UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAU-UEVA

CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO-CENFLE

CURSO DE LETRAS: LÍNGUA INGLESA

DISCIPLINA: LITERATURA INGLESA II

PROFESSOR DOUTOR: MÁRTON TAMÁS GÉMES

 

GLAUCYENNE CAVALCANTE DOS SANTOS

 

ILUSÃO VERSUS REALIDADE NO CONTO THE GARDEN PARTY

 

SOBRAL

2018

 

ILUSÃO VERSUS REALIDADE NO CONTO THE GARDEN PARTY

 

SANTOS, Glaucyenne Cavalcante Dos[1]

 

  1. INTRODUÇÃO

 

Este trabalho tem como objetivo apresentar o contexto social que a personagem principal protagonista Laura está inserida, outras classes sociais existentes que contrastam o contexto vivido por Laura e de que modo suas ações contribuem para o conto. Além disso, como essas atitudes podem estar inteiramente relacionadas a ilusão e a própria realidade da personagem focalizador central.

O presente artigo abordará sobre classes sociais e como esse tipo de hierarquia está evidente no conto The Garden Partye como o comportamento e as ações de Laura fazem parte da caracterização da personagem. Ela não tem controle da sua vida social. Sendo notório que a personagem se caracteriza como ingênua, imatura e usa sua condição durante a narração de acontecimentos de transição de etapa da infância a sua fase adulta, nomeada de coming-of-age-story.

O artigo científico fundamenta-se com as respectivas pesquisas bibliográficas. Conforme Correia (2005), Duncker (2004), Lima (2002), Marcus (1976). As referências no trabalho contido auxiliam na reflexão do conflito interno vivenciado pela personagem no momento de ilusão para a realidade. Ou seja, fundamentam o conflito entre as classes sociais que apresentam o contexto entre as famílias e a própria plenitude presente no conto The Garden Party. Além disso, esses autores auxiliam na compreensão de identificação dos sentimentos obscuros vivenciados pela personagem protagonista Laura.

Este artigo analisará a plenitude, o contraste que os elementos presentes na obra representam para a obra e como a literatura do século XX é oposta aos empresários e a favor da classe trabalhista. Os estilos literários e convenções literárias perdem os seus poderes em um século conturbado acerca da ambiguidade e da dúvida em que predominam pela fragmentação do mundo e da época. O trabalho irá discutir acerca da epifania presente na obra e principalmente, como ela emoldurou o conceito de beleza no personagem morto.

ILUSÃO VERSUS REALIDADE NO CONTO THE GARDEN PARTY

 

      O conto The Garden Party foi publicado em 1922 e escrito por Katherine Mansfield que foi uma das escritoras modernistas responsáveis por focar na mudança na escrita de língua inglesa. Ela foi um marco na história da literatura pelo seu estilo. The Garden Party é uma obra que evidencia a ilusão e realidade da personagem por meio dos elementos que evidenciam a plenitude (plantas, animais, comida, família). Laura representa a classe social alta.

Segundo Duncker (2004, p. 58): “[...] Class division was one of her subjects. She does this best when she dramatizes the small, daily symptoms of class conflit […]”

É notório que o estilo de vida entre os Sheridans e Scotts, e a família do morto representa um paralelo entre a realidade dos dois tipos de classes sociais que é apresentado no conto The Garden Party: a classe social alta e a classe social baixa. Porém, é incontestável que no início, ela só se identifica como a única classe que existe pela sua própria ingenuidade. A inocência presente na personagem não a permite enxergar a realidade existente ao seu redor, seu mundo é fictício ou imaginável até o momento do acidente, Até então, isso marca a transição da etapa infantil a fase adulta. Laura está entre a inocência e maturidade. Essa transição é nomeada de coming-of-age-story.

Desse modo, Laura se caracteriza como uma personagem ingênua e inocente, principalmente porque ela vive no seu mundo de ilusões até deparar-se com a realidade.

 

¹INITIATION STORY: A kind of short story in which a character- often but not always a child or young person-first learns a significant, usually like-changing truth about the universe, society, people, himself or herself. He moves from innocence to experience, from ignorance to knowledge, initiated into experience or maturity. This also is called a “coming of age” story.

_____________________

[1]           Semautoria.      Literary terms for discussing fiction.

Disponível em:<http://english.tongji.edu.cn/ymwx/pdf/meiwenxueshuyu.pdf.> Acesso em 27 de dezembro de 2018

 

            Por meio da citação acima, é notório que o amadurecimento de Laura será fortemente implantado e fortificado através da sua experiência e conhecimento da realidade e pelo distanciamento da sua ilusão e perda da sua ingenuidade no decorrer do conto.

