Giliardi Dorn[1]

 

HERMENÊUTICA

INTRODUÇÃO

O estudo da hermenêutica tem sua importância acentuada quando se trata das Escrituras, onde se acredita que é a palavra infalível de Deus, pois desta forma se for interpretada de forma equivocada, não se estaria interpretando como Deus a objetivou por meio dos escritores humanos. O próprio Apóstolo Pedro admite que existam determinadas coisas que são de difícil interpretação e que pode ser deturpada se não houver um estudo consciente. É necessário saber que as variadíssimas circunstâncias que ocorreram para a produção do maravilhoso livro requerem do expositor que seu estudo seja demorado e sempre “conforme a ciência”, conforme os princípios hermenêuticos. Assim o objetivo deste trabalho é apresentar de forma sucinta os principais pontos da hermenêutica, para que se possa de forma adequada interpretar a Bíblia de forma sadia e sem prejuízo à Palavra de Deus.

1 – HERMENÊUTICA

Hermenêutica é a arte de interpretar textos, que deriva do termo hermenevein que significa interpretar e, ignora-la pode levar multidões a perdição. O Apóstolo Pedro admite que nas Escrituras há certas coisas que são difíceis de entender. Ele ainda relata que os que ignoram a hermenêutica saudável, deturpam o Novo Testamento como deturpam o Antigo Testamento e, as fazem para a própria destruição. A Escritura não nos foi dada para que seja usada conforme cada um a seu próprio gosto, mutilando-a e torcendo-a para a nossa perdição. Seu objetivo é orientativo, para que o ser humano saiba identificar a soberana vontade de Deus, baseado em uma interpretação correta. É necessário que se observe que as variadíssimas circunstâncias que ocorreram para a produção da Bíblia, requerem do expositor que ser estudo seja demorado e sempre “conforme a ciência”, conforme os princípios hermenêuticos. Uma breve observação geral sobre os tipos de linguagem da Bíblica perceber-se-á a importância do conhecimento da sadia interpretação para o estudo proveitoso das Escrituras.

 Certos doutos, por exemplo, que tem vivido sempre “incomunicados” com respeito à linguagem bíblica, acham tal linguagem chocante ao incompatível com seu ideal imaginário de revelação divina, tudo isso, pela superabundância de todo gênero de palavras e expressões figuradas e simbólicas que ocorrem nas Escrituras. Por isso quando se trata do invisível, fica de certa forma dificil de ser aceito por certos doutos, contudo pode-se analisar a encarnação do invisível, nos objetos visíveis do Universo, assim Deus revela-se a si mesmo. Por outro lado, Deus revela-se em Jesus, pois Ele é o Verbo encarnado. O plano divino para a encarnação de Cristo é a salvação dos homens do poder do pecado e do Diabo, para a vida eterna. Assim a linguagem usada na revelação foi a figurada, sendo que estas expressões não se devem meramente à natureza da verdade espiritual, à maravilhosa relação entre o invisível e o visível, mas também ao fato de que tal linguagem vem mais a propósito, para ser mais formosa e expressiva. Conduz idéia à mente com muito mais vivacidade que a descrição prosaica. Encanta e recria a imaginação, ao mesmo tempo que instrui a alma e fixa a verdade memória, deleitando o coração. Outra razão para a linguagem utilizada na Bíblia é para que, de várias formas, o ser humano possa usar e interpretar a Bíblia, corretamente, baseado na saudável hermenêutica. Por isso, é de grande importância que   que se tenha conhecimento para boa compreensão da Bíblia para que não se tome como doutrina, determinadas ações que ocorreram em determinadas circunstâncias, para determinados objetivos, assim é possível que se compreenda de forma equivocada a intensão do autor.    

2 – DISPOSIÇÕES  NECESSÁRIAS PARA O ESTUDO PROVEITOSO DAS ESCRITURAS

O estudo proveitoso das Escrituras é necessário que para o estudo pois uma pessoa que não apresenta-se com um espírito especial, julgará o conteúdo das Escrituras, assim como o cego julga as cores. Para o estudo e boa compreensão da Bíblia necessita-se, pois, pelo menos, de um espirito respeitoso e dócil, amante da verdade, paciente no estudo e dotado de prudência. É importante também um espírito dócil para o estudo e boa compreensão da Escritura pois, a pessoa obstinada e teimosa que intenta estudar a Bíblia, lhe acontecerá o que disse Paulo do “homem natural”. “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus porque lhe são loucura; e não pode entende-las porque elas se discernem espiritualmente”.

