1  INTRODUÇÃO

Em 2007, após o estouro da bolha especulativa do setor imobiliário dos EUA, teve início uma crise financeira que se espalhou pela economia mundial. Esta crise trouxe enormes transtornos aos países centrais e ainda é um assunto de grande relevância, que continua se estendendo à atualidade.

A evolução da crise de, imobiliária para financeira internacional, mostrou a vulnerabilidade e expôs as várias falhas isntitucionais e regulatórias, até então ignoradas, do centro financeiro internacional. Neste cenário, o Brasil, adotou políticas monetárias e creditícias a fim de evitar maiores quedas no nível do produto e elevação da taxa de desemprego a fim de seguir com a recuperação econômica e reversão por completo da recessão de 2009. A adoção dessas medidas, podem ser consideradas como um reflexo da experiência adquirida pelo país quanto as várias crises sofridas no passado.

Deste modo, pretende-se neste trabalho fazer uma breve abordagem sobre os acontecimentosprimordiais que deram origem a Crise de suprime de 2008, assim como seus impactos na economia brasileira e, a partir deste ponto, descrever os principais aspectos de regulação do setor bancário do país e as políticas anticíclicas adotadas pelo governo a fim de amenizar os efeitos da crise na economia. 

2 CARACTERIZAÇÃO DA CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL DE 2008/2009 

Passados seis anos,o mundo ainda sente os desdobramentos da crise financeira iniciada em 2008/2009 após o anúncio de concordata do banco norte americano Lehman Brothers. Deste modo, faz-se necessário entender o que desencadeou esta crise e quais os impactos causados por ela no Brasil. 

2.1  Origem da Crise 

A crise financeira americana foi desencadeada a partir do estouro de uma grande bolha do mercado imobiliário combinada com a desorganização dos mercados financeiros e seguida pelo colapso do crédito bancário. A bolha imobiliária americana não surgiu do nada, mas sim, de eventos que contribuiram para a ascensão dos preços dos imóveis. Roque (2013) destaca duas políticas governamentais,surgidas ainda na década de 90 e voltadas para o setor imobiliário, como principais responsáveis destes eventos.

A primeira segundo Roque (2013), foi à estatização dos bancos hipotecários Fannie Mae e Freddie Mac.Responsáveis em garantir a liquidez do mercado hipotecário, estes bancos compravam dos bancos comerciais, os empréstimos concedidos por eles aos compradores de imóveis. Deste modo, os bancos comerciais, conseguiam manter o limite entre ativos e patrimônio líquido estabelecido pelo Banco Central e ficavam livres para fazer novos empréstimos. A segunda política foi a Ação afirmativa para empréstimos. A partir dessa ação, as agências governamentais pressionavam os bancos a fazerem empréstimos mais arriscados em nome da igualdade racial. Deste modo, conforme destaca Roque (2013), a lei CRA (Community Reinvestment Act) foi reabilitada, de modo que, qualquer alteração que um banco quisesse fazer em suas operações comerciais, deveria constatar aos reguladores que estas beneficiavam a minoria. Deste modo, os bancos passaram a fazer empréstimos ruins, baseados em padrões de crédito inexistentes.

No início dos anos 2000, o mercado imobiliário americano, estava em acelerado aquecimento devido às facilidades de empréstimos concedidas pelos bancos a partir de menores taxas de juros e maior concorrência dos agentes financeiros que atuavam no mercado de hipotecas. Deste modo, conforme destaca Micheletti (2008, p.19) “verificou-se uma expansão da concessão de empréstimos imobiliários mais arriscados a tomadores sem histórico de crédito ou com histórico de inadimplência, visto que o mercado financeiro "tradicional" não oferecia retornos tão elevados”.

Deste modo, mediante a euforia do mercado devido aoboom dos preços dos imóveis e grande abundância de crédito, a crise de 2008 se originou a partir dos elevados empréstimos hipotecários que não levavam em conta a renda e histórico dos mutuários, criando um ciclo vicioso com a participação dos bancos em transações cada vez mais arriscadas.

