* Erica Patricia dos Reis Oliveira, Kédma Macêdo Mendonça, Luciana Rodriguês Maciel e Sibele Silva Leal Rodriguês.

Um dos maiores temores de grande parte das mães e dos pais com filhos em creches (notadamente nos berçários) e escolas de Educação Infantil é em relação às mordidas. Óbvio que ninguém gosta de ver sinais doloridos na pele de seu filho, mas, como qualquer um corre esse risco, é preciso tentar entender e compreender o que isso significa.

É importante saber que esse comportamento de morder faz parte do desenvolvimento, é ‘normal’ até os 3 anos de idade e passa quando a criança adquire e utiliza novas habilidades. É por meio da boca que o bebê entra em “contato” com o mundo, e trata-se do seu modo de reconhecer os objetos, experimentar, sentir, etc. Ele também utiliza a boca para rejeitar ou aceitar alimentos, se comunicar, sorrir, chorar, balbuciar...

Posteriormente, e com as novas descobertas da idade, eles aprendem a usar as mãos e os dentes como instrumentos de defesa. Aliás, entendemos que não é fácil aprender a conviver com outras crianças da mesma faixa etária que, também, disputam toda atenção possível. Mordidas, quando bem ‘administradas’, favorecem o desenvolvimento infantil e a interação entre os colegas, ajudam as crianças a perceberem outras formas de expressão e impedem rótulos e estigmas.

Nós, professoras da Educação Infantil, enfrentamos constantemente o choro de dor de uma criança e a reclamação de um pai - quase sempre - indignado. Apesar de “comum”, esta situação é um desafio quase diário para nós. Afinal, por que os pequenos gostam tanto de morder?

O psicólogo francês Henri Wallon escreveu que é nesta fase que a criança constrói seu "eu corporal".

O austríaco Sigmund Freud também nos ajudou a entender as dentadas. O pai da psicanálise definiu como fase oral o período em que a criança sente necessidade de levar à boca tudo o que estiver ao seu alcance, pois o prazer está basicamente ligado à nutrição. “Ela experimenta o mundo com o que conhece melhor: a boca.”

Entendemos que a necessidade de se comunicar também pode explicar essa fase. As crianças não dominam a linguagem verbal e, assim, utilizam a mordida para expressar sentimentos de descontentamento e irritação ou, até, para disputar atenção ou objetos com amiguinhos. Outros motivos também podem levar a criança a ter esse comportamento como, por exemplo, sono, cansaço, ambiente agitado, incômodo causado pela dentição, etc.

Uma dica útil às demais professoras é dizer que se a criança, de fato, morder, reaja com tranquilidade e lembre-se: não trata-se de maldade; é, tão-somente, um comportamento reativo - e por vezes confuso -, de quem está começando a viver. Além disso, estimule sempre um pedido de desculpas. Caso perceba a necessidade de adotar uma medida punitiva, combine o que acontecerá se o ato voltar a ser praticado e cumpra sempre o combinado. E reforçando: a punição nunca deve ser física, e a criança jamais deve ser humilhada.

Tente acalmar a criança, e, se ela tiver a capacidade de compreender o que lhe é dito, converse e explique que “o(a) coleguinha está chorando por causa da sua mordida”, e repreenda-a com carinho e afeto. Afinal, todo comportamento (morder, por exemplo) reforçado tende a ser repetido.

Por fim, ressaltamos que temos de agir como verdadeiros “guias” junto às descobertas e novas experiências que fazem parte da primeira infância, tentando modificar atitudes inadequadas, até que as crianças tenham autonomia para seguir sozinhas. Afinal, elas próprias vão apreendendo novos conceitos e descobrindo outras formas de sentir prazer e melhorando, gradativamente, a convivência em grupo.

*Erica Patricia dos Reis Oliveira, Kédma Macêdo Mendonça, Luciana Rodriguês Maciel e Sibele Silva Leal Rodriguês, pedagogas, são professoras na rede municipal em Rondonópolis-MT.