1. INTRODUÇÃO

A ocupação do Nordeste pelos colonizadores portugueses ocorreu principalmente durante os séculos XVII e XVIII. Esses pioneiros foram desbravadores corajosos que adentraram pelas trilhas e veredas dos sertões, com o objetivo de descobrirem riquezas naturais, fortalecerem o domínio da nação luso-brasileira e ocuparem as terras inóspitas dos sertões.

LEAL (2009), no trecho do livro A Colonização Portuguesa no Ceará, baseado em pesquisas bibliográficas fez um mapa genealógico cearense, relacionando os nomes dos 'primeiros povoadores portugueses', indicando a naturalidade deles, os locais onde se instalaram, os entrelaçamentos familiares e as famílias que fundaram. Baseado nesses registros históricos é possível, obter informações dos locais onde a família portuguesa “Ferreira Lima” se instalou no litoral, região central e no sul do Ceará, através dos registros de migração portuguesa do antigo Siará.

As fontes de pesquisa mais importantes, utilizadas no estudo da origem da família Ferreira Lima foram baseadas nos relatos de Antonio Ferreira Lima, nascido Vacaria, Várzea Alegre, Ceará em 1914, no Family Search (software de genealogia), no Wiki Pesquisa Genealógica, no Rodovid, portal multilíngue, sites de acesso gratuitos de árvores genealógicas.

A pesquisa sobre a origem da Família Lima, abrange os séculos XVII e XVII, começando em Portugal, descrevendo os enlaces matrimoniais, costumes, religião, profissões, atividades sociais, terminando com a chegada desses pioneiros a região Centro-Sul do Estado do Ceará, até a aquisição da sesmaria Monte Alegre, no final do século XVIII por João Ferreira Lima, alcunha Sr. José Ferreira.

2. ORIGEM DOS NOMES FERREIRA E LIMA 

2.1. ORIGEM DA FAMÍLIA FERREIRA

É muito importante saber a origem dos nomes, pois estes indicam a influência, a função, a nobreza, a posição socioeconômica de seus descendentes e em alguns casos, a região de origem. O clã Ferreira era uma família nobre em Portugal, das mais antigas, cujas origens não são ainda bem conhecidas. É importante ressaltar que, a origem dessas famílias Ferreira e Lima mencionadas nesse tópico, não correspondem aos descendentes da família 'Ferreira Lima' da sesmaria Monte Alegre, Várzea Alegre, Ceará. No entanto, esses sobrenomes foram utilizados por cristãos-novos, como estratégia de sobrevivência e ocultação de sua origem semita.

O sobrenome Ferreira "parece ser de origem castelhana (espanhola) e o seu solar era a vila de Ferreira, no reino de Castela, hoje chamada Herrera de Rubisverga, na entrada da terra de campos" (RODOVID, 2020).

"A pessoa mais antiga com esse sobrenome, segundo os genealogistas, é Dom Álvaro Rodrigues Ferreira, que viveu por volta do ano de 1.170 no Reino de Leão, um dos reinos medievais nos quais era dividida a área hoje ocupada pela Espanha. Dom Álvaro teve três filhos: Rodrigo Álvares Ferreira, Fernando Álvares Ferreira e Teresa Álvares Ferreira, sendo que esta última se casou com Dom Sancho Nunes de Barbosa. Dom Fernando viveu em Portugal, no Paço de Ferreira, situado no conselho de Aguiar e Souza de seus filhos provém os Ferreiras de Portugal" (RODOVID, 2020).

Ao que parece, os Ferreiras migraram da Espanha para Portugal em épocas muito remotas, 300 anos antes do descobrimento do Brasil. A entrada do sobrenome no Brasil deu-se através de mais de uma centena de famílias diferentes, em vários estados, tornando-se um dos sobrenomes mais dispersos no país.

2.1. ORIGEM DA FAMÍLIA LIMA

O sobrenome Lima foi acrescentado a família Ferreira posteriormente, através de enlaces matrimonias, indicando proximidade e afinidade familiar.

"O vocábulo lima do latim, 'limes', significa cercas ou paliçadas destinadas a proteger a fronteira ou fortificações militares romanas. A palavra também era frequentemente usada no sentido de limite, indicando local de fronteira, sendo utilizada como nome de família. Também, o nome Lima é um topônimo derivado do rio o Lima (em galego Limia), ou de diversos lugares denominados Lima" (WIKIPÉDIA, 2020). Provavelmente, a primeira pessoa a utilizar este sobrenome deveria ter sua morada próxima a este rio.