2.2  Efeitos da Crise no Brasil 

A economia brasileira, até meados de 2008, encontrava-se em acentuado crescimento e, juntamente aos países em desenvolvimento, resistia aos efeitos da crise em função principalmente do elevado preço das commodities, elevado nível de reservas internacionais e dinamismo das economias asiáticas. Segundo Castilho (2011), o primeiro semestre de 2008 apresentou uma alta exorbitante no preço das commodities, beneficiando assim as economias em desenvolvimento e fazendo surgir o entendimento de que essas estivessem isentas dos efeitos da crise. Outro fator importante é o papel relevante do investimento estrangeiro, que em 2008, apresentou números na casa dos US$ 71,8 bilhões o que causou grande impacto na consolidação das contas externas (IPEA, 2010).

Ocampo citado por Castilho (2011) descreve que a crise financeira internacional passou por três fazes: a primeira em meados de 2007, manifestando-se primeiramente nos EUA e impactando negativamente o volume de financiamento dos mercados internacionais; a segunda, a partir de julho de 2008 com a queda dos preços das commodities e a terceira, considerada por Ocampo como o epicentro, em setembro de 2008 quando assume características sistêmicas.

 Após a passagem pelo epicentro da crise, percebe-se que o principal efeito para a economia doméstica foi sobre os fluxos de comércio. Castilho (2011, p.102) observa que, “no caso brasileiro, a forte desvalorização do real, no segundo semestre de 2008, impôs perdas importantes a determinados exportadores brasileiros”.

O Brasil só sentiu realmente os efeitos da crise no segundo semestre de 2008. Rios e Iglesias citados por Castilho (2011) atribuem que a demora do país em reconhecer e reagir à gravidade dos efeitos da crise deve-se ao forte ritmo de crescimento do país naquele momento, com o recorde de US$ 198 bilhões nas exportações.

Almeida (2009, p.1) analisa que, os principais canais para que a crise se propagasse no Brasil, foram: 

A exaustão dos créditos para o comércio exterior, seguida da retração dos mercados externos e dos investimentos estrangeiros, paralelamente à queda brusca nos preços dos principais produtos de exportação, o que gerou desemprego setorial no Brasil e revisão completa dos planos de investimentos na base produtiva nacional. 

Neste cenário, Castilho (2011, p. 105) analisa que a queda da demanda externa e do preço das commodities e repentina saída de capitais levaram a desvalorização do real, impactando diretamente na saúde financeira das grandes empresas exportadoras, de modo que, as exportações apresentaram quedas de 7,5% e 20,3% em outubro e novembro de 2008 respectivamente, permanecendo assim até meados de fevereiro de 2009. Como resposta, o Banco Central injetou liquidez no sistema a partir de redução dos depósitos compulsórios, extensão de créditos ao setor bancário, atuação na frente cambial e de comércio exterior com a redução dos juros de referência (ALMEIDA, 2009).

Percebe-se assim, que mesmo sentida tardiamente pelo Brasil, a crise financeira impactou o comércio internacional do país com a mesma intensidade que os países desenvolvidos. Isto leva a percepção de uma nova geografia do comércio internacional brasileiro, aonde que, ao longo das últimas décadas, o país vem diversificando suas relações de exportação, devido ao ganho de novos mercados e a perda de importância dos parceiros tradicionais como EUA e União Europeia reforçando a especialização da exportação de produtos de menor valor agregado (CASTILHO).

Para o cenário de 2014, IEDI (2014), espera momentos de turbulência e calmaria nos mercados internacionais devido aos riscos que ainda assombram o desempenho da economia mundial, como por exemplo, a desaceleração da China, incertezas quanto ao crescimento dos EUA e os problemas estruturais da área do Euro.

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