INICIANDO UMA EMPRESA:

A Importância do Plano de Negócios para o Sucesso de uma Empresa

 

Hilário Eugénio Manhique

Universidade São Tomás de Moçambique

Doutorando em Gestão Financeira

hilá[email protected]

Cel. 823856990

 

 

Resumo

Iniciar um negócio próprio e tornar-se empreendedor pode ser o princípio de uma grande e fascinante aventura para qualquer pessoa. Ora, para iniciar uma empresa se propõe a apresentar e compreender a verdadeira importância da elaboração de um plano de negócios para que a empresa tenha maiores chances de alcançar o sucesso. Por isso, o presente estudo, com base no referencial teórico seleccionado, estudos que incidem sobre o empreendedorismo: Bakery (2014); Kuratko (2003); Kuratko (2005); Lopes (2014); Machado (2003); Portes (2001) e Silva et. al. (2003), tem como finalidade descrever as etapas necessárias para se desenvolver um plano de negócio. A pesquisa é explicativa em que se explica as etapas necessarias para um plano de negócio. Foi adoptada a pesquisa bibliográfica, feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas por meios escritos e electrónicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites relacionados com a temática – plano de negócio. Feita a discussão bibliográfica com base nos autores acima referenciados, foi possível concluir que a criação de uma empresa pressupõe a existência de uma ideia de negócio suficientemente consistente e, sobretudo, de uma vontade para a concretizar, que deve estar claramente explicita no plano de negócios.

 

Palavras-chave: empreenderismo, plano de negócio, PMEs.

 

1. Introdução

Ser empreendedor, por oposição a empregado por conta de outrem, implica aceitar os prós e os contra inerentes à criação de um negócio próprio. Ser empreendedor pressupõe a existência de uma maior realização pessoal, usufruto de uma maior liberdade, independência e criatividade, não só, mas também significa prescindir de um ordenado certo no fim do mês, de benefícios, vários, trocando, assim, uma vida de maior segurança, por uma vida caracterizada por incertezas e riscos. Quando se opta por se ser empreendedor, não existem garantias. Ganhar ou perder, ter sucesso ou insucesso depende, em grande medida, da própria pessoa, da sua capacidade para agir correctamente.

Segundo Machado et al (2010), para ser um empreendedor de sucesso é preciso ir além de desenvolver, inovar ou criar novos negócios. É necessário empreender em sua própria vida, sonhar, ter metas e desejos pessoais, que lhe dêem motivação para concretizar seus objetivos e consequentemente, obter sucesso. Os padrões de personalidade de um empreendedor exercem influência marcante no sucesso de seu empreendimento.

Ter seu próprio negócio e fazer sua própria rotina sem receber ordens do chefe é o sonho de muitos, mas com uma gama de dificuldades de que se deparam os empreendedores no começo da carreira de suas empresas, seu desempenho não é notório, portanto, insuficiente para que a mesma alcance uma estabilidade.

Assim, será importante determinar, numa primeira fase, até que ponto as características pessoais de um indivíduo, bem como as suas motivações e qualificações são ou não adequadas ao papel de empreendedor. Apesar de os empresários apresentarem, todos eles, características, aptidões e temperamentos diferentes, pode ser útil para um indivíduo, ou candidato a empreendedor, responder honestamente a um questionário que lhe permita identificar se possui ou não algumas das aptidões necessárias ao início de um negócio próprio.

Caso o indivíduo entenda que a criação de um negócio é uma decisão acertada, deve, então, dar início a um conjunto de etapas nesse sentido.

Uma das fórmulas para o sucesso é ter um planeamento por meio da elaboração do Plano de Negócio antecedendo a abertura do empreendimento, pois considera todos os cenários (económico, político, social, cultural, etc.), os diferenciais competitivos e as competências internas, além de uma avaliação realista dos recursos necessários para sua montagem.

Um empreendedor deve, antes de mais, questionar-se a si próprio. Deve efectuar uma avaliação pessoal tendente a identificar qual o tipo de negócio que melhor se adequa às suas características. Para isso, é necessário recolher várias informações, nomeadamente, os motivos existentes para a criação de um negócio próprio (dinheiro, criatividade, liberdade ou outros motivos), as aptidões e qualificações pessoais apresentadas, o montante de capital a investir, se está em causa venda de produtos ou a prestação de serviços, entre outras.