Outro ponto muito importante para o pesquisador das Escrituras seja um amante da verdade, pois de imperiosa necessidade, para o estudo da Escritura Sagrada, é um coração desejoso de conhecer a verdade. E tenha-se presente que o homem por natureza não possui tal coração, antes, pelo contrário, um coração que foge da verdade espiritual e abraça com frequência o erro. A paciência é um atributo que se deve conservar para o estudo da Bíblia, pois que vantagem leva qualquer pessoa impaciente, inconstante e mutável em qualquer trabalho que empreenda? Para tudo é necessário esta virtude. Ao dizer Jesus: “Examinai as Escrituras”, se serve duma palavra que mostra a maneira que cava e revolve a terra, buscando a diligencia o metal precioso, ocupado numa obra que requer paciência. O fruto da paciência é deleitoso e quanto mais paciência se tiver empregada para encontrar o tesouro, tanto mais se aprecia e tanto mais delícia produz. O objeto da inspiração da Escritura é para que o homem de Deus seja perfeito e, perfeitamente habilitado para toda boa obra. A Escritura tem por objetivo fazer o homem sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.

Efetivamente, lendo, por exemplo, o Novo Testamento, encontra-se a cada passo em suas páginas os grandes princípios e os deveres cristãos em linguagem simples, clara, evidente e palpável. Em cada página ressalta a espiritualidade de Deus, ao mesmo tempo que a espiritualidade e o fervor demandam sua adoração. Os pontos obscuros que se encontram nas Escrituras, são assim como em qualquer outra literatura com cultura e figuras de linguagem específicas. Se numa província da Espanha se usam figuras ou modos de expressar-se que em outra não se compreendem sem interpretação, seria estranho encontrar tais figuras e expressões nas Escrituras, que foram escritas em países distantes e todos diferentes do nosso? Por isso é necessário o conselho da hermenêutica apenas nos casos de grande dificuldade. Uma forma muito adequada para elucidar determinadas palavras, expressões ou textos, o mais indicado seria perguntar ao autor, se fosse possível, contudo se não fosse possível um método é ler e reler o documento, tomando suas palavras e frases no sentido usual e comum. Quanto às palavras obscuras se buscaria, naturalmente, seu significado e aclaração, em primeiro lugar, pelas palavras próximas ou contíguas às obscuras, isto é, pelo conjunto da frase em que ocorrem. Porém, se ainda se ainda ficássemos sem luz, procuraríamos a clareza pelo contexto, quer dizer, pelas frases anteriores e posteriores ao ponto obscuro. Se não bastasse o contexto, se consultaria todo o parágrafo ou passagem, fixando-se no objetivo, intento ou fim a que se dirige a passagem. Ainda se não fosse possível, buscar-se-ia luz em outras partes do documento, para ver se haveria parágrafos ou frases semelhantes, porém mais explícitas, que se ocupassem do mesmo assunto que a expressão obscura que nos causa perplexidade, contudo é importante compreender que é necessário que o documento seja seu próprio interprete, para que a vontade do autor não seja contrariada.

Importa saber que o fato de não interpretar as Escrituras por si mesma traz muitos males, males esses que já se apresentam como, os judeus baseando-se nas Escrituras para rejeitar a Cristo, do mesmo modo os papistas baseiam-se na Bíblia para as atrocidades cometidas, baseando a Santa Inquisição na Bíblia. Da mesma forma, os espíritas acham aparente apoio nas Escrituras para falar de sua errônea encarnação; os comunistas para a repartição dos bens; os incrédulos zombadores, para as contradições; os russelitas para seus erros blasfemos; e finalmente, os Wilson e Roosevelt, para seu militarismo. Os indivíduos que tem má vontade, incredulidade, preguiça para o estudo, que é apegado a idéias falsas e mundanas e que ignora qualquer regra de interpretação, este provará o que quiser com as Escrituras. Não se deve buscar provar o que quiser com as Escritura, pois para o humilde discípulo e o douto na Palavra sabe que ‘a lei do Senhor é perfeita’ e que não há erro na Palavra, mas no homem, ele sabe que não se tira e se põe, ou se acrescenta esse suprime impunemente à Palavra, segundo o estilo satânico, porquanto Deus, mediante seu servo fez constar: “Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida”. Assim é importante e necessário que se use a Bíblia para interpretá-la. Tenha-se sempre presente, que não se pode considerar de todo bíblica uma doutrina antes de resumir e encerrar tudo quanto a Escritura diz da mesma. Um dever é tampouco bíblico se não abarca e resumem todos os ensinos, prescrições e reservas que contam a Palavra de Deus em relação ao mesmo.

A primeira regra diz que se deve averiguar e determinar qual seja o sentido usual e ordinário deve constituir, portanto, o cuidado na interpretação ou na correta compreensão das Escrituras, onde o próprio Livro de ser seu intérprete, assim é preciso, quando possível, tomar as palavras em seu sentido usual e comum. Quando se viola ou se ignora esta regra, em muitas partes a Escritura não terá outro sentido que aquele que queira conceder-lhe o capricho humano. Como se sabe, cada idioma tem seus modos próprios e peculiares de expressão, e tão singulares, que se for traduzido ao pé da letra, perde-se ou é destruído o sentido real verdadeiro. Esta circunstância se deve, talvez, por ter mais presente ao tratar-se da linguagem das Escrituras, do que de outro livro qualquer, por estar sumamente cheio de tais modos e expressões próprias e peculiares. Assim, vê-se que a Bíblia foi escrita em linguagem popular e figurada e não em linguagem científica, pois os escritores não se dirigem a certa classe de pessoas privilegiadas, mas ao povo em geral.

A segunda regra dia que para que se possa saber o significado de cada palavra sendo que nem sempre a mesma palavra é usada no mesmo sentido é necessário averiguar e determinar sempre qual seja o pensamento especial que o escritor se propõe expressar e, assim tomando por guia este pensamento, poder-se-á determinar o sentido positivo da palavra que apresenta dificuldade. Por isso, é necessário tomar as palavras no sentido que indica o conjunto da frase. Pode-se tomar alguns exemplos quando a mesma palavra toma diferentes sentidos como por exemplo a fé, ordinariamente significa confiança, mas também tem outras acepções como por exemplo em Gálatas 1.23: “Agora prega a fé que outrora procurava destruir”. Do conjunto desta frase vê-se claramente que a fé, aqui, significa crença, ou seja, a doutrina do Evangelho. O termo salvação é freqüentemente usada como salvação do pecado e de suas conseqüências, mas pode significar liberdade temporal, ou por vezes até referente à vinda de Cristo como em Romanos 14.23 que diz: “A nossa salvação está agora mais perto do que quando no princípio cremos”. Graça geralmente é usada como favor, mas pode ser entendida de outros sentidos como em Efésio 2.8 onde diz; “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”. Se vê claramente que trata-se da misericórdia e bondade de Deus.

A palavra carne também pode ter vários significados dependendo da forma e da frase onde é aplicada a palavra. Por exemplo em Efésios 2.3: “Andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne”, esta frase trata dos desejos sensuais. Já em Gálatas 3.3: “Tendo começado no Espírito, estejais agora vos aperfeiçoando na carne?”. Esta frase trata da observância de cerimonias judaicas, como a circuncisão, que se faz na carne. Assim como carne, sangue também pode ser interpretado de formas diferentes. Em Mateus 27.25 (os judeus estavam falando de crucificar Jesus) diz: “Caia sobre nós o seu sangue, e sobre nossos filhos”. Se vê que neste caso interpreta-se sangue no sentido de culpa e suas consequências, por matar um inocente. Já em Efésios 1.7 diz: “sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira”. Esta frase deixa claro que sangue equivale à morte expiatória de Cristo na cruz. Assim é possível perceber a importância desta regra se apresenta quando se trata de determinar se as palavras devem ser tomadas no sentido literal ou figurado.

