Um dia desses, eu estava sentada em um café aqui em Nova York, tomando meu café e esperando uma amiga, mas não pude evitar ao notar uma senhora acompanhada de uma jovem. Sentadas à mesa bem pertinho de mim começaram a conversar e de repente a senhora repreendeu a jovem dizendo: “É possível deixar este telefone de lado, por favor?” A jovem respondeu, “sim vó, mas não posso ignorar meus amigos”. A senhora prosseguiu: “Eu estou aqui na sua frente e talvez amanhã não esteja, eu sou sua amiga, aquela que está sempre disposta a enxugar suas lágrimas e não deixá-las cair, aquela que sempre está presente quando mais necessita e neste momento quero você presente comigo, é possível?” E terminou seus comentários com algo ainda mais forte: “Espero que o tempo a torne mais seletiva com suas amizades e com a idade a ajude a utilizar melhor os seus critérios e suas prioridades”.

Percebi a jovem ficar com sua aparência constrangida, era óbvio que havia a sensação de um vexame no ar. Mas, foi como se não houvesse escutado sua avó. De qualquer forma aquela cena me trouxe pensamentos e reflexões que foram além do que havia presenciado, pois sabia o que a senhora queria passar a jovem. Talvez, e ali percebi mais ainda o peso da e valor da maturidade. E ainda mais o valor do “ tempo” em nossas vidas.

Certamente, muitas vezes e em diferentes cenários e situações no nosso dia-a-dia, ignorar é sem sombra de dúvida poupar-se e respeitar-se e, sobretudo, como disse a senhora, muitas vezes é com certeza uma sabedoria. É sim, tambem uma questão de prioridades e não egoísmo.

Não me refiro apenas em deixar de ajudar ou deixar de repreender alguém de maneira positiva, produtiva e honesta. Mas, por mais que tentamos ajudar aquela pessoa negativa, ou aquele alguém que sabemos que precisa conhecer o caminho de uma vida mais positiva, não podemos forçar ninguém a mudar. Como diz aquele velho e sábio ditado: “Podemos mostrar onde está a água, mas é você que saberá se deve beber ou não”.  São nossas escolhas sempre. Portanto, desligar-se da negatividade nao nosso redor, ou colcar nossas prioridades em dia não é um ato de deixar alguém para trás ou de ser egoísta, mas sim um ato de amor próprio. O limite entre ajudar e orientar ao próximo acaba quando começa o seu amor próprio, a sua serenidade e seu autorespeito.

Acredito ainda que há sempre uma lição e um motivo que nos leva a deparar com determinadas pessoas no decorrer de nossas vidas. E o que aprendemos com elas: o que gostamos e o que não gostamos nelas e como essa experiência pode ter um reflexo em nossas vidas. E aquela avó ali no café mais uma vez me demonstrou em alguns minutos pequenos momentos em nossas vidas que fazem a diferença.

Após eu ter sobrevivido a tantas experiências negativas e ter presenciado tantas mortes como foi vivenciar ao ataque ao World Trade Center em 2001, comecei a ver o mundo de maneira diferente em diversos sentidos.

Seguramente, uma das coisas que valorizo ainda mais hoje em dia é a minha paz pessoal, equilíbrio e estar pronta para quem necessite verdadeiramente de mim. Portanto, ignorar o que não lhe faz bem, é seguir a sua rotina com maturidade observando quem nos faz bem e quem não faz, e tendo a dignidade de se desligar delas.

E claro, amar-se, respeitar-se e saber valorizar quem está ao seu lado, sejam seus amigos, familiares, parceiros, e se permitir mais tempo para sua própria felicidade, pois é a sua vida, suas memórias e seu legado que estão em jogo.

E como acredito que muitas vezes nosso silêncio fala mais que muitas palavras, termino esta reflexão com ele... nosso grande poeta Fernando Pessoa: “ Existe no silêncio uma tão profunda sabedoria que às vezes se transforma na mais perfeita resposta”

Não deixe o mundo e pessoas negativas mudarem seu sorriso... Sorria para o mundo sempre!

Adriana Maluendas