Hetairas

Julianna Mendonça Neves* 

RESUMO 

O presente artigo aborda aspectos da desigualdade de gênero que ocorrem dentro do universo da prostituição, assim como a história da sexualidade e repressão sofrida pela mulher. Nesses curtos parágrafos tentaremos entender o porquê dos homens serem a esmagadora maioria dos clientes das garotas de programa e como a questão de vivenciar o prazer é diferenciado para o homem e a mulher.                                                                                                                                                                               

PALAVRAS-CHAVE

Sexualidade. Mulher. Prostituição. Desigualdade de gênero.

INTRODUÇÃO 

A sexualidade é um assunto de extrema complexidade e abrangência, é essencial que seja discutida, pois “As relações sexuais são relações sociais, construídas historicamente, em determinadas estruturas, modelos e valores que dizem respeito a determinados interesses de épocas diferentes.” [1]. Não se pode falar da sexualidade de maneira fragmentada, sendo assim falar da sexualidade implica retomar determinados recursos metodológicos, a história, a evolução social.

O tema será tratado da seguinte maneira: inicialmente trataremos da sexualidade, relacionando-a com a opressão que a mulher foi vítima desde séculos remotos até a atualidade, direcionando o foco para as mulheres que se prostituem e como são estigmatizadas por exercerem sua sexualidade e em um segundo momento analisaremos quais motivos levam a esmagadora maioria dos clientes das prostituas serem homens, revelando ao longo do trabalho a forte desigualdade de gênero no mercado do sexo e na busca do prazer. 

1 SEXUALIDADE 

A sexualidade não é um órgão, mas um formato de energia e surge a partir do nascimento do homem e o determina psicologicamente, desta forma é considerada um aspecto importante do ser individual e da convivência social, a sexualidade “é um aspecto maleável do eu, um ponto de conexão primário entre o corpo, a auto-identidade e as normas sociais.”[2]. Nunes (1959) afirma que existiram cinco etapas da sexualidade. A primeira etapa refere-se à compreensão da sexualidade no Oriente Médio, nas sociedades agrárias. Nesse período as partes íntimas da mulher eram cultuadas e o sexo era considerado algo sagrado, o matriarcalismo tinha uma forte influência nessas sociedades arcaicas, pois por anos as mulheres organizaram essas sociedades, eram vistas como a fonte da vida. As mulheres eram representava a fecundidade e o sexo era mecânico. A segunda etapa começa com o surgimento das cidades antigas, o sexo adquire uma feição mais racional, pode-se distinguir a reprodução e fecundidade e introduz-se a noção do prazer. Acredita-se que a prostituição tenha surgido nesse período.

A queda do Império Romano e o surgimento da Igreja cristã como forte instituição caracterizam a terceira etapa da evolução sexual. A partir desse momento o sexo fica no controle da religião e está ligado ao pecado e a sujeira. Os desejos carnais e o próprio corpo são considerados malévolos e sujos. Dominar os desejos significaria dominar o mal e engrandecer a alma, livrando-se dos pecados da carne e do inferno. O quarto período é marcado pela passagem do mundo medieval para o mundo capitalista. O puritanismo bania o erotismo e a nudez, o prazer sexual por parte da mulher era intolerável. O auge desse modelo se dá com a concepção repressora da sexualidade na época da rainha Vitória, mais conhecida como a era vitoriana.

De acordo com Foucault “O século XIX e o nosso foram, antes de tudo, a idade da multiplicação: uma dispersão de sexualidades, um reforço de suas formas absurdas, uma implantação múltipla das “perversões”. Nossa época foi iniciadora de heterogeneidades sexuais.”[3].

Durante o século XX, que marca o quinto período, houve crises na família, no Estado, na estética, na política e em vários outros campos. A Segunda Guerra Mundial que assolou o mundo foi um fator determinante para que o homem voltasse para si, pois o genocídio, a explosão da miséria no terceiro mundo, os problemas políticos e econômicos causados pela Guerra Fria, a crítica ao capitalismo e vários outros acontecimentos e crises, o fizeram desacreditar no mundo. Sobre este fato Nunes comenta:

“Retomamos aqui uma interpretação de que a consciência histórica do homem,        ao perceber-se derrotada para a compreensão da physis e imobilizada para a mudança e a construção/reconstrução da pólis, volta-se como refúgio ontológico e consolo ético para a contemplação do Id, de uma suposta natureza interna intimista separada dessas outras dimensões do mundo humano.” [4]

O homem volta-se para si, deseja entender a si mesmo. Houve uma “nova” descoberta, pois os homens acharam na sexualidade a salvação para as crises e infortúnios, nela encontrariam a felicidade e sentir-se-iam completos novamente.