A terceira regra diz que se deve tomar as palavras no sentido indicado no contexto, a saber, os versículos que precedem e seguem ao texto que se estuda, pois o contexto auxilia muito na elucidação de palavras obscuras, pois trata da situação em si, não apenas de palavras isoladas. Como exemplo temos em Romanos 6.23 está escrito: “O salário do pecado é a morte”. O sentido profundo desta expressão faz ressaltar e uma maneira viva a expressão oposta que segue: “mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna”. Outro tanto sucede em relação a fé, quando João diz: “quem crê no Filho tem a vida eterna”, pintando ao vivo a palavra crer pela expressão oposta: “o que todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”. Muitas vezes, uma palavra que expressa uma idéia geral e absoluta, deve ser tomada num sentido restritivo, segundo determine algumas circunstâncias especial do contexto, ou melhor, o conjunto das declarações das Escrituras em assuntos de doutrina. Quando Davi por exemplo, exclama: “Julga-me Senhor, segundo a minha retidão, e segundo a integridade que há em mim”, o contexto faz compreender que Davi só proclama sua retidão e integridade em oposição às calúnias que Cuxe, o benjamita, levantara contra ele (Salmo 7.8).

A quarta regra diz é preciso tomar em consideração o objetivo ou desígnio do livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expressões obscuras. O desígnio de um livro ou passagem se adquire lendo-o e o estudando com atenção e repetidas vezes, tendo em conta em que ocasião e aque pessoas originalmente foi escrito. O desígnio da Bíblia, segundo Romanos 15. 4 é que “pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança. O desígnio dos Evangelhos, segundo João 20.31 é “para creiais que Jesus é o Cristo, Filho de Deus, e para que, crendo tenhais vida em seu nome”. E o desígnio dos Provérbios é segundo o mesmo livro capítulo 1 do versículo 1 à 4 que diz que são “para aprender a sabedoria e o ensino; para entender as palavras de inteligência; para obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade; para dar aos simples prudência; e o instruído adquira habilidade”. O desígnio nos oferece auxilio para a explicação de pontos obscuros, para a aclaração de textos que parecem contraditórios e para conseguir um conhecimento mais profundo de passagens em si claras. Temos como exemplo as cartas escritas aos Gálata se aos Colossenses, elas foram escritas na ocasião dos erros que, com grande dano, os judaizantes ou “falsos mestres” procuravam implantar nas igrejas apostólicas. Por conseguinte, estas cartas tem por desígnio expor com toda clareza a salvação pela morte expiatória de Cristo, contrariamente aos ensinos dos judaizantes, que pregavam as obras, a observância de dias e cerimônias judaicas, a disciplina do corpo e a falsa filosofia.                                

Assim é possível explicar, pelo desígnio, as palavras de Cristo quando diz para guardar os mandamentos, mesmo quando estas palavras parecem contradizer a doutrina da salvação pela fé. Evidentemente a orientação de Jesus para guardar os mandamentos teve como objetivo de valer-se da mesma lei e do mandamento novo de “vender tudo” o que possuía, para tirar o pobre cego de sua ilusão e levá-lo ao conhecimento de suas faltas para com a lei divina e à consequente humilhação, o que também conseguiu, fazendo-o compreender que não passava de um pobre idólatra de suas riquezas, que nem mesmo o primeiro mandamento da lei havia cumprido. Pode também explicar a afirmação de João quando este diz que o cristão não pode pecar, pois cada filho de Deus se ocupa nas obras do Pai, os filhos de Deus se ocupam em manifestar seu amor a Deus, guardando seus mandamentos, já os filhos do diado (ou pretensos cristão que criam poder praticar toda sorte de excessos carnais, sem respeitar lei alguma) se ocupam em imitar a seu pai, que está pecando desde o princípio.

A quinta regra diz que é necessário consultar as passagens paralelas, “explicando cousas espirituais pelas espirituais”. Entende-se por paralelas as passagens que fazem referência uma à outra, que tenham entre si alguma relação, ou tratem de um modo ou outro de um mesmo assunto. Deve-se consultar os paralelos, pois uma doutrina que pretende ser bíblica, não pode ser considerada no todo como tal, sem resumir e expressar com fidelidade tudo o que estabelece e executa a Bíblia em suas diferentes partes em relação ao particular.

