"Eu passei como uma flor, eu sequei como a erva dos campos".

J'ai passé come la fleur, j'ai seché come I herbe des champs".

 

VIANA, Henrique Guilherme Guimarães ¹

ALENCAR, Paulo José Viana de ²

 

Este artigo, nunca publicado em nenhum veículo de comunicação, seria parte de um dos capítulos da minha dissertação de mestrado em Humanidades, Culturas e Artes, através do Programa de Pós-Graduação em Letras e Ciências Humanas. "Cansada(s) de viver: do mito romântico das heroínas nativas à iconografia brasileira oitocentista", defendida em (2015), na Universidade do Grande Rio Prof. Jossé de Souza Herdi - UNIGRANRIO - Campus I - Duque de Caxias - Rio de Janeiro.O projeto propunha a pesquisa do conjunto de obras (pinturas e esculturas) que compõe o núcleo indianista da Coleção de Arte Brasileira do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro - IBRAM /MinC /MNBA, do qual a obra em questão neste artigo é parte integrante e exposta como as demais. Os encontros da disciplina Seminário de Dissertação foram sempre de aprendizado e proveitosos, afinal, estava com duas excelentes orientadoras em todos os aspectos. No dia da minha qualificação fui surpreendido pela Banca Examinadora que sugeria que a referida obra não deveria ser analisada por pertencer ao romantismo ou pré- romantismo francês para outros. Assim, a obra não fez parte da dissertação, embora o tema Atalá já tivesse a sua representação visual por dois grandes artistas brasileiro: Rodolpho Amoedo com A Morte de Atalá (1883) e José Augusto Rodrigues com Exéquias de Atalá (1878). Este autor, considera singular sua publicação em função de um  maior conhecimento e acesso através desse website para estudantes, pesquisadores, historiadores e público visitante e por ser um tema que no século XIX teve sua representação através de diversos artistas em muitos países, como veremos no desenvolvimento desse texto.

Tema inspirado no livro Atalá (1801) ou Les amours de deux sauvages au desert  ou a natureza como um templo cristão, de François-René de Chateaubriand  Essa é uma das mensagens centrais do romance Atalá, lançado em 1801, o livro obteve sucesso imediato por congregar diversos elementos apreciados pelo público: exotismo, misticismo e sensualidade

Com temática indianista, tem como cenário a América do Norte (Louisiana). Atalá, filha do chefe de uma tribo, se encanta com Chactas, guerreiro Natchez, aprisionado por uma tribo inimiga. Ele é libertado pela filha do chefe, Atalá, que se apaixonara pelo jovem índio. Os dois fogem, mas Atalá, fiel a uma promessa que sua mãe fizera à Virgem Maria, não pode casar-se e, acaba se envenenando [...]. Ao fundo, vê-se o vulto do missionário Aubry, que ouvira a confissão da suicida (No período e processo de elaboração da pesquisa deste trabalho não foi localizada uma referência que falasse da confissão da personagem Atalá.). Duarte (1848-1888), executa Exéquias de Atalá, (1878), acervo do MNBA/IBRAM/MinC, produto da nossa análise; a versão de Rodolfo Amoedo (1857-1941), que retrata A Morte de Atalá (1883), coleção particular ¹², São Paulo-SP (JORGE, 2010: 16).  O pintor francês Girodet Trioson expôs pela primeira vez um quadro com este tema no Salão de Paris de 1808 e tornou-se um marco da transição do Neoclassicismo para o Romantismo.              

A obra em referência, Atalá no Túmulo (1808) pertence ao acervo do Musée du Louvre,  Paris. Outras tantas  obras sobre o tema também foram retratadas, como as pinturas Morte de Atalá (1835), do pintor italiano Cesare Mussini, obra que pertence ao acervo da Galeria Nacional de Arte Moderna de Roma; Augusto Rodrigues Duarte com a  Exéquias de Atalá(1878), coleção do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro; Frederico Tirone expõe em Paris, as pinturas Enterro de Atalá e Sepultamento de Atalá (1860), sendo esta última a primeira versão brasileira deste tema, que seria ainda muitas vezes retratadas pelos artistas brasileiros e, finalmente,  Rodolfo Amoedo com sua versão, A Morte de Atalá(1883) sendo esta  a pintura menos conhecida daquelas de temática indianista de Amoedo. Assim, como uma pesquisa não se esgota, até o momento onde minha pesquisa pode ir, não há evidência de que o quadro tenha sido exposto no Brasil. Hoje pertence a uma coleção particular em São Paulo.

Observamos que, na versão de Rodolfo Amoedo, a obra está afinada com os ideais românticos pela exaltação da morte como fuga da realidade, fruto do desejo de evasão levado ao extremo neste período. Neste caso, a morte é exaltada como solução única e possível, pela incapacidade da personagem em cumprir a promessa materna e seguir seu destino santificado. Seu desespero chega ao limite de tirar a própria vida, impossibilitada de casar-se com o homem que ama, legitimando o tema romântico por excelência.

Todas as  obras analisadas histórica, literária, visual e iconograficamente, representam a formação de uma memória coletiva brasileira, servindo à história o conjunto de intenções imperiais (governamentais) e do romantismo que queriam projetar no país. Mas a construção dessa memória coletiva também necessitava de personagens heroicizados, únicos, nobres de coração, sem deixar de serem representados como nativos, mas com amores, misticismo, com sofrimentos, carregando em si e dando à luz pedaços da identidade nacional idealizada.

Grifo dos autores: Em outro artigo,  que será enviada para aprovação, encaminharemos a tradução da confissão de Atalá, importantíssima para compreendermos a vida, os sentimentos, os amores, o pacto, o segredo, o silêncio e enfim, a morte da personagem.

¹. Mestre em Humanidades, Culturas e Artes pelo Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Letras e Ciências Humanas da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO) , Campus I - Duque de Caxias - RJ.

². Graduando em Arquivologia - Universidade Federal Fluminense - Campus Niterói - RJ.