Com a elaboração de um plano de investimento, que permita identificar as necessidades de capital necessário, o empreendedor deve preocupar com a análise do mercado, com a identificação de potenciais clientes, potenciais concorrentes, níveis de preços praticados, localizações disponíveis e adequadas.

A etapa seguinte, e no âmbito institucional e direito de propriedade, prende-se com a legalização do negócio, que envolve a definição da estrutura empresarial pretendida, seguindo-se a obtenção das licenças e autorizações necessárias para a abertura do negócio e início de actividade.

Para que a empresa possa iniciar a sua actividade pode ser, ainda, necessário contratar outro tipo de serviços, tais como seguros, contabilidade, entre outros. Finalmente, deve ser assegurado o financiamento do negócio quer através de capitais próprios, empréstimos pessoais, ajudas familiares, hipotecas ou poupanças e de capitais alheios, fase que envolve já os custos de transacção.

A sistematização de todas estas questões materializa-se no plano de negócios. Esta é a sua principal e mais importante característica: estruturar a forma de pensar e de questionar se uma boa ideia pode ser ou não um bom negócio. Um plano de negócio estruturado é necessário para o sucesso do novo empreendimento. Alguns empreendedores fracassam por não terem feito com atenção necessária a lição de casa. O plano de negócio não precisa ser sofisticado, tem que tocar nos aspectos certos, permitir as análises corretas, induzir as decisões críticas para o sucesso do empreendimento. Como qualquer investimento apresenta riscos, é preciso prevenir-se contra eles. O empresário deve estar informado que, para abrir uma empresa, é preciso uma série de conhecimentos básicos antes do processo para sua legalização. Primeiramente, os riscos acima citados se referem à sazonalidade (produtos de época), variações da economia (avaliação da situação económica para não sair no prejuízo), e os controles governamentais, cujas regras formais variam com frequência.

Um empreendedor de sucesso será aquele que apesar de seguir o seu plano de negócio é suficientemente flexível e criativo, para se adaptar às alterações do mundo que o rodeia.

De acordo com Hisrich e Peters (2004), o conceito de plano de negócio é um documento que descreve todos os elementos e estratégias internos e externos relevantes para dar início a um novo empreendimento. Esse plano é com frequência uma integração de planos funcionais como os de marketing, finanças, produção e recursos humanos.

Contudo, há possivelmente três perspectivas que deveriam ser consideradas. A primeira é a perspectiva do empreendedor. O empreendedor entende melhor sobre a criatividade e tecnologia envolvidas no novo negócio. A segunda é a perspectiva do marketing. Muitas vezes este empreendedor vai considerar somente o produto ou a tecnologia, e não saberá se alguém vai adquirir seu produto, isso prova que o empreendedor tem que tentar enxergar seu negócio através dos olhos dos clientes. Em terceiro, o empreendedor deve visualizar seu negócio através dos olhos do investidor. São necessárias boas projeções financeiras; se o empreendedor não tiver habilidades para preparar essas informações, então fontes externas são úteis.

Ainda que grande parte do plano de negócios decorra de uma cuidadosa pesquisa de mercado, é necessário adicionar algumas estimativas e consultar especialistas para fazer previsões mais precisas, mesmo que seja caro esse auxílio, e evitar gastos imprevistos no futuro.

1.1. Procedimentos metodologicos 

A presente pesquisa quanto aos objectivos é explicativa. Para GIL (2008, p. 27), são aquelas pesquisas que têm como preocupação central identificar factores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenómenos. Este é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o “porquê” das coisas. Uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra descritiva. No entanto, nem sempre é possível a realização de pesquisas rigidamente explicativas em ciências sociais.

Assim, com o estudo, explicamos as etapas necessarias para um plano de negócios. Criar uma empresa pressupõe a existência de uma ideia de negócio suficientemente consistente e, sobretudo, de uma vontade para a concretizar, que deve estar claramente explicita no plano de negócios. De igual forma, com o estudo, explicamos o processo de criação de uma empresa.

Para o efeito, foi adoptada a pesquisa bibliográfica, feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e electrónicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites relacionados com a temática – plano de negócio.

Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objectivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32).

