Beijar alguém com calor nos torna viciados em braços, pernas, em puxões de cabelos sedutores, em corpos suados, boca macia como pluma de blush, na rigidez com que se encaixam os abraços, e como cabemos perfeitamente dentro deste espaço, na agonia e no desespero desejando mais e mais abraços e calor. E no encaixe perfeito de um beijo e um abraço, o desespero se sufocou e notou a calmaria reinar em seu interior!

Estúpida perfeição parece que Deus usou os doces mais gostosos, o melhor trigo cultivado, o açúcar mais cristalizado, e o líquido mais natural pra unir e criar essa coisa! Que coisa sem rumo, sem contornos disformes, sem olhar mal parecido, um homem alinhado ao molde perfeito, que inspira o toque mais melodioso que se pode pensar.

Que boca inspirada, desenhada pra cumprir com os deveres de beijar sedutivamente. Recheada de penas, como um travesseiro, onde minha boca se aconchegou, acostou-se, relaxou e desejaria dormir confortavelmente, sentindo aquela sensação maravilhosa, aquele gosto neutro, nem doce, nem amargo, mas na medida exata, feito exatamente para ilusionar outra boca enamorada.

As mãos que tragam incansavelmente cada parte do corpo, buscando alinhar as curvas, e cada toque perfeito, daquele jeito de quem estava deliciosamente matando a sede, e cada gesto demonstravam a gostosura de ser desejado, de que foi lapidada a melhor forma para sentir apagar o fogo do desejo.

O corpo feito dilúvio onde transbordou e sem pensar duas vezes saltei as águas mesmo sem saber nadar, por aquela coisa sobre-humana nem me importava morrer afogada. Nas águas profundas aprendi a respirar e me adaptei ao ambiente natural, nadei inconstantemente, pulei no oceano, fiz piruetas, brinquei, trotei, cai, me levantei, sorri como se tivesse comido a melhor alga marinha.

Que coisa estranha, coisa sem sentido, aquela coisa dilacerou meus instintos, mudou as expectativas, criou novas sensações, novos sonhos, mudou meus preceitos e conceitos, me incentivou a novas literaturas, novas profissões, mas principalmente ensinou-me a mitologia dos momentos inesquecíveis.