O quinto período da evolução sexual é caracterizado pela perda do espírito erótico. Na era do capitalismo ocorreu o aumento quantitativo do sexo, porém de nada adianta quantidade sem qualidade na relação, “Hoje tudo se encontra sacramentado com o apelo do sexo” [5]. O sexo se popularizou, nos anos 60 a chegada da pílula, na década seguinte o orgasmo e posteriormente a AIDS, o Viagra. A velocidade substituiu o romance. O capitalismo não possuía a intenção dessa descoberta da sexualidade, entretanto a utilizou para atingir suas metas: uma alienação objetual e consumo desenfreado; os meios de comunicação e a propaganda, o pansexualismo e consumo assumiram a sexualidade e tornaram-se os veículos pelo qual o capitalismo atingiria tal objetivo. Aqui o cenário se torna controverso, pois ao mesmo tempo em que adquiriram liberdade na questão sexual, também se tornaram reféns, pois o capitalismo incorporou a sexualidade na sua máquina de consumo. O corpo da mulher é utilizado nas propagandas do capitalismo e transforma-se em mercadoria.

1.1 A PROSTITUTA

No Centro da cidade de São Luís, a área conhecida como Oscar Frota possui uma alta concentração de prostitutas, os bares da área alugam quartos para as garotas de programa, tornando-se uma atividade altamente lucrativa, já que duzentas mulheres por noite circulam naquela zona. A maioria das mulheres dessa área não possui nenhum tipo de escolaridade e se prostituem para sobreviver e sustentar suas famílias.

A garota de programa é rotulada pela sociedade de pecadora, pois “há muito tempo a virtude tem sido definida em termos da recusa de uma mulher em sucumbir à tentação sexual, recusa esta amparada por várias proteções institucionais, como o namoro com um acompanhante, casamentos forçados e assim por diante” [6], desta maneira a prostitua vive as margens da sociedade, marginalizada pelo fato da profissão que escolheu exercer, ir contra os padrões pré-estabelecidos para a mulher na nossa sociedade sexista-patriarcal. O domínio e o controle do corpo são essenciais para o controle da sociedade e da política, se as prostitutas quebram com os padrões pré-estabelecidos, elas vão contra o sistema. As construções histórico-sociais favorecem as relações de desigualdade entre homem e mulher. A questão do estigma que a prostituta carrega, não é o fato de usar seu corpo para ganhar dinheiro, mas o fato de possuir múltiplos parceiros sexuais. A prostituta ou a mulher que não nega sua sexualidade carrega o estigma de mulher “fácil”.

O título do nosso trabalho faz referência as Hetairas, as “prostitutas” da Grécia Antiga, tal título foi escolhido, pois gostaríamos de fazer uma dicotomia do olhar antigo para o olhar moderno para essas mulheres. Nos tempos da Grécia Antiga essas mulheres não recebiam o estigma da vida fácil, eram veneradas. A prostituta é vista com maus olhos por prostituir seu corpo, entretanto nessa nossa sociedade capitalista quem não prostitui o corpo, assim o faz com a mente, aceita ideologias de outras sociedades, finge emoções e escraviza o próximo. Um erro comum é afirmar que a prostituta vende seu corpo, mas o fato é que ela o aluga por um determinado período de tempo, pois se o vendesse outros homens não poderiam pagar por seus serviços. Ocorre um negócio entre a mulher e seu cliente. A prostituição transforma sim o ser humano em mercadoria, fruto do capitalismo desenfreado que transformou tudo em seu valor de uso para valor de troca.

O maior símbolo da desigualdade de gênero é a prostituta, pois quebra com os padrões pré-estabelecidos de mulher honesta pela sociedade, “possui um estigma, uma característica diferente da que havíamos previsto. Nós e os que não se afastam negativamente das expectativas particulares em questão serão por mim chamados de normais.” [7]. O homem, no entanto pode possuir vários parceiras, ser considerado normal aos olhos da sociedade e não carregar consigo o estigma que a mulher prostituta carrega. Segundo Giddens (1992) a sexualidade emergiu como uma fonte de preocupação, necessitando de soluções, pois as mulheres que almejavam prazer sexual eram definitivamente anormais. De acordo com a pesquisa realizada na Aprosma (Associação das Profissionais do Sexo do Maranhão) é correto afirmar que o homem sustenta a prostituição, pois a prostituta mesmo estigmatizada, vivendo às margens da sociedade e supostamente disseminadoras de doenças, ainda é alvo da procura de muitos homens que desejam beneficiar-se de seus serviços. Em um comercio sexual que envolve mais de mil mulheres e 90% de seus clientes são homens, percebemos como a prostituta é o maior símbolo da desigualdade de gênero.

2 DESIGUALDADE DE GÊNERO 

Desde que nascemos os papéis sociais são pré-determinados, assim, construções sócio-culturais como moldes estabelecem o que é próprio para homens e mulheres na sociedade. Estabelecida socialmente, a construção desses papéis leva a mulher à condição de subordinação e inferioridade, as quais se expressam de várias maneiras, seja pelo trabalho desvalorizado e desqualificado, ou ainda na subordinação ao modelo sexista-patriarcal, que relega as mulheres à condição de gênero socialmente inferior, e consequentemente, tendo menos acesso aos espaços culturalmente determinados aos homens.

A importância dos avanços nos estudos de gênero foi, sem dúvida, um corte epistemológico fundamental para desmistificar a idéia de que as diferenças biológicas entre os sexos são responsáveis pelas desigualdades entre homens e mulheres. Constatar que essas diferenças são, na verdade, construções sociais legitimadas por uma sociedade patriarcal é uma contribuição fundamental dada pelos estudos de gênero e pelo movimento feminista.

O gênero se constitui em corpos sexuados, não é negada a biologia, mas é importante ressaltar que se trata da construção histórica produzida sobre as características biológicas, ou seja, o gênero refere-se às relações sociais que geradas entre homens e mulheres, e não propriamente, à identidade associada ao masculino ou feminino. Esse conceito chama atenção para os processos sociais, culturais, políticos e morais que atribuem valores a essas relações, frequentemente designando mulheres a uma posição subalterna.

Saffioti (1996) elabora a teoria do “nó” interligando gênero, classe e raça/etnia entendendo não ser possível compreender uma isolando as demais. Segundo a autora o nó composto por estas três contradições, apresenta uma característica distinta das determinações que as integram. “Não se trata de somar racismo, gênero e classe social, mas de perceber a realidade em sua totalidade resultante desta junção” [8]. É interessante a ideia do “nó” proposta por Saffioti, visto que no âmbito da sociabilidade do capital, há que se pensar no entrelaçamento das diferentes formas de opressão/subordinação a que estão submetidos estes segmentos. Em nossa pesquisa, constatamos claramente tal entrelaçamento, visto que as prostitutas, na sua maioria, são de origem pobre, negras e sem qualquer tipo de qualificação profissional.

Adotando uma perspectiva foucaultiana[9], a categoria gênero é entendida enquanto a primeira forma de manifestação de poder materializada em quatro dimensões inter-relacionadas (simbólica, normativa, organizacional e subjetiva), essenciais para a compreensão da subordinação feminina. A dimensão simbólica se encontra nas representações sociais contraditórias, como por exemplo, Maria símbolo de virtude e pureza, e Eva simbolizando o pecado e a sedução, ou ainda as mulheres para casar (esposas) e mulheres para se manter relações sexuais (prostitutas). A dimensão normativa é expressa nas doutrinas religiosas, educativas, científicas, políticas e jurídicas. A dimensão organizacional diz respeito às organizações e instituições sociais que reforçam cotidianamente as desigualdades entre homens e mulheres. Há ainda a dimensão subjetiva que se relaciona à forma como interiorizamos e reproduzimos os estereótipos sociais de gênero. Essas reflexões são bastante pertinentes para a análise da prostituição inserida nas dimensões dos símbolos culturais materializados nas representações socialmente construídas, de que as prostitutas optam pela “vida fácil”, são pecadoras, profanas, transgressoras da ordem moral, ou seja, por não terem um “comportamento apropriado” e romperem com esses símbolos, se vêem estigmatizadas, carregando o peso social da culpa por sua conduta sexual inadequada ao modelo dominante pautado no sistema machista-patriarcal, em que os julgamentos morais são cotidianamente utilizados para reforçar a discriminação das prostitutas.

Isto pode ser ilustrado quando os homens que se prostituem não carregam consigo esse tipo de estigma. Atualmente, esse segmento ocupa uma significativa fatia do comércio sexual sem, contudo, serem partícipes da pesada carga de preconceitos que são direcionados fundamentalmente às mulheres. Tal fato se dá basicamente pela condição de subalternidade a qual a mulher ocupa na sociedade, revelando, assim, as desigualdades de gênero e o poder patriarcal expressos na prostituição.

