RESUMO

   Este trabalho foi elaborado por meio de revisão bibliográfica após a leitura e estudos do conteúdo disponível na plataforma da Fatec. Tem por objetivos distinguir neurologia de psicanálise, além de associá-las. Para tal, foi realizada leitura de material selecionado para o tema, interpretação e elaboração do trabalho para obtenção de nota na disciplina de Introdução à Neurologia do curso de Psicanálise Clínica (modalidade EAD) da instituição FATEC.

Palavras chave: Neurologia; Psicanálise; Neuropsicanálise.

INTRODUÇÃO

            Numa síntese necessária, pode-se dizer que a neurologia é a especialidade médica que trata dos distúrbios estruturais do sistema nervoso. Lida com o diagnóstico e tratamento de todas as categorias de doenças que envolvem este sistema.

            O estudo sobre as funções do cérebro não é atual. É possível encontrar referências de Hipócrates, falando sobre as funções cerebrais. Entretanto, apenas no século XIX, com Charcot, pode-se diferenciar claramente neurologia e psiquiatria. Assim, atualmente, a neurologia encarrega-se dos aspectos físicos do sistema nervoso, assim como a psiquiatria dos aspectos fisiológicos.

Charcot também entrou para a história da Medicina por ter sido professor de Freud, que aprendeu com ele o método da hipnose e passou a hipnotizar seus pacientes. Pouco antes de casar-se, Freud ganhou uma bolsa de estudos com Charcot em Paris, e a partir de então tornaram-se grandes amigos.

Freud, após estudar com Charcot, desvencilhou-se do método da hipnose e desenvolveu sua teoria psicanalítica, ou da cura pela fala. Como tinha, por formação, a neurologia, escreveu um texto (publicado apenas após sua morte), com o título “projeto de uma psicologia para neurologistas”.

As associações entre neurologia e psicanálise são recentes, entretanto. Após o desenvolvimento dos diagnósticos por imagem, foi possível perceber alguns conceitos de Freud sendo reafirmados, e outros não. Este movimento, promovido pelo desenvolvimento tecnológico, deu origem a uma nova ciência, a neuropsicanálise, ainda jovem e pouco acreditada.

 

NEUROPSICANÁLISE

            Desde a tentativa de Freud em associar neurologia e psicanálise (abandonada em seu tempo), atualmente, devido ao avanço tecnocientífico, parece ser o momento adequado para reavaliar tal associação.

            Apesar de passar por barreiras tanto do lado da psicanálise quanto do lado da neurologia, não se pode negar a interação mente-corpo. Na história da ciência esse problema foi muito estudado e várias conclusões foram dele obtidas. Entretanto, desde Damásio, em seu livro “O Erro de Descartes”, baseado em estudos de um caso clínico, atribui-se às duas esferas (mente e corpo) uma associação, não mais a dissociação cartesiana.

            “O Erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro humano” é um livro de 1994 pelo neurologista português António Damásio. O livro lida com a teoria do dualismo mente/corpo proposto por René Descartes, retratando com detalhes neuroanatômicos o modo de funcionamento da mente. O erro de Descartes, segundo Damásio, teria sido a não percepção de que o cérebro não foi apenas criado por cima do corpo, mas também a partir dele e junto com ele, disso decorrendo uma associação. Foi escrito partindo do estudo de caso de um homem, trabalhador, que teve uma área do cérebro atingida por um objeto de ferro e, após o ocorrido, verificaram-se alterações em sua personalidade.

            Mesmo comprovando tal associação entre as esferas mente (para Freud, o aparelho psíquico) e corpo (para a neurologia, o sistema nervoso), ainda é um esboço de ciência, por estar em construção. A ciência em si já não declara verdades absolutas, pois as conclusões científicas são obtidas por meio de tentativas e erros, e o que é tido como verdade neste momento pode ser desmentido em tempos próximos. Cabe aqui ressaltar que a crença absoluta nas conclusões científicas pode ser comparada ao dogmatismo e, na filosofia, é denominada cientificismo. Tão perigoso quanto o dogmatismo religioso, quando levado ao extremo.

            A neuropsicanálise, formada pela tentativa de associação entre neurociência e psicanálise, defende que ambas não se opõem e não se conflitam, elas apenas divergem na escolha de seus objetos de estudo (as subestruturas do tecido nervoso e seus centros, para a primeira, e o sentido particular do simbólico para o sujeito, sua apreensão da realidade e história afetiva, para a segunda). Desta forma, a neuropsicanálise pode servir como material extra na compreensão do sujeito a ser examinado e tratado pelo analista, pois, ao verificar sintomas neurológicos, poderia solicitar uma avaliação específica, bem como serviria como material extra também para os neurologistas, pois, ao verificar sintomas psíquicos possivelmente advindos de neuropatologias, também poderia solicitar avaliação específica.

Freud chegou a descrever o método a ser utilizado, em seu esboço. De acordo com o psicanalista, seria o método clínico-anatomo-observacional. Assim, por meio da fala, do conhecimento de anatomia neurológica e de observações adequadas, poderia se perceber mais sobre o cliente sendo avaliado, proporcionando um atendimento mais adequado.

 

CONCLUSÃO

            A preocupação em estudar o cérebro e suas funções não é atual, pois foi descrita ainda na Grécia antiga por Hipócrates. Mas a ciência conhecida como neurologia só foi definida adequadamente no século XIX por Charcot, conhecido como pai da neurologia moderna.

            Freud, que foi neurologista por formação, teve aulas com Charcot antes de iniciar os escritos sobre sua teoria da psicanálise. Possivelmente por esses motivos, a princípio, tentou buscar uma associação entre neurologia e psicanálise. Mas desistiu e não publicou, ainda vivo, este texto. Freud possivelmente abandonou sua "psicologia para neurologistas", por entender que não poderia explicar, com a ciência da época, os fenômenos psíquicos em termos orgânicos.

            Atualmente, devido ao avanço técnico e científico da medicina por imagem é possível observar que alguns conceitos psicanalíticos freudianos são reafirmados, enquanto outros não. Por este movimento científico, hoje há uma nova tentativa de associar a neurologia com a psicanálise, que originou a ciência da neuropsicanálise.

Parece razoável esperar daqueles que tencionam erigir esta “neuropsicanálise”, que estejam preparados para “pagar” o tributo exigido da incerteza. Pois, em ciência, a certeza de hoje é o equívoco de amanhã e a verdade é sempre provisória, fruto sazonal e emergente de um longo e penoso processo de verificações epistemológicas e provas empíricas.

 

 

REFERÊNCIAS

DAMÁSIO, A. O ERRO DE DESCARTES - Emoção, razão e o cérebro humano. Trad. Dora Vicente e Georgina Segurado. São Paulo: Cia das Letras, 1996.

ROUDINESCO, E; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Trad. Vera Ribeiro e Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

ZIMERMAN, DE. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 1999. (Reimpressão 2010).