Dia 30.11.10, horário: dezoito horas e dez minutos, estava no centro de Florianópollis, na panificadora Padeiro de Sevilha”, localizada na rua Esteves Junior, em cujo local fui comprar uns lanches, e já fila do caixa avistei o Delegado Cesar Krieger próximo da porta, acompanhado de uma senhora. No início ficou aquele clima de “viu-não-viu”, quebrado a seguir pelas obviedades das circunstâncias e, também, pelo quebranto das habilidades que todos desenvolvemos como sobreviventes num mundo onde é imperativo a “cordialidade”.

Fiz um sinal diante de um sorriso digno de “monge beneditino” e aguardei pacientemente chegar a minha vez de pagar no caixa e depois fazer o cumprimento reverencial que a ocasião exigia. Enquanto a fila-longa teimava em não andar continha meus cacuetes de ranger os dentes tipo “bruxismo”, além de me segurar para não morder os lábios descontroladamente, ante a fadiga de um dia exaustivo de trabalho, em especial, no caso do relatório final no processo disciplinar de um Delegado do sul do Estado. Quando estava pronto para sair Krieger quase que me interceptou e lançou um questionamento na ordem do dia:

“E daí, já sabe de alguma novidade ai nos cargos?”

Parei frente a Krieger e em frações de segundos veio um turbilhão de questionamentos interiores: “Seria aquela senhora a Adréia Cassol, sua esposa? Krieger ganhou tamanho e parecia um daqueles personagens da idade média, frequentador hábil de castelos e me perguntei: "o que será que aconteceu?" Observei que Krieger estava diferente, mais velho, porém, esbanjando uma vitalidade tipo daqueles padres dos mosteiros beneditinos..., com um sorriso largo, papada, cabeça e corpo roliços, sorrisos afáveis, gestos faceiros..., tipo: "a vida tá tão boa assim?”

Voltei à realidade e procurei focar minha atenção de maneira convicta diante da solicitude do meu interlocutor, respondendo a indagação:

“Pois é, parece que é mesmo o ‘Grubba’, não é?” (afinal, o escolhido para ser o Secretário de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina no governo Raimundo Colombo).  Krieger argumentou:

“Sim, isso já esta decidido, encontrei o Benedet (Deputado Federal Ronaldo Benedet) hoje e ele disse: ‘é o Grubba mesmo’”.

Interrompi:

“Bom, a gente estava torcendo pelo Julio , naquele nosso velho projeto, mas...”. Krieger sempre sorrindo argumentou: “Mas será que ele...”. Respondi: “Acho que talve(Delegado Júlio Teixeira) para ser o secretário adjunto ou Delegado-Geral, mas se ele for inteligente vai querer ser Delegado-Geral...”.

Krieger concordou com meu raciocíonio. Enquanto a conversa fluía lembrei da conversa do dia anterior com a Delegada Ester Fernanda Coelho que tinha comentado que Krieger tinha feito um pedido para fazer viagem de estudo para a Espanha, a fim de ficar dois anos por lá com todas as despesas pagas pela Secretaria de Segurança. Ester comentou ainda que quando o pedido de Krieger passou pelas mãos dela foi correndo conversar com o Delegado-Geral Ademir Serafim que imediatamente mandou o pedido para um setor que traduzindo significava “cemitério”, inclusive, utilizando uma frase que chefe de polícia sempre utiliza para aqueles que só querem mordomia: “vocês querem merenda é? Vão trabalhar.”.

Já tinha conhecimento que Krieger estava à disposição da Secretaria de Assuntos Estratégicos, com Vinicius Lumertz, mas fiz de conta que não sabia de nada, e o ele confirmou com “soavidade”, tomando ciência que aquela senhora que o estava acompanhando no café era apenas uma colega de trabalho. Procurei abreviar nosso contato e nos despedimos fraternalmente parecendo mais dois frades bem tratados e parcimoniosos.