Em cidades grandes como Belém, despertamos quase sempre apoquentados com os ruídos e sons, os mais variados. É o sino daquela distribuidora de gás; ou a mensagem gravada daquela outra. É a freada brusca de um ônibus mal cuidado, ou a acelerada em ponto morto que o motorista usa como alerta que vai entrar em marcha. É o alarme de automóvel que disparou inadvertidamente, cujo proprietário não consegue desligar de tão nervoso que fica. Ou a sirene daquela cerca elétrica que também disparou, talvez, com o choque de um gato nada boêmio. É a foguetearia em homenagem ao político que aniversaria. Também pode ser o apito da fábrica ou da construção, avisando o início da jornada de trabalho.  É o latido do cachorro do vizinho; ou a alcateia vira-lata que corre atrás de uma cadela no cio. Enfim, são inúmeros os ruídos e sons a que nos expomos diariamente na sagrada hora de despertar.

                               Superada a neura do acordar, eis que nos encontramos na rua em direção à labuta diária. E mais decibéis azucrinam nossos ouvidos. É o som exageradamente elevado que alguns motoristas e cobradores impõem aos seus passageiros. Ou estes ouvindo em volume altíssimo o áudio em seus telefones celulares. É aquela imensa caixa de som em que alguns transformam seus automóveis de passeio. É o ruído irritante da máquina de furar concreto, asfalto ou outro qualquer material – a britadeira – que o operário usa se tremendo todo, na tarefa de um serviço público ou privado. São os “treme-terras” infernais das gafieiras, das sociedades, boates, associações, dos barzinhos da calçada e dos clubes dos bairros. É o vendedor desesperado em aumentar suas vendas, que usa um baita som para anunciar produto encalhado pelo preço alto. É o ruído das turbinas dos jatos decolando ou aterrissando. É o apito do guarda de transito, quase escondido atrás do poste da esquina. É aquela sirene de ambulância transformada em carro de fórmula um, levando nem sempre um enfermo. E você, qual é o ruído que mais te irrita?

                               A audição humana – diz a ciência – vai de zero a cento e vinte decibéis. Uma conversa normal entre duas pessoas ditas civilizadas emite sons que vão de trinta a sessenta decibéis. A ciência informa ainda que uma exposição prolongada aos ruídos acima de oitenta e cinco decibéis se torna prejudicial â saúde humana. Uma turbina de avião a jato na hora de decolar emite cento e sessenta decibéis do mais puro ruído! Portanto, meus caros ouvintes, ou melhor meus caros leitores, estamos expostos a uma poluição sonora a qual nem sempre nos damos conta. Só quando alguém, do nosso lado, nos chama e a gente responde: Hem? Hem?