Inevitável? Passa-se uma vida inteira tendo que tomar decisões. Das mais banais até as mais complicadas. No entanto existe um dia que uma atitude muito séria, que será determinante para nós e para os que nos rodeiam, deve ser tomada. Ou continuaremos a viver nos violentando e submissa aceitando a vontade e as atitudes dos outros: tolerando, desculpando, compreendendo. Quando existe reciprocidade e reconhecimento, tudo se torna uma rotina compatível com nossos limites de frustrações. No momento que começas a perceber que remas solitariamente contra a maré, e que só depende de ti, manter o barco, sem naufragar, é como se estivesses nascendo e abrindo os olhos para uma realidade, que sempre esteve presente. Não adianta passar mãos de tinta para esconder as rachaduras de um quadro. A tinta, com o passar do tempo desaparece e a imagem que se visualiza, então, é de uma pintura em ruínas. Aceitar, tolerar, desculpar, são conjugados no infinitivo, ignorando-se todos os outros tempos verbais. A situação pode se dolorosa e sofrida. A tomada de uma nova postura é também sofrida e deveras difícil. No entanto, quando o copo transborda, não adianta secar a água derramada. É um ato vão e sem sentido. Como decidir sem remorso, após tanto tempo de entender, entender e entender? A atitude deve ser tomada. Que fazer com a culpa que assola a alma, pensando em momentos que foram melhores, bem aceitáveis, e até prazerosos? Ou passas uma existência toda te iludindo, colocando a poeira de uma tempestade, que agora parece ser avassaladora, não embaixo do tapete, mas, sim na rua da amargura, ou segues outro caminho . Existe uma encruzilhada: um dos caminhos é bem conhecido e não levou a nada. O outro é uma incógnita. Abrir mão de um passado tão próximo e ao mesmo tempo tão longínquo, sem deixar-se sensibilizar pelas lembranças tão presentes, é como abrir um baú, sentindo o mofo que dele exala, mas em seu conteúdo encontrando a tua vida, em cada partícula de sentimentos escondidos e guardados com carinho. Seja qual for o caminho escolhido há renúncias e incertezas: o conhecido tornou-se insuportável, o desconhecido desperta o receio de um vazio infinito. Existirá uma terceira via? Só se for de uma mão só. O cansaço chega, a idade corre inexorável. Não existe mais espaço para mágoas e desilusões. Que labirinto tão longo! Haverá saída? Só o tempo dirá. E de cada escolha dependerá o curso da existência. Para quem toma a atitude e pensando naqueles que ama, é áspero demais admitir que este amor, não foi suficiente para encobrir a unilateralidade das relações. É um desabafo? Sim. Há uma tristeza imensurável? Sim. Resta o que? Continuar vivendo de acordo com a realidade ou simplesmente existindo, até o ato final, quando baixa o pano e a derradeira cena se faz presente. Neste momento é o imponderável, o mais desejado, pois com ele chega a paz no coração marcado pelas intempéries, que não puderam ser evitadas. Os grãos do castelo de areia, construído sobre o concreto, foram levadas pelo vento, sem dó. Que incompetência para construir com solidez, um simples relacionamento. Um fio de esperança, ainda teima em persistir: além da vida, poderá quem sabe, existir a felicidade tão procurada. Themis