INTERVENÇÃO PSICOPEDAGOGICA: Um estudo acerca das causas da dislexia

Marcia Valéria Luz da Cunha

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RESUMO

 

 

O objetivo deste trabalho é de investigar de que maneira a Psicopedagogia pode contribuir para a superação das dificuldades de aprendizagem dos alunos portadores de dislexia. Utilizou-se como fundamentação metodológica a abordagem de pesquisa quanti- qualitativa descritiva analítica e foi realizado um estudo bibliográfico e estudo de Caso que é um dos tipos de pesquisa qualitativa com bastante aceitação na área da educação. Além disso, adotou-se como técnica de estudo o uso de fichamentos e resumos para poder ler os textos e desenvolver um trabalho analítico. A dislexia é um dos vários distúrbios de aprendizagem relacionado à leitura e à escrita que deve ser diagnosticado por uma equipe multidisciplinar. O disléxico precisa de acompanhamento no seu processo de aprendizagem.

 

 

Palavras chave: Psicopedagogia. Dificuldade de aprendizagem. Dislexia.

 

 

INTRODUÇÃO


Discorreremos acerca das causas que gera a dislexia e como o psicopedagogo desenvolve suas atividades profissionais diante de alunos disléxicos. O presente estudo visa aprimorar os conhecimentos a cerca da Psicopedagogia, os distúrbios e dificuldades de aprendizagem.

O interesse maior em realizar este estudo foi por se ouvir constantemente queixas de muitos docentes no que se refere às dificuldades de alguns alunos em relação à leitura e à escrita, mais especificamente daqueles que apresentam distúrbios de aprendizagem como a dislexia.

A Psicopedagogia, que é uma área de conhecimento sistemático, pois seu desenvolvimento está pautado na Psicologia, na Pedagogia, na Psicolinguística e em outras disciplinas afins pode intervir para melhorar a vida desses alunos disléxicos, já que muitos são reprovados no sistema escolar e outros não comparecem mais às aulas por apresentarem essas dificuldades.

Diante disso, pergunta-se: Na escola, de que maneira o psicopedagogo pode fazer sua intervenção nas dificuldades de leitura e escrita dos alunos portadores de dislexia?

Em torno do que foi explicitado anteriormente surgem então, os seguintes questionamentos: Quais as causas da dislexia? Como o psicopedagogo pode intervir nas dificuldades de aprendizagem de crianças disléxicas? Quais estratégias e atividades podem ser usadas como apoio à aprendizagem da criança disléxica no contexto escolar?

O referido método de abordagem adotado compreende a linha teórico-metodológica que forneceu maiores possibilidades epistemológicas durante a elaboração deste artigo, já que evidenciou as contradições sociais desse processo em relação às condições materiais de existência de sujeitos sociais em seus ambientes socioculturais. A metodologia adotada para a presente investigação foi de natureza qualitativa descritiva analítica e posteriormente realizada um estudo bibliográfico e o estudo de Caso.

O Estudo de Caso é um dos tipos de pesquisa qualitativa que vem conquistando crescente aceitação na área da educação. É uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente. Pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida, como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa ou uma unidade social. Visa conhecer o seu “como” e os seus “porquês”, evidenciando a sua unidade e identidade própria.

É uma investigação que se assume como particularística, debruçando-se sobre uma situação específica, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico. (VILABOL, 2008). Além disso, adotou-se como técnica de estudo o uso de fichamentos e resumos para poder ler os textos e desenvolver um trabalho analítico e crítico a ser descrito neste artigo e dar sustentabilidade à pesquisa.

Os dados colhidos por meio de bibliografias e o estudo de Caso viabilizaram a construção deste artigo, que se divide em três momentos, sendo o primeiro: apresenta-se a fundamentação teórica, em que se faz um breve histórico da Psicopedagogia, a conceituação dessa área do conhecimento na concepção de alguns estudiosos, seu campo de atuação. Para se produzir, buscou-se subsídios em livros, Internet, artigos e em outras fontes bibliográficas que abordam sobre a Psicopedagogia.