2. Fundamentação teórica

Em Moçambique, o número de planos de negócios apresentados e elaborados têm aumentado a cada ano. Todos indicativos actuais do mercado apontam para essa afirmação como concreta. O primeiro indicativo é o aumento da disseminação da cultura empreendedora nas últimas gerações. Instituições de apoio ao empreendedorismo para pequenas e médias empresas, consultores, instituições de ensino, a mídias e os próprios empreendedores são os maiores influentes desta disseminação. Muitos empreendedores defendem a ideia de que não basta estimular ou criar novos negócios. É necessário planear seus resultados e suas acções. Por isso, utilizam o plano para minimizar possíveis riscos e passam, a exigir sua preparação (MACMILLAN, 1993).

O plano de negócio tem como principal objetivo fazer a definição do futuro negócio, estabelecer as premissas para implementação e, sobretudo, orientar o sócio proprietário e demais interessados a respeito da constituição e operacionalização da empresa em questão. Para Soares (2004), a sobrevivência de um empreendimento pode ser caracterizada em três classes distintas: desempenho ligado ao foco de actuação do empreendedor, voltada para suas características pessoais; desempenho dos detalhes e peculiaridades que cada negócio requer, sendo que estas, na maioria das vezes são distintas e incomparáveis; e desempenho relacionado com o perfil de cada mercado, isso englobando localização, preço, clientela, entre outros.

Em relação ao papel do empreendedor, Timmons (1999) estabelece que é uma pessoa com a capacidade de identificar e aproveitar novas oportunidades e dessa forma transformá-las em novos negócios, buscando optimizar os recursos e administrando-os de forma necessária e adequada. O processo da criação da empresa, da ideia ao crescimento, é dinâmico, sendo constituído por fases de avanço e recuo, integrando dúvidas e alterações e, muitas vezes, avança devido a acontecimentos pontuais e exógenos. A evolução deste processo é influenciada por um sistema de variáveis que interagem entre si e influenciam o resultado final (RUSSEL, 1997).

Analisando os diversos autores que estudaram o tema, percebe-se que antes de dar início à fase de criação do negócio deve-se passar por uma fase de preparação e planeamento, que engloba tanto o planeamento em si quanto a capacitação do empreendedor. Esta etapa conta principalmente com a definição de objetivos e estratégias que devem ser seguidas, além da preparação da infraestrutura necessária e a preparação da equipe ou pessoa responsável pelo processo.

Drucker (1985) apresenta a inovação e o empreendedorismo quer como uma prática quer como uma disciplina, optando por se focalizar nas acções do empreendedor por oposição à psicologia e temperamento do empreendedorismo. Inclusive considera que todas as organizações, incluindo as instituições de acção social, devem tornar-se empreendedoras para sobreviverem e prosperarem numa economia de mercado.

A inovação hoje se tornou sinónimo de sobrevivência. Por fim, ser empreendedor no mundo globalizado actual é muito mais difícil do que há alguns anos. O seu principal concorrente não é mais o seu vizinho de rua ou cidade, mas aquele que está muito distante de si. No âmbito do plano de negócio, muitos projectos fracassam, pois, a falta de experiência é um factor essencial. Se este empreendedor adquirir conhecimento necessário ou associar-se a alguém que já possua experiência, será muito mais fácil de suceder seu negócio.

Todos empreendedores deveriam documentar as necessidades dos clientes antes de projectar o plano de negócio. Essas necessidades podem ser identificadas da experiência directa, análise de mercado ou cartas de clientes. Se tiver uma compreensão de como o negócio efectivamente lhes atenderá será fundamental para o sucesso do novo empreendimento.

3. Empreendedorismo no mundo globalizado

O empreendedorismo é um tópico bastante abordado na literatura actual, despertando bastante interesse em todo o mundo e aparece destacado como sendo o motor da economia (KURATKO, 2005). A integração económica dos países e a competitividade do mundo globalizado em que vivemos é estimulada pelas alterações do ambiente internacional. Por isso, no cenário da economia globalizada, o desafio dos empreendedores já actuantes ou que ainda vão abrir um negócio é o de criar uma empresa realmente competitiva de acordo com os padrões de qualidade e os preços internacionais (PORTES, 2001).

Cientistas como Cantillon (1755) e Say (1839) foram os primeiros a levantar a questão do empreendedorismo e seus estudos visavam fundamentalmente do estudo de empresas e criação de novos empreendimentos e desenvolvimento da administração de negócios. Por meio de seus estudos, constatou-se que os empreendedores eram pessoas que corriam riscos e investiam capital próprio em negócios.

