Influência do Nominalismo em John Locke
Publicado em 12 de agosto de 2013 por maria do livramento rodrigues soares salgado
Influência do Nominalismo em John Locke
Maria do Livramento Rodrigues Soares Salgado[1]
Resumo
A abordagem de Locke a cerca do entendimento humano é mostrado através de sua teoria empírica, das influências vindas da Idade Média, onde se questiona o universal. Todo esse questionamento abrange a discussão sobre as ideias, qualidades, e essência. Estas discussões serão necessárias para compreendermos como se encontra o intelecto, desde quando se tem conhecimento e qual é o seu limite.
Palavras chave
Intelecto – Conhecimento – Experiência - Nominalismo – Universal
John Locke como empirista escreveu em sua obra: Ensaio Acerca do Entendimento Humano, sua primeira formulação paradigmática metodológica e criticamente consistente. Nesta procura introduzir um uso melhor e mais perfeito do intelecto. Examina o próprio intelecto humano, suas capacidades, suas funções e seus limites.
O que podemos perceber a respeito dessas analise é que Locke procura fazê-la de forma que todo o “corpo” do intelecto seja estudado, ou seja, estuda o que o ser humano é capaz de fazer, pensar, etc; suas funções e limitações, ou melhor, até onde seu conhecimento vai.
Sabe-se, segundo Locke, que nascemos com a capacidade (que é inata), e que o conhecimento (que adquirimos através da experiência) vem dela. Então, temos que, primeiramente, sermos capazes, para depois conhecermos.
Quando os empiristas dizem que todo o conhecimento humano advém da experiência, querem dizer que todas as ideias derivam de uma determinada “atividade” já realizada, que ainda não existia no intelecto, que só possa a fazer parte de sua memória depois de sua realização. Sendo assim a experiência o limite intransponível de todo conhecimento possível e a ideia a representação intelectual de uma determinada coisa.
Locke ao dizer que o conhecimento não é inato está refutando o inatismo. Segundo ele um ser nasce com seu intelecto em branco, sem nenhum conhecimento. Em seu desenvolvimento, começa a ter experiências que constituirão o seu intelecto. A partir de então o ser está dotado de conhecimento.
Há dois tipos de experiência: a externa e a interna. A primeira refere-se a ideias simples de sensação, como a cor, o som, o movimento e a segunda são as ideias simples de reflexão, como o prazer, a dor, ideias de percepção, etc. podemos dizer que são experiências distintas, porem envolvidas, pois os sentidos quando em relação com objetos particulares, levam diferentes percepções das coisas para a mente. Então recebemos a ideia de cor, gosto, ou seja, o que for sensível. E o que os sentidos levam para a mente é o que retiramos dos objetos externos para a mente que projetou estas percepções.
Uma combinação de ideias simples formam as ideias complexas, onde o entendimento é ativo, atuando de forma que as ideias simples se combinem e se relacionem. As ideias complexas se dividem em três classes: substâncias, de modos e de relações. Mas a que precisamos dar ênfase é a substância, pois são formadas de uma série de qualidades ou ideias simples, não a conhecemos, pois só conhecemos o que vem da experiência, que nos mostra um conjunto de qualidades sensíveis, ficando claro que o limite do conhecimento humano é a experiência.
Segundo Locke as qualidades primárias são as qualidades reais dos corpos, ou seja, aquilo que faz com que o objeto seja o que é, como sua forma, tamanho. Enquanto que as secundárias é uma combinação de qualidades primárias, o sabor, a cor, a dor, que são subjetivas e derivadas do encontro do objeto com o sujeito; quando o sujeito entra em contato com o objeto há essa combinação, havendo a formação de uma qualidade secundária.
Locke ao falar de essência real e nominal, mostra que a real refere-se aquilo pelo qual ela é o que é. Digamos que é o próprio ser de uma coisa e a nominal é o conjunto de qualidades que estabelecemos que uma coisa deva ter para ser chamado por determinado nome.
Para explicar melhor podemos exemplificar com a cadeira. Ela em sua essência real retrata algo que demonstra porque ela é cadeira. E a essência nominal seria demonstrada através de suas características.
A questão do universal também foi articulada por Locke, que refuta “que o que é, é”. Nesta afirmação a possibilidade de uma determinada coisa ser e não ser é impossibilitado. Ele faz uso do princípio de identidade da Lógica aristotélica para fazer sua crítica a cerca do universal. A esta proposição ele remete como exemplo uma criança e um idiota para mostrar que não são todas as pessoas que conhecem esta afirmação, dirá aceitá-la. No exemplo demonstra que até estes indivíduos absorverem a veracidade ou falsidade passarão por processos que pra se chegarem a eles necessitam de algumas demonstrações, ou seja, precisam experimentar. Mas os idealistas rebateriam dizendo que eles possuindo razão, são capazes de processar o que está impresso na memória. Porém, Locke afirmaria que não tem como um ser em tal fase/condição ter consciência do que está fazendo. Ela pode sim possuir a razão, mas ainda não sabe comparar.
No particular é possível conhecer gradativamente, de acordo com a suficiência racional humana. Sendo assim, cada um perceberá a qual caminho seguir, em quem acreditar o que deve fazer e não deixar-se levar por algo que lhe foi imposto, acreditando que todos irão seguir, pois suas teorias enfatizam que nascemos com isso gravado.
Ao criticar o Idealismo[2], defende e conserva o que na Idade Média se conhecia como Nominalismo[3]. Dessa forma, podemos ver que Locke concorda que o universal não passa de ideias abstratas. E como só podemos conhecer o que experimentamos, o que é universal já não é seguro, pois como se pode confiar em algo que não é experimentável.
Nas discussões nominalistas, Guilherme de Ockham[4] insistia em que tudo é particular e que o discurso referente aos universais é metalinguístico. Não diferente Locke concorda que palavras representam ideias particulares, portanto o que é universal não possui a credibilidade de todos, apesar de voltar-se para o todo, não demonstra em seus argumentos, palavras que não sejam abstratas.
Existirá sempre uma dúvida no que é abstrato, pois não é palpável, sem possibilidade de ser tocado, não se pode analisá-lo, por isso que Locke e os demais nominalistas não acreditam na teoria dos universais.
Diante do que foi citado acima podemos ver o quanto Locke teve influência do nominalismo, pois ao tratar da essência origem e alcance do conhecimento humano é contra aos universais que dizem em suas teorias que as ideias são inatas.
Ao investigar a origem das ideias ele mostra que existe nas ideias, a sensação que se origina com mudança mental através dos sentidos e a reflexão que vem pela alma, através de tudo das coisas que ocorrem ao seu redor. E as ideias simples que nascem das sensações, das reflexões ou da combinação das duas, correspondem às ideias que correspondem a uma realidade que existe em si e por si.
Como o que causa as ideias simples é a qualidade dos objetos foi feito uma distinção entre as percepções como as qualidades primárias, que são a extensão, forma, movimento, etc; e as secundárias que são sabor, cor, cheiro, etc.
E ao criticar o idealismo diz que o conhecimento vem após a experiência sensível. Sem deixar de tratar do universal, não aceita sua teoria, pois através de um argumento querem provar a existência das ideias inatas, sendo que Locke fala que de início erram porque como algo pode ser universal e inato se uma criança e um idiota não conhecem este argumento. Através disso fica claro que John Locke não deixa o nominalismo sem credibilidade e sim o princípio de ideias inatas/universal.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CORDÓN, J. M.N; MARTÍNEZ, T. C. História da Filosofia: Do Renascimento à Idade Moderna. Lisboa/Portugal: edições 70, 1998. 172. Vol 2.
FERNANDES, F. Dicionário Brasileiro Globo. 39ed. São Paulo: Globo, 1995.
LOCKE, J. (tradução de AIEX, Anoar) Ensaio Acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1997. Vol 2.
LOUX, M.J. Nominalismo. Universidade Notre Dame, EUA. 2006. Disponível em: <http://criticanarede.com/met_nominalismo.html>. Acesso em: 02 de Abr. 2011.
PORTO, L.S. Filosofia da Educação. 1ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.72 Pág. Passo a Passo.
[1] Aluna do Curso de Filosofia da Universidade Estadual Vale do Acaraú.
[2] Por Idealismo entendemos a concepção segundo a qual o nosso conhecimento não está assentado na experiência sensível, que, por ser transitória, não fornece certeza alguma, e sim no acesso a uma realidade não sensível, composta por ideias.
[3] Sistema filosófico da idade Média segundo o qual as espécies, os gêneros e as entidades não são seres reais, mas sim abstratos.
[4] Guilherme de Ockham, em inglês William of Ockam (existem várias grafias para o nome deste franciscano: Ockham, Ockam, Occam, Auquam, Hotham e inclusive, Olram). (1285 em Ockham, Inglaterra — 9 de abril de 1347, Munique), criador da teoria da Navalha de Occam, foi um frade franciscano, filósofo, lógico e teólogoescolástico inglês, considerado como o representante mais eminente da escola nominalista, principal corrente oriunda do pensamento de Roscelino de Compiègne (1050-1120).