes, fechas os olhos diante dos pecados do teu povo, para que se arrependa. Sim, amas tudo que criaste, não te aborreces com nada do que fizeste; se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito" Sb 11,23-24. O perdão é a expressão máxima do amor misericordioso de Deus.
Quando a iniqüidade desafiou todos os limites da tolerância divina, Deus disse basta: pôs fim ao reino do príncipe do mundo da morte, Satanás, entronizando o único rei do universo, Jesus Cristo, Rei, Sacerdote e Profeta, a Testemunha fiel do Pai. Para terminar a série infinda de rituais que não perdoavam pecados de verdade, pois precisavam ser repetidos ano a ano, Jesus fez-se homem, o Cordeiro de Deus em substituição ao bode expiatório. Como o bode expiatório, o Cordeiro Divino toma sobre si o peso da fragilidade humana: o pecado do mundo e os pecados pessoais, as dores e desgraças humanas. Não ritualmente, mas de verdade, ele se faz maldição, no lugar dos malditos, homem das dores. "Seu aspecto era tão desfigurado que sua forma não parecia de homem, mas de verme esmagado. Ele não tinha formosura que pudesse nos deleitar ou esplendor que pudesse atrair o nosso olhar. Homem da dor, eram nossas enfermidades que ele levava sobre si e as nossas
dores que ele carregava" Is 52,14; 53,2-4; Sl (21) 22,7. Na condição de vítima expiatória do pecado do mundo (pecados alheios, pois ele é o Santo de Deus e pecado algum há nele), o corpo inteiro de Jesus era uma ferida aberta, a imagem pavorosa do mal. Feito pecado, maldição, carregava no seu corpo, voluntariamente, o pecado do mundo, destruindo-o, uma vez por todas, quando morre na cruz, pondo fim à serie interminável de sacrifícios de animais. No corpo do Cordeiro Santo, ser humano algum deve mais nada a Deus. No corpo do Cordeiro imolado, todo pecado e toda culpa expiraram. Jesus deu a senha de qual seria o seu sacrifício: "dar a vida em resgate por muitos, pela
multidão que não se podia contar, de todas as nações, povos, línguas, que lavaram as vestes (sujas do pecador) e as alvejaram no sangue do Cordeiro"(identidade de nova criatura) Mt 20,28; Ap 7,9. 14. O pecado do mundo (amálgama patológico impessoal dos pecados pessoais, configurados em instituições econômicas, políticas e religiosas corrutas) é a dívida insolúvel da multidão com Deus. Dívida impagável, que condena o pecador à morte eterna prevista na Lei. Para tirar a multidão do impasse da condenação eterna, "para remir-nos da maldição da Lei, Jesus se fez maldição por nós.
Aquele que não conheceu o pecado Deus o fez pecado por nós, para que, por meio dele, tornemo-nos justiça, santidade de Deus. Enviando o próprio Filho num corpo de carne semelhante à carne do pecado e em vista do pecado, Deus condenou o pecado na carne, para que o preceito da Lei se cumprisse no corpo crucificado do Cordeiro. Pregado na cruz, ele levou nossos pecados no próprio corpo, para que, mortos para nossos pecados, vivêssemos para a justiça. Fui crucificado junto com Jesus. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou livremente" Gl 3, 13; Rm 8,3; 2 Cor 5,21; 1 Pd 2,24. Em Jesus crucificado, a obra salvífica está consumada, concluída, o pecado do mundo e os pessoais estão perdoados, da parte de Deus: Não há mais dívida e culpa diante dele, pois o Cordeiro as anulou todas na sua morte na cruz. "Não há mais condenação para aqueles que
estão em Cristo Jesus (crucificados com ele, última e única vítima de expiação à altura da ofensa a Deus). Condenando o pecado no próprio corpo, Jesus consuma a salvação. "Tudo está consumado. Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito. E dando grande grito, Jesus expirou". Mas, do nosso lado, a salvação está incompleta: cada um precisa assumir na fé o perdão que está em Jesus Crucificado, incorporar a vida nova que está no Cristo Ressuscitado e viver como nova criatura a liberdade dos
filhos de Deus, praticando os valores éticos, as boas obras. "Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em nossos delitos, juntamente com Cristo nos vivificou, ressuscitou e nos fez assentar nos céus no Cristo Jesus, para mostrar a riqueza extraordinária da sua graça, nos tempos vindouros, por sua bondade conosco, no Cristo Jesus. Pela graça fostes salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, mas é dom de Deus: não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho. Pois somos criaturas suas, criados no Cristo Jesus para as boas obras que ele já antes tinha preparado pra que nelas andássemos" Rm 8,1-4; Ef 2,10. A velha criatura está crucificada com Jesus. A nova criatura é criada no Cristo ressuscitado. A velha criatura andava nas obras más. A nova criatura pratica o direito e a justiça, anda nas boas obras da fé.