No actual mundo globalizado, os negócios estão focados nos lucros e perdas. A eficácia e a produtividade são constantemente enfatizadas. De acordo com Silva et. al. (2003), os empreendedores genuínos são aqueles que dão importância às pequenas coisas, pois acreditam que elas se tornarão, no futuro, grandes conquistas. Inovação e crescimento são considerados duas palavras-chave para se definir um empreendedor. Eles sabem identificar as oportunidades de negócios, os nichos de mercado e sabem organizar-se para crescer.

De acordo com Coda apud Silva et al. (2003), o empreendedor globalizado não se conforma com sua situação actual, ele arrisca transformar um problema em uma oportunidade, tem como pontos fortes: obstinação, gosto pelo controle, capacidade para perceber o todo. E seu ponto fraco é ter dificuldade para admitir que existam pessoas que pensem de modo diferente.

Levantamentos do SEBRAE demonstram que um grande contingente de micro e pequenas empresas no Brasil fecham antes de completar um ano, facto aliado ao mercado ser extremamente competitivo, e sua consolidação estar diretamente ligada à capacidade de estabelecer níveis de qualidade que lhes permitam participar da competição. A falta de acesso à informação e factores incontroláveis ou políticas desfavoráveis também são apontados como responsáveis pela falência ou encerramento desses negócios.

A globalização tem provocado diversas e constantes mudanças no mundo todo. Neste cenário, são bem-sucedidos os indivíduos que se adaptam rapidamente às alterações e estão sempre dispostos a enfrentar desafios e, muitas vezes, a correr riscos. Nesse contexto, o empreendedorismo é extremamente importante, assim como os empreendedores que têm como desafio criar e manter uma empresa verdadeiramente competitiva e de acordo com os padrões de qualidade e os preços internacionais.

 

4. Empreendedorismo e inovação em Moçambique

O empreendedorismo tem originado nas últimas décadas um surgimento de novas Pequenas e Médias Empresas (PME), com especial destaque para as de crescimento rápido. Estas novas empresas entendem-se como cruciais nos processos de inovação e na condução de mudanças tecnológicas que potenciam aumentos de produtividade. As mesmas têm contribuindo para a criação de riqueza, criação de emprego e melhor qualidade de vida das populações e destacam-se pela sua capacidade de adaptação a um ambiente de mudança (KURATKO, 2003).

Na visão economicista o empreendedor é alguém que combina recursos, trabalho, materiais e activos de forma a obter um valor superior. É alguém que introduz mudanças, inovação e uma nova ordem. Por outro lado, ainda na origem do termo, vários economistas clássicos destacavam os meios de produção de uma função de produção normal: terra, trabalho e capital.

Moçambique, depois da assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), passou a assistir a um diálogo bipartido anual contínuo entre o governo e o setor privado e, desde então, o governo empreendeu uma série de reformas, destinadas a melhorar o ambiente de negócios. Apesar do optimismo do governo quanto à sua política e acções de reforma do ambiente empresarial, o crescimento das PME’s não tem sido rápido e em consequência dessa lentidão, os postos de trabalho criado tem sido mínimo e limitado aos sectores dominados por grandes investidores internacionais (por exemplo, a indústria extrativa e os serviços financeiros). Estas PME’s são afectadas por uma série de barreiras.

As PME’s desempenham um papel fundamental na redução da pobreza. Elas estão actualmente a contribuir para a redução da pobreza através do crescimento da produção, criação de empregos e geração de renda acrescida para a população de baixa renda. Daí a importância de compreender que mecanismos, políticas acções que Moçambique tem conduzido no contexto do ambiente empresarial para a promoção das PME´s.

O fim da guerra em 1992 teve um grande impacto positivo imediato para a vida das populações de todo o país. A circulação de pessoas e bens em todo território nacional estimula a produção nacional e cria um bem-estar em todos os moçambicanos. A economia foi-se consolidando rumo a uma economia do mercado de Laissez-Faire, Laissez-Passer, onde os consumidores devem “maximizar utilidade” e as empresas “maximizarem lucro”, termo adoptado por Adam Smith.

A economia de mercado surge numa altura de vicissitudes de situações para Moçambique, ditadas pela guerra e pelas calamidades naturais.

