A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO BRASIL E NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Andréia Carvalho dos Santos 1
Claudinei Andrade Filomeno 2
Jean Carlos Neris de Paula 3
Maria Alice Veiga Ferreira de Souza 4
Pedro Leite Barbieri 5

RESUMO

Este artigo pretende realizar uma reflexão teórica sobre a educação profissional e tecnológica, no Brasil e no Estado do Espírito Santo, a partir da década de 1940. A discussão tem como objetivo abordar questões diacrônicas e sincrônicas, isto é, a EPT será analisada no decorrer da história e nos dias atuais, em que as perspectivas de ampliação e atendimento aumentam concretamente com o atual governo federal, a fim de responder aos desafios do mundo moderno, o qual exige uma educação capaz de combinar ciência e tecnologia, valorizando o pensar e o fazer, bem como a cidadania com espírito analítico, crítico e criativo. Diante de tais propósitos, os caminhos adotados pela EPT e as possíveis transformações serão avaliados neste trabalho com o intuito de oferecer sugestões para o melhoramento da educação brasileira em nível profissionalizante e tecnológico.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Profissional e Tecnológica, Trabalho, Ciência e Tecnologia, Mercado.

VOCATIONAL AND TECHNICAL EDUCATION IN BRAZIL AND IN THE STATE OF ESPÍRITO SANTO

ABSTRACT

This article intends to undertake a theoretical reflection on the professional and technological education in Brazil and in the State of Espirito Santo, from the 1940s. The discussion aims to address diachronic and synchronic, ie, the VTE will be considered in the course of history and today, in which the prospects for expansion and service specifically to increase the current federal government to respond to the challenges of modern world, which requires an education capable of combining science and technology, valuing the thinking and doing, and citizenship with spirit analytical, critical and creative. Faced with such purposes, the paths used by VTE and possible changes will be evaluated in this study in order to offer suggestions to improve the Brazilian education in vocational and technological level.

KEY WORDS: Technological and Vocational Education, Employment, Science and Technology, Market.

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1 Professora, Especialistaem Gestão Ambiental pela Universo: [email protected]
2 Professor, Mestre em Agroquímica pela UFV: [email protected]
3 Professor, Especialista em Linguística pela Ufes: [email protected]
4 Professora, Doutora em Educação Matemática pela Unicamp: [email protected]
5 Professor, Doutor em Física pela Ufes: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

O trabalho manual historicamente tem sido alvo de preconceitos, pois várias sociedades consideram que quem executa trabalhos manuais é inferior a quem estuda e planeja, ou seja, muitos acreditaram e ainda acreditam que o pensar é superior ao fazer. Por essa e por variadas outras razões, o trabalhador muitas vezes não recebe o devido valor que merece e é explorado pelos donos dos meios de produção. Esse pensamento equivocado gerou graves problemas sociais e educacionais que dividiram opiniões e ainda hoje não foram superados.
A pedagogia, por exemplo, agrupa vertentes favoráveis e contrárias à educação profissionalizante, na medida em que alguns pedagogos pensam ser inadequado educar para o mercado de trabalho, e não para a vida. Estes alegam que a EPT caracteriza a mercantilização da educação. Por outro lado, alguns estudiosos da pedagogia afirmam que não se pode negar que o homem é um ser que se criou a partir do trabalho e que, portanto, não convém discutir ideologicamente a educação voltada para o saber ou para o fazer, quando saber e fazer nunca se separaram e precisam ser ambos valorizados, numa atitude de convivência harmoniosa, já que existe uma interação entre ciência e tecnologia que não deve fugir das escolas, sejam elas profissionalizantes ou não. Em suma, educar para a vida deve incluir obrigatoriamente a preocupação com o trabalho, com a cidadania e com a negação da dualidade propedêutica versus EPT, na medida em que constituem a educação geral e precisam estar integradas.
Por tudo isso, a caminhada histórica da EPT brasileira e espírito-santense é grande e cheia de dificuldades, com avanços e retrocessos que serão analisados neste artigo a partir de 1940, ano em que se inicia uma importante linha de ação na educação profissional brasileira. Felizmente, o Governo Federal do Brasil atual vem entendendo, neste início do século XXI, a necessidade de ampliar a EPT, e muitas mudanças positivas têm ocorrido no cenário brasileiro. Mas há muito por fazer, principalmente no tocante ao envolvimento das esferas estadual e municipal, buscando parcerias e desenvolvimentos regionalizados conforme potencialidades locais, haja vista que estados e municípios do Brasil, principalmente os municípios, não estabeleceram ainda, de forma permanente, uma ação sistemática em torno da articulação de iniciativas de escolarização e geração de emprego e renda por intermédio da EPT.


