Inventadeira

Primeiro dia de férias!

Acordei mais tarde que o habitual, desejando ir rapidinho para o lugar mais quente de minha casa: o freezer.

O frio estava tanto, que se eu caísse, certamente quebraria meu pijama.

Que é isso, disse minha mãe a rir. Parece que as invenções de sua amiga contaminaram você.

À tardinha, muito bem agasalhada, dirigi-me à praça para o encontro habitual.

Para minha surpresa, vi algumas pessoas ao redor de “nosso banco”.

Parece que terei que dividir minha amiga inventadeira com outras pessoas. De início não gostei. Mas depois, pensando bem, percebi que era egoísmo de minha parte, e assim resolvi dar um sorriso de boas-vindas. Que viessem! Que ficassem.

Será que era essa a surpresa que minha mãe preparou para mim? Eu insisti o dia inteiro e ela só me olhava, com um sorriso no rosto.

Mas a hora tinha chegado. Minha mãe estava entre os novos ouvintes.

Que ótimo! O meu número de amigos está aumentando! Sejam bem vindos, disse a minha, agora nossa amiga.

Bem, vamos lá.

Há muito tempo atrás, meu tio, homem muito pão duro, sovina, miserável mesmo, permitia que seus filhos tomassem um café da manhã, que sequer tirava um quinto da fome que eles sentiam, enquanto que ele refastelava-se no quarto, com um café da manhã dos deuses! O que não quisesse mais, ficava para sua mulher! E ponto.

À hora do almoço, quando famintos os filhos apareciam, o pai vinha como uma proposta tentadora! Quem não almoçar ganha $50,00.

Nossa! Cinquenta reais era muito! Ninguém almoçava, e sequer gastavam o dinheiro. Ficaria para o final de semana, quando todos deveriam ir à cidade!

Só que à hora do jantar, quando todos, meio fraquinhos pela fome, chegavam de mansinho, sentindo aquele cheirinho gostoso da comida preparada pela mãe, ele dizia que quem quisesse jantar, deveria pagar $50,00...

Minha amiga sempre dava um tempo para que digeríssemos suas histórias. Só que essa era das bravas! Ficamos algum tempo pensando nos pobrezinhos!

Já contei para vocês o casamento do primo de minha vizinha? Não?

Bem, foi o seguinte. O primo solteirão, da minha vizinha Marta, já beirando os quarenta e tantos anos, foi ficando triste e ninguém entendia o motivo.

Um dia nos encontramos, e ele resolveu me contar o motivo de sua tristeza, sem que eu perguntasse.

Sabe, disse-me ele, todos se casam menos eu. Não consigo entender. Será que é porque nunca namorei? Ele falou, falou e a muito a tarde tinha ido embora quando nos despedimos. Ele aliviado pelo desabafo, e eu de cabeça cheia de tanto ouvi-lo. Resolvi passar à sua família, tudo que conversamos. Tirei o peso das minhas costas e entreguei a quem de direito.

Alguns dias depois, minha vizinha convidou-me para o casamento do primo. Nossa, tão rápido assim?

Resolvemos casá-lo, disse-me ela. Na falta de noiva, meu tio Pedro fará as vezes dela.

No dia do casamento, casa cheia, mesa farta, música para alegrar o ambiente, chega a “noiva” meio apressada, pedindo que o casamento fosse logo realizado. Ela precisava viajar, pois uma de suas amigas estava muito doente. E amiga, é amiga para todas as horas, disse ela.

E assim foi feito. Casamento oficializado, champanhe, um pedaço de bolo, e a noiva vai embora correndo, não sem antes encontrar o tio Pedro e pedir que ele agradecesse a todos pela presença, dissesse ao noivo que o amava, e que alguém dançasse a valsa com ele, como se fosse ela.

Daí para frente a festa correu em meio a muita alegria. O dia tinha clareado, e nada da festa acabar.  O noivo estava feliz. Muito feliz! Afinal, agora era um homem casado!

Ficamos todos quietos, pensando em como é simples ser feliz.

Fomos para casa pensativos, caminhando bem devagar... Até mamãe, por um tempo, esqueceu que teria que preparar nosso jantar.

Coisas...