O país continua a seguir o padrão típico de economias impulsionadas por factores como o investimento directo estrangeiro (IDE), fortemente concentrado nas indústrias extrativas, ao mesmo tempo que as infraestruturas. Moçambique emergiu de décadas de guerra para se tornar uma das economias africanas com melhor desempenho. O bom desempenho dos sectores dos transportes, comunicações e construção, a recuperação ligeira na agricultura, a implementação consistente de reformas fundamentais, a estabilidade macroeconómica global, reforma de políticas, aumentos consideráveis do IDE, etc., estão na origem desse dinamismo.

Não obstante o desempenho positivo que o País tem vindo a registar, os desafios para o combate à pobreza ainda persistem. Em Moçambique, o empreendedorismo é regido pelo Decreto n.º 44/2011, de 21 de setembro, referente ao Estatuto Geral das Micro, Pequenas e Medias Empresas que define as PME em:

  • Micro empresa- Empresa com menos de 4 trabalhadores ou com volume de negócio anual inferior a 1.2 milhões de meticais;
  • Pequena empresa- Empresa com o número de trabalhadores compreendido entre 5 e 49 e volume de negócios entre 1.2 e 14.7 milhões de meticais;
  • Média empresa- Empresa com o número de trabalhadores compreendidos entre 50 e 99 e o volume de negócios superior a 14.7 e inferior a 29.97 milhões de meticais.

Como se pode observar, o volume de negócios e número de trabalhadores são os dois critérios fundamentais usados para comparação. O empreendedorismo tem a ver com as pessoas e não as organizações. Destaca GEM (2005) na sua definição inicial, onde esta considera empreendedorismo como sendo a participação das PME´s na criação do emprego. Lopes (2014) em seu trabalho sobre empreendedorismo em Moçambique também não fornece nenhuma informação específica sobre a capacidade das empreendedoras, e empreendedores em geral, sobreviverem no ambiente de mercado e negócio tão incomum como é o moçambicano.

Os dados do CEMPRE realizado em 2004 indicam que no país existem cerca de 28.474 PMEs registadas na base de dados, com 129.225 trabalhadores empregues formalmente. Das 28.474, cerca de 2.621 são médias empresas, enquanto 25.853 são pequenas empresas. As pequenas e médias empresas constituem 89,5% e 9,1% do número total de empresas, respectivamente. De acordo com a mesma fonte, as PME´s empregam 129.225 pessoas, ou 42,9%, do número total de trabalhadores, enquanto as grandes empresas retêm 171.920, ou 57,1%. Cerca de 69.076 trabalhadores, ou 22,9% do total de trabalhadores, encontram-se nas médias empresas. Os dados indicam que as PMEs, em especial as micro-empresas, são as unidades empresariais predominantes que absorvem parte considerável da população Moçambicana economicamente activa.

A partir desta análise bibliográfica, facilmente se conclui que o empreendedorismo cumpre um importante papel em relação a criação de novas PME’s e consequentemente ao desenvolvimento de uma determinada região e, em especial, Moçambique.

No nosso contexto, tendo em conta a organização, e o resultado das acções empreendedoras, as PME’s pode-se relacionar estas acções ao papel das PME’s na economia nacional.

  1. Criação do emprego. A economia moçambicana apresenta uma baixa transformação estrutural, comfinada principalmente a megaprojetos nos sectores do alumínio, indústrias extrativas e energia que não gera empregos suficientes para a população jovem. Nesta óptica e ao contrário das grandes empresas, as PMEs aparecem como solução e oferecem maiores oportunidades de emprego à força de trabalho do país.
  2. São cruciais para a competitividade de um país. As PMEs sólidas e competitivas podem ser traduzidas em competitividade nacional como um todo, encorajam a concorrência e a produção e inspiram inovações e o empreendedorismo.
  3. Diversificam as actividades, estimulam a inovação e a criatividade. As PMEs estimulam a inovação, a criatividade e diversificam as actividades económicas oferecendo produtos e serviços que o mercado procura num determinado momento, como também, novas linhas de produtos e serviços que ainda não foram introduzidos no mercado.
  4. Mobilizam recursos sociais e económicos. As PMEs são o garante do desenvolvimento socioeconómico dos países e por conseguinte, os agentes sociais que mobilizam recursos sociais e económicos nacionais que ainda não tenham sido explorados.