Existem três tipos de paralelos: de palavras, de idéias e de ensinos gerais. Por paralelos de palavras se entende quando o conjunto da frase ou contexto não bastam para explicar uma palavra duvidosa, procura-se as vezes adquirir seu verdadeiro significado consultando outros textos em que ela ocorre. Desta forma, se vê que em Gálatas 3.27 o termo revestidos não significa estar coberto com a túnica batismal, pois por um lado consiste em ter deixado as práticas carnais, como a luxúria, dissoluções, contendas e ciúmes. E por outro, em haver adotado como vestido decoroso, a prática de uma nova vida, como misericórdia, benignidade, humildade, mansidão, tolerância e sobretudo o amor cujos atos os cristãos primitivos simbolizavam no seu batismo.

Por paralelos de idéias se entende que para conseguir idéia completa e exata do que ensina a Escritura neste ou naquele texto determinado, talvez obscuro ou discutível, consultam-se não só as palavras paralelas, mas os ensinos, as narrativas e fatos contidos em textos ou passagens esclarecedoras que se relacionem com o dito texto obscuro ou discutível. Tais textos ou passagens chamam-se paralelos de idéias. Assim se explica a palavra “todos” no mandamento bíblico que diz: “bebei dele todos” na ordem da comunhão, pois observando os paralelos, se vê que o mandamento é feito sem distinção, assim não há argumento bíblico para que uns participem do pão e outros do vinho. Pois o modo de proceder, tratando-se deste tipo de paralelos, é pois o de aclarar as passagens obscuras mediante paralelos mais claros: as expressões figurativas, mediante os textos paralelos próprios e sem figura e, as idéias sumariamente expressas, mediante os paralelos mais extensos e explícitos. É possível verificar então que de acordo com a Bíblia o pecado é coberto pelo perdão de Deus, mediante a fé e o verdadeiro arrependimento cristão. Da mesma maneira fica claro em relação à idéia “da justificação pela fé”, pois baseando-se nos paralelos, se vê que pela lei todo homem é réu convicto diante de Deus e como pela fé na morte de Cristo, em lugar de pecador, o homem, sem mérito próprio algum, é declarado justo e absolvido pelo próprio Deus.

Paralelos de ensinos gerais é quando se usa o teor geral da Bíblia para auxiliar na aclaração de determinados textos. Por exemplo, é necessário consultar o teor ou doutrina geral da Escritura que trata do assunto; feito isso, observa-se que a interpretação pode tornar-se falsa por contrariar por inteiro o desígnio do Evangelho, que em todas as partes previnem os crentes contra o pecado, exortando-os à pureza e à santidade. O fato de haver textos que à primeira vista não parecem harmonizar com o teor do Deus ilimitado, deve-se á linguagem figurada da Bíblia e a incapacidade da mente humana de abraçar a verdade divina em sua totalidade. Assim a razão se deve recorrer aos paralelos para tratar da linguagem figurada para que não se aplique adjetivos ou características do termo literal quando se usa a linguagem figurada, por exemplo, quando Cristo chama seus discípulos de ovelhas, não é possível aplicar todas as características de uma ovelha a eles.          

3 – PETIÇÕES E OBSERVAÇÕES

O principal requisito para compreender as Escrituras é um espírito de discípulo humilde, pois os grandes princípios bíblicos do cristianismo na Escritura estão expressos com clareza, desta forma as regras de interpretação são úteis para conseguir o significado verdadeiro dos pontos obscuros e de difícil compreensão. Assim convém ao cristão aprofundar-se nas Escrituras, confirmar-se em suas verdades e familiarizar-se com elas para seu próprio proveito e para poder iluminar aos que a contradizem, sendo sempre a Bíblia seu próprio interprete, pois o verdadeiro sentido de seus textos é conseguido pelo significado de suas palavra, e que assim, pela aquisição do verdadeiro sentido das palavras, se consegue o verdadeiro sentido de seus textos. As palavras devem ser tomadas geralmente no sentido comum que possuem se este sentido não estiver manifestadamente contrário a outras palavras da frase em que ocorrem, com o contexto e com outras partes das Escrituras. Contudo quando uma palavra tem vários sentidos deve-se proceder observando as regras de interpretação para que se possa conseguir o sentido exato que intentava o escritor inspirado, ou melhor, o próprio Espírito de Deus, por isso só se pode determinar que uma doutrina é de todo bíblica quando expressa tudo quanto dizem as Escrituras em relação à doutrina.