A Família Lima era uma das principais famílias de Portugal que teve em Dom João Fernandes de Lima o iniciante da geração. O Senhor de Terras de Limia, daí a origem do nome, juiz da corte, conselheiro do Reino, comendador da ordem de Santa Maria. Seus descendentes ocuparam lugar de importância na corte portuguesa. O brasão de armas foi concedido à família em 1485 (LIMA, 2014).  

Ainda de acordo com as citações de Lima (2014), D. João Fernandes de Lima participou das lutas de Aragão e Castela, que formaram os países ibéricos, o primeiro do nome, tomou Límia, na Galizia. Os Lima lutaram contra os reis godos de Aragão. No Brasil, do Paraná, partiram para o sul, guerreando contra os índios e colonizando os sertões. Eram nobres em Portugal e foram aguerridos no sul do Brasil, durante o período de ocupação do território brasileiro.

O sobrenome Ferreira Lima, pode ser o resultado da união das duas ilustres famílias, ocorrida e celebrada no Paço de Ferreira, situado no conselho de Aguiar e Souza em épocas subsequentes ao descobrimento do Brasil. Esta ilustre família ocupou, também, o verde e fértil Vale do Cavado, na antiga província do Minho, norte de Portugal.

A vinda da família Ferreira Lima para o Ceará ocorreu nos séculos XVII e XVIII. A maior parte dos membros da família Ferreira Lima, registrado na capitania do Ceará, veio do distrito de Braga, no coração do verde e fértil Vale do Cavado, antiga província do Minho, norte de Portugal, alguns se estabeleceram em Fortaleza e região litorânea, outros, no entanto, adentraram ao interior do Ceará, fixando-se na região central e sul no Cariri.

Os antigos registros da migração indicam que o senhor Mateus Ferreira Lima, casou-se em Recife e veio para a região do Cariri, provavelmente em 1750. João Ferreira Lima casou em 1770, em Baturité, e sua esposa era da família Pereira. Joaquim Ferreira Lima e Manuel Ferreira Lima fixaram residência na região dos Inhamuns (Tabela 1).

Tabela 1. Relação de nomes da família Ferreira Lima, local de nascimento, fixação e entrelaçamento com outras famílias, período 1700 a 1800.

Nome

Local de nascimento ou casamento

Local de Fixação

Entrelaçamento familiar

Manuel Ferreira Lima

Nasceu em Braga

Inhamuns

Batista de Melo

Mateus Ferreira Lima

Casou em Recife

Cariri

 

João Ferreira Lima

Casou em Baturité, 1770

Baturité

Pereira

Ferreira Lima

Nasceu em Braga

Casou-se em Russas

Russas

 

Joaquim Lima Ferreira

Nasceu em Braga

Casou em Arneiróz

Inhamuns

 

AdaptadoOs Primeiros Povoadores Portugueses do Ceará, 1700 – 1800 de LEAL, 2020

 

Quando se observa Tabela 1, nota-se que os nomes mencionados não coincidem com os ancestrais dos 'Ferreira Lima' que ocuparam a região central do Estado do Ceará, a partir de Icó, Telha, São Mateus dos Inhamuns, São Vicente das Lavras e Várzea Alegre, como será posteriormente estudado, podendo, entretanto, indicar uma origem comum.

3. ORIGEM DA FAMÍLIA FERREIRA LIMA DA SESMARIA MONTE ALEGRE 

Com relação a origem da Família Ferreira Lima da sesmaria Monte Alegre, município de Várzea Alegre, Ceará, serão tratados, os seguintes questionamentos: de onde vieram? Em que época chegaram ao nordeste do Brasil? Onde se estabeleceram no Ceará? Serão abordados ainda os seguintes assuntos: os entrelaçamentos familiares, costumes, religião, profissões, atividades, durante o período colonial brasileiro, desde do início do século XVII até o final do século XVIII.

Segundos os relatos de Antonio Ferreira Lima, nascido em ano de 1914 no sitio Vacaria, município de Várzea Alegre, a Família Ferreira veio de Portugal tendo como rota inicial a capitania de Pernambuco (Recife), Paraíba e o Arraial Novos dos Icós, posteriormente denominada vila de Icó em 1738. Ainda, segundo as histórias narradas por seu bisavô, o Alferes Raimundo Ferreira Lima, nascido em Monte Alegre em 1801, a família era descendente de judeus, denominados historicamente Cristãos-Novos[[1]], que adentram os sertões do Ceará, se estabelecendo incialmente próximo a vila de Icó, na segunda metade do século XVIII.

Os relatos de Antonio Ferreira Lima parecem ser confirmados, tanto pelas pesquisas realizadas no site RODOVID (2020) e FamilySearch (2020), bem como nos registros históricos da família, corroborados por fatos característicos  dos critptojudeus ou marranos[[2]]: casamentos endogâmicos (entre parentes), uso de cognomes, casamento em primeiro lugar das filhas mais velhas, transmissão oral aos descendentes a suas origens judaicas, pouca reverência religiosa a fé católica, timidez em conversas com pessoas estranhas, sepultar os mortos com mortalhas, ou cobrir os espelhos em sinal de luto.