A análise do ambiente de negócios das PMEs em Moçambique mostra que existe uma série de obstáculos que impedem o crescimento das PMEs. As dificuldades dos empreendedores são de vária ordem:

  • Ambiente institucional e custos de transação

Baker Tilly Moçambique (2014) conduziram um estudo sobre as PME’s em todo o país com o objectivo de apreciar a envolvente das mesmas. Nesse estudo foram algumas barreiras nomeadamente: a fraca qualificação de mão-de-obra, gestão financeira ineficiente, corrupção e complexidade dos processos públicos (barreiras reguladoras, regras formais), relacionamento entre o sector público e privado, carga fiscal excessiva e um custo elevado do pagamento de impostos (custos de transação), acesso ao financiamento da banca, baixo espírito empreendedor.

  • Fraca qualificação de mão-de-obra

Segundo a Comissão Consultiva do Trabalho (CCT), a escassez de mão-de-obra qualificada é um dos maiores desafios que se colocam ao desenvolvimento da economia moçambicana, uma vez que tem originado perdas de competitividade face ao exterior. Este problema é sentido em todo o país, embora os impactos sejam mais centrados no norte do país devido a menor concentração de instituições de ensino nessa zona.

Segundo Sena et al. (2007) a influência da cultura empreendedora é de fundamental importância para o processo de desenvolvimento de uma nação. Neste sentido, a introdução de disciplinas de empreendedorismo na educação básica tem um caráter revolucionário. Isto significa uma quebra de paradigmas na tradição didática, uma vez que aborda o saber como consequência dos atributos do ser. A maior vantagem competitiva de qualquer nação é, sem dúvida, o ser humano, educado com qualidade, preparado e motivado.

  • Gestão financeira ineficiente 

A falta de capacidade de gestão financeira constitui um dos grandes constrangimentos para o sucesso do empreendedor notório em todo o país. Uma empresa é formada por pessoas, processos, hábitos. Quanto mais produtivos forem as pessoas e os processos, mais tempo e dinheiro necessários e altos níveis de produtividade alcançados.

  • Corrupção e complexidade dos processos públicos 

Obstáculo com menor impacto na zona norte do país devido ao tamanho reduzido do meio empresarial e elevado nível de convivência entre cidadãos, o que reduz o nível de corrupção. Os sectores que sentem esta lacuna com maior intensidade são a prestação de serviços, comércio, agricultura, construção e serviços associados e indústria. As barreiras reguladoras impedem a flexibilidade e a agilidade, que são os principais motores da competitividade das PMEs. Deste modo, a economia deve eliminar o peso regulador tanto quanto possível.

  • Carga fiscal excessiva e um custo elevado do pagamento de impostos

Em relação à carga tributária, as empresas consideram que os impostos são elevados e não são adequados a jovens empresas e empresas em crescimento. Destaca-se aqui o diferencial entre o ISPC (3% do volume de negócios se este for igual ou inferior a 2.5 milhões de meticais) e o IRPC (34% do volume de negócios se este for superior a 2.5 milhões de meticais) preocupa as empresas pois pretendem crescer e aumentar o volume de negócios mas temem que o imposto a aplicar possa agir como uma barreira ao crescimento. Estas consideram que deveria ser criado um imposto intermédio para potenciar o crescimento das empresas. Paralelamente a isto e segundo os gastos do governo são vistos como consumo improdutivo e a excessiva tributação como uma espécie de suicídio.

  • Acesso ao financiamento da banca

Obter financiamentos disponíveis de apoio as PME é uma outra barreira. O empresário deve ter um alicerce forte ou dificilmente alcançara o sucesso. Muitos empresários reinvestem seu lucro e tem este como a principal fonte de financiamento. Como consequência disso acabam enfrentando problemas de liquidez não conseguindo suportar os seus custos operacionais.

O ambiente macroeconómico e político nacional, através das Políticas e Intervenção do Estado são consideradas como tendo relevância significativa nas actividades das empresas, influenciando directamente a eficiência dos processos em termos de tempo e custos. A Legislação Laboral que é caracterizada como exageradamente protectora, a elevada Carga Tributária para jovens empresas e empresas em crescimento e os processos de Tributação do IVA, considerados ineficientes, são as disposições institucionais formais que caracterizam as regras de jogos como barreiras ao crescimento económico do país.