No segundo momento, faz-se um estudo acerca das teorias da aprendizagem de modo a explicitar as causas e as formas de funcionamento da aprendizagem nas concepções dos teóricos Jean Piaget e Lev Vygotsky.

No terceiro momento, explana-se sobre a dislexia que é uma dificuldade de aprendizagem da leitura e da escrita. Explicita-se primeiramente acerca do desenvolvimento infantil, da participação da escola e da família no processo de aprendizagem da leitura e da escrita, para depois explanar-se sobre a dislexia, seu conceito, tipos e sintomas.


1 CONHECENDO A PSICOPEDAGOGIA

 

Historicamente, a Psicopedagogia nasceu da fusão entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir da necessidade de atendimento a crianças com dificuldades de aprendizagem, as quais eram consideradas incapazes dentro do sistema educacional. Segundo Bossa (1994), de início, o psicopedagogo dirigia sua atenção à criança, procurando as causas das dificuldades de aprendizagem apresentadas por elas.

Desse modo, com o passar do tempo e com o desenvolvimento das investigações em relação a essas dificuldades, esse profissional passou a considerar, além da criança a qual está inserida nesse processo, também a formação do educador, os fatores internos (sintomas biológicos, psicológicos que afetam a percepção, memória, atenção, elementos essenciais para o desenvolvimento da aprendizagem) e externos (situação econômica e cultural da população) que podem estar influenciando na aprendizagem dela, haja vista que para se compreender esse processo, é importante identificar e analisar quais os fatores que podem estar interferindo para que aconteça essa dificuldade.

Então, ainda segundo a autora a partir da década de 60, a classe profissional dos psicopedagogos começou a se propagar e a organizar-se, buscando as causas do fracasso escolar por meio do diagnóstico de aspectos do desenvolvimento físico e psicológico do aprendente.

No entanto, somente a partir da década de 80, esclarece a estudiosa que a Psicopedagogia, em função da eficiência demonstrada na prática clínica, estruturou-se como corpo de conhecimentos e se transformou em campo de estudos multidisciplinares com o objetivo de resgatar uma visão mais globalizante do processo de aprendizagem e, consequentemente, dos problemas decorrentes desse processo.

Assim, a Psicopedagogia constituiu uma nova área de conhecimentos sistematizados, cuja prosperidade está na dependência do desenvolvimento, não apenas da Psicologia, como também da Psicolinguística, da Neuropsicologia, entre outros.


2 CONCEITUAÇÃO DE ALGUNS ESTUDIOSOS A CERCA DA PSICOPEDAGOGIA 


A Psicopedagogia estuda as dificuldades do processo de aprendizagem do estudante. Essa disciplina apresenta um caráter preventivo e terapêutico. Neste, a Psicopedagogia deve identificar, analisar, planejar, intervir através das etapas de diagnóstico e tratamento. Naquele, deve atuar não só no âmbito escolar, mas também atender a família e a comunidade, informando a essas instituições as diferentes etapas do desenvolvimento humano, para que ambas possam compreender e entender suas características, evitando, assim, cobranças de atitudes ou pensamentos que não são próprios da idade (BOSSA, 1994).

Nessa perspectiva, essa ciência é um campo que, ao atuar de forma preventiva e terapêutica, procura compreender os processos do desenvolvimento das aprendizagens humanas, chegando assim, a todas as áreas e estratégias pedagógicas com o objetivo de se preocupar com problemas que podem surgir nos processos de transmissão e apropriação dos conhecimentos (possíveis dificuldades e transtornos), apesar de serem inteligentes. (MERY apud BOSSA, 2000).

