“HIENAS, GRANDES OU PEQUENAS, SÃO HIENAS”

Diz uma antiga fábula que um camundongo vivia angustiado com medo do gato. Um mágico teve pena dele e o transformou em gato. Mas aí ele ficou com medo de cão, por isso o mágico o transformou em pantera. Então ele começou a temer os caçadores. A essa altura o mágico desistiu. Transformou-o em camundongo novamente e disse:

– Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem apenas a coragem de um camundongo. É preciso coragem para romper com o projeto que nos é imposto. Mas saiba que coragem não é a ausência do medo, é sim a capacidade de avançar, apesar do medo; caminhar para frente e enfrentar as adversidades…”

Hienas, pequenas ou grandes, são hienas. Atualizando fábulas e recortes de uma literatura atual, vale lembrar do diálogo das hienas na premiada mega- produção cinematográfica “O Rei Leão”. Logo após o declínio do reino de  Mufasa, um bando de velhas hienas discute a melhor forma de impor as leis do reinado impostor, a aparente líder do bando ameaça: - Vamos enfrentar os adversários, com todo o nosso pavoroso perfil. Uma delas retruca, que todos sabem que elas são um bando de esfomeadas, sem muito prestígio. A pseudo-chefe responde: “o inimigo não precisa saber que somos decadentes e esfomeadas. Juntas, feias e vorazes, nos tornaremos temidas”.

Consideremos que tantos o camundongo quanto as hienas nos remetem a um ponto de reflexão: Um camundongo pequeno, é um camundongo; um gato pequeno, é um gato; um cão pequeno, é um cão; uma hiena pequena, é uma hiena... A idade dos animais não os identifica como uma outra espécie. No mínimo, um filhote de. Com o homem, não se costuma considerar o mesmo. Uma criança jamais será tratada ou identificada como um filhote de homem, ou como um homem pequeno. Ela será sim, um homem do vir a ser. E esse feito passa pela construção de uma série de atos, comportamentos e um lento processo de aperfeiçoamento que requer ensinamentos, olhares, atenção, cuidados e cerceamento de movimentos em nome da segurança, do bem-estar e dos cuidados que cada idade e circunstâncias impõem.

Se a criança apresenta defasagem em algum movimento, urge que providências sejam tomadas no sentido de prover essa necessidade; se ela apresenta movimentos mais lentos deum determinado membro, ali devem estar o suporte aliado \á oportunidade de compensação; se o seu olhar não foi conduzido para o foco que o fato requer, há de se promover, de imediato, a busca da melhor percepção, independente das condições físicas, sociais, econômicas ou estruturais que se refletem inevitavelmente nos resultados que serão obtidos para, em nome da formação de uma criança bem situada na faixa a que pertença, para que quando adulta seja portadora de todas as condições mínimas de enfrentamento de situações desafiadoras que precisam e devem ser superadas e vencidas a bom termo.

Quando se discute o comportamento ode um ser humano, e que se faz necessário justificar os desdobramentos de suas ações, logo se questiona os porquês de esse ou aquele ato, quando se espera que as pessoas sejam sensatas, o suficiente, para serem tolerantes e compreensivas, tanto quanto a situação impõe. Por que esse jovem é tão frio, taciturno, cabisbaixo, tímido, arrogante, preconceituoso, perverso, mesquinho, sovina, arredio, inseguro, revoltado... nunca se espera que a resposta seja porque ele seja naturalmente mau, genuinamente perverso. Ele é, de fato, ignorante de determinados conceitos, desprovido de determinados limites, alheado de alguns aspectos e princípios que não lhes foram permitidos vivenciar em tempo algum. 

O tempo passou, os hábitos mudaram, as pessoas ficaram mais distantes, a TV passou a transmitir lições, cada vez menos direcionadas aos princípios da ética e do respeito, documentando, a cada nova era, bravatas que vêm de encontro a tudo o que se espera para a manutenção da ordem e do equilíbrio social, um desfilar de descompromisso povoa a tela nobre. As redes sociais, cada vez mais impetuosas e destemidas enfrentam os rigores da lei, como se se tratasse uma terra arrasada, onde quem faz as leis são os donos do poder do ser, do ter, do querer e do obter.