Portanto, tem mão dupla o perdão de Deus que está no Corpo do Cordeiro imolado. Duas faces complementares e inseparáveis, opostas, não contraditórias, de uma única realidade, próprias dos eventos salvíficos. Coube a Deus pagar nossa dívida ética com a morte do seu Filho no nosso lugar, seguido da sua ressurreição juntamente com toda a carne (fragilidade criatural) que ele assumiu na encarnação. Cabe-nos assumir pela fé o perdão e viver como novas criaturas. Crer no perdão é
renunciar aos pecados mortos com Jesus na cruz e viver com ética na contramão do mundo. É o único sacrifício que Deus exige de quem crê. Esta oposição dialética perpassa toda a Escritura e constitui a mais vasta inclusão, do Gênese ao Apocalipse: descer-subir, luz-trevas, bem-mal, graça-pecado, vida-morte, velha e nova criatura. Já na condição infralapsária, Deus propôs a de Adão e Eva "comer os frutos de todas as árvores do Paraíso, menos da árvore do conhecimento do bem e do mal". Se o homem e a mulher observassem o mandamento do Criador, viveriam em harmonia com ele e a criação. O limite a respeitar significa a condição criatural. Ultrapassá-lo, pretender ser como Deus, desvelar o segredo do bem e do mal é perder a identidade. Pois "o ser humano não pode ver Deus e continuar vivo". Cabia a Adão e Eva estar cônscios desses limites e viverem felizes na companhia e proteção de Deus e no respeito aos irmãos. Mas, a serpente da inveja zumbiu nos ouvidos de Adão e Eva: esta história está mal contada. ??Deus sabe que no dia em que comerdes o fruto proibido, vossos olhos se abrirão e sereis como deuses, versados no bem e no mal". Adão e Eva julgaram ter sacado o segredo da proibição de Deus e caíram na cilada da Serpente, tornando-se adversários de Deus. Passaram a esconder-se dele, "com vergonha porque estavam nus" (da identidade criatural). Esconde-se de Deus quem anda no caminho do mal, pratica as obras más. "A luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas obras eram más. Pois, quem faz o mal odeia a luz e não vem pra a luz, pra que suas obras não sejam demonstradas como culpáveis. Mas, quem pratica a verdade (faz o bem) vem para a luz, pra que se manifeste que suas obras são feitas em Deus" Jo 3,19-20. As boas obras, obras éticas são lugares teologais: quem as pratica o faz em Nome de Jesus e vive na intimidade, na presença de Deus, edificando o seu Reino e nosso. "Deus é amor. Quem ama está em Deus e Deus nele" 1 Jo 4,16. Deus é misericordioso. Quem é misericordioso está em Deus e Deus nele. Deus é bom. Quem faz o bem está em Deus e Deus nele. As más obras são lugares diabólicos, morada de Satanás. Quem as pratica é aliado e está edificando o reino Satanás, aumentando o pecado do mundo, onde as coisas más acontecem.