No que concerne ao ambiente político nacional, Moçambique deve continuar a envidar esforços para garantir a manutenção de um ambiente de paz estabilidade e a consolidação da democracia, uma condicionante para desenvolvimento económico e social através da participação activa e incondicional do empresariado e empreendedor em todas as esferas da vida económica, social e político do país.

O risco para Moçambique é o de perder oportunidades, avaliando que crescer com instabilidade significa parar de crescer. É crucial que a estabilidade política se mantenha para que o país continue a atrair o IDE que permita melhorar as infraestruturas e o desenvolvimento humano.

5. Conclusão

O plano de negócios é, desde logo, um estudo exaustivo da empresa que se pretende criar, sendo fundamental que seja objectivo e que atenda a todas as circunstâncias, contingências e resultados, sendo essas as principais características que devem marcar a sua elaboração. Criar uma empresa pressupõe, antes de mais, a existência de uma ideia de negócio suficientemente consistente e, sobretudo, de uma vontade para a concretizar, que deve estar claramente explicita no plano de negócios.

Os aspectos fundamentais inerentes ao processo de criação de uma empresa aqui referenciados indicam que os empreendedores operam num ambiente precário, com imensas dificuldades no contexto de regras de uma economia de mercado. As regras formais através de instituições de estado tem constituído barreiras ao crescimento das micro e pequenas empresas e consequentemente ao crescimento económico dos países em geral e em particular, Moçambique.

Também, as PME’s lutam pela sobrevivência do seu negócio na medida que elas competem de forma desigual com o sector informal e com empresas internacionais. A corrupção, complexidade dos processos Públicos, a carga fiscal excessiva e um custo elevado do pagamento de impostos, são as mais referenciadas notas dominantes que prejudicam o desempenho do empreendedor, não só, como também no desenvolvimento e crescimento económico de um dado país, mesmo com um plano de negócio devidamente estruturado. Ao planear um novo empreendimento se faz necessário a realização de um Plano de Negócios, onde é traçado o caminho a ser seguido pelo empreendedor.

No cenário da economia globalizada, o desafio dos empreendedores é o de criar uma empresa realmente competitiva e de acordo com os padrões de qualidade e os preços internacionais. A globalização tem provocado diversas e constantes mudanças no mundo todo e a falta de acesso à informação e factores incontroláveis ou políticas desfavoráveis também são apontados como responsáveis pela falência ou encerramento desses negócios.

Referências

Baker Tilly Moçambique (2014). PME em Moçambique Oportunidades e Desafios. s/l;

Empreendedorismo no Brasil (Relatório Nacional). Curitiba: Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Paraná.

Global Entrepreneurship Monitor (2003). Global entrepreneurship monitor.

GIL, António Carlos. (2008). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª edição Atlas Editora; São Paulo.

Kuratko, D. F. (2003), “Entrepreneurship Education: Emerging Trends and Challenges for the 21st Century”, Proceedings of the 17th United States Association of Small Business &  Entrepreneurship Conference, Hilto Head Island, pp 3-20;

Kuratko, D.F. (2005), “The Emergence of Entrepreneurship Education: Development, Trends, and Challenges”, Entrepreneurship Theory & Practice, Vol. 29.

Lopes, Maria Antónia (2014). Desenvolvimento de Empreendedoras em Moçambique. Escolar editora

Machado (2003).: Relatório Nacional: Empreendedorismo Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal. Curitiba: Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Paraná

Portes, Márcio Rosa. (2001). Fazendo do mercado o princípio e o fim dos esforços: algumas reflexões sobre as posturas dos empreendedores de micro e pequenas empresas. Revista Angrad. V. 2, n. 1, p. 23-45;

Silva, Wellington Marques da et. al. (2003). Empreendedorismo para Não-Empreendedores Aprendendo a Empreender em Tempos de Globalização. Revista Angrad. V. 4, n. 4, p. 86-91;

 

No plano de negócios, o empreendedor será forçado a explicar porque acredita que conseguirá alcançar seus objectivos, ou seja, porque o negócio será vitorioso. Para tal, ele precisa organizar suas ideias e discutir a validade de hipóteses, o que permitirá a identificação dos riscos do negócio. É exactamente aí, que reside a importância de um bom plano: é muito mais fácil alterar negócios que estão somente no papel do que aqueles em pleno funcionamento.

 

Como exemplo, um empreendedor quer abrir uma empresa de construção civil e não possui nenhum conhecimento sobre a engenharia ou construção civil, qual a chance dele suceder?