Em casa, a criança até vive lições de formação e orientação  para o bom viver; na escola, ainda se fala, se escuta e se pratica a decência e valorização da vida; no trabalho ainda são reforçadas as experiências positivas de outras vivências, de outra sociedades em outras épocas; nas igreja, ainda se pregam a palavra, o evangelho segundo os princípios confessionais de cada segmento... Na rua, é cada um por si. Não se respeita o outro, os valores, a honra, o direito, a liberdade, a vida.

Na condução da meada do que se pretende para cada um dos nossos filhos, consequentemente, para cada um dos nossos menores, é imperioso que se volte a praticar melhores exemplos de vida, de comunidade, de sociedade, de gerações.

Quando se diz que a hiena, mesmo pequena é uma hiena, não se desconhece que cada um nasce com o que virá a ser em termos de herança genética e social, mas, a criança com todo o seu potencial biológico há de buscar o psíquico em um lento processo de acumulação ode comportamento que à formação do perfil trinômico: bio-psico-social. Nesse caminho, há necessidade de uma formação biológica equilibrada e dentro dos padrões considerados ideais e salutares, a psique trabalhada com capricho e requinte de cargas emocionais bem balanceadas, levarão esse futuro ao convívio necessário e harmônico com os seus pares, os seus interesses, conveniências e limitações.  

A criança pensa, ela age de acordo com o meio em que vive, destaca-se como nenhuma outra em tempo algum, mas ela não tem a capacidade de analisar as consequências dos seus atos, quando desprovidas dos tutores, dos adultos, seus mantenedores. Afinal, eles é que respondem quando elas precisam se defender, por quaisquer razões que fujam do seu mundo pueril e sem maiores complicações, pelo menos, naquele ciclo de vida em formação.

Nenhum ser humano é responsável por ter nascido em berço de ouro ou em circunstâncias adversas; nenhum de nós poderá ser responder por sermos egressos de uma família de pele branca, ou não; nenhuma pessoa poderá ser julgada por  não ter tido acesso a escolas de qualidade, enquanto criança... Mas respondemos por esse histórico, pagamos um preço que a sociedade nos cobra.

Ora, não se pode imputar a um ser humano que a ele cabe responder por aquilo que ele desconhece. Até porque é preciso saber, de antemão se ele teve, ou não, acesso àquele conhecimento. Se sim, há de se lhe impor o grau de responsabilidade correspondente à sua capacidade assimilativa dos fatos; se não, pouco  pode lhe  ser  cobrado. Não e responde pelo que não de sabe, não se dá o que não se tem. E... quem não deu? A vida, o mundo, a escola, a sociedade, a igreja, ou simplesmente, a família?

A família é imprescindível na formação do indivíduo e na sua integração na sociedade. O seu conceito vem sendo reconsiderado em virtude do surgimento de novas formas de família. {...}. Portanto, a compreensão desse conceito por parte da população pode ser alcançado com a disseminação dessas ideias por meio da mídia, palestras e programas, onde o respeito e os valores morais devem ser alavancados como pontos principais. {...}. Também devem ser levados em consideração os métodos de ensino que, por sua vez, devem ser adaptados a este novo contexto social. Afinal, os indivíduos responsáveis pela educação de uma criança devem valer-se apenas de ética e afetividade. https:/temas/o-que-e-uma-familia/o-conceito-de-familia-no-contexto-atual/3567)

Família, responsável pelo ontem, pelo hoje, pelo amanhã, pelo sempre. Independente do seu tempo,  composição e nível intelectual, continua sendo o nicho da formação, da transmissão de valores e conceitos para posteriores gerações. Esse viés de vida reforça qualquer possibilidade de obtenção de bons resultados para uma sociedade mais justa e próspera. Daí, a necessidade de se reconhecer que, nada se sobrepõe à necessidade de uma formação adequada para a criança de hoje visando ao sucesso da espécie, no futuro. Que sejam formadas sadias crianças, para termos jovens críticos e adultos responsáveis humana e socialmente referenciados.

O animal, camundongo ou hiena, pequenos ou grandes são eles próprios pelas suas definições e cadeia. A criança não é adulta. O adulto não é criança. Podem se manter elementos de uma dessas pontas da vida, em qualquer ser humano. O que não se confundem são atitudes de crianças que não sabem ser adultas, ou de adultos que só sabem agir como criança ou, que, em alguns casos, esqueceram que foram crianças. Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar: crianças não têm que agir como adultos; adultos, podem agir como crianças. Se for o caso, que mantenhamos delas a honestidade,, a sinceridade, a serenidade, a despretensão, a essência da vida.

  • Sebastião Maciel Costa