INTERDISCIPLINARIDADE

 

Altina Costa Magalhães

 

 

Diante da globalização e seus desafios o homem moderno manifesta a necessidade de romper com os modelos tradicionais de ensino. A interdisciplinaridade associada às mídias desde as impressas até as de última geração propõem uma forma de vincular a teoria com a prática para que se possa evoluir e sair deste marasmo em que se encontra a educação, especialmente a educação brasileira que a cada dia, por mais que o governo propague que está investindo milhões e milhões, os resultados são sempre aquém do esperado e assim apesar do avanço científico e tecnológico que a globalização apresenta a educação não consegue transpor algumas barreiras e alcançar o que se espera da escola e das suas reais funções que são transformar o individuo e o meio em que ele está inserido.

A interdisciplinaridade ressurgiu no final do século passado a partir da necessidade de justificar a fragmentação causada por uma epistemologia de cunho positivista. Digo ressurgiu porque no início do processo de desenvolvimento na Grécia, berço da civilização da humanidade, o conhecimento não era fragmentado, era integral, não havia esta divisão entre os diversos saberes, tudo era Filosofia, todo o conhecimento era unificado, com o passar dos tempos e a evolução humana o conhecimento se fragmentou.  As ciências foram divididas em muitas disciplinas surgia aí neste contexto as diversas especialidades e a figura do especialista. E só a algum tempo a interdisciplinaridade reaparece restabelecendo pelo menos, um diálogo entre as diversas áreas do conhecimento com a finalidade de reprimir o ensino baseado no tradicionalismo.

A propósito deste comentário anteriormente destacado, é conveniente frisar que a interdisciplinaridade enquanto prática nas escolas brasileiras surgiu com a introdução dos projetos de trabalho e como uma forma de vincular a teoria com a prática e a finalidade de  introduzir uma nova maneira “do fazer do professor e do aluno”na qual o processo de reflexão e interpretação sobre este fazer permita ir tornando significativa a relação entre o ensinar e o aprender através da relação de um trabalho interdisciplinar em que as relações entre as fontes de informação, os objetivos, os procedimentos, os critérios de avaliação sejam compreendidos e utilizados na escola para gerar uma série de mudanças na organização dos projetos educacionais a serem desenvolvidos no contexto escolar

Tomando como ponto de partida algumas hipóteses é possível trabalhar qualquer tema, o desafio está em como abordá-lo com cada grupo de alunos e em especificar o que podem apreender de cada tema que se estabelece na busca de soluções para os problemas existentes na realidade dos alunos e no contexto em que vivem e atuam como seres humanos pensantes que podem a partir de uma estrutura buscar soluções para cada tema, cada problema  que pode ser resolvido, a partir de uma estrutura que deve ser desenvolvida e que pode encontrar-se em outros temas ou problemas. Assim professores e alunos são responsáveis pelo ensinar e aprender uma vez que cada um ensina o que sabe e aprende o que não sabe. Em uma sala de aula interdisciplinar existem diferentes possibilidades e interesses que se trabalhados de forma conectada cada um encontrará um lugar para aprender a aprender, e um lugar para ensinar a ensinar. Na interdisciplinaridade todas as coisas podem ser ensinadas por meio de projetos, basta que se tenha uma dúvida inicial e que se pesquise e busque evidências sobre o assunto.

As principais vantagens da interdisciplinaridade é que esta possibilita uma aprendizagem significativa, centrada nas relações, nas condições de produção, e nos procedimentos. Uma vez identificado o problema e formuladas algumas hipóteses, é possível esboçar o projeto, as ações a serem desenvolvidas. Evidentemente estas serão determinadas pelo tipo de pesquisa e de materiais didático-pedagógicos. A socialização dos resultados é parte fundamental de um projeto interdisciplinar. É de suma importância para os educandos e educadores que participaram da pesquisa que a construção e integração entre os pesquisadores  e a pesquisa sejam conhecidos pela comunidade.  Encerradas as atividades de desenvolvimento, deve-se fazer a avaliação, pois é aqui onde serão focalizados os acertos e erros, que servirão de bússola para novos aprendizados com o objetivo principal de sempre querer fazer melhor, pois na perspectiva interdisciplinar os resultados devem proporcionar melhoria da qualidade de vida, de cidadania, de mais participação nas decisões do ser individual e do ser social, ou seja, dos alunos e professores pesquisadores e comunidade.  Ao se trabalhar com projetos interdisciplinares, tanto educadores quanto educandos envoltos numa pesquisa, não serão mais os mesmos. Os resultados devem implicar em mais qualidade de vida, devem ser indicativos de mais cidadania, de mais participação nas decisões da vida cotidiana e da vida social. Devem, enfim, alimentar o sonho de que é possível transformar a realidade.

 A interdisciplinaridade não pressupõe justaposição de disciplinas, mas sim possibilidades de correlacioná-las em atividades ou projetos de estudo, pesquisa e ação por ser uma prática pedagógica e didática mais adequada aos objetivos do Ensino Médio. Entretanto atualmente ela tem sido mais utilizada por grande parte dos educadores do Ensino Fundamental visto que tal postura garante a construção do conhecimento de maneira global, rompendo com as fronteiras das disciplinas, pois apenas a integração dos conteúdos já não é mais satisfatória. Quando aplicada já nas séries iniciais do Ensino Fundamental, os professores devem incentivar os alunos a construírem relações entre os diferentes conteúdos presentes nas diversas disciplinas do currículo, etapa que não ficaria na interação e reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre as disciplinas.
Nos projetos educacionais, interdisciplinares o aluno não tem tempo certo para aprender, não existe data marcada, ele aprende a toda hora e não apenas na sala de aula.  Então, é preciso ensiná-lo a aprender, a estudar a fim de que ele estabeleça uma relação direta e pessoal com a aquisição do saber que embora adquirido individualmente, o conhecimento é uma totalidade.  A criança, o jovem e o adulto aprendem quando possuem um projeto de vida e o conteúdo do ensino é significativo para a realização do mesmo.  O aprendizado envolve emoção e razão no processo de reprodução e criação do conhecimento.

A metodologia do trabalho interdisciplinar pressupõe integrar os conteúdos, passando de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do conhecimento, a fim de superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, considerando o estudo e a pesquisa a partir da contribuição das diversas ciências, tendo o ensino-aprendizagem centrado numa visão de que aprendemos ao longo de toda a vida.  

A ação pedagógica através da interdisciplinaridade propicia a construção de uma escola participativa e decisiva na formação social do indivíduo, bem como uma prática coletiva e solidária na organização da escola. Um projeto interdisciplinar de educação deverá ser marcado por uma visão geral da educação, num sentido progressista e libertador. A Interdisciplinaridade é um avanço na educação “porque não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade, integrando-as a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos resultados. BRASIL (1999, p. 89).