            As classes sociais dos ricos estão associadas a passarinhos, logo sabem voar. Eles estão relacionados a toda plenitude.

            A plenitude representa quatro elementos: plantas, animais, comidas e a família. Em que, Mra. Sheridan representa a deusa da plenitude, plantas, agricultura e da fertilidade. Ela seria uma representação da mitologia grega.

            A comida da festa é farta, o jardim é descrito de modo relevante e se aproxima da ideia de plenitude por ter plantas. Porém, a obra é marcada por um contraste. Enquanto, a classe social dos ricos é associada a pássaros, a dos pobres é associada a dos bichos rastejantes. A favela é caracterizada pela escuridão e o povo que nela habita representa a pobreza. As casas retratam a ausência de luz. Esses elementos representam de fato um contraste entre pobreza e o luxo caracterizado pela casa de Laura. Confome Mansfield (1998, p.130)“Of course she knew them”. “Well, there’s a Young chap living here, name of Scott, a carter. His horse shied at a traction-engine, corner of Hawke Street this morning, and he was thrown out on the back of his head. Killed”.

            A classe social baixa é pouco valorizada no conto. É como se a favela representasse um nada na vida daqueles que compõem a classe social alta e isso torna-se evidente na seguinte citação: “Stop the Garden Party? My dear Laura, don’t be so absurd. Of course we can’t do anything of the kind, nobody expects us to. Don’tbesoextravagant”. (Mansfield, 1998, p. 130). Ou seja, era algo rotineiro, a classe alta não se importar com as necessidades da classe baixa. Portanto, nada impedia dar continuidade à festa, visto que o “incorreto” ou o “incomum” seria interromper com a programação.

            Quando os personagens são chamados pelo pensamento do acidente, eles tentam distanciar o pensamento. Laura é presenteada com um chapéu a fim de que a atenção dela seja desviada e o acidente deixe de ser focalizado naquele exato momento:

‘I don’t understand,’ said Laura, and she walked quickly out of the room into her own bedroom. There, quite by chance, the first thing she saw was this charming girl in the mirror, in her black hat trimmed with gold daisies and a long black velvet ribbon. Never had she imagined she could look like that. Is mother right? She thought. And now she hoped her mother was right. Am I being extravagant? Perhaps it was extravagant. Just for a moment she had another glimpse of that poor woman and those little children and the body being carried into the house. But it all seemed blurred, unreal, like a picture in the newspaper. I’ll remember it again after the party’s over, she decided. And somehow that seemed quite the best plan. (MANSFIELD, 1998, P.133)

 

            Por meio da citação acima, percebe-se que Laura ainda está imatura a sua própria condição. Pois, simbolicamente ao repassar o chapéu, Mra. Sheridan estaria repassando a sua identidade e responsabilidade dela para a garota. Substitui-la seria uma oferta e desviando a atenção de Laura, a garota se colocaria no lugar da mãe que é considerada uma rainha. O chapéu representa um símbolo que significa a coroa (relacionado à cabeça). Portanto, simbolicamente, significa o poder que lhe foi protocolado as ideias.

            Os pobres são retratados dentro da obra como algo sem importância e valor. Porém, o pensamento de Laura ainda a perseguia:

 

A perfeição mágica da festa consegue sobrepor-se às inquietações de Laura através do chapéu e do efeito causado pela visão da sua imagem no espelho. Estes dois elementos, [...], acabam por tornar a imagem dos vizinhos enlutados desfocada e irreal. O chapéu, que será usado até o final pela protagonista, simboliza o refinamento, a elegância e a capacidade econômica da classe social a que Laura pertence, contrastando com os xales das mulheres do bairro vizinho. [...]

(CORREIA, 2005, P.127).

 

            Então, a primeira e única opção de Laura era ser como Mra. Sheridan, em que poderia manipular tudo e representar a plenitude, riqueza e beleza. Portanto, Laura tem duas alternativas. Ela poderia assumir a realidade ou o papel de Mra. Sheridan. Ao tentar assumir a realidade, ela estaria se solidarizando com a família do morto e consequentemente não aceitando a continuidade da festa. Laura está a procura de certezas.

            As escolhas da personagem, o sofrimento da família do morto e a miséria insere Laura na realidade.