4 – FIGURAS DE RETÓRICA

Devido a alguns hebraísmos e termos bíblicos utilizados é necessário seja estudado as figuras de linguagem com o objetivo de elucidar eventuais dúvidas para melhor interpretação bíblica.

1 - Metáfora: Tem por base alguma semelhança entre dois objetos ou fatos, caracterizando-se um com o que é próprio do outro. Exemplo: Ao dizer Jesus: “Eu sou a videira verdadeira”, Jesus se caracteriza com o que é próprio e essencial da videira; e ao dizer aos discípulos: “Vós sois as varas”, caracteriza-os com o que é próprio das varas. A videira se caracteriza por transmitir vida às varas afim de produzirem uvas, assim este é o sentido espiritual. Cristo é o que transmite vida aos discípulos e crentes, para que se possam produzir frutos do cristianismo.

2 – Sinédoque: Faz-se uso desta figura quando se toma a parte pelo todo, ou o todo pela parte, plural pelo singular, o gênero pela espécie, ou vice-versa. Exemplo: Toma parte pelo todo o Salmista ao dizer: “Minha carne repousará segura”, em lugar de dizer: meu corpo ou meu ser, que seria o todo, sendo a carne só parte do ser (Salmo 16.9)

3 – Metonímia: Esta figura é empregada, quando se emprega a causa pelo efeito, ou o sinal ou símbolo pela realidade que indica o símbolo. Exemplo: Vale-se Jesus desta figura empregando a causa pelo efeito ao dizer: “Ele tem Moises e os profetas; ouçam-nos”, em lugar de dizer que tem os escritos de Moises e dos profetas, ou seja o Antigo Testamento (Lucas 16.29).

4 – Prosopopeia: Usa-se esta figura quando se personificam as coisas inanimadas, atribuindo-lhes os feitos e ações das pessoas. Exemplo: O Apóstolo fala da morte como de pessoa que pode ganhar vitória ou sofrer derrota, ao perguntar: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1Cor. 15.55). Emprega o Apóstolo Pedro a mesma figura do amor, e referindo-se à pessoa que ama, quando diz: “o amor cobre multidão de pecados” (1 Ped. 4.8).

5 – Ironia: Faz-se uso desta figura quando se expressa o contrário do que se quer dizer, porém sempre de tal modo que se faz ressaltar o sentido verdadeiro. Exemplo: Paulo emprega esta figura quando chama os falsos mestres de os tais apóstolos, dando a entender ao mesmo tempo que de nenhum modo são apóstolos. (2 Cor. 11.5; 12.11)

6 – Hipérbole: É uma figura onde apresenta-se uma coisa muito maior ou muito menos do que na realidade é. Exemplos: João faz uso desta figura ao dizer: “Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos”.

7 – Alegoria: É uma figura retórica que geralmente consta de várias metáforas unidas, representando cada uma delas realidades correspondentes.

8 – Fábula: É quando um fato ou alguma circunstância se expõe em forma de narração mediante a personificação de coisas ou de animais.

9 – Enigma: É uma alegoria de solução difícil e abstrata.

10 – Tipo: É uma classe de metáfora que não consiste meramente em palavras, mas em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos semelhantes, pessoas ou objetos no porvir.

11 – Símbolo: É uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma coisa ou algum fato por meio de outra coisa ou fato familiar que se considera a propósito para servir de semelhança ou representação.

12 – Parábola: É apresentada sob forma de uma narração, relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de declarar ou ilustrar uma ou várias verdades importantes. É importante observar o seguinte: 1) Deve-se buscar seu objetivo; em outras palavras, qual é a verdade ou quais as verdades que ilustra. 2) Devemos ter em conta os traços principais das parábolas, deixando-se de lado o que lhe serve de adorno ou para completar a narrativa.