A construção da identidade subjetiva das prostitutas está sistematicamente relacionada à idéia de que são péssimas mães, têm seus filhos e os abandona, não têm vínculos com a família, gostam da vida que levam, não conseguiriam ser fiéis aos seus maridos, não são confiáveis, etc. No entanto, essas afirmações não se sustentam, pois percebemos em nossa pesquisa que, na verdade, algumas das mulheres estão na prostituição justamente pelo amor aos filhos, pais, etc. Os depoimentos relatados na entrevista por Dona Maria de Jesus[10] comprovaram uma grande preocupação com o futuro dos filhos e a luta diária para que estudem, arrumem bons casamentos, emprego com carteira assinada, enfim, para que não levem a mesma vida. 

2.1 Patriarcalismo e identidade masculina

É possível perceber como a sociedade impõe limites às mulheres na vivência de sua sexualidade. Como bem assinala Nunes:

“A estrutura familiar patriarcal reforça o machismo desde a infância. Educa o menino para exibir seu sexo, gostar dele, ostentá-lo orgulhosamente, como vemos nas rodas familiares, num nítido narcisismo fálico. Já com relação à menina dá-se o contrário; obriga-a a esconder seu sexo, mantê-lo misterioso, a não ter uma relação afetiva com sua identidade sexual. Para um, o modelo estimula e incentiva toda expressão sexual; para outro, o domínio, a reclusão e a repressão.” [11]

O prazer é destinado aos homens. Os desejos “incomuns” têm que ser suprimidos, sob o risco da mulher ser taxada de prostituta, já que algumas práticas que dão prazer às mulheres, não condizem com a postura reservada às esposas e às mães, enquanto que para os homens, fazer uso da prostituição é bastante incentivado desde a infância, já que as prostitutas seriam, neste enfoque, mulheres desonradoras e iniciadoras da vivência sexual masculina.

A sustentação da identidade masculina patriarcal, pautada historicamente no ideal de virilidade, colocada num lugar privilegiado e dotada de algo mais que a mulher está posta em questão, restaria saber se a redefinição dos papéis femininos e masculinos irá, ou não, alterar o lugar estruturante que o homem ocupa na organização e estruturação familiar. Desde o patriarcalismo, o homem sempre se definiu como um ser humano privilegiado, dotado de alguma coisa a mais, ignorada pelas mulheres: o mais forte, mais inteligente, mais corajoso, mais responsável, mais criativo ou mais racional. Sempre havia um mais para justificar a relação hierárquica com as mulheres, ou pelo menos com a sua. E mesmo se o dominante for dominado por sua dominação, esta última será o critério definitivo da identidade masculina.

Em conseqüência do movimento feminista, na década de 70 os homens começaram a questionar sobre sua identidade. O papel masculino ideal, fonte de alienação para os homens e desentendimentos com as mulheres foi colocado em xeque. Contrariamente à identificação feminina, a identificação do homem, tradicionalmente se define mais por evitar alguma coisa do que propriamente desejar alguma coisa, ou seja, ser homem significa: não ser feminino, não ser homossexual, não ser dócil, dependente ou submisso; não ser efeminado, não ter relações íntimas com outros homens. Assim, a construção da identidade masculina, confundiu-se com um processo de diferenciação. Antes das revoluções do sexo e dos movimentos feministas, o homem sabia sobre sua identidade, e ninguém ousava questioná-la.

Um ato se faz necessário, pois sem ele o sujeito não se efetiva como membro da classe dos homens. O candidato se afirma como homem antes mesmo da constituição da classe, isto é, do universal que permite proposições do tipo: animal racional, "macho não chora" etc. Ser homem se diz mais no imperativo do que no indicativo. "Seja homem!", freqüentemente dito, é um sinal de que a virilidade talvez não seja tão natural quanto se pretende. Ser homem implica um trabalho que não é exigido das mulheres. Assim, o homem se apressa a definir-se como homem, receoso de que venha alguém lhe dizer que não é...

Mas, afinal, o que realmente um homem quer, o que ele pode, porque a procura tão grande às profissionais do sexo? Esta é uma pergunta que os homens evitam responder, a não ser quando vêem sua virilidade ameaçada.

Após a década de 70, com as certezas abaladas sobre os lugares definidos pelo

patriarcalismo, a resposta é: no final do Século XX o homem não sabe mais se definir...

