HUMANIDADES

Pode parecer estranho que alguém diga que a sociedade atual necessita urgentemente de profissionais vinculados á ampla área das humanidades. Afinal, o mundo em que vivemos é tão pragmático e instrumental, valoriza tanto o mercado e o sucesso financeiro, que é arriscado defender a prevalência estratégica, no sistema educacional, dos cursos de Artes, de Filosofia, de Letras, de Ciências Sociais, de História e de Geografia, de Pedagogia. Tudo leva a que se ache que não há “mercado” para eles, compostos que estariam por disciplinas e formações que muitas pessoas acreditam ser diletantes, pouco técnicas e “cientificas”. 

Mas também é verdade que o mundo ficou complicado demais e não se revela de imediato. Ele nos desafia, surpreende e confunde, chega mesmo a atemorizar. Precisa por isto ser pensado, traduzido, explicado em suas múltiplas determinações e em seus diferentes ritmos, mediante suas distintas racionalidades e não apenas como uma somatória de fragmentos.

È a esta grandiosa tarefa que se dedicam os profissionais das Humanidades. Sua atuação é bastante diversificada, multicolorida e aberta, fato que lhes dá alguma vantagem comparativa perante os demais profissionais, que tendem a agir de modo mais focado e especializado. Para se beneficiar desta vantagem comparativa, porém, o profissional em questão precisa atender a pelo menos dois requisitos básicos: possuir recursos culturais e intelectuais abrangentes e gostar dedicadamente de tudo o que diga respeito ás letras, ás artes e ao pensamento. Ele não pode ser excessivamente especializado. Deve funcionar mais como um articulador de saberes do que como um ”aplicador” de conhecimentos.

Quem pretende ingressar neste universo fascinante, e nele ser bem-sucedido e feliz, precisa ter boa capacidade de análise crítica e de explicação, e deve acima de tudo se comunicar bem, por escrito e oralmente. A língua e a linguagem são suas principais ferramentas. Seu perfil é o de um amante dos livros e da leitura, alguém particularmente vocacionado para a reflexão e a sistematização de ideais. Outra predisposição importante é a curiosidade inconformista, a disposição de não aceitar passivamente o mundo e de ajudar a transformá-lo em um sentido digno e justo.

Quem atua na área precisa estar sempre interessado em desencadear mudanças, correr riscos, resolver problemas e dificuldades, construir consensos, diálogos e aproximações entre os que são diferentes ou que pensam diferentemente. As grandes áreas de atuação do profissional das Humanidades são o ensino, a pesquisa, a editoração, o jornalismo, a assessoria em planejamento, recursos humanos e comunicação, o rádio e a televisão, o cinema, a música e o teatro. Com as rápidas inovações cientificas e tecnológicas, novas frentes de trabalho despontam o tempo todo. Na sociedade mutante em que vivemos, faz-se sempre mais necessária a presença de profissionais capazes de fornecer explicações abrangentes, parâmetros explicativos e insights analíticos. Particularmente o cientista social – o sociólogo, o cientista político e o antropólogo – também pode ser importante na assessoria parlamentar, no planejamento e acompanhamento de campanhas eleitorais, na formulação de políticas públicas e na avaliação de desempenho governamental.

Tanto quanto diversos outros profissionais, quem atua nas Humanidades depara-se com um universo amplo e flexível de atuação, onde prevalecem a incerteza e a indefinição relativa. O mercado é hoje uma verdadeira caixa preta. Mas o que é desvantagem de um lado mostra-se como vantagem de outro: justamente por não ter um mercado cativo e rigidamente definido, ele pode se dar muito bem em áreas aparentemente virgens ou ainda não exploradas.

Nas Humanidades, vale muito a regra: o profissional bem formado, que em sua trajetória acadêmica reteve e consolidou habilidades e recursos intelectuais abrangentes, tem poucas chances de se dar mal no mercado. O sucesso depende dele, antes de tudo. E, claro, de um pouco de sorte e oportunidade.

 

Nádia Januário

Bacharel em Administração com Habilitação em Marketing

Especialista em gestão de pessoas

Pós graduação em Sociologia