Parece ser necessário ter-se uma postura crítica da realidade que se mostra a nós.

Tal concepção reside na noção de que a realidade somente se mostra em situações de real imersão crítica.

Somente assim, transcendendo o senso comum, ou a aparente e conveniente realidade (mal)criada, é possível ter-se uma dimensão real do mundo, e por consequência, uma (mais) real percepção da vida.

Notem: a questão da depressão e da ansiedade, por exemplo, nos dias atuais, transcendem a dimensão (meramente) funcional. Hoje, tem-se uma concepção de que tais transtornos são neuropsiquátricos, ou seja, os cérebros destes que sofrem das enfermidades referidas, apresentam diferenças estruturais, segundo consta.

Compreender essa questão, portanto, é fundamental para se ter uma real dimensão de nossas percepções. Se, por mau acaso, alguém enquadrar-se na condição mental acima referida, sendo portador de algum dos males referidos, algo de novo irá entrar na equação, resultando em uma percepção diferenciada do meio que nos inunda.

Urge estar de sobreaviso, pois!

A propósito, uma revelação ímpar, que alterou indelevelmente nossa expressão de vida e de morte, da lavra de André Comte-Sponville: o conceito de felicidade desesperançada/desesperada.

Apesar de parecer construída sob uma perspectiva lúgubre, o conceito de felicidade desesperançada/desesperada expressa uma dimensão profundamente enraizada na realidade crítica.

Melhor do que viver a esperar, imerso na ignorância da esperança, é viver sem esperança, valendo-se da sabedoria possível do esclarecimento. Simplesmente, por significar, em certo sentido, o culto à esperança, numa ode ao sofrimento.

Mas, a dor em si, não é má. Ao contrário. É boa, no sentido de nos alertar a mudar. Mudar para poder sobreviver.

Caso insistamos em sofrer, o destino final desse estilo de vida é a morte. Por decorrência causal da diminuta dor que se alastra, em seus males, pela nossa crescente imunização ao nível de dor inicialmente e continuamente ignorada.

Então, a percepção clara daquilo que ocorre fora e dentro de si é imprescindível a uma vida realmente vivida. Esse aspecto é crucial para a revelação existencial mais adstrita à real possibilidade de uma vida feliz (seja subjetivamente ou intersubjetivamente).

Dentro desse espírito, levem em consideração, por exemplo, a noção de salvação proposta por Luc Ferry.

Assim, a salvação de que nos fala Luc Ferry, refere-se à salvação de nós mesmos. A salvação de nossa finitude. A salvação de nossa consciência de sermos todos mortais. A salvação de nosso medo atávico da morte.

Aí, reside o ponto nevrálgico. Se por um lado a esperança (fé) representa a salvação pela religião, a racionalidade (des)esperada do conhecimento de nós mesmos representa a salvação pela filosofia.

Lembrete final de Thoreau: a importância de se saber por onde se irá caminhar, considerando-se as duas vias possíveis que são apresentadas ao caminhante.