Nesse capitulo serão tratados os descendentes Antonio Simões de 1620 até 1797, quando nessa época, João Ferreira Lima adquiriu a sesmaria Monte Alegre, perto de uma bela lagoa às margens da ribeira do riacho Coroatá (Machado), conhecida até o dia de hoje como Várzea Alegre, localizada na região centro-sul da província do antigo, Siará, nome este que segundo os potiguaras, indicava local ribeirinho com grande quantidade de 'pássaros para caçar'. 

Os descendentes diretos de Leonor Martins, seguem a seguinte lista sequencial, tendo por base os seus representes familiares: Antonio Simões, João Ferreira Lima, Bento Ferreira Lima, Francisco Ferreira Lima (Ferreira Rios), João Ferreira Lima. João Ferreira Lima, nasceu na Freguesia de Nossa Senhora da Expectação em Icó, Ceará, ele foi o pai de Raimundo Ferreira Lima do qual são descendentes os Martins, os Anicetos e os Ginos de Monte Alegre a Vacaria, município de Várzea Alegre, Ceará.

O primeiro nome citado na árvore genealogia da família Ferreira Lima é de uma mulher chamada de Leonor Martins, casada com um descendente da Família Ferreira Lima que nasceu aproximadamente 1621, em Cefarraz ou Seferaz (Sefaradi), esse nome indica tanto a localidade como a procedência judaica da família (Tabela 1).

 

Tabela 1. Descendentes de Leonor Martins Serfardita, nome para designar judeus nascidos na Península Ibérica, Portugal e Espanha.

12ª Geração

11ª Geração

10ª Geração

9ª Geração

Leonor Martins ??

Mãe de Maria Ferreira

Antonio Simões, o Moço x Maria Ferreira Lima

João Ferreira Lima x Josefa Gomes Moreira

Bento Ferreira Lima x Maria Ferreira Gomes Paes

Não identificado

De a 1641 a 1734

De 1681 a 1755

(a) De 1711 a 1782

(2) Cefarraz, Sefaraz, Sefardita, indica local e origem Espanha

BicainhasFreguesia do Salvador de TebosaPortugal

Freguesia de São Salvadorde TebosaPortugal

(b) Freguesia de São Salvador de Tebosa, Concelho e Distrito de Braga, Portugal

Sobrenomes constituintes da família "Ferreira Lima" através de entrelaçamentos familiares: Simões, Colaça (Colassa), Martins, Rodrigues, Barbosa, Calado, Lima, Ferreira, Gomes, Paes, Moreira, Rios, Duarte, Pinheiro, Costa, Mendonça, Pereira, Rodrigues. Obs. Judeus perseguidos e listados na Torre de Tombo [[3]].

 (a) Datas de nascimento e ou falecimento dos chefes de cada família; (b) Local de nascimento.

Fonte: RODOVID, 2020 e FamilySearch (software de genealogia).  Adaptado por Lima, A.A. 2020.

 

"Sefarditas (em hebraicó ספרדים, sefaradi; no plural, sefaradim) é o termo usado para referir aos descendentes de judeus originários de Portugal e Espanha. A palavra tem origem na denominação hebraica para designar a Península Ibérica (Sefarad, ספרד ). Utilizam a língua sefardi, também chamada judeu-espanhol e 'ladino', como língua litúrgica" (DOCUMENTARIO, 2020).

Os registros indicam as origens judaicas de Leonor Martins de Cefarraz, Sefarad (Tabela 1), portanto, grande parte "desses judeus vieram da Espanha para Portugal e utilizavam a língua sefardi, também chamada judeu-espanhol, como língua litúrgica, devido as perseguições movidas pelos reis católicos Fernando II de Aragão e Isabel de Castela em 1478, após a instituição do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição Espanhola para manter a ortodoxia católica em seus reinos que atuou até 1834. Estes judeus de Sefarad possuíam tradições, línguas, hábitos e ritos diferenciados dos seus irmãos asquenazitas que habitavam a Europa Central e Europa de Leste" (FRADE, 2006).

Em 1492, os judeus que não se converteram ao catolicismo foram forçados a deixar a Espanha. "Então, eles fugiram das perseguições que lhes foram movidas na Península Ibérica na inquisição espanhola (de 1478 -1834), dirigindo-se a vários outros territórios. Uma grande parte fugiu para o norte de África, onde viveram durante séculos. Milhares se refugiaram no Novo Mundo, principalmente Brasil, onde foi construída a primeira sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel. Também no México, onde nos dias atuais se concentram milhares de descendentes dos judeus conhecidos como marranos. Os sefarditas são divididos hoje em ocidentais e orientais. Os ocidentais são os chamados judeus da nação portuguesa, enquanto os orientais são os sefardim que viveram no Império Otomano" (DOCUMENTARIO, 2020).

