Outro dia assisti “71: Esquecido em Belfast” (’71. Inglaterra. 2014. Yann Damange). O filme conta a saga de um soldado inglês abandonado por sua tropa dentro da zona de conflito entre católicos e protestantes norte-irlandeses na Belfast de 1971. O enredo não procura as razões políticas da extensa revolta. Não tenta explicar as motivações que levaram concidadãos a lutarem entre si e nem se interessa pelos propósitos do IRA (Irish Republican Army – Exército Republicano Irlandês) e do seu braço político, o “Sinn Fein”. Apenas põe em cheque até que ponto a cretinice pode ser usada como arsenal de guerra, sem abalar a credibilidade da força militar.

A ação se desenrola em ruas desertas à noite, tiroteios constantes, explosões, incêndios, população refém do medo, polícia truculenta e partidária, enquanto o Soldado Gary tenta voltar a seu quartel.
 
Não pude deixar de notar certas semelhanças com o Brasil dos dias atuais. O cenário decadente e a desmedida brutalidade, de parte a parte, mostrados na película, são quase idênticos ao que temos hoje em diversos pontos do país.
 
Lá também o exército foi convocado para restabelecer a paz pública e apoiar instituições policiais locais. Como aqui, a força armada inglesa não tinha o dever de intervir na guerra instalada entre patrícios. Sua missão principal era de apenas assegurar o controle da ordem e dar suporte bélico com sua presença.
 
Só que as semelhanças com o Brasil violento de hoje param por aí. “As Tretas”, como na época era chamado o conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, tinham clara conotação política.
 
Deste ponto em diante, fica clara a diferenciação entre revolução popular pelas armas – geralmente ideal de luta nacionalista - e desavença banal entre facções de ladrões, ricos e pobres, como ocorre em nossa terra.
 
Aqui, a simples bagunça de desordeiros maltrapilhos - não sufocada a tempo com o emprego da força da lei - ganha aspectos de crise nacional. A mundiça adora ser confundida com movimento social legítimo. Fecha comércios e indústrias; prejudica atividades produtoras; depreda bens públicos e privados; impõe toque de recolher; restringe espaços públicos; invade propriedade alheia; intimida cidadãos de bem; interrompe circulação de bens e serviços prioritários; destrói meios de comunicação; paralisa atividade pública essencial, sempre em nome da suposta “revolução social” sem sociedade. São simplesmente criminosos e vândalos travestidos de revolucionários sem causa definida.
 
Aliás, no Brasil nunca se sabe exatamente qual ladrão, se rico ou pobre, está colocado nos polos de negociações desses impasses. Para o senso comum, em qualquer dos lados e seja quem for, estará sempre mancomunado com os punguistas do momento na luta sem consciência e lealdade. Nenhum deles se importa - ou faz a mínima ideia - com o tamanho da destruição que causa ao tecido social. Ou seja, mantida esta escala, nossa "guerra" insana não passa de mesquinharias selvagens e inconsequentes. Mera briga entre quadrilhas que se resolveria facilmente com atuação policial séria e aplicação correta da lei. Nada mais que isso!
 
Mas, deixando de lado as quizilas, ainda no filme “71: Esquecido em Belfast”, há uma fala-conceito que os “especialistas” brasileiros em segurança pública deveriam considerar antes de aparecerem na televisão para falar bobagens: “Guerra é quando um monte de babacas ricos manda um monte de babacas burros para matar um monte de babacas pobres”. Sem mais...