2. O PODER DO TRABALHO

A palavra trabalho vem do latim - tripalium - e designa um instrumento de três paus utilizado para castigo. A origem bíblica do trabalho também está relacionada a castigo, quando Adão e Eva foram castigados e passaram a ter de viver do suor de seus rostos. Talvez, por isso, falte mais valorização social do trabalhador manual, na medida em que a espiritualidade ocupa grande espaço na sociedade.
A verdade, porém, é que o homem evoluiu com o ato de trabalhar, transformar, produzir, usando, inicialmente, as mãos para agir na natureza de forma intencional. Com isso, sentiu necessidade de se agrupar e desenvolveu linguagem e pensamento, abstração, discernimento e cultura em geral.
De geração a geração, ocorreram aperfeiçoamentos e surgimentos de diversas áreas de trabalho, as quais devem receber mais respeito e pesquisa por parte de todos os que estudam a EPT da humanidade, principalmente nos dias atuais, quando:
O trabalho repetitivo, prescrito, é substituído por um trabalho de arbitragem, em que é preciso diagnosticar, prevenir, antecipar, decidir e interferir em relação a uma dada situação concreta de trabalho. A natureza deste tipo de trabalho reveste-se na imprevisibilidade das situações, nas quais o trabalhador ou o coletivo de trabalhadores tem que fazer escolhas e opções todo o tempo, ampliando-se as operações mentais e cognitivas envolvidas nas atividades, mas, ao mesmo tempo, seus "custos subjetivos". (1)

3. A EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE E TECNOLÓGICA NO BRASIL E NO ESPÍRITO SANTO A PARTIR DE 1940

O governo brasileiro no início da década de 1940 criou leis obrigando as empresas a realizar cursos de aperfeiçoamento para seus funcionários, mas os empresários não estavam respeitando a vontade do estado. Assim, o governo Getúlio Vargas, em pleno Estado Novo, ameaçou assumir o controle dos sindicatos. Com medo disso, a CNI e a Fiesp assumiram o Senai, resultando em Decreto-Lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942.
A partir disso, o Senai passou a ter hegemonia na formação e qualificação de trabalhadores, recrutando pessoas que mostrassem condições de aprender e abandonando o critério único de condição social, bastante criticado, na época, por seu aspecto puramente assistencialista, já que:
Nas escolas de aprendizes artífices, os alunos eram, invariavelmente, órfãos e outros "desvalidos", oriundos do lúmpen-proletariado, mais interessado na comida gratuita que no aprendizado propriamente. (2)
Nos anos 40, a EPT enfatizou a aprendizagem industrial. Nos anos 50 e 60, desenvolveu treinamento para a grande indústria. Nos anos 70 e 80, formou técnicos de nível médio, o antigo segundo grau. Nos anos 90, trilhou os caminhos da polivalência. Depois, veio a fragmentação do Senai e surgiu o "Sistema S": Senai, Sesi, Senac, Sesc, Senar, Senat, Sest e Sebrae. Essa parceria do estado com a iniciativa privada às vezes é questionada pela razão de o Sistema S cobrar pelo serviço oferecido e, mesmo assim, receber recursos do Estado. Esse questionamento deve ser levado mais a sério, pois o governo precisa exigir uma contrapartida transparente do Sistema S.
Quanto às escolas federais, várias foram as mudanças nos últimos 100 anos. No Espírito Santo, por exemplo, a Escola de Aprendizes Artífices (1909) virou Liceu Industrial de Vitória (1937), que virou Escola Técnica de Vitória (1942), que virou Escola Técnica federal do Espírito Santo (1965), que virou Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo (1999), que agora virou Instituto Federal do Espírito Santo (2008). Essas mudanças de nomenclatura significaram e significam transformações no serviço ofertado:
Assim, podem-se utilizar, numa pesquisa, técnicas e argumentos de ordem econômica, que obviamente fornecerão respostas importantes para uma reflexão também de ordem econômica. Também se pode pesquisar, utilizando abordagens pedagógicas que possibilitarão respostas sobre a importância do CEFET-ES, num campo diverso do anterior, o educacional. (3)
As duas linhas de pesquisa devem indicar, obviamente, que as mudanças ocorridas na EPT ofertada pelo governo federal contribuíram na evolução econômica e educacional do Estado do Espírito Santo, por meio da oferta de melhor atendimento pedagógico e maior qualificação e escolarização do trabalhador, principalmente através da Escola Técnica Federal do Espírito Santo, nome que marcou o estado e ainda hoje é utilizado, graças ao tamanho de sua importância na história do povo espírito-santense. O que se espera agora é que o Ifes seja um nome que também marque a economia, a cultura e a educação do Espírito Santo.