Um outro fato importante, que confirma a narrativa de que a família Ferreira Lima da Fazenda Monte Alegre tinha de fato, laços semitas, pode ser observado através dos sobrenomes da família constituídos através de entrelaçamentos familiares: Martins, Simões, Colaça (Colassa), Rodrigues, Barbosa, Calado, Lima, Ferreira, Gomes, Paes, Moreira, Rios, Duarte, Pinheiro, Costa, Mendonça, Pereira, Rodrigues.  Observa-se que esses nomes estão listados no Arquivo Nacional Torre do Tombo, Lisboa, apresentado uma relação de nomes de judeus perseguidos pelo Tribunal do Tribunal do Santo Ofício para inquerir as chamadas heresias judaizantes[3] (Tabela 1, ver nota de rodapé, p. 7).

Antonio Simões, filho de Leonor Martins, nasceu na Freguesia do Salvador de Tebosa, Portugal, mais ou menos em 1641. Casou-se com Maria Ferreira Lima no dia 2 de janeiro de 1676, tendo como testemunhas do casamento o Reverendo Baltazar Ferreira Lima e Antonio Gonçalves. Antonio Simões era por parte de pai, da família Colaça (Colassa) faleceu em março de1683 em Portugal, com mais menos 42 anos de idade, já a sua esposa Maria Ferreira Lima, faleceu em 6 de agosto de 1734, aos 78 anos de idade, provavelmente, em Bicainhas, Freguesia do Salvador de TebosaPortugal. Os filhos de Antônio Simões foram: Bento Ferreira Lima, Baltazar Ferreira Lima, João Ferreira Lima e Maria Ferreira Lima.

Examinando a Árvore Genealógica da Família Ferreira Lima do centro-sul do Ceará, observa-se na inclusão dos nomes mais antigos os sobrenomes: Martins, Simões, Colasso (Colaça), Ferreira Lima, cujas famílias foram unidas através de entrelaçamentos matrimoniais sendo importante ressaltar que, essa lista apresenta uma origem em comum ligada a Antônio Simões.

"A história relata que em Portugal Antonio Simões cometeu grave crime e por este delito foi degredado para África.  Não diz que crime foi cometido. Mas nos processos de inquisição do Santo Ofício encontrados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, o delito cometido foi de judaização (por seguirem a religião judaica ou adotar as suas práticas). Nele, vê-se que nunca saiu de Portugal" (LIMA, 2014). Aos judeus foram imputados todos os tipos de crimes e execuções violentas e inimagináveis[[4]].

Antonio Simões, ao que tudo indica foi um cristão-novo, processado pela inquisição de Lisboa por volta de 1660, condenado por crime de judaização, ao que parece, alguns de seus filhos, após a prisão do pai, temendo o mesmo destino fugiram, inicialmente para a África e depois para Pernambuco (LIMA, 2014), alguns, entretanto, preservaram o sobrenome da mãe, Ferreira Lima, influente família da coorte portuguesa, cognome, acima de qualquer suspeita e retaliação do Santo Oficio Inquisitório da igreja Católica.

Os nomes dos descendentes da família Ferreira Lima que colonizaram a fazenda Monte Alegre, município de Várzea Alegre, Ceará, seguem a seguinte ordem cronológica:  Antonio Simões, João Ferreira Lima, Bento Ferreira Lima, Francisco Ferreira Lima, João Ferreira Lima (alcunha Sr. José), Raimundo Ferreira Lima, Martins Ferreira Lima, Aniceto Ferreira Lima e Antonio Ferreira Lima (Antonio de Aniceto). É importante salientar que, o tenente Francisco Ferreira Lima, chegou ao Brasil antes do ano 1751, já que se casou no dia 22 de abril de 1754 no Sítio Lagoa, Várzea Alegre, Ceará.

João Ferreira Lima descendente de Antonio Simões, nasceu na Freguesia de São Salvador de Tebosa e foi batizado em 26 outubro 1681, Portugal, na Igreja de São Salvador de Tebosa, tendo com padrinhos João da Costa e Ana Gonçalves de Bicainhos. Casou-se com Josefa Gomes Moreira na igreja de São Salvador de Tebosa, em 5 de outubro de 1711 e faleceu em 25 julho 1755, Freguesia de São Salvador de Tebosa, Braga, Portugal. Sua esposa Josefa Gomes Moreira, nasceu na Freguesia de São Tiago, Arcebispado de Braga, Portugal e foi batizada em 22 de maio de 1689 na Freguesia de São Tiago do Mouquim, tendo como padrinhos Manoel Gomes e Helena Gomes. Faleceu em 25 de julho de 1755, Freguesia de São Salvador de Tebosa, Braga, Portugal. Os descendentes de João Ferreira Lima foram: Maria Ferreira Lima, Bento Ferreira Lima e Francisco Ferreira Lima.

