DATA: 17.02.2017, por volta das quinze horas e vinte minutos, estava na cidade de São Francisco do Sul e resolvi dar uma chegada novamente na Delegacia de Polícia da Comarca para conversar com o Delegado Marcel para saber como estavam as investigações no caso do furto na minha residência naquela cidade, de cujo interior levaram uma “roçadeira”. Logo que cheguei fui até uma sala onde encontrei dois Delegados novos, ou seja, recém-empossados. De imediato me apresentei e soube que se tratavam dos Delegados Rocha (do Rio de Janeiro, porém, era Delegado no Estado do Espírito Santo) e Gustavo (de Joinville). De início não tinha muito que falar e com deixei a palavra. Na medida em que a conversação foi viabilizada fui surpreendido com um questionamento: “Mas quem é mesmo o senhor?” Havia também um Escrivão de Polícia que me conhecia e logo percebi que minha entrada havia sido tolerada porque esse policial foi bastante receptivo comigo. Logo que disse que era Delegado e que trabalhava na “Corregedoria” os dois Delegados se mostraram mais discretos e respeitosos com minha presença, especialmente, porque com o calor estava de bermuda e bem a vontade. Aproveitei para falar do andamento do projeto de lei orgânica e sua importância para o futuro da Polícia Civil. Nesse momento o Delegado Rocha comentou que tomou conhecimento do projeto nacional de lei orgânica dos Delegados de Polícia que foi apresentado pela Confederação Nacional da classe. Imediatamente procurei explicar que esse projeto estava errado pois não podemos construir uma proposta que discriminasse nossos policiais civis. Mais, ainda, comentei que a Polícia Civil era um todo, não só Delegados de Polícia e que uma lei orgânica deveria tratar da instituição, não de uma categoria funcional. Citei que o Estatuto é que serve para dispor sobre direitos, deveres e regime disciplinar. Os Delegados se calaram enquanto o Delegado Marcel foi entrando no recinto e veio na minha direção me cumprimentar com energia, disposição, receptividade. Nesse momento os dois Delegados perceberam que estavam frente a uma pessoa diferenciadar. Marcel enquanto me cumprimentava foi dizendo: “Vocês estão à frente do doutor Felipe Genovez, para mim o melhor Corregedor da Polícia Civil, um profissional dos mais preparados, uma pessoa com uma grande bagagem”. Resolvi interromper Marcel com aquelas adjetivações e para tanto dei um corte dizendo que estava relatando para os dois Delegados a importância do projeto de lei orgânica para o futuro da instituição. Para minha surpresa Marcel demonstrou um tirocínio não só no seu comprometimento institucional, mas também com a sua memória sobre o que conversamos no nosso último encontro naquela mesma repartição quando fui tratar do furto na minha residência. Marcel foi cartesiano e enfático nas suas colocações: “Sim, doutor, em lembro de tudo, que o Delegado-Geral quis levar o senhor para fazer o projeto lá na Delegacia-Geral, e que o senhor demoraria de dois a três anos para concluir os trabalhos, mas o senhor ponderou que permaneceria trabalhando na Corregedoria e que em seis meses entregaria o projeto. Bom, o senhor levou sete meses para concluir o projeto”. Depois dessa surpresa Marcel me fez uma indagação na presença dos dois colegas: “Mas o que o senhor acha, eles vão dar andamento no projeto? Também foi entregue para o Ulisses, não foi?” Me refazendo ainda do preparo de Marcel e em decorrência daquela pergunta respondi que era obrigado a acreditar que cinquenta por cento estava depositando fé nos Delegados Nitz e Ulisses.  Marcel dirigiu-se para os dois Delegados e disse: “O doutor Genovez entregou também um planejamento estratégico onde constou tudo que eles tinham que fazer para viabilizar esse projeto até o final deste ano, só que até agora não fizeram nada, não é doutor Genovez?” Meio que sem jeito e quase fugindo da resposta comentei que naquele momento era obrigado a ter esperanças que algo estariam fazendo, que o projeto estaria sendo alavancado, apesar de que não como previsto no planejamento estratégico. Marcel deixou escapar um sorriso irônico e concordou comigo. Parabenizei Marcel por sua excelente memória e depois que fomos para seu gabinete fiz alguns comentários reservados: “Bom, tu sabes que até hoje eu não sei se essa história de me convidarem para fazer um ‘projeto’ desses foi realmente uma missão institucional ou se foi para atender os interesses da Delegada Sandra Mara ou do próprio Delegado-Geral de me tirar da Corregedoria (na verdade achava eu foram várias as causas, a começar pelo fator Delegados Nilton Andrade e Jeferson), já que era o único lotado no órgão correcional,  me concedendo uma ‘promoção’ para ir trabalhar na Delegacia-Geral”. Marcel me interrompeu: “Olha, doutor, conhecendo o senhor eu não tenho dúvidas que isso realmente tenha sido interesse deles”. Interrompi: “Bom, isso só o tempo dirá. Eu não quis concordar contigo lá na frente dos dois Delegados porque eles estão ingressando agora e nós temos que passar para eles esperanças, otimismo, mas sinceramente, eu acho que eles não tem cacife, falta coragem, comprometimento com a instituição, não com seus interesses pessoais de ficarem em cargos comissionados”. Antes de sair disse para Marcel que iria trazer o projeto  de lei orgânica para que ele desse uma olhada reservadamente, pois tinha convicção que depois daquela nossa conversa ele tinha muito merecimento. Saí da Delegacia da Comarca de São Francisco e fui até minha residência, apanhei o projeto e imediatamente retornei à presença de Marcel e fiz a entrega do material.