4. A FUNÇÃO DO IFES

A função do Ifes - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo - diante dos desafios educacionais do mundo moderno consiste em oferecer à sociedade espírito-santense ensino profissionalizante e tecnológico nas diferentes modalidades, da educação de jovens e adultos ao doutorado.
Por isso, o Ifes, conforme Lei sancionada em 29 de dezembro de 2008 pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, cria expectativas de expansão e aprimoramento da EPT no Estado do Espírito Santo.
Dessa forma, aguarda-se muito do Ifes, que precisa crescer no ensino superior e na pós-graduação, mas sem encolher na educação básica, profissional e tecnológica.

4.1 IFES E SOCIEDADE BRASILEIRA E ESPÍRITO-SANTENSE

É importante considerar que as desigualdades sociais, a economia de mercado, as indústrias e os aprimoramentos científicos e tecnológicos requerem uma educação dinâmica, capaz de, por meio da oportunidade e da formação de uma cidadania crítica e criativa, enfrentar a exclusão e despertar nos profissionais inteligência emocional e interação social.
Também não se pode esquecer que é necessário investir no ensino e, sobretudo, nos educadores, pois o mundo hodierno depende bastante do trabalho dos professores. Assim, a educação moderna precisa formar homens e mulheres com excelente leitura de mundo, como dizia Paulo Freire, e de mercado. Tais cidadãos devem encontrar no Ifes condições para que possam ir além de conhecimentos técnicos e se tornem pessoas com atuação social, política, cultural e ambiental.
Além disso, é imprescindível o entendimento de que uma educação global deve combinar ciência e tecnologia, a fim de formar, ao mesmo tempo, profissionais técnicos e intelectuais, na medida em que um trabalhador precisa ser um cidadão pensante e atuante na sociedade da qual faz parte.

5. CONCLUSÃO

Os desafios da EPT são diversificados e, para enfrentá-los, é relevante valorizar, em sentido amplo, com altos investimentos, a educação e os educadores, a inclusão social, a associação entre formação profissional e humana e o trabalho regionalizado, com o envolvimento das famílias, da comunidade local, do empresariado e dos poderes públicos constituídos, visando a ofertar atendimento especial a quem dele necessita, afinal é preciso "pensar globalmente e agir localmente".
Trabalhando dessa forma, a EPT, com mais articulação entre os poderes federal, estaduais e municipais e também entre a sociedade civil, por meio da parceria em projeto público-privado, poderá explorar várias áreas do ensino, fortalecendo a educação de jovens e adultos e contribuindo, assim, para que o Brasil tenha desenvolvimento científico e tecnológico com promoção de justiça social, cooperação, emprego, escolarização e, sobretudo, cidadania.

REFERÊNCIA

(1) CLOT, V. Vivre en flux tendu: um noveau paradigme industrial? Rio de Janeiro: CNI/SENAI/UNESCO-CIET/UFRJ-IPPUR, 1995. Trabalho apresentado no Seminário Internacional sobre Globalização, Progresso Técnico e Trabalho Industrial. Apud DELUIZ, Neise. A Globalização Econômica e os Desafios à Formação Profissional. In: Boletim Técnico do Senac. Rio de Janeiro, v. 30, nº 3, p. 73-79, dezembro, 2004.
(2) CUNHA, Luiz Antonio. O ensino industrial-manufatureiro no Brasil. In: Revista Brasileira de Educação. ANPPE, São Paulo, n° 14, p. 89-107, mai/ago 2000.
(3) SUETH, José Candido R. et al. CEFETES, educação profissional e o futuro do Espírito Santo. Revista Capixaba de Ciência e Tecnologia ? RECITEC. Ed. Especial, n.3, Vitória: 2007, p. 37-43, 2º sem. de 2007.