Bento Ferreira Lima, filho de João Ferreira Lima, nasceu em 7 de dezembro de 1711, na Freguesia de São Salvados de Tebosa, conselho e distrito de Braga, Portugal. Casou-se com Maria Gomes Paes em Portugal na Freguesia de São Salvados de Tebosa, conselho e distrito de Braga, Portugal. O único filho encontrado no registro da árvore genealógica é o de Francisco Ferreira Lima. Partindo-se do pressuposto que Bento viveu 70 anos e que nasceu em 1711, logo ele faleceu em 1771, portanto, nessa época já estava no Brasil na capitania de Pernambuco ou na Paraíba. O casal teve um filho chamado Francisco Ferreira Lima.

Francisco Ferreira Lima, tronco das famílias Ferreira Lima e Mendonça de Iguatu, São Caetano e Várzea Alegre, filho de Bento Ferreira Lima, também conhecido como Francisco Ferreira Rios era tenente, nasceu em 1730 em Barcelos (Santa Maria Maior), Braga, Portugal. Casou-se com Joana Maria dos Anjos (Duarte Pinheiro) em 22 de abril de 1754 no Sítio Lagoa, Várzea Alegre, Ceará, na Freguesia de Nossa Senhora da Expectação do Icó e desse enlace matrimonial nasceram: Francisco Ferreira Lima (nascido em 1755), João Ferreira Lima (nascido em 1755) e José Ferreira Lima (nascido em 1766) (Tabela 2).

Tabela 2. Descendentes de Francisco Ferreira Lima nascido em Barcelos, Braga, Portugal.

8ª Geração

7ª Geração

6ª Geração

5ª Geração

Ten. Francisco Ferreira Lima (Ferreira Rios) x Joana Maria dos Anjos (Duarte Pinheiro)

João Ferreira Lima (cognome Jose) x Joana Joaquina de Mendonça

Cap. Raimundo Ferreira Lima x

Joana Batista Ferreira

 

Martin Ferreira Lima X Carolina Ferreira Lima

De 1730 a 1805

De 1772 a 1841

De 1801 a 1897

(a) De 1833 a 1929

LN. Barcelos (Santa Maria Maior), Braga, Portugal

L.N. Fazenda São Cosme, Freguesia de Icó, Ceará

LN. Monte Alegre, Várzea Alegre, CE 

(b) LN. Monte Alegre, Várzea Alegre, CE 

Sobrenomes constituintes da família "Ferreira Lima" através de entrelaçamentos familiares: Simões, Colaça (Colassa), Martins, Rodrigues, Barbosa, Calado, Lima, Ferreira, Gomes, Paes, Moreira, Rios, Duarte, Pinheiro, Costa, Mendonça, Pereira, Rodrigues. Obs. Judeus perseguidos e listados na Torre de Tombo [[5]].

 (a) Datas de nascimento e falecimento dos chefes de cada família; (b) Local de nascimento.

Fonte: RODOVID, 2020 e FamilySearch (software de genealogia).  Adaptado por Lima, A.A. 2020.

 

Joana Maria dos Anjos, esposa de Francisco Ferreira Lima nasceu 1735, na Freguesia de Icó, atual Várzea Alegre e foi batizada no dia 12 de janeiro de 1735, não informado local, tendo como padrinho Inácio Dias Quaresma. Conforme Livro de Batismos e Matrimônios, Icó. Bernardo Duarte Pinheiro, nasceu na Freguesia de Santa Eulália, Paços do Ferreira, Porto e casou-se com Ana Maria Bezerra, nascida em Santo Antão da Mata ou Tracunhaém, Pernambuco, neta materna de Antonio Bezerra do Vale e de Maria Alvares de Medeiros (LIMA, 2106).

João Ferreira Lima, alcunha de José, filho do Tenente Francisco Ferreira (Rios) casou-se com Joana Joaquina de Mendonça (Joana Batista de Mendonça) no dia 4 de dezembro 1791, desse enlace nasceram os gêmeos Maria Magdalena (Ferreira Lima) e Joaquim Ferreira Lima na fazenda São Cosme, Freguesia de Icó, Ceará. Ana Ferreira Lima nasceu em 9 outubro 1795 na fazenda São Cosme, tendo como padrinhos de batismo José Duarte Passos e Joana Maria.

Provavelmente no ano de 1797 a família se transferiu para a Fazenda Monte Alegre, Várzea Alegre, Ceará, pois, os avós maternos de João Ferreira Lima eram Bernardo Duarte Pinheiro e Ana Maria Bezerra, os primeiros colonizadores portugueses da ribeira do rio Coroatá (Machado), onde estabelecerem residência em Várzea-Alegre. Já na fazenda Monte Alegre, nasceram Antonio Ferreira Lima (aproximadamente 1799) e Raimundo Ferreira Lima (aproximadamente 1801), os registros talvez não foram feitos devido a distância da sede do municipal de Icó, ou tenham sido registrados em São Mateus dos Inhamuns (Jucás, CE).
Os moradores mais antigos da Fazenda Monte Alegre foram João Ferreira Lima, Raimundo Ferreira Lima e Martins Ferreira Lima. Anicete filho de Martins, foi morar na Vacaria, próximo a fazenda Monte Alegre, logo após o seu casamento com Joana Josefa Pereira, onde veio a falecer 1943.

Os descendentes da família “Ferreira Lima” que povoaram a sesmaria Monte Alegre e deram origem as famílias que habitam até hoje nos sítios: Cajazeiras, Gangorra, Recanto, Malhada Grande, Vacaria, Gabriel, Coroatá, Fortuna, Guarani, Moça, Pau D’Arco e diversas regiões do Brasil e do mundo.

 

4. AS ENTRADAS DE DESBRAVAMENTO TERRITORIAL E A COLONIZAÇÃO DA REGIÃO VALE DO JAGUARIBE-MIRIM E MACHADO.

As Entradas empreendidas por membros da sociedade civil brasileira, militares e religiosas ao vale do Jaguaribe-Mirim ou rio Salgado (Boqueirão de Lavras), teve início do século XVII, expandindo-se também, em direção as Minas de São José dos Cariris Novos (atual município de Missão Velha), aos riachos Coroatá (Machado) e Fortuna.

Os objetivos dessas expedições visavam principalmente a captura de indígenas e a busca do ouro nas ribanceiras desses rios, porém, a febre por esse metal precioso durou até a metade do século, uma vez que a extração se tornou onerosa às Cortes de Lisboa, que determinaram a sua suspensão, em 1758 (Wikipédia, 2020).

A colonização da região ocorreu com a doação de sesmarias, o que permitiu o surgimento de lugarejos e vilas, ocorreu somente com a doação da sesmaria as margens do Riacho Coroatá (Machado) com extensão de nove léguas, com uma légua para cada lado do riacho, ao Capitão Agostinho Duarte Pinheiro e ao seu irmão o Alferes Bernardo Duarte Pinheiro em 23 de fevereiro de 1718. 

Dois anos depois acompanhados de familiares os irmãos portugueses resolveram fazer uma excursão a propriedade. Quando chegaram ao local onde existia uma lagoa, toda circundada por floresta virgem, ficaram a contemplar aquela paisagem maravilhosa escutando o cantar de pássaros que voavam nos galhos de árvores frondosas. Admirados com aquele magnífico panorama um dos componentes proferiu essa concisa e significativa frase: mas que Várzea Alegre! Sendo sugerida a escolha do nome da fazenda. Tempo depois, o Capitão Agostinho, abalado por problemas familiares, resolveu doar sua parte na propriedade aos seus filhos e retornou a Portugal, enquanto o seu irmão Bernardo fixou residência definitivamente em Várzea Alegre, onde construiu sua casa no sítio Lagoas (MORAIS & COSTA, 1995).

O capitão Agostinho Duarte Pinheiro (Brandão), nasceu na Freguesia de Santa Eulália, conselho de Paços de Ferreira, Porto, Portugal. Ele casou-se com Romana Xavier de Carvalho, natural de Pernambuco e como capitão gozava de privilégios como o direito a aquisição de sesmarias devido a sua alta patente militar. Seus filhos foram: Jerônima (1741); André (1742); Joana da Silva dos Santos, (1745) casou-se com José Felipe Coelho; Antônio Duarte Brandão (1747); Teresa (1756); Manoel (1759); Agostinho da Silva; Francisco Duarte Alves Pinheiro, casou-se com Maurícia Moreira de Carvalho (CORREIA LIMA, 2009).

