Principal indicador de tendência do comércio, o índice de média móvel trimestral de vendas em lojas do varejo apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que os negócios no setor continuam apresentando pequeno crescimento, mas aproximando-se da estabilidade, o que indica perda de fôlego.

O índice registrou alta de 0,37% no trimestre encerrado em abril ante o terminado em março. O resultado da média móvel de abril mostra uma desaceleração em relação aos resultados apurados em março (1,01%) e em fevereiro (1,02%). A tendência de expansão ainda existe, mas o ritmo aponta para uma estabilidade. Na comparação de abril deste ano com igual mês do ano passado, as vendas aumentaram 6,9%. Entretanto, houve queda de 0,2% em abril ante março com ajuste sazonal.

Com o resultado até o quarto mês de 2009, as vendas do varejo acumulam alta de 4,5% no ano e de 7,1% nos últimos 12 meses. Dos oito grupos de atividades do comércio varejista pesquisados pelo IBGE, apenas dois registraram expansão em abril ante março: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,8%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (8,9%).

A oferta ainda escassa de crédito e o efeito retardado da redução do IPI sobre o consumo de eletrodomésticos e materiais de construção contribuíram para o resultado, apontaram economistas. Para os próximos meses, as perspectivas são de recuperação das vendas na comparação mensal, mas insuficiente para reverter a tendência de desaceleração do indicador no acumulado de 12 meses. Para o ano, as previsões são de expansão de 3% a 4% no volume de vendas, ante crescimento de 9,1% no ano passado e de 7% no acumulado de 12 meses até abril.

A atividade de hiper e supermercados elevou as vendas em 14,1% em abril ante igual mês do ano passado, no melhor resultado mensal em três anos, puxado pelas vendas da Páscoa. Como a comemoração este ano ocorreu em abril, ao contrário de 2008, quando foi em março, o efeito calendário foi determinante para o desempenho desse segmento, que definiu o resultado total do varejo no mês. Ante março, houve alta de 0,8%.

Em abril, as vendas de eletrodomésticos ainda não mostraram efeitos da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nos produtos de linha branca. Ainda sem esse estímulo, esse segmento registrou queda nas vendas em relação a março e ante abril de 2009.

Segundo o IBGE, esse segmento está mostrando resultados negativos nos últimos meses por causa da redução da oferta e prazos de crédito, insegurança dos consumidores e, ainda, "uma demanda mais satisfeita" por esses produtos após um forte crescimento ocorrido nos últimos cinco anos. De acordo com o IBGE, do início de 2004 até o final do ano passado, as vendas de móveis e eletrodomésticos tiveram uma alta acumulada de 115%.

Na comparação com março, seis das oito atividades pesquisadas registraram queda, com destaque para Livros, Jornais, Revistas e Papelaria (- 2,7%) e Móveis e Eletrodomésticos (- 2%). As vendas de Tecidos, Vestuário e Calçados também caíram 1,7%.

As atividades que puxaram a expansão, na comparação com abril de 2008, foram Equipamento e Material para Escritório, Informática e Comunicação (27,0%), Supermercados, Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo (14,1%), Outros Artigos de Uso pessoal e Doméstico (13,8%), Artigos Farmacêuticos, Médicos, Ortopédicos e de Perfumaria (11,3%) e Combustíveis e Lubrificantes (3,7%).

A receita cresceu 13% em abril deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado, com destaque para o setor de Supermercados, Bebidas e Fumo, cuja expansão foi de 22%.

Para a LCA Consultores, os dados mostram uma contração, mas a expectativa é que as vendas possam ser ampliadas em até 1% em maio. A previsão oficial da consultoria, ainda está em alta de 0,70%. No entanto, pelas informações que têm sido passadas por empresários e executivos do setor da linha branca, há uma grande possibilidade de as vendas do comércio varejista em maio aumentarem acima de 1% na comparação com as de abril: “Os empresários têm informado que as vendas de linha branca têm crescido a patamares equivalentes a dois dígitos na comparação com maio do ano passado”, disse Borges.

Segundo a consultoria Rosenberg & Associados: "Os setores de bens duráveis, que dependem mais da disponibilidade de crédito, terão recuperação mais lenta, embora alguns tenham já em maio algum alento por conta do IPI". Alguns indicadores corroboram essa tese. Dados da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) apontam alta de 5,38% nas vendas de veículos em maio sobre abril e pesquisa da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) apontou expansão de 4,5% nas vendas do setor.

Em relação a junho, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP) apontou alta de 7% sobre maio, para 134,5 pontos. Levantamento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) também apontou melhora na primeira quinzena deste mês, com expansão de 12,1% nas consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) em comparação com a primeira quinzena de maio, e elevação de 16,3% nas consultas ao SCPC/Cheque.

Para a MB Associados considera que os reajustes do Bolsa Família e do funcionalismo público provocarão avanços na renda e no consumo no segundo semestre: "Já o efeito da recuperação de crédito ainda é pequeno". Segundo dados do Banco Central, o saldo das operações de crédito à pessoa física cresceu 1,8% em abril e 5,2% no ano, mas houve queda no saldo de operações para aquisição de veículos (0,3% no mês e 1,5% no ano) e outros bens (2,9% em abril e 19% no ano).

A Fecomércio-RJ prevê crescimento de 4% nas vendas varejistas do país neste ano. Para que isso aconteça, no entanto, Santini destaca que o governo deve manter a política de redução de carga tributária dos produtos, como a manutenção da extensão do corte do IPI e redução dos juros para estabilizar o crédito.

Bibliografia
Jornal O Estado de S. Paulo de 17 de junho de 2009
Jornal do Brasil de 17 de junho de 2009
Jornal Correio Braziliense de 17 de junho de 2009
Jornal Valor Econômico de 17 de junho de 2009