A indefinição do homem como provedor, mantenedor, aquele que paga a conta e sustenta a família, está mesmo perdendo terreno. Assistimos neste final de século, por exemplo, o crescimento do número de famílias chefiadas e sustentadas por mulheres. Mas não se pode com isto, dizer que há um declínio do masculino. Há sim, o declínio das funções que sempre foram identificadas como o masculino e a virilidade, por isso a procura intensa pela prostituta, numa tentativa de reencontrar nela a si próprio, a sua masculinidade. Na realidade a mudança, ou o declínio, é do milenar sistema patriarcal. Mais que isto: o declínio de uma ideologia patriarcal, no contexto e em consonância com o fim das teorias e ideologias totalizantes.

CONCLUSÃO 

A prostituição feminina se constitui como uma das formas que legitima o sistema capitalista-patriarcal, envolvendo muitas mulheres em diferentes realidades, culturas, valores e condições socioeconômicas. Compreendê-la, portanto, no contexto dessas especificidades, requer uma análise profunda para desmistificar os vários estereótipos que permeiam tal problemática. A prática serve ao homem como expressão de virilidade, ou seja, os homens se utilizam dos corpos femininos como forma de subjugá-los, colocando-as, numa posição de submissão. Sexualidade e prostituição tem se configurado em uma arena de interação e conflitos que sistematicamente, envolve aspectos como amor, desejo, prazer, negação, que perpassam a prática prostitucional.

Acreditamos que a autonomia das mulheres se pauta em relações igualitárias, em que sejam assegurados os desejos afetivo-sexuais como uma escolha, e não como um negócio, no qual as mulheres precisam utilizar-se como meio de sobrevivência dissociado de qualquer compreensão de subversão e/ou superação da ordem capitalista-patriarcal. Neste sentido, a prostituição não passa necessariamente por uma ação política deliberada de domínio sobre sua sexualidade. É importante destacar que esse discurso de direito ao corpo foi incorporado pela “indústria do sexo” e utilizado como estratégia para justificar a prostituição. É importante compreender que essas mulheres não são prostitutas em tempo integral, assumem vários outros papéis na sociedade, são mães, esposas e filhas, no entanto, esses papéis são desconsiderados, sobrepondo a valoração de prostituta em detrimento das demais dimensões da sociabilidade.

REFERÊNCIAS 

ALMEIDA, Maria de Jesus Costa. São Luís, 12 set. 2009. Áudio (65 min) Entrevista concedida aos alunos da UNDB.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade do saber. (trad. Maria Thereza da

Costa Albuquerque e J.ª Guilhon Albuquerque). Ed. 19. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1997.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade II: o uso dos prazeres. (trad. Maria Thereza da

Costa Albuquerque e J.ª Guilhon Albuquerque). Ed. 19. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1997.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade III: o cuidado de si. (trad. Maria Thereza da

Costa Albuquerque e J.ª Guilhon Albuquerque). Ed. 19. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1997.

GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas

sociedades modernas. (trad. Magda Lopes). São Paulo: Editora UNESP, 1993.

GOFFMAN. Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade

deteriorada. 4 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

NUNES, César Aparecido. Desvendando a sexualidade. Ed. 7. São Paulo: Papirus, 1987. 

SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, Patriarcado e Violência. Coleção Brasil Urgente. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.

THERBORN, Goran. Sexo e Poder: a família no mundo 1900-2000. (trad. Elisabete Dória)

São Paulo: Contexto, 2006.

WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 4 ed. São Paulo: Matin Claret, 2001.



* Acadêmica do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco.

[1]NUNES, César Aparecido. Desvendando a sexualidade. Ed. 7. São Paulo: Papirus, 1987.  p.15.

[2] GIDDENS, ANTHONY. A transformação da intimidade. São Paulo: UNESP, 1993. p.25.

[3] FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. (trad. Maria Thereza da

Costa Albuquerque e J.ª Guilhon Albuquerque). Rio de Janeiro: Edições Graal, 1997. p. 44.

[4] NUNES, op. Cit. p.28.

[5] Id. Ibid. p.21.

[6] GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas

sociedades modernas. (trad. Magda Lopes). São Paulo: Editora UNESP, 1993. p.16.

[7] GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Ed.4. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. p. 8.

[8] SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, Patriarcado e Violência. Coleção Brasil Urgente. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004. p. 65.

[9] FOUCAULT, op. Cit.

[10] Presidente da organização Aprosma (Associação das profissionais do sexo do Maranhão).

[11] NUNES, op. Cit. p.75.