O cantor Jerry Adriani bombou na Jovem Guarda, em época de grandes mudanças culturais no país. Era uma ditadura militar e a censura pegava pesado no meio artístico. Quem vivia de teatro, música, jornalismo ou literatura, sabe do que eu estou escrevendo. Entre os jovens adolescentes, apareceram centenas de bandas de rock tentando conseguir algum sucesso, pois os Beatles estavam em cima da onda. Muita gente sonhava em aparecer no programa Jovem Guarda do Roberto Carlos e acontecer no meio artístico.

O Jair Alves de Souza, nome real do Jerry, era um grande cantor, mas não tão bom quanto o Dorival Marcos, outro cantor de São Caetano do Sul que acabou não acontecendo. Mas foi o Jerry que foi para as paradas cantando algumas versões de sucesso da música italiana que, diga-se de passagem, ia também a reboque de Elvis Presley e dos Beatles. Apesar do nome que indica origem portuguesa (Alves de Souza) ou brasileira antiga, sabe-se que a mãe era filha de italianos, origem de sua predileção pelas músicas da Itália.

Ele não tinha o carisma do Roberto Carlos e também não compunha suas próprias baladas, o que lhe dava uma imensa desvantagem. Assim, ficou apenas no segundo time do programa JG. Com o tempo o programa acabou e com ele o pessoal do segundo time foi-se se apagando, desaparecendo da mídia. Roberto, Erasmo e Wanderleia, os dois fiéis amigos do Rei, ainda conseguiram sobreviver. Ed Wilson, Os incríveis, Ed Carlo,  Silvinha, Martinha e tantos outros não sobreviveram no meio artístico, ficando para a história ou talvez nem isso. Jerry Adriani, Wanderley Cardoso e Eduardo Araújo tiveram sobrevida, mas longe da que viveram no auge da Jovem Guarda. Outro cantor que fez sucesso na época foi o Sérgio Reis com “Coração de Papel”, mas percebendo que teria uma vida curta na jovem guarda, migrou para a música sertaneja e teve mais sorte do que a maioria dos seus colegas da época.

O Jerry, se não me engano, morava no Bairro Barcelona e como qualquer jovem adolescente na cidade, viajava de ônibus e tinha lá as suas dificuldades para sobreviver e estudar. Com o repentino sucesso, nunca mais foi visto por lá e tampouco reencontrou os seus amigos de adolescência.  Coisas da vida.

O Dorival Marcos, que chegou a gravar um compacto simples, participou algumas vezes do programa do Eduardo Araújo, o Bom, foi locutor da Rádio Cacique, teve um final sem nenhum glamour. Não aconteceu, apesar da bela voz e morreu esquecido e sem mesmo uma nota no jornal. Soube recentemente, por acaso, do seu falecimento em setembro de 2014 em decorrência de uma cirurgia.

O Jerry Adriani teve uma sobrevida a partir dos anos 1980, gravando músicas do Renato Russo e até recentemente fazia seus shows pelo Brasil adentro. Aos setenta anos se não fosse a cruel doença que o vitimou, poderia sobreviver mais alguns anos como outros artistas da música popular. Mas como diz uma canção da época: “Mas tudo passa, tudo passará...”.