JÁ ESTAMOS NO ABISMO
Por Marcelo Diniz | 27/12/2015 | FilosofiaJÁ ESTAMOS NO ABISMO
Por Marcelo C. P. Diniz
Minha vontade era assinar este artigo como Hiroschima, só para não deixar esquecer a que ponto somos capazes. Talvez uma forma de melhorar nossos piores impulsos seja tomar consciência das nossas realidades. E, infelizmente, estamos mais próximos do animal humano do que do ser humano. Como a evolução pode ser para melhor, acho que vale a pena pensar a respeito. Se continuarmos assim, só nos resta um – me desculpem o linguajar – Fodam-se Todos!
O Planeta dos Animais
“Embora sejamos tantas vezes bons, magníficos, altruístas, generosos, capazes do belo, até do extraordinário, algo espreita em nós, pronto para o salto, a mordida, o gosto de sangue na boca e o brilho demente do olhar.”
Lya Luft em Veja On-Line
Naquele fatídico 11 de setembro, terroristas suicidas derrubaram as duas torres gêmeas de New York, jogaram um avião no chão, outro contra o Pentágono – mataram milhares de pessoas e provocaram imensa dor no seio das suas famílias e dos seus amigos mais chegados.
Naquele dia, eu pensava: começou hoje, realmente, o terceiro milênio. A partir de agora virá uma consciência maior a respeito do opressor e do oprimido, das desigualdades sociais, das injustiças de toda espécie, do desespero dos perdedores.
Doce ilusão.
Existem paladinos da maldade por todos os lados, sejam ricos, sejam pobres. E os opressores e oprimidos não precisam ser vistos apenas na forma de países ou de empresas. Eles estão entre nós, são pessoas físicas com todos os seus egos exacerbados, uns querendo se impor sobre os outros.
Afinal, de que natureza somos feitos? Do guepardo que ataca o guanu e lhe provoca grande dor por uma refeição com substância? Para onde vai esta dor? Um simples grito sem memória? Ou seremos o parecidos com leão que fere seu par, expulsa ele do lugar e mata suas crias para usufruir das leoas e criar um novo clã? Por acaso vão me dizer “que importância tem o animal?”
Nós somos predadores de nós mesmos.
A cadeia alimentar é ampla, muita ampla. Nela todos podem sofrer, até as plantas. E nós, humanos, somos diferentes do que? Sempre fomos importantes predadores de animais. E, muito pior que isto, com toda a consciência ecológica que já conseguiram nos dar, somos os maiores predadores de seres humanos já conhecidos. Muita gente achava que não, orgulhosos.”Somos dominadores da natureza, temos dedos polegares que nos fazem mais hábeis, somos mais inteligentes”. Sim. E para que serve toda essa pretensa superioridade? Para poluir indefinidamente? Ou para tirar da cena econômica os menos hábeis? Já pensou no que isto significa? Deixar o concorrente na miséria?
__ Não, estou de saco cheio de ser responsabilizado por delitos de menores de idade. Direitos humanos, desigualdade social coisa nenhuma. Eu trabalho, pago impostos. Minha responsabilidade está cumprida.
Não é assim que muita gente reage?
Então, pronto. Com essa mentalidade – “não tenho nada com isso, sou competente, sou competitivo, mereço o que ganhei” – nosso amigo dominador já tirou do baralho do mundo todas as crianças que não tiveram oportunidades de desenvolvimento das mais básicas – família bem estruturada, escola, boas influências, alimentação de qualidade, saúde. Falta alguma coisa? Claro que sim. Talvez até moradia. Você já ouviu falar nas crianças que vendem balas nos sinais de trânsito e não voltam para casa todo dia para não gastar o dinheiro da condução? Abra o vidro do carro para eles de vez em quando e procure conhecer suas histórias. Se o seu coração não amolecer nem um pouquinho, é porque você está no topo da cadeia alimentar.
As reações às sociedades comedoras de gente são as mais variadas, em todo o mundo. Terroristas se explodem e levam consigo um monte de civis, vêm as retaliações, com mísseis, tanques e o que mais houver disponível de efeito destruidor. Afinal, a indústria de armas precisa vender, não é mesmo? As guerras se sucedem, ora por motivos econômicos, por motivos religiosos ou por motivos fúteis mesmo.
E não são apenas as guerras. As disputas econômicas também têm espectro devastador – matam crianças de desnutrição, adultos de sede, fome ou frio, adolescentes pelas drogas e assim por diante. O ego não para de prevalecer sobre a humanidade, assim como o sapo come o inseto, a águia ataca o esquilo, a raposa rouba o galinheiro.
Mas tem uma diferença fundamental. O animal se sacia e pronto. Enquanto isso, o animal humano mata por atacado. Mata quando rouba o que é públco, mata pela opressão econômica, mata pelas guerras, banaliza o crime nas cidades. Afinal, de que espécie somos nós? O que significa ser humano? Que diferença fazemos do planeta animal? Quando atingiremos a evolução necessária? Haverá um movimento significativo pelo bem ou teremos que morrer como se estivéssemos jogados às feras – nós mesmos?