O uso de opióides intratecais se mostra muito comum na atualidade em virtude de vários pontos: melhora a qualidade do bloqueio com anestésico local, excelente analgesia intra e pós-operatória e boa estabilidade hemodinâmica. No entanto, os efeitos colaterais ainda são uma constante, tais como retenção urinária, náusea e vômito e prurido. Sabidamente o sufentanil se relaciona com aumento na incidência de prurido após raquianestesia em cesariana. Não se trata de evento grave, porém é bastante desconfortável, tendo incidência de 60% a 100% em pacientes obstétricas.

               O serviço de Anestesiologia do Hospital Anchieta tem seu protocolo de raquianestesia para cesariana baseado na administração de uma solução composta por anestésico local, morfina e sufentanil. Durante a avaliação pós-anestésica, passamos a investigar a incidência e a intensidade do prurido nas pacientes submetidas a cesariana utilizando sempre a mesma dosagem de opióides (morfina: 1mcg/Kg e sufentanil: 0,05mcg/Kg). Isto foi realizado entre os meses de fevereiro a junho de 2017, totalizando-se 157 cesarianas com raquianestesia neste período (grupo I). Em seguida, entre os meses de julho e novembro do mesmo ano, não mais utilizamos o sufentanil e não foram alteradas as doses de morfina e nem de anestésico local. Foi realizada a avaliação da incidência e da intensidade do prurido nas 174 cesarianas com raquianestesia (grupo II). Nos dois grupos também foi avaliada a incidência e a intensidade da dor moderada, intensa ou insuportável (≥4 na escala numérica de avaliação de dor), tanto na sala de recuperação pós-anestésica quanto no quarto.

               A tabela abaixo mostra os resultados obtidos:

EVENTO

GRUPO I

GRUPO II

Cesarianas com raquianestesias

157

174

Prurido

74,4%

61,9%

Prurido leve

35,3%

31,9

Prurido moderado

22,6%

19,5

Prurido intenso

15,5%

10,5%

Dor ≥ 4 na sala de recuperação

7,3%

7,4%

Dor no quarto

18,9%

17,7%

 

               A incidência e a intensidade de prurido utilizando sufentanil na raquianestesia e a ocorrência e intensidade de dor estão dentro dos parâmetros da literatura. Após a suspensão do uso do sufentanil, observamos diminuição do prurido, sobretudo do intenso sem que houvesse aumento da incidência de dor pós-operatória (tanto na sala de recuperação pós-anestésica quanto no quarto).

                Observando-se os resultados apresentados, podemos observar que a incidência de prurido em pacientes obstétricas é alta e a não utilização do sufentanil pode diminuir sua ocorrência sem comprometer a analgesia pós-operatória e não interferir na qualidade do bloqueio intraoperatório, mantendo níveis elevados de satisfação das pacientes.