Essa área do conhecimento chegou ao Brasil na década de 70, cujas dificuldades de aprendizagem, nesta época, eram associadas a uma disfunção neurológica denominada de Disfunção Cerebral Mínima (DCM), servindo para disfarçar problemas sociopedagógicos (Id. Ibid., 2000, p. 48-49).

Foi introduzida no Brasil baseada nos modelos médicos de atuação e foi dentro dessa concepção de problemas de aprendizagem que deram início, a partir de 1970, a cursos de formação de especialistas em Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógico de Porto Alegre, com a duração de dois anos. (Id. Ibid, 2000, p. 52).

Para Chamat (1996), a Psicopedagogia tem como centro de ação e reflexão o pedagógico e surgiu da fragmentação do objeto de estudo da Pedagogia – a educação – em virtude da própria extensão do processo educativo, multiplicando-se às ciências aplicadas à educação como Sociologia da Educação, Psicologia da Educação etc. Essa fragmentação do objeto de estudo da Pedagogia, em razão, em grande parte, do mecanismo e determinismo da Ciência Moderna, está a exigir, atualmente, que os fenômenos investigados e as teorias elaboradas tenham o compromisso com a totalidade da educação – o que inclui a dialética dos opostos.

Nesse sentido, a Psicopedagogia é também uma área filosófica, ou seja, uma retomada de sua origem filosófica. É uma ciência aplicada com o objetivo de apreciar o processo de aprendizagem do ser humano. Surgiu da necessidade de uma compreensão melhor do cognitivo, comprometida com a transformação da realidade escolar, na medida em que possibilita através de análise e ações reflexivas, superar os obstáculos e desequilíbrio das ferramentas necessárias para a leitura de mundo.

Conforme Paín (1985), “a aprendizagem depende de articulação de fatores internos e externos do sujeito”. Isso significa dizer que o aprender é determinado pelo nível de desenvolvimento das estruturas cognitivas do sujeito. Dessa forma, é importante ressaltar que é na relação com o outro que o sujeito vai se apropriando das significações socialmente construídas, transformando-se em um ser social. Para uma renomada estudiosa no assunto diz que:

“a Psicopedagogia é uma área que estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades e, numa ação profissional, deve integrar vários campos do conhecimento com o objetivo de compreender esse processo e os problemas resultantes deles” (SCOZ, p.2, 1991)


Segundo essa autora, é uma área que aprofundou o conhecimento para contribuir também com a melhoria da qualidade de ensino. Por essa razão, pensa-se ser a Psicopedagogia uma área de conhecimento relevante, a qual contribui para o atendimento das expectativas através do levantamento de alguns aspectos da realidade escolar, possibilitando o progresso e o sucesso dos alunos.

Conforme Bossa (1994), “o objetivo da Psicopedagogia é a compreensão, o como se aprende como essa aprendizagem varia evolutivamente, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las”. Ou seja, a Psicopedagogia estuda as dificuldades de aprendizagem do ser humano, como ele aprende como a aprendizagem se realiza.

Portanto, a partir dessas concepções acredita-se que o psicopedagogo deve investigar o que está prejudicando o processo ensinoaprendizagem do aluno para que ele (aluno) tenha uma melhor qualidade de ensino. Desse modo, a Psicopedagogia tem como objetivo esclarecer o processo de aprendizagem e diagnosticar as diversas formas de dificuldades de ensino aprendizagem e para isso é necessário avaliar como esse processo está ocorrendo, para que o profissional possa intervir de forma eficaz.

O campo de atuação do psicopedagogo, segundo a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABP), tem contribuído para que a Psicopedagogia assuma uma nova feição no cenário educacional brasileiro. É nessa perspectiva que o psicopedagogo intervém quando uma pessoa apresenta dificuldades de aprendizagem tendo como missão identificar as transformações do sujeito, as influências com o aprender.

