INTERCULTURALIDADE E EDUCAÇÃO: Uma promoção de Vivência e Convivência Harmoniosa

Texto produzido e postado em março de 2021 em Santa Maria do Uruará - Pará

Por: Sydney Pinto dos Santos[1]

O texto abaixo, procura responder três perguntas direcionadas pela professora/tutora da disciplina: 1 – “O que entende por educação intercultural”. 2 – Na sua opinião, de que maneira é possível transformar a sociedade por meio da educação intercultural? 3 – “Como alunos, professores ou família, percebeu alguma mudança relacionada com a abordagem intercultural nas escolas na última década? Compartilhe sua experiência. Quando as mesmas foram respondidas de forma sucinta e dentro de um contexto real de vivência e convivência do autor-acadêmico.

Há um bom tempo venho acompanhando uma produção de 2008 do MEC/SEB, onde o principal objetivo é possibilitar “Indagações sobre o Currículo”, o que me leva a perceber que em um dos seus capítulos, além de discutir sobre como deve se comportar o currículo escolar, enquanto premissa ao processo de ensino-aprendizagem, dar-se uma grande importância ao tratar sobre um subtema “Cultura, diversidade cultural e currículo” dentro dos espaços escolares, tendo em vista que é um lócus social que permeiam as mais diferentes manifestações pelos indivíduos ali inseridos e inter-relacionados. Onde o autor, enfatiza que: “quando um grupo compartilha uma cultura ‘ou mais culturas’, compartilha um conjunto de significados, construídos, ensinados e aprendidos nas práticas da utilização da linguagem. A palavra cultura implica, portanto, o conjunto de práticas por meio das quais significados são produzidos e compartilhados em um grupo”. (MOREIRA, 2008, p. 27)

E isto me conduziu a perceber o que eu entendo por “educação intercultural”, que pode ser um processo em que não só existe um pensamento em questão a serem debatidos, nem uma única interpretação diante a um fato, mas uma tendência de, primeiro de respeito pelas diversas manifestações existentes dentro do contexto educacional; segundo, uma interação saudável e agregada entre as diversas culturas existentes dentro do espaço de ensino e aprendizagem. Fazendo assim, com que, os elementos ou agentes envolvidos, sejam eles professores, pais e alunos, possam ver, viver, vivenciar, e experienciar de forma harmoniosa e sem perder os elementos de sua cultura, assim como, observar os elementos construtivos de cada manifestação cultural, sem estar fazendo um pré-julgamento negativo destas manifestações.

A maneira, mais razoável e condizente de permitir que haja uma transformação possível na sociedade por meio da educação intercultural, é fazer desde o princípio de moldagem dos alunos, uma convivência destas diferentes culturas existentes na sociedade e que são de uma forma e de outra trazidas para o ambiente de ensino no bojo de cada aluno; às vezes, manifestando dificuldades e desafios aos professores, os quais muitas vezes não sabem lidar com este tipo de expediente; porém, com uma preparação/treino antecipado de como agir de inúmeras situações, estes docentes podem conduzir de maneira viável e eficaz estas manifestações de seus alunos, o que muito tem a contribuir para o fortalecimento do respeito, da ética, do compromisso com o diferente, assim como possibilitar as interações saudáveis entre os indivíduos envolvidos. Não que seja, uma questão de resolução de possíveis conflitos, mas de saber conduzir possíveis “desencontros” onde não pode haver: na escola.

Nas últimas décadas, percebi uma mudança significativa e até certo ponto incômodas para alguns colegas, visto que com a criação e o futuro incerto dos viventes de uma Reserva Extrativista, a qual trouxe em seu bojo mais incertezas e dúvidas do que benefícios e vantagens aos moradores das comunidades que então inseridas na área, a população passou a migrar para o núcleo urbano maior fora da área que ora fora definida a reserva de cunho e responsabilidade federal, assim provocando um “inchamento” das escolas locais por alunos advindos destas comunidades; assim, criando uma series de entraves, como por exemplo, a falta de vagas nos educandários, mudanças das famílias para o local, sem ter uma relação direta com as atividades locais, já que as mesmas eram da produção familiar ou de subsistência; assim, como trazendo seus costumes, hábitos , crenças e tradições  para o novo convívio; o que fez com que houvesse algumas manifestações dos próprios docentes, pois os mesmos viam as crianças destas áreas como “indivíduos menos avançados” e com pouca habilidades educacionais, o que poderia trazer grande prejuízo aos demais e ao processo, já que se tinha que absorver estes novos alunos, dando-lhes as mesmas condições e oportunidades aos já ali alocados. Ou seja, fora visível um tipo de discriminação e “repulsa” dos alunos já existentes e de alguns professores, que no caso destes últimos, viam seu trabalho desacelerar e assim prejudicar a todos. Porém, com o tempo e depois de alguns intervenções necessárias, e o próprio espaço-tempo de convivência foram amortecendo estas “discrepâncias” entre vivências, comportamentos e hábitos culturais, o que possibilitou ao surgimento de uma nova característica, quando das misturas dos indivíduos em casamentos, uniões maritais, e outros tipos de relacionamento conjugal que desencadeou ao surgimento de uma nova geração de indivíduos com outras manifestações ou com resquícios de manifestações misturadas, tornando o ambiente mais harmonioso e desconflitante.

Ou seja, este período de inserção de pequenos agricultores, coletores, criadores e pescadores, junto aos comunitários já introduzidos e que viviam no local por muito tempo, criou, nos primeiros instantes um tipo de afastamento entre os elementos de um mesmo povo, mas de manifestações culturais diferentes. Onde, acredito, os ambientes escolares, tiverem notável papel de ir aos poucos quebrando a animosidade entre os agentes que compunham estes grupos; assim como as igrejas, instituições esportivas e outros grupos, assim como a mistura entre eles através das manifestações maritais/conjugais.

 

REFERÊNCIAS

MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. Indagações sobre Currículo: currículo, conhecimento e cultura. – Brasília/DF, MEC/SEF, 2008.

 

 

[1] Professor da rede pública de ensino de Prainha – Pará.

Mestrando em Educação com Especialização em Educação Superior pela UNINI/FUNIBER.