Segundo Morais & Costa (1995) são descendentes diretos do capitão Bernardo Duarte Pinheiro, grande parte da população de Várzea Alegre entre os quais se destacam: Francisco Duarte Pinheiro (ou Bezerra), Raimundo Duarte Bezerra (Papai Raimundo), José Raimundo Duarte de Meneses (José Raimundo do Sanharol); Maria Anacleta de Menezes casada com Antonio de Brito Correia, filho de Antonio Correia de Brito; Tereza Anacleta de Menezes (Tetê) casou-se Joaquim Alves de Morais, filho de Gabriel de Morais Rego e de “Mãe Dona”, da Fazenda Timbaúba, nos Inhamuns.

No final do século XVIII, provavelmente em 1797, João Ferreira Lima adquiriu a fazenda Monte Alegre, cuja aquisição foi feita através da mediação, provavelmente de seus tios residentes no Sítio Lagoa, Várzea Alegre, Ceará, já que os seus avós maternos eram Bernardo Duarte Pinheiro e Ana Maria Bezerra, os primeiros colonizadores portugueses da ribeira do Riacho Coroatá (Machado) e os fundadores de Várzea Alegre.

As terras adquiridas por José Ferreira Lima extremavam a leste com as referidas datas cedidas aos irmãos portugueses Capitão Agostinho Duarte Pinheiro e ao Alferes Bernardo Duarte Pinheiro, tendo como referência de divisa, o ponto mais alto da serra da Vaca Morta. Segundo o depoimento de Antonio Ferreira, a propriedade do Cipó ou Riacho da Ursa, atualmente Monte Alegre, tinha a extensão de uma légua e meia (1 légua = 6,0 km) por uma légua e meia de mata virgem. As dimensões dessa sesmaria compreendiam os sítios Monte Alegre, Cajazeiras, Gangorra, Betânia, Salão, Queimadas, Moça, Malhada Grande e a Vacaria.

É importante ressaltar, que nem tudo era tão árido nas terras que serpenteiam os riachos: Fortuna, Porcos, Verde, Machado. Havia um vale fértil e verde com abundantes pastagens nativas, onde o capim mimoso brotava na época das primeiras chuvas de novembro e dezembro, então, a rama vicejante e verde recobria de folhagem a caatinga. A terra, apesar das secas periódicas era propicia para o criatório extensivo de gado, mesmo havendo a possibilidade de saques dos silvícolas da região e do ataque das onças pardas e pintadas que rosnavam nas madrugadas, rodeando os curais de pau-a-pique, próximo aos casarões das fazendas.

São descendentes de João Ferreira Lima da fazenda Monte Alegre, o Cap. Raimundo Ferreira Lima, casado Joana Batista Ferreira, viveu de 1801 a 1897; Martins Ferreira Lima, casado com Carolina Ferreira Lima, 1833 a 1929; Aniceto Ferreira Lima casado Joana Josefa Pereira Lima de 1873 a 1943; Antonio Ferreira Lima, casado a primeira vez com Adalgisa Joana de Lima e depois com Expedita Maria de Lima de 1914 a 2010 (Tabela 3).

Tabela 3. Descendentes de Aniceto Ferreira Lima, nascido em São Mateus dos Inhamuns (Jucás) em 1873.

4ª Geração

3ª Geração

2ª Geração

1ª Geração

Aniceto Ferreira Lima x Joana Josefa Pereira Lima

Antonio Ferreira Lima

X Adalgisa Joana de Lima e

Expedita Maria de Lima

Antonio Anicete de Lima x Nilba Gonçalves de Lima

Amílcar Eduardo Paracatu Romero x Ligia Gonçalves de Lima

De 1873 a 1943

De 1914 a 2010

1952

(a) 1981

Monte Alegre, Várzea Alegre, CE 

Vacaria, Várzea Alegre, CE 

Vacaria, Várzea Alegre, CE

(b) Colorado do Oeste, Rondônia

Sobrenomes constituintes da Família "Ferreira Lima" através de entrelaçamentos familiares: Simões, Colaça (Colassa), Martins, Rodrigues, Barbosa, Calado, Lima, Ferreira, Gomes, Paes, Moreira, Rios, Duarte, Pinheiro, Costa, Mendonça, Pereira, Rodrigues. Obs. Judeus perseguidos e listados na Torre de Tombo [[6]].

 (a) Datas de nascimento e falecimento dos chefes de cada família; (b) Local de nascimento.

Fonte: RODOVID, 2020 e FamilySearch (software de genealogia).  Adaptado por Lima, 2020.

 

5. REFERÊNCIAS

CARNEIRO, M. L. T. O preconceito racial contra os cristãos-novos em Portugal. Preconceito Racial no Brasil Colônia: Os cristãos-novos. São Paulo, SP: Brasiliense, p. 52, 1983. (Nota 31).

COSTA. A. L.; MORAIS, P. A de. Sete Gerações de Papai Raimundo. Fortaleza, CE: Gráfica Universitária, 1995.