Longe de Deus, Adão e Eva levaram vida sem rumo nem critério, sem paz. Mas o Autor da vida não se dá por vencido, promete restaurar o convívio com eles, pondo a descendência da mulher e a da Serpente em conflito aberto. A descendência da mulher são os que crêem em Jesus Cristo e vivem eticamente. Estes optaram por viver unidos a Deus e amando os irmãos: são os resgatados pelo Cordeiro imolado, que acolheram o perdão dos pecados na prática do direito e da justiça. Os descendentes da Serpente são os invejosos, que optaram concorrer com Deus, praticar a injustiça e a mentira. A obra do Cordeiro Santo consiste, pois, em reparar os estragos feitos na criação pela ousadia da serpente, a insensatez da liberdade humana sem critério ético de escolha. Pra resgatar a criação corrompida, o Criador assume livremente a condição criatural, frágil, pecadora para, no
corpo de Jesus, implodir o pecado do mundo e os pessoais, uma vez por todas. O Cordeiro traz no seu corpo imolado a ignomínia do pecado e o perdão: o pecado, para destruí-lo por sua morte de cruz; o perdão, para comunicar a vida plena presente no Cristo ressuscitado. "Se Jesus morreu por todos, todos morremos com ele. Ele morreu por todos, a fim de que aqueles que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles" 2 Cor 5,14-15. O perdão que é Jesus incorpora todas as oposições acima, pois ele encerra, inseparavelmente unidas, a morte e a vida. "Jesus Cristo é nosso perdão, nossa Páscoa, a vítima de expiação por nossos pecados e pelos do mundo inteiro. Ele é o Salvador do mundo" Jo 4,42; 1Jo 2,2; 1Cor 5,9. Nele, fazemos o êxodo da escravidão para a liberdade, da morte para a vida, como Javé fez com o povo hebreu no Egito. "Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi seu clamor por causa dos seus opressores, pois conheço suas angústias. Por isto, desci, para libertá-lo da escravidão, e fazê-lo subir para uma terra vasta e boa, terra que mana leite e mel" Ex 3,7-10. Antes de Jesus, Javé vai até a escravidão do povo e o fez subir para a liberdade em Canaã. Jesus faz o mesmo roteiro: desce do céu, assume a condição de servo, liberta o povo da escravidão do pecado e o leva consigo de volta pra Casa do Pai, onde viverá com ele a vida plena da Família divina. Jesus, a um só tempo, destrói no seu corpo o pecado e comunica a vida divina que o pecado afastou. As faces complementares do perdão, a um só tempo destroem o pecado do mundo e comunicam vida nova, pela fé. A páscoa faz passar da morte (pecado) para a vida (santa). As palavras ?expiar?, ?perdoar?, ?salvar? traduzem a dinâmica do perdão. Expiar é tornar puro o que está sujo, purificar. "Purificai-vos, lavai vossas imundícies. Ainda que vossos pecados sejam escarlates, ficarão brancos como a neve". Branco é a cor da vida santa, eterna. "O rosto de Jesus transfigurado resplendeceu como o sol e suas vestes tornaram-se alvas como a luz" Mt 17,2. A transfiguração revela a origem de Jesus e antecipa sua ressurreição, bem como as bodas de Caná antecipam a hora de Jesus tirar o pecado do mundo, dar a vida por nós, uma vez por todas. O vinho bom de Caná significa a alegria da ressurreição de Jesus e nossa na plenitude da vida. "A multidão dos resgatados de todas as nações, tribos, povos e línguas, que não se podia contar, estavam de pé diante do trono e do Cordeiro, trajados com vestes brancas e palmas na mão. Estes vieram da grande tribulação: lavaram as vestes de pecado e as alvejaram no sangue do Cordeiro" Ap 7. São os santos, justificados, inocentados ante o Acusador, perdoados de todo pecado e culpa, agraciados com a vida eterna, cujo símbolo é a roupa branca. Perdoar é fazer o dom perfeito da vida que está em Jesus Ressuscitado. "Perdonare", doar por completo (per), dar a vida plena que está no corpo do Verbo encarnado, o Cordeiro de pé e imolado, que implode o pecado do mundo e abre espaço pra vida. A vida irrompe na morte e é comunicada em plenitude pela simbiose de fé com o Corpo de Cristo ressuscitado. É assim que nos fazemos novas criaturas, somos salvos, cheias de saúde, vida saudável (?salus?: saúde, sadio, são, santo, salutar, salvação).