Nesse sentido, verifica-se que um dos pontos fundamentais no processo de aprendizagem é a motivação. Um aluno desmotivado jamais vai ter prazer em aprender, e esse despertar tem que ser competência do professor. Assim, é importante e necessário que o professor reveja as suas práticas pedagógicas, não se preocupando apenas com o conteúdo a ser trabalhado e nem avaliando somente o lado cognitivo do estudante. Pelo contrário, deve valorizar o que o aluno tem a oferecer ou precisa receber, que é a motivação, favorecendo-lhe, assim, melhores desempenhos e competências.

Para Scoz (1991), com as vantagens no campo de atuação da Psicopedagogia, os psicopedagogos sentiram necessidade de aperfeiçoar a sua própria formação a fim de obterem conhecimentos multidisciplinares. Partindo dessa perspectiva, a associação passou a promover diversas modalidades de atividades.

Assim, nascida no âmbito escolar, a Psicopedagogia expandiu-se para os hospitais, para as instituições de ensino superior e outros. Na área da educação, a atuação psicopedagógica tem-se estendido à primeira infância, através de estimulação precoce, e a adultos, especialmente quando portadores de transtornos neurológicos que demandam uma reestruturação de suas aprendizagens a fim de readaptação social (SCOZ, 1991).

Como se pode observar, pela assertiva acima, pela necessidade de buscar novas informações, a Associação Brasileira de Psicopedagogia promove formação em diferentes áreas do âmbito profissional, para troca de experiência e trabalhar a problemática de aprendizagem que precisa de profissionais habilitados e qualificados para atender todo o processo de aprendizagem do educando. Dessa maneira, conforme Gonçalves (2003), o psicopedagogo pode atuar nas áreas:


  • Institucional: Orientando professores, realizando diagnóstico, facilitando o processo de aprendizagem, trabalhando as diversas relações humanas que existem nesse espaço;
  • Empresarial: Realizando trabalhos de treinamento de pessoal para melhorar as relações interpessoais da empresa;
  • Clínica: Identificando, analisando, elaborando diagnóstico e intervindo, orientando (individual, grupal, familiar e profissionalmente os envolvidos) nas questões que se relacionam à aprendizagem humana;
  • Hospitalar: Atuando junto à equipe multidisciplinar no pós–operatório de cirurgias ou tratamentos que afetam a aprendizagem.

Enfim, o campo de atuação da Psicopedagogia é focado no estudo do processo de aprendizagem, diagnóstico e tratamento dos seus obstáculos, sendo o psicopedagogo responsável por detectar e tratar possíveis obstáculos no processo de aprendizagem em instituições ou em grupos e realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual ou em grupo.

3 A APRENDIZAGEM SEGUNDO PIAGET E VYGOTSKY 

De acordo com estudiosos como Vygotsky (1987) e Piaget (1994) a aprendizagem é o processo de alteração de conduta de um indivíduo, seja por condicionamento, experiência ou ambos, uma vez que as informações podem ser absorvidas através de técnicas de ensino ou até pela simples aquisição de hábitos, considerando-se que o ato ou a vontade de aprender é uma característica essencial do psiquismo humano, pois somente este possui o caráter intencional ou a intenção de aprender.

Dessa forma, as vivências de cada uma dessas experiências estão atreladas à pré-existência do nível anterior, revelando-se, assim, seu caráter hierárquico de experiências na aprendizagem como: conceituação, simbolização, formação de imagens, percepção e sensação. Nesse processo de construção, deve-se também levar em conta fatores como: fonte de conhecimento, maturidade e desenvolvimento cognitivo.

O teórico Jean Piaget (1994) desenvolveu a Epistemologia Genética. Para ele, o conhecimento é gerado através de uma interação do sujeito com seu meio, a partir de estruturas existentes nesse meio. Piaget define a aprendizagem como um processo de troca mútua entre o meio e o indivíduo, tendo o outro como mediador. O sujeito é um elemento ativo que age e constrói sua aprendizagem, ou seja, a aquisição de conhecimentos depende tanto das estruturas cognitivas do sujeito como de sua relação com o objeto.