DOCUMENTARIO. 1492: El Outro Camino - Sofia Bulgária (em castelhano). Áudio em Espanhol/English Subtitles . Acessado em: 19 de maio de 2020.

FAMILYSEARCH. Software de genealogia. . Acessado em: 19 de maio de 2020. 

FRADE, F. V. As relações económicas e sociais das comunidades Sefarditas portuguesas. O Trato e a Família.1532-1632. Lisboa, Portugal: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 2006.

HEINE, H. O Rabi de Bacherach e três textos sobre o ódio racial. São Paulo, SP: Hedra, 2009, p. 32).

LEAL, A.BOs Primeiros Povoadores Portugueses do Ceará, 1700 – 1800. 18 de outubro de 2009. Disponível em: . Acessado em: 19 de maio de 2020.

LIMA, C. P. K de.  O crime de Simões Colaço. Coleção Borges da Fonseca, 1 de janeiro de 2014. 458 p.

LIMA, G. S. Origem da família Lima. IGEPAR – Consulta. Disponível em: . Acessado em: 19 de maio de 2020.

LIPINER, E. Santa Inquisição: terror e linguagem. Rio de Janeiro, RJ: Documentário, "Verbete Marranos", p. 99. (1977 a).

LIPINER, E. Santa Inquisição: terror e linguagem. Rio de Janeiro, RJ: Documentário, Verbete "Marranos”, p. 99, 1977 b.

RODOVID. Clã: Ferreira. Disponível em: . Acessado em: 20 de outubro de 2020.

 

WIKIPÉDIA. Lavras da Mangabeira - Município do Brasil. . Acessado em: 19 de maio de 2020.

 

Porto Velho, maio de 2020.

Antonio Anicete de Lima

Relatos de Antonio Ferreira Lima

 

[[1]] Cristão-novo designação dada em Portugal aos judeus convertidos ao cristianismo e seus descendentes, em contraposição aos cristãos-velhos (genuínos). A expressão foi difundida após a conversão forçada de judeus feita em 1497 pelo rei de Portugal, antes da instauração do Tribunal da Inquisição (LIPINER, 1977 a).

[[2]] Marrano em espanhol (porco): forma considerada pejorativa de se referir ao cristão-novo, principalmente ao criptojudeu (LIPINER, 1977 a).  Criptojudeu se refere aos judeus que praticavam sua fé e seus costumes em oculto, às vezes, mudando de nome.

[2] Criptojudeu refere-se aos cristãos-novos judeus que viviam publicamente como católico, porém fazia uso da religião cristã apenas no que concerne aos direitos civis e preservava seus cultos e práticas do judaísmo clandestinamente (CARNEIRO, 1983).

[[3]]Sobrenomes de judeus perseguidos na inquisição listados pela “Torre do Tombo”. Revista Virtual, Herança Judaica, 27 de dezembro de 2013. Título original: Family names from the inquisition archives of portugal “Torre Do Tombo”. Disponível em: https://herancajudaica.wordpress.com/2013/12/27/sobrenomes-de-judeus-perseguidos-na-inquisicao-listados-pela-torre-do-tombo/. Acesso em: 27 de maio de 2020.

[[4]]  “Os judeus já bastante odiados por causa de sua fé, de suas riquezas, encontravam-se inteiramente nas mãos de seus inimigos; podiam estes provocar sua desgraça, bastando para isso se espalhar o boato de um infanticídio – talvez até mesmo introduzissem sorrateiramente um ensanguentado cadáver de criança na casa proscrita de um judeu para depois, durante a madrugada, investir de surpresa contra a família judia congregada em oração, quando então se assassinava, saqueava e batizava, e grandes milagres aconteciam graças à criança morta, a qual por fim a igreja chegava até mesmo  canonizar" (HEINE, 2009).

[[5]]Sobrenomes de judeus perseguidos na inquisição listados pela “Torre do Tombo”. Revista Virtual, Herança Judaica, 27 de dezembro de 2013. Título original: Family names from the inquisition archives of portugal “Torre Do Tombo”. Disponível em: https://herancajudaica.wordpress.com/2013/12/27/sobrenomes-de-judeus-perseguidos-na-inquisicao-listados-pela-torre-do-tombo/. Acesso em: 27 de maio de 2020.

[[6]]Sobrenomes de judeus perseguidos na inquisição listados pela “Torre do Tombo”. Revista Virtual, Herança Judaica, 27 de dezembro de 2013. Título original: Family names from the inquisition archives of portugal “Torre Do Tombo”. Disponível em: https://herancajudaica.wordpress.com/2013/12/27/sobrenomes-de-judeus-perseguidos-na-inquisicao-listados-pela-torre-do-tombo/. Acesso em: 27 de maio de 2020.