Esta situação existencial paradoxal permanece na eternidade, onde o do Cordeiro de Deus está, a um tempo, de pé e imolado. De pé ? ressurreto, na plenitude da vida, e imolado ? morto como vítima de expiação pelo pecado do mundo. O perdão que está no corpo de Jesus crucificado está, ato contínuo, no Cristo ressuscitado. Cruz e ressurreição são inseparáveis. A ressurreição de Jesus não anulou a cruz. Se fosse assim, não haveria perdão dos pecados para as gerações subseqüentes à morte de cruz. Para isto ser possível, "o Cordeiro de Deus está imolado e de pé (ressurreto) na eternidade, já antes da fundação do mundo" Ap 5,6; 1 Pd 1,20. No corpo esmagado do Crucificado encerra-se a plenitude do perdão do pecado da multidão, do mundo, uma vez por todas. No corpo glorioso do Ressuscitado habita a plenitude da vida nova. A cruz e a ressurreição são inseparáveis na Pessoa do Jesus Cristo. No corpo do Cordeiro imolado se dá o duelo entre a vida e a morte, com vitória da vida: "Ó morte, onde está teu aguilhão? Ó morte, onde está tua vitória". No Cordeiro imolado está o fim reino da morte. No Cordeiro de pé estão o princípio e o fim do reino da vida, do reinado de Jesus, o Senhor dos senhores. Sendo o Redentor (goel) da humanidade, o Cordeiro está de pé e imolado de toda eternidade: de pé, vivo; imolado, destruindo a morte. A cruz é mistério do amor extremo de Jesus por nós: ela traz no seu bojo a morte absoluta que dá lugar à vida plena e absoluta, à ressurreição. A morte e ressurreição do Cordeiro constituem a obra salvífica acabada
de Deus, proposta à fé de cada ser humano. Pela fé, temos acesso à morte ao pecado do mundo e pessoais, configurada na imolação do Cordeiro, e á vida nova plena que está no Ressuscitado, com a prática dos valores éticos encerrados nela. Crer no perdão é renunciar ao pecado mundo morto na cruz com Jesus e viver como nova criatura praticando as obras da fé. Quem pensa crer no Cristo ressuscitado e rejeita Jesus crucificado não crê em coisa alguma. O Apóstolo Paulo diz com dor: "Envergonho-me dos que fogem da cruz de Cristo". Sem o sacrifício da cruz não há perdão nem santificação. "Fui crucificado junto com Cristo (morto ao pecado). Trago no meu corpo as marcas de Jesus. Completo na minha carne o que falta das tribulações de Jesus, pelo seu Corpo, a Igreja (o povo de Deus, resgatado em todas as nações da terra pelo sacrifício do Cordeiro. Ninguém fica de fora da salvação que está em Jesus Cristo, pois "Deus quer que todos os homens se salvem" 1 Tm 2,4). Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (pela fé, estou morto ao pecado em, com, por Jesus na cruz e Cristo vive em mim e eu nele, seu sangue corre nas minhas veias como a seiva circula pelo tronco e os ramos da planta) Gl 2,20; 6,17; Cl 1,24; Jo 15.
Tudo isto significa "Jesus Cristo é o nosso perdão".

GERALDO BARBOZA DE CARVALHO