Segundo esse teórico, o conhecimento é uma construção continuada do desenvolvimento cognitivo, não estando em nenhum momento pronto ou acabado, pois ele se constrói a partir da ação do indivíduo com o meio físico e social, em que o desenvolvimento mental se dá em estágios, onde o indivíduo tem habilidades diferentes em cada etapa. Para esse autor, existem quatro estruturas cognitivas primárias, isto é, estágios de desenvolvimento que são: Sensório-motor (0 – 2 anos), Pré- operatório (2 – 7,8 anos), Operações concretas (8 – 11 anos), Operações formais ou hipóteses dedutivas (8 – 14 anos).

No Sensório-motor, Piaget (1994) esclarece que a partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio, além disso, também é marcado pela construção prática das noções de objeto, espaço, causalidade e tempo.

No estagio do Pré-operatório surge na criança, a capacidade dela substituir um objeto ou acontecimento por uma representação, e essa substituição é possível, conforme Piaget, graças à função simbólica. A criança desse estágio pode ser definida como egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro; não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é a fase dos "por quês"); já pode agir por simulação, "como se”; e por fim, possui percepção global sem discriminar detalhes. (PIAGET, 1994).

Na fase do Operatório-concreto a criança segundo Piaget (1994), desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade etc., sendo então capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Um importante conceito dessa fase é o desenvolvimento da reversibilidade, ou seja, a capacidade da representação de uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a transformação observada.

E por fim, no Operatório-formal é que as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento. A representação agora permite à criança uma abstração total, não se limitando mais à representação imediata e nem às relações previamente existentes. Agora a criança é capaz de pensar logicamente, formular hipóteses e buscar soluções, sem depender mais só da observação da realidade.

Diante disso, as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento, tornando-a apta a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas. Ressalta-se que essas estruturas mudam por meio dos seguintes processos de adaptação: assimilação (envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes), acomodação (mudança de estruturas cognitivas para que o ambiente faça sentido) e hereditariedade (as pessoas herdam estruturas biológicas (sensoriais e neuronais) que predispõem ao surgimento de certas estruturas mentais). (PIAGET, 1994).

Pode-se dizer, então, que no processo de aprendizagem deve-se levar em conta as características de cada indivíduo, a interação entre professor, aluno e colegas, além de um ambiente agradável, estimulador e desafiante. Contudo, não se deve esquecer que para Piaget o ambiente pode influenciar no desenvolvimento cognitivo, porém, sua ênfase recai no aspecto biológico e na maturidade do desenvolvimento.

A base da teoria Vygotskyana é o conceito de ZDP (Zona de desenvolvimento proximal), que afirma que a aprendizagem acontece no intervalo entre o conhecimento real e o conhecimento potencial. Em outras palavras, a ZDP é a distância existente entre o que o sujeito já sabe e aquilo que ele tem potencialidade de aprender. Vale ressaltar que é na ZDP, que a interferência de outros indivíduos é a mais transformadora. É aí que reside o grande desafio daquele que ensina.

Segundo Vygotsky (1987) “o indivíduo precisa do meio e sua interação com o outro para construir novos conhecimentos”. Para ele, é com base no processo sócio-histórico da aprendizagem do indivíduo que gerará a sua interdependência.

O autor ora citado enfatiza em seus estudos o papel da interação social ao longo do desenvolvimento do homem, processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, valores etc., a partir de seu contato com a realidade, com o meio ambiente e com as outras pessoas, pois para o mesmo o individuo não se desenvolve plenamente sem a ajuda de outro indivíduo da mesma espécie. O teórico aborda também a questão dos significados das palavras sendo uma relação entre o pensamento e a linguagem, isto é, no significado da palavra é que o pensamento e a fala se juntam em pensamento verbal.