13 – Símile: Símile procede da palavra latina “similis” que significa semelhante ou parecido a outro. É uma comparação entre coisas semelhantes, a principal diferença para metáfora é que esta consiste em denominar uma coisa empregando o nome de outra, na esperança de que o leitor ou o ouvinte reconhecerá a semelhança entre o sentido real e o figurado da comparação.

14 – Interrogação: Interrogação vem do vocábulo latino que significa pergunta, mas nem todas as perguntas são figuras de retóricas. Somente quando a pergunta encerra uma conclusão evidente é que é uma figura literária.

15 – Apóstrofe: procede do latim apostrophe e esta do grego apo, que significa de, e strepho, que quer dizer volver-se. O vocábulo indica que o orador se volve de seus ouvidos imediatos para dirigir-se a uma pessoa ou coisa ausente ou imaginária.

16 – Antítese: Antítese vem da palavra latina antithesis e esta de palavras gregas que significam colocar uma coisa contra a outra.

17 – Clímax ou gradação: Clímax ou gradação vem do latim climax e esta ligado ao grego klimax que significa escala, no sentido figurado da palavra. O essencial é que exista avanço ou progresso na oração, parágrafo, tema, livro ou discurso.

18 – Provérbio: Este vocábulo procede das palavras latinas pro que significa antes e verbum que quer dizer palavra. O provérbio tem sido definido como uma afirmação extraordinária e paradoxal.

19 – Acróstico: Acróstico procede dos vocábulos gregos que significam extremidade ou verso.

20 – Paradoxo: É uma proposição ou declaração oposta a opinião comum; a uma afirmação contrária a todas as aparências e a primeira vista absurda, impossível, ou em contraposição ao sentido comum, porem que, se estudada detidamente, ou meditando nela, torna-se correta e bem fundamentada.

21 – Hebraísmos: Entendemos por hebraísmos, certas expressões e maneiras peculiares do idioma hebreu que ocorrem em nossas traduções da Bíblia, que originalmente foi escrita em hebraico e em grego.

As figuras de linguagem são de extrema importância para a correta interpretação das Escrituras, pois sem elas, os termos específicos de determinado ambiente não podem ser compreendidos em sua totalidade, prejudicando a sã doutrina cristã que, logo é interpretada equivocadamente.

CONCLUSÃO

Portanto, com base no exposto acima, apresentou-se a importância da hermenêutica no estudo da Palavra de Deus para se tenha a aplicação mais próxima possível do que o autor a desenhou. A hermenêutica auxilia de forma que exageros não sejam tomados como doutrina, pois é necessário que esteja em consenso com toda a Bíblia. Assim sendo, existem muitas igrejas atuais que, pelo fato de não atentarem para a hermenêutica, desenvolvem uma pratica pastoral que nem sempre está baseada completamente na Escritura, introduzindo por vezes filosofias humanas, que prejudicam o entendimento da sã doutrina bíblica, e que por conseqüências levam muitos à perdição.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BIBLIA. Português. A Bíblia da Mulher: leitura, devocional, estudo. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

FEE, Gordon D. Entendes o que lês? – um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. 3º Ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.

FÓRUM ULBRA DE TEOLOGIA. Lutero, o pastor. Organização Leopoldo Heimann. Canoas, RS: Ulbra, 2006.

SCHMIDT, Werner H. A fé do antigo testamento. Tradução de Vilmar Schneider. São Leopoldo, RS:Sinodal, 2004.

LIVRO DE CONCÓRDIA. Português. Livro de concórdia: as confissões da igreja evangélica luterana. Editado por Darci Drehmer. Traduzido por Arnaldo Shüler. 5.ed. – São Leopoldo: Sinodal; Canoas; Porto Alegre; Concórdia, 2006.



[1] Cursando o Mestrado em Administração e Mestrado em Teologia, Bacharel em Administração com Habilitação em Relações Internacionais, Bacharel em Teologia. MBA em Gestão Estratégica de Negócios, Especialista em Ciência Política e Relações Internacionais. Membro da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB).