Barros, Gustavo. Indisciplina e Protagonismo Juvenil. 2015

     

 

      Segundo Heidegger “Nenhuma época soube tantas e tão diversas coisas do homem como a nossa. Mas, em verdade, nunca se soube menos o que é o homem”, é por meio dessa expressão que se introduz a noção de que com os avanços tecnológicos e científicos, de modo geral, a escola tradicional se faz arcaica e abre-se a oportunidade de se fazer uma nova escola, onde o professor não é o detentor do conhecimento, mas sim o portador dos caminhos corretos para se chegar a ele.

     Cabe ao atual aluno a possibilidade de ser o projetor e, mesmo o autor, de seu próprio caminho de estudo, já que este enxerga nas modernidades tecnológicas um destino autodidata, os sites de pesquisas na internet detêm toda a carga de conhecimento produzida pelo homem, de modo que, qualquer busca ou dúvida que haja em qualquer pesquisador ou estudante, pode ser acessado instantaneamente, não necessitando de qualquer agente para que se dê esse aprendizado.

     Então, qual é o papel do professor na atualidade?

     Estamos em meio a mudanças impressionantes e, como todo processo de mudança, há que se compreender que os indivíduos envolvidos no decorrer da evolução deste estão como ‘cegos perdidos no tiroteio’, alguns compreendem a internet como inimiga, outros ainda, como ferramenta mais que necessária. A favor ou contra, ela existe. Cabe a nós e à escola a adaptação.

     O papel do professor é aquele que a tecnologia não pode e não consegue fazer para o aluno. Dar o conhecimento, as ferramentas o faz. Alinhavá-los, não. Assim a reflexão e formação de opinião é puramente humana.

E aluno?           

     Em Portugal, José Pacheco, idealizador do projeto Escola da Ponte, defrontou-se com uma escola cheia de violências e indisciplina. Elaborou e lutou por um projeto que, na atualidade, colhe frutos e é objeto de análise de diversas Universidades europeias e, mesmo as brasileiras. Dificilmente, um pedagogo se forma no Brasil hoje sem ter ouvido falar desse projeto universal para escolas. A quebra dos blocos disciplinares e os diversos projetos elaborados pela escola formam, acima de tudo, cidadãos e pessoas de ética, além de quebrar os paradigmas de uma educação conteudista.

     Assim, o novo aluno deve lidar com a carga de conhecimento que a internet e a vida acaba por exigir, se preparar para o mercado e estar apto à aprendizagem constante. A construção da sabedora do bem viver deve ocorrer de modo contínuo. Em um futuro próximo, as pessoas serão avaliadas de modo a ser considerada a dinâmica, o processo com que aprendem com facilidade, Ética e preocupação com o meio ambiente.

     A Educação Integral proposta pelo Estado, no Brasil, pode atingir a excelência com o comprometimento sério das pessoas nele envolvidas mas, atingirá o apogeu quando os estudantes, dele pertencentes perceberem que o caminho para lapidação cognitiva e construção do conhecimento deve ocorrer pela percepção do protagonismo.

     Protos + Agonistes = Principal, Primeiro + Competidor, luta. Entender que ser o protagonista, aquele agente principal do seu próprio processo de aprendizagem, assim, cabe ao aluno entender que a lapidação de si não vem pelo outro, mas de si mesmo, num processo subjetivo. Protagonismo Juvenil, consiste em fazer o adolescente perceber que a capacidade de desenvolvimento cognitivo e construção do conhecimento vem de si mesmo. O estudante não é o problema, entretanto a solução, segundo o Professor Antônio Carlos Gomes da Costa.

 

A PROBLEMATIZAÇÃO DA (IN)DISCIPLINA

     O termo disciplina está terminantemente associado a regime de ordem, imposta ou acordada. Quando esta se rompe, acredita-se que o ser sujeito a ordem disciplinar não cumpre, ou não aceita a colocação submissa. Mas, também está associada a ordem que convém ao bom funcionamento de determinada organização.

     A problemática hoje vivenciada nas instituições escolares nada mais é do que resultado de todos os fenômenos sociais vigentes. Se a sociedade está mais agressiva isso será refletido no universo das escolas também. Cabe aqui análises muito mais profundas.

     Porém um fator visto em Freire (1996) está que a escola, que deveria ser um ambiente libertador tem se tornado uma prisão. Cabe ressaltar a problemática social. Assim, de acordo com a significações basilares diferenciadas à leitura do problema disciplinar pode ser visto sobre diferentes pontos de vistas, teóricos e epistemológicos. O que a inteligência gerencial das instituições pode transformar em múltiplas estratégias de ação no afã de entender a realidade institucional.

CONSIDERAÇÃO FINAL: Protagonização Juvenil combate por si só os Problemas Disciplinares

     Quando o adolescente se percebe autor da própria construção da didática e dos objetivos de aprendizagem, sendo ele o agente principal do processo de ensino-aprendizagem, a escola cumpre o seu papel. Daí já não se faz mais necessário sistema catedráticos e metódicos de avaliação pois, a escola faz com que o adolescente alcance os objetivos traçados pela LDBEN  9394/96. Que reza a consolidação do que foi aprendido no fundamental, preparação para a cidadania e trabalho, condições de reflexão e aperfeiçoamento constante, compreensão das ciências e tecnologias, com autonomia intelectual com pensamento crítico. Portanto a escola cumpre o seu papel para com o aluno e, este seu dever para com a sociedade. (Art. 35º).

     Para José Pacheco, em suas diversas publicações, a autonomia é o primeiro elemento da percepção do eu, e do desenvolvimento da subjetividade, gerando assim a abertura e desenvolvimento dos conceitos de singularidade e respeito sobre o a diferença que o outro representa. Quando o aluno dentro das escolas se desenvolve pela autonomia, ou seja, como agente protagonista do processo de aprendizagem toda a problemática disciplinar ou indisciplinar cai para segunda ordem. Afinal, os problemas de disciplina vêm, em suma, pela falta de objetivo ou percepção deles, na vida escolar. E, isso é mais que obvio na realidade dos profissionais da educação. Desinteresse, falta de ânimo e vontade de se dedicar a erudição, ocorre principalmente porque lhes faltam a vontade de ser.

ESCOLA DA PONTE – Site oficial – disponível em: http://www.escoladaponte.com.pt/, acesso em: 02 de Maio de 2010.
FREIRE, Paulo – Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa – São Paulo: Paz e Terra, 1996 .
PACHECO, José – “Escola dos sonhos existe há 25 anos em Portugal”, disponível em: http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0043.asp - acesso em 02 de Maio de 2010