            A epifania está presente durante o conto. Durante e depois da festa, após o acidente, é como se a personagem protagonista percebesse em um determinado instante que há dois mundos: aquele que a personagem Laura vive (o mundo do luxo, riqueza e plenitude) e o mundo dos pobres. A percepção da personagem se deve por causa do acidente de um personagem que não representa a sua classe social. A vítima representa a classe social baixa. Essa rápida percepção momentânea é chamada de epifania.

            Para Edgar Allan Poe, o conto deve apresentar um efeito único no caráter ou atitude da personagem, de modo que, gere uma impressão total no leitor.

            A epifania está associada nas escolhas e as ideias de Laura.

            Segundo Marcus (1976, p.196), ela demonstra um grau de amadurecimento no tocante a sua própria essência e a sua realidade:

“[...] Laura discovers the reality and the mystery of death, which Discovery seems to ease the burden of living and yet demand that life be understood. Although her problems are not solved, the conclusion suggests that she is in a better position to find life’s reality.[…]”. Ou seja, mesmo que Laura seja caracterizada pela sua ingenuidade e inocência a personagem ultrapassa o mundo escuro em que vive com seus sentimentos bons. Isso prova o caráter que a personagem Laura tem diante de seus sentimentos confusos, enigmáticos e inacessíveis.

Segundo Lima (2002, p. 53), “Laura desfruta de um amadurecimento interior que a faz posicionar-se contrariamente aos padrões em que fora criada”. Ou seja, pode-se analisar por meio da citação de Lima que Laura era o revés da situação padrão em que vivia. A personagem estava amadurecendo pelas suas próprias experiências e sofrimento de vivenciar a dor da família do morto.

            Uma outra epifania da personagem Laura a ser observada é quando a autora destaca os seus sentimentos:

 

There lay a young man, fast asleep-sleeping so soundly, so deeply, that he was far, far away from them both. Oh, so remote, so peaceful. He was dreaming. Never wake him up again. His head was sunk in the pillow, his eyes were closed eyelids. He was given up to his dream. What did garden parties and baskets and lace frocks matter to him? He was far from all those things. He was wonderful, beautiful. While they were laughing and while the band was playing, this marvel had come to the lane. Happy…Happy…All is well, said that sleeping face. This is just as it should be. I am content. (MANSFIELD, 1998, p. 137)

 

Conformea citação presente na obra, o morto estava em um sono profundo. Em um local, onde o caráter é mais relevante do que as condições sociais e a boa ação é mais importante do que a hipocrisia.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            O século XX é uma época marcada pela dúvida e incerteza. Então, partindo disso e tendo em vista o conto The Garden Party, Laura entra em um mundo sem solução. Um mundo em que os trajetos são traçados pela dúvida e incerteza. Laura seria uma personagem fraturada, caso não se espelhasse na Mra. Sheridan.

            É notório o modo como a autora Katherine Mansfield, usa seus critérios para se referir as etapas de amadurecimento de Laura. A autora especifica as flores para criticar o período vitoriano, marcado pela forte presença do capitalismo.

            Então, conclui-se que este trabalho fundamentou com alguns teóricos a fim de abordar sobre a ilusão de uma garota inocente e a realidade adquirida pelas suas experiências, meio ao turbilhão de sentimentos tristes que levou a personagem a epifania, detento entre o viver e a beleza do morrer.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

CORREIA, A. Celebrar a vida e a morte: a festa em “The Garden Party” (Katherine Mansfield), e “feliz aniversário” (Clarice Lispector). Revista da faculdade de ciências sociais e humanasn.17, Lisboa, Edições Colibri, 2005, p.127. Disponível em: <http://run.unl.pt/bitstream/10362/7284/1/RFCSH17125134.pdf> Acesso em: 02 de janeiro de 2019

 

DUNCKER, P. Katherine Mansfield: The writer of the submerged world. In: Interrupted lives in literature. London: National Portrait Gallery, 2004.

 

LIMA, M. do C. Q. de Epifania em Katherine Mansfield: imagens essenciais no espaço/tempo poético (estudo dos contos sol e lua, a casa de bonecas, a festa e a felicidade). 2002. 99 f. Dissertação – Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2002. Disponível em: <http://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/24505/D%-%20LIMA%2C520MARIA520DO520CARMO520QUARTIN520DE.pdf?sequence=1&isAllowed=y> Acesso em: 02 de Janeiro de 2019.

 

MANSFIELD, K. The Garden Party. Project GutenvergEtext, 1998. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.do> Acesso em: 29 de novembro de 2018.

 

MARCUS, M. What is an initiation story?.In: MAY, C.E. (ed): Short story theories. Ohio: Ohio University Press, 1976.

 

[1] SANTOS, Glaucyenne Cavalcante Dos