Giliardi Dorn[1]

 

HOMILÉTICA II

INTRODUÇÃO

A homilética é o resultado de todo um processo que se deve desenvolver, pois é a entrega do sermão ao ouvintes que apresenta o método de preparo do sermão, se ele foi bem preparado ou se foi desenvolvido de última hora sem prévia análise e reflexão, como muito se vê atualmente nos púlpitos evangélicos. Por isso, este breve trabalho tem a intenção de trazer, de forma sucinta, o que é a homilética, suas características, bem como sua importância e o resultado que ela produz quando bem feito e o que pode ocasionar caso ela não tenha sido bem preparada.

1 – HOMILÉTICA

A homilética fundamental trata das questões introdutórias do tema como origem, significado, tarefa, desenvolvimento histórico, problemas, características, conteúdo, importância e alvo da prédica evangélica. O termo “homilética” surgiu durante o iluminismo, entre os séculos XVII e XV III, quando as principais disciplinas teológicas receberam nomes gregos, como, por exemplo, dogmática, apologética e hermenêutica. Em resumo pode-se caracterizar a homilética como a exposição do Evangelho de Jesus Cristo, utilizando-se da hermenêutica e exegese.

O termo homilética deriva do substantivo grego “homilia”, que significa “falar”, “conversar”. O Novo Testamento emprega o substantivo em 1 Coríntios 15.33 “...as más conversações corrompem os bons costumes.” A hermenêutica e a homilética estão intimamente ligadas        pois se não se desenvolve uma hermenêutica sadia, em hipótese alguma pode-se desenvolver a homilia adequada, pois uma precede a outra. Da mesma forma que importa uma exegese adequada, pois é a análise da mensagem para o tempo e povo a que foi destinado, contudo a homilética é a exposição do conceito eterno ao tempo que se chama hoje e ao povo deste tempo. A homilética deve valer-se dos recursos da retórica (assim como da eloqüência), utilizar os meios e métodos da comunicação moderna e aplicar a avançada estilística. No Antigo Testamento o conceito homilético na época dos profetas era predominantemente a palavra vinda diretamente de Deus, geralmente usava-se a expressão “assim diz o Senhor”. Após o exílio, desenvolveu-se a homilia primitiva, em que passagens das Escrituras Sagradas eram lidas em público ou nas sinagogas. Após este período, por volta de 500-300 antes de Cristo foi desenvolvida a retórica por Córax, Sócrates, Platão e Aristóteles. Logo a retórica foi aperfeiçoada pelos romanos, contudo Jesus pregou o evangelho do Reino de Deus com simplicidade, utilizando principalmente parábolas. A maioria dos cristãos antigos seguiu o exemplo da sinagoga, lendo e explicando de modo simples e popular as Escrituras do Antigo Testamento e do Novo. A homilia cristã apenas segue a ordem natural do texto da Escritura e visa meramente ressaltar, mediante a elaboração e aplicação, as sucessivas partes da passagem e como esta se apresenta.

Agostinho subdividiu a homilética em de inveniente (como chegar ao assunto) e de proferendo (como explicar o assunto). Na prática, esta divisão sistemática corresponde hoje às homilética material e formal. A idade média não foi além de Agostinho, mas produziu coletâneas famosas de sermões, atualmente publicadas em forma de livros devocionais. Outro grande passo referente à homilética se deu por causa de Carlos Magno (768 - 814), onde a pregação era feita na língua do povo e não exclusivamente em latim.

A Reforma Protestante foi responsável por uma grande inovação, pois tornou a Bíblia o centro da pregação. Os líderes da Reforma Protestante deram à pregação um novo conteúdo (a graça divina em Jesus Cristo), um novo fundamento (a Bíblia Sagrada) e um novo alvo – a fé viva. Em 1519 d.C., a primeira retórica evangélica foi escrita por Melanchton, seguida por publicações homilética, em 1528 d.C e 1535 d.C. Segundo Melanchton a pregação evangélica deveria incluir: introdução, tema, disposição, exposição do texto e conclusão. Contudo é possível citar oito razões pelas quais a homilética constitui um sério problema em nossos dias, a saber: falta de preparo do pregador, falta de unidade corporal na prédica, falta de evidência bíblica, falta de aplicação prática às necessidades existentes na igreja, falta de equilíbrio na seleção dos textos bíblicos, prega-se a verdade, mas não toda a verdade, falta de prioridade da mensagem na liturgia e falta de um bom planejamento ministerial. Portanto é importante que o sermão seja devidamente preparado e isso demanda tempo, mas ainda ouvimos mensagens pobres, sendo que, em geral, as mensagens pobres têm suas raízes na falta de estudo do orador. Muitos julgam ter condições de preparar uma mensagem bíblica sem o árduo trabalho exegético e estilístico. Pensam que basta ter um esboço de três ou quatro pontos para edificar a igreja. Entende-se a unidade corporal na prédica quando o comportamento do pregador condiz com o que ele esteja falando, sendo que a pregação não seja uma mera junção de versículo, às vezes até desconexos ou pulando de um livro para outro, sem unidade interior, sem um tema organizador.