Entende-se, com isso, que se o aprendizado impulsiona o desenvolvimento, então a escola tem um papel essencial na construção do ser psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas. Mas o desempenho desse papel só se dará adequadamente quando se conhece o nível de desenvolvimento cognitivo dos alunos, a escola deve dirigir o ensino não para etapas intelectuais já alcançadas, mas sim para estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos mesmos, funcionando realmente como um motor de novas conquistas psicológicas.

Partindo desse pressuposto, Oliveira (1998) considera que o biológico e o social exercem influência no processo de apropriação e desenvolvimento das capacidades intelectuais do homem. Diante disso, as crianças, no momento em que conseguem realizar tarefas de forma independentes, atingem o Nível de Desenvolvimento Real (NDR), que se refere às etapas já alcançadas e que são resultados do processo de desenvolvimentos já consolidados. Diante desses fatos, o homem se transforma por meio de suas trocas e experiências.

Percebe-se, dessa forma, que se o aprendizado impulsiona o desenvolvimento, de acordo com as teorias de Vygotsky (1987), então a escola tem um papel essencial na construção do ser psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas.

Nesse contexto, a escola deve dirigir o ensino não para etapas intelectuais já alcançadas, mas sim para estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos, funcionando realmente como um motor de novas conquistas psicológicas. O professor, por sua vez, irá interferir na ZDP dos discentes ajudando-os a terem avanços significativos que não ocorreriam sem sua ajuda.

Com base ainda nessas teorias, pode-se dizer que a escola possui um papel muito importante no processo ensinoaprendizagem que é o de dar continuidade e aperfeiçoar tudo aquilo que a criança traz do seu meio familiar e das suas experiências já vividas. O docente, por sua vez, deve ser um facilitador na transmissão de novos conhecimentos, além de instigar o educando na busca destes, fornecendo-lhes situações desafiadoras.

4. A DISLEXIA 

A dislexia é um dos vários distúrbios de aprendizagem relacionado à leitura e à escrita que deve ser diagnosticado por uma equipe multidisciplinar. O disléxico precisa de acompanhamento no seu processo de aprendizagem.

Dislexia é a junção do prefixo latim “dys–mal, imperfeito, anormal, prejudicado”; e do sufixo grego lexis-uso da palavra”. Logo, “dislexia” significa uso imperfeito, uso anormal da palavra. Dessa forma, a dislexia é uma nítida dificuldade que acontece no processo da leitura, escrita e ortografia que impede uma criança de ler e compreender com a mesma facilidade com que fazem as crianças da mesma faixa de idade independente de qualquer causa intelectual, cultural ou emocional, a dislexia é o distúrbio de maior incidência nas salas de aula.

Essa palavra foi criada pelo médico oftalmologista alemão, Dr. Rudolph Berlim, em 1887, o qual, investigando um caso de dificuldade em leitura apresentada em um de seus pacientes, concluiu como sendo uma “queda progressiva na capacidade de ler”, classificando-o como dislexia. (CARACIKI, 1994).

 

4.1 Tipos de dislexia


4.1.2 Dislexia adquirida


O cérebro é o órgão da mente e faz parte do corpo humano. Como tal, está sujeito a danos e doenças as quais se destaca o AVC – Acidente Vascular Cerebral; doença que se apresenta pelo rompimento (hemorragia) ou bloqueio de uma artéria por um coágulo sanguíneo (ORTIZ, 2005).


4.1.3 Dislexia de superfície


De acordo com Morais (1997) a dislexia de superfície resulta do dano na via ortográfica. Nesse tipo de dislexia, os indivíduos leem palavras e falsas palavras quase com o mesmo grau de desempenho, contudo, leem muito melhor as palavras regulares do que as irregulares, fato que muitas vezes conduz a regularizações.Ou seja, os disléxicos de superfície apresentam um alto uso do procedimento sublexical ao lerem em voz alta, isto é, na conversão de letras-som, utilizam a via que liga o sistema de análise visual ao nível do fonema.

Os disléxicos usam palavras, uma vez familiar, como se fossem estranhas, decompondo-as em suas letras componentes e agrupamentos de letras, convertendo cada uma em fonemas e pronunciando a sequência sonora resultante, ou seja, de acordo com Ortiz (2005), a dislexia de superfície caracteriza-se pela capacidade de leitura de neologismos (não-palavras) e palavras regulares.


4.1.4 Dislexia fonológica


A dislexia fonológica é, em muitos casos, uma imagem espelhada da dislexia de superfície. O procedimento sublexical que mede a grande parte do desempenho da leitura de um disléxico de superfície é precisamente o procedimento prejudicado na dislexia fonológica. Esse resultado é uma forma leve de dislexia adquirida que poderia ser facilmente ignorada se não estivesse sendo procurado um fato que pudesse explicar por que apenas recentemente foi notada e tem sido razoavelmente relatada (MARTINS, 2003).

 

4.1.5 Causas da dislexia

 

Baseando-se nas informações de estudiosos como os já citados que se preocuparam/preocupam em investigar as causas da dislexia, acredita-se que esse distúrbio possa ser representado por um modelo especial de imaturidade cerebral no que tange ao reconhecimento visual e auditivo dos símbolos verbais. É como esclarece um estudioso no assunto:


Há uma lista interminável de causas atribuídas à dislexia. Psicólogos, oftalmologistas, neurologistas, neuropsicólogos, pediatras, pedagogos, psicopedagogos, lingüistas, neurolinguistas e psicolinguistas apontando, entre outros fatores, problemas sócio-afetivos, visuais, auditivos, motores, neurológicos, fonológicos, todos têm uma explicação ou uma etiologia da dislexia da dislexia. Os componentes genéticos estão também envolvidos com os transtornos de leitura e escrita (MARTINS p.26, 2003)


Dessa maneira, primeiramente, segundo Martins (2003) deve-se conhecer como funciona o cérebro, uma vez que diferentes partes dele exercem funções específicas, por exemplo: a área esquerda do cérebro está mais relacionada à linguagem. Nela são identificadas três sub-áreas que se diferem de outras: a primeira processa fonemas; a segunda analisa palavras e a terceira reconhece palavras.

 

4.1.6 Sintomas da dislexia


Snowling (1994) apresenta dois grupos de sintomas importantes que caracterizam a dislexia. O primeiro que corresponde ao processo de maturação e abrange grande parte do potencial biológico da criança; e o segundo grupo que está voltado para as características peculiares de leitura e de escrita.

Vale ressaltar que esses dois grupos de sintomas, maturação e aprendizagem, nem sempre podem ser considerados separadamente. Ainda segundo autor enfatiza a prioridade do processo de maturação, haja vista que a maturação condiciona a aprendizagem e sua base é a capacidade genética.

O que se percebe, nessa fase escolar, com mais frequência, é a constante dificuldade na leitura e escrita, desatenção dispersão, dificuldade de copiar, falta de organizar o trabalho escrito etc. Se nessa fase a criança não for acompanhada por profissionais especializados, os sintomas irão persistir com séries agravantes para sua fase adulta e tendo como conseqüência prejuízos emocionais e sociais.

Portanto, cabe ao educador, por meio da intervenção pedagógica, promover a realização de aprendizagem com o maior grau de significado possível uma vez que esta nunca é absoluta sempre é possível estabelecer alguma relação entre o que se pretende conhecer e as possibilidades de observação, reflexão e informação que o sujeito possui.


5 A CRIANÇA DISLÉXICA NO CONTEXTO ESCOLAR


Acredita-se que dois grandes desafios da Psicopedagogia sejam a socialização e a integração das crianças disléxicas no contexto escolar, haja vista que o professor deve saber compreender as necessidades, dificuldades e expectativas de cada aluno. Ele deve saber ouvir e ler o comportamento do aluno para assim poder contribuir mais positivamente para o desenvolvimento desse discente.

Assim, para que haja um desenvolvimento nas habilidades das crianças com esse problema de aprendizagem é de suma importância a participação dos pais, professores e profissionais especializados no assunto (dislexia) a fim de proporcionarem recursos necessários para a melhoria na qualidade de vida do aluno que apresenta essa dificuldade.

Segundo Paín (1985), o psicopedagogo preocupa-se principalmente em construir as situações pedagógicas que tornem possível a aprendizagem, implementando os meios, as técnicas e as instruções adequadas para favorecer a correção dessa dificuldade apresentada pela criança.

O psicólogo, por sua vez, trabalha com os fatores emocionais que interferem na aprendizagem da criança e no significado que as atividades cognitivas apresentam em sua vida. Já para o neuropsicólogo que é um especialista no estudo das relações entre o cérebro e o comportamento, após vários testes, esse profissional examina o funcionamento do cérebro enquanto este realiza certas funções como, por exemplo, memorizar.

Segundo Chamat (1996) há muitos outros profissionais especializados que podem trabalhar juntamente com o psicopedagogo como o pediatra e o neurologista, todos têm a responsabilidade de orientar pais e professores sobre a forma que podem colaborar para o aprendizado das crianças disléxicas. Após fazer uma investigação, o psicopedagogo pode auxiliar professores e pais por meio de estratégias de suporte que permitam a esse aluno colocar em prática suas experiências de linguagem oral no texto, por meio de leituras significativas.

Weiss (2000) informa que a prática psicopedagógica deve levar em conta o sujeito como um ser global, composto pelos aspectos orgânico, cognitivo, afetivo, social e pedagógico. O primeiro diz respeito à construção biológica do sujeito, portanto, a dificuldade de aprender de causa orgânica estaria relacionada ao corpo. O aspecto cognitivo envolve o funcionamento das estruturas cognitivas. Já o aspecto afetivo diz respeito à afetividade do sujeito e de sua relação com o aprender, com o desejo de aprender, pois o indivíduo pode não conseguir estabelecer um vínculo positivo com a aprendizagem.



CONCLUSÃO 


Vê-se que atualmente os docentes têm a necessidade de desenvolver saberes em uma sociedade de mudanças que requer mobilização dos conhecimentos teóricos ou práticos, onde nós, como futuros psicopedagogos, somos responsáveis por essa formação e sintetização desses saberes.

Diante dessa afirmação, além de se perceber que este trabalho certamente contribuirá de forma bastante significativa para outros pesquisadores que se interessam pelo tema abordado, também, por meio dele, passou a se compreender as dificuldades de aprendizagem que são vivenciadas pelas crianças disléxicas e como o Psicopedagogo pode atuar diante a esse indivíduo, à família e à escola.

Constatou-se, através deste estudo, que o trabalho do psicopedagogo, no dia-a-dia do contexto escolar, é de essencial importância, uma vez que é esse profissional que dá aparato educacional para uma docência com preocupações compartilhadas em relação aos alunos que apresentam problemas de aprendizagem, no caso desta análise, a dislexia, porque com a presença do psicopedagogo na escola, o professor não estará mais sozinho, ele poderá contar com o apoio de um profissional que o auxiliará diante dessas situações tão contrárias que se apresentam todos os dias no cenário escolar.

Conclui-se que a realidade de sala de aula é um grande desafio que ultrapassa qualquer manual ou livro que possa conter receitas prontas sobre quais as melhores metodologias para se trabalhar com crianças portadoras de dislexia ou como despertar interesse desses alunos para aprender.

Assim, faz-se necessário e ainda importante para nós, que seremos psicopedagogos, a ampliação de novas visões a respeito da realidade que o profissional de educação enfrenta, assumindo responsabilidades de um meio social que durante muitos anos tem exigido maiores competências para desenvolver um ensino de qualidade e que atenda as necessidades educativas de uma demanda de alunos que se fazem presentes na esfera escolar.

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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