Introdução

O Império Mwenemutapa (que era o título do seu chefe), foi um império que
floresceu entre os séculos XV e XVIII na região sul do rio Zambeze, entre o planalto
do Zimbabwe e o Oceano Índico, com extensões provavelmente até ao rio Limpopo.
O território desse Império corresponde a boa parte dos actuais território de
Moçambique e Zimbabwe.


Este Estado africano era extremamente poderoso, uma vez que controlava
uma grande cadeia de minas e de metalurgia de ferro e ouro, cujos produtos eram
muito procurados por mercadores doutras regiões do mundo.
É importante notar que, ao contrário dos soberanos de muitos reinos atuais ou
recentes, os Mwenemutapas não formavam uma cadeia de descendentes - o
sucessor de um Mwenemutapa falecido (ou deposto) era escolhido pelo conjunto
dos seus conselheiros e dos chefes seus aliados, guiados por um ou mais "chefes
espirituais" que interpretavam os "sinais" enviados pelos espíritos ancestrais da
tribo.


A situação política deste povo era verificado através de exploradores e
explorados tal como aconteceu com muitos outros estados que floresceram em
Moçambique, em que os explorados trabalhavam uns 7 dias para o Mwene.


1. As ruinas do império dos Mwenemutapas

Fonte: SOUZA, 2007: 40
O estado de Mwenemutapa nasceu do deslocamento da população do Zimbabwe
para o vale do Zambeze. Este deslocamento foi motivado por várias razões:
 As contradições entre dois dos mais importantes clãs da região, os clãs Rozwi
e Torwa, pelo controlo do comércio com a costa;
 O aumento da população numa região pouco fértil como era a região do
grande Zimbabwe;
 A redução das águas do rio Save, o que dificultou a comunicação com a
costa.
Essas contradições originaram dois novos Estados: o Estado de Torwa, com
centro em Khami, situado a oeste do Grande Zimbabwe, e o estado de
Mwenemutapa.
Mutota foi o primeiro chefe supremo do estado de Mwenemutapa e a sua
capital era Zuangonibe, com muralhas mais pequenas do que as de Khami.
Depois da morte de Mutota ficou a governar o seu filho Matope. Foi durante o
período de Matope que o Estado de Mwenemutapa aumentou o seu território,

criando uma federação de Estados como Báruè, Manica, Danda, Chedima e Teve,
que foram obrigadas a pagar-lhes tributos. Mais tarde essas regiões separaram-se
do Mwenemutapa, transformando-se em Estados independentes com um
desenvolvimento de política de aliança.

1.1. Localização geográfica

O império de Mwenemutapa ocupava a terra correspondente a actual zona
centro de Moçambique e grande parte de Zimbabué com as seguintes limitações:
 Norte: Rio Zambeze;
 Sul: Rio Limpopo;
 Este: Oceano Índico;
 Oeste: Deserto de Khalahari (Zimbabwe).

1.2. Formação do Estado Mwenemutapa

Cerca de 1450, o Grande Zimbabwe foi abandonado pela maior parte dos
seus habitantes e não são muito claras as razões do abandono apesar de serem
apontados os motivos anteriormente mencionados. Entre os Estados vassalos
encontravam-se Sedanda, Quissanga, Quiteve, Manica, Báruè, Maungwé, além de
outros mais no interior. Os seus chefes pagavam tributos ao Mwenemutapa reinante
e eram confirmados por este quando subiam ao poder. Os Mwenemutapas
dominaram, a sul do Zambeze, até finais do século XVII e sobreviveram no vale do

Zambeze e no Sudoeste de Tete até ao começo do século XX.

1.3. Organização política e administrativa

O Estado do Mwenemutapa estava muito bem organizado. As populações
viviam nas aldeias sub a direcção de um chefe. Um conjunto de aldeias formava
uma chefatura dirigida por um chefe chamado Fumo.

Na comunidade Karanga-shona, um conjunto de chefaturas formava
uma região, governada por um mambo ou Nkozi. O Mwenemutapa o
chefe supremo tinha poderes absolutos; isto é, tudo lhe pertencia. Na
direcção do estado era auxiliado por 9 altos funcionários, os
conselheiros. Entre estes conselheiros. Entre estes conselheiros
havia um chefe religioso, um chefe de justiça e um chefe do exército.
SENGULANE, 2013: 14,
O Mwenemutapa tinha ainda outros funcionários que eram os Mutumes e os
Enfices. Os Mutumes eram mensageiros dos Mwenemutapas e os Enfices
aplicavam a justiça. Todos estes funcionários e chefes pertenciam à classe
exploradora, deviam obediência as ordens do Mwenemutapa e eram mudados
quando este queria.
Os trabalhadores, que formavam a classe exploradora dedicavam-se a
agricultura, a pastorícia e a mineração.

1.3.1. A comunidade aldeã

A atividade produtiva essencial das comunidades aldeãs Shona baseava-se
na agricultura. Os principais cereais cultivados eram mapira, a mexoeira, o nexemim
e o milho. Nas zonas costeiras com solos aluvionares cultivava-se o arroz
usualmente para a venda. Mais o nível de forças produtivas era ainda baixo.
Nos trabalhos agrícolas o principal instrumento de trabalho era a pequena
enxada de cabo curto e a agricultura praticava-se sobre queimada.
A pecuária, pesca e a caça bem como as atividades artesanais surgiram
como apêndices complementares da agricultura, submetendo-se aos imperativos do
ciclo agrícola.
O trabalho nas minas aparecia como uma imposição do exterior da
aristocracia dominante ou dos comerciantes estrangeiros.
As Mushas1 viviam num regime de auto-subsistência e estavam
fundamentalmente orientadas para a produção de valores de uso. Todas as relações

[...]