2 – CARACTERÍSTICAS DA HOMILÉTICA

Observa-se a importância da mensagem ter aplicação prática, pois quando ela não a tem os crentes não sabem como agir de acordo com a vontade de Deus diante das situações cotidianas. Da mesma forma é necessário que a homilética tenha como base a Bíblia como um todo não deixando de lado o Antigo Testamento, mas colocando-o de forma adequada no sermão para a compreensão completa da mensagem por parte dos ouvintes, pois se sabe que a pregação é a principal parte do culto evangélico por isso o planejamento é tão importante. Sem o devido planejamento existem alguns resultados negativos que podem ser observados como a posição do pregador sob tensão e ansiedade           desnecessárias, o conteúdo de sermões diferentes acaba sendo sempre o mesmo ou, ainda alguns pastores ainda acabam se rendendo ao plágio. Percebe-se também que o secularismo e o estresse constituem um problema para o sermão evangélico porque o secularismo influencia o homem de tal forma que coloca outras prioridades diante das pessoas e assim o estresse faz com que nem mesmo no domingo se tenha o sossego ideal para uma reflexão espiritual.    

Existem três partes integrantes de uma prédica, o pregador, o ouvinte e Deus. O pregador do Evangelho é o portador de boas novas, de uma mensagem de salvação e alegria. Ele anuncia estas boas novas de salvação ao homem corrompido por seu pecado. A comunidade ou ouvintes tem a posição de ouvir a mensagem e colocá-la em prática, pois esta está de acordo com a Palavra de Deus e é o auxílio direto para o crescimento espiritual de cada um. No sermão, Deus é a origem do sermão, sendo assim este não pode estar de forma alguma em desacordo com a Palavra de Deus, pois desta forma não pode ser interpretada como mensagem de Deus, sendo que o centro da mensagem evangélica deve ser sempre Jesus Cristo, por isso chama-se cristocêntrica.

Pode-se perceber a importância da homilética pois esta se traduz por pregar significa despertar, confirmar, estimular, consolidar e aperfeiçoar a fé. Nenhuma outra religião jamais tornara a reunião frequente e regular de massas humanas para ouvir instrução religiosa e exortação, uma parte integrante do culto divino. “A homilética constitui a coroa da preparação ministerial” porque para ela convergem todas as matérias teológicas, a fim de originar, vivificar, caracterizar, renovar e perpetuar o cristianismo autêntico. O termo pregação e pregar vêm do latim praedicare, que significa proclamar. Significa também fazer o serviço e cumprir a missão de um arauto. O Novo Testamento emprega quatro verbos para exemplificar a natureza da pregação: a) Kerysso, significa proclamar, anunciar, tornar conhecido; b) Euangelizomai, significa evangelizar; c) Martyrein, significa testemunhar, testificar, ser testemunha; d) Didaskein que significa ensinar. Um arauto fala e age em nome do seu senhor. O arauto é o porta-voz de seu mestre. É isto que dá legitimidade, credibilidade e autenticidade. A proclamação do arauto já é determinada. Ele deve tornar conhecidas a vontade e a palavra de seu senhor. O não cumprimento desta missão desclassifica-o de sua função e responsabilidade.

Quem evangeliza transmite boas novas, uma mensagem de alegria. Assim se caracteriza a natureza da prédica evangélica. O pregador do Evangelho é o portador de boas novas, de uma mensagem de salvação e alegria, ele anuncia estas boas novas de salvação ao homem corrompido por seu pecado, sendo que o conteúdo do Evangelho é a salvação realizada por Jesus Cristo. O testemunho de Cristo é outra característica autentica da prédica evangélica. A testemunha qualifica-se através da comprovação de sua experiência. Isto lhe dá credibilidade, convicção e liberdade no cumprimento de sua missão. Verifica-se que a prédica deve ter também característica de ensino, pois o Novo Testamento apresenta-nos Jesus como um grande educador, pois quando Jesus acabou de proferir as palavras do Sermão do Monte estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque eles as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas. Desta forma pode-se resumir o alvo da homilética sendo o conhecimento místico, prático, salvador e transformador de vidas, para que sejam santificadas e preparadas a fim de produzirem as boas obras que o Senhor dispôs de antemão para que andassem nelas para a salvação de pecadores perdidos.

CONCLUSÃO

Portanto conclui-se que a homilética é fundamental para o desenvolvimento cristão, sendo o sermão bem preparado e adequadamente entregue aos ouvintes, pois este serve de orientação e de conduta para o cotidiano. O sermão é a ferramenta usada pelo pregador para apresentar a comunidade qual a vontade de Deus acerca de determinado assunto, para que estes não se encontrem em desacordo com ela, por isso a aplicação dos métodos, da reflexão e da orientação divina são tão importantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada com reflexões de Lutero. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.

BIBLIA. Português. A Bíblia da Mulher: leitura, devocional, estudo. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

FEE, Gordon D. Entendes o que lês? – um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. 3º Ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.

FÓRUM ULBRA DE TEOLOGIA. Lutero, o pastor. Organização Leopoldo Heimann. Canoas, RS: Ulbra, 2006.

SCHMIDT, Werner H. A fé do antigo testamento. Tradução de Vilmar Schneider. São Leopoldo, RS:Sinodal, 2004.

LIVRO DE CONCÓRDIA. Português. Livro de concórdia: as confissões da igreja evangélica luterana. Editado por Darci Drehmer. Traduzido por Arnaldo Shüler. 5.ed. – São Leopoldo: Sinodal; Canoas; Porto Alegre; Concórdia, 2006.

  


[1] Cursando o Mestrado em Administração e Mestrado em Teologia, Bacharel em Administração com Habilitação em Relações Internacionais, Bacharel em Teologia. MBA em Gestão Estratégica de Negócios, Especialista em Ciência Política e Relações Internacionais. Membro da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB).