HAJA OUVIDO PARA IR ÀS COMPRAS

 Maria Eunice Gennari Silva

Antes de sair para fazer compras é bom saber que seu ouvido será, escandalosamente, agredido pela volume e pela qualidade dos sons musicais nos diversos estabelecimentos comerciais, instalados pelas cidades. Certamente com objetivo de atrair clientes.

Só que a falta de critérios, para com a utilização desta estratégia, acaba espantando aqueles que, apenas e simplesmente, saíram para ir às compras. O pior é a falta de bom senso em relação ao estilo musical imposto ao cliente, além dos muitos decibéis que prejudicam sua audição, enquanto ele tenta realizar uma tarefa que poderia ser até prazerosa.

 Afinal, ainda tem gente saindo de casa, com tempo, e na esperança de encontrar, mesmo em tempo de crise, lojas que lhe proporcione um ambiente tranquilo, para fazer boas escolhas antes de decidir o que comprar.

Este assunto vem pedindo, há tempo, uma reflexão sobre o que se propaga em todos os veículos de comunicação, a respeito de educação ambiental X qualidade de vida, e que, na prática, dificilmente se vê acontecendo. Isto mostra, com clareza, a incompetência aliada ao desinteresse de investir, com responsabilidade, os recursos disponibilizados para a educação de um povo. Claro que por razões óbvias e expostas, também, pela mídia, diariamente.

São temas que, na maioria das vezes, quando discutidos, acabam apenas promovendo grandes debates em congressos, seminários e encontros de palestrantes com cachês supervalorizados. Aí, no final, vem as grandes propostas: cartas, leis, regras, regimentos e outros mega documentos que, infelizmente, ficam só no papel – muitas vezes e convenientemente mal redigidos, dificultando a compreensão e a aplicação prática, com eficácia.

Esta realidade, infelizmente, é muito comum até dentro das escolas. Basta observar a disputa de quem fala, ou até grita, mais alto, entre alunos e, muitas vezes, entre alunos e professores.

Para o tema aqui abordado, esta realidade revela um aspecto de fundamental importância, quando se tem a coragem de admitir que o excesso de barulho é uma forma de violência progressiva e destrutiva à educação ambiental. Consequentemente, como fica, então, a nossa qualidade de vida.

Imagine, por exemplo, o profissional que passa, de segunda à sábado, uma média de seis a oito horas na loja em que trabalha, refém de um som altíssimo, provocando, possivelmente, irritabilidade e alienação. Coitado do cliente atendido por ele!

São pequenas, mas grandes observações que explicam o mau humor, a falta de gentileza e de paciência, para com os clientes. Como resultado final, fica a péssima qualidade de atendimento, desmoralizando a loja e o vendedor.

Sem radicalizar, vale ressaltar que muitas lojas oferecem cursos de capacitação, para que os seus funcionários exerçam suas funções educadamente e fundamentadas na máxima: “o cliente sempre tem razão”. Por isso, seja gentil e trate-os, de tal maneira, para que ele volte sempre.

Mas, vamos combinar, a maior parte do dia com esta barulheira na cabeça e, na maioria das vezes ao um som de músicas que não contribuem com a educação ambiental, não há funcionário interessado se o cliente sempre tem razão ou se ele deve voltar sempre. Sua preocupação e ansiedade estão, na verdade, ligadas na hora de encerrar o expediente e poder, enfim, voltar para casa.

Em geral, este desprazer do funcionário, no ambiente de trabalho, torna visível à medida em que as horas vão passando. E, muitas vezes, sem perceber, a irritabilidade e o mau humor passam a fazer parte da sua postura, provocadas pela falta de qualidade musical e a altura do som.

As consequências desse dia desgastante, infelizmente, serão manifestadas no trânsito e/ou em casa com a família, e, inclusive, para dentro de uma sala de aula - espaço onde grande parte dos trabalhadores encerram seu dia, lutando para melhor ascensão financeira e social. É a violência que gera violência e que anda solta, precisando, urgentemente, de socorro.

Vivemos um tempo em que a violência já faz parte até do marketing/propaganda, como ingrediente indispensável – são estratégias que passam imagem de ousadia, mas que, na verdade, estão distantes da criatividade inovadora e inteligente.

Incomodada com esta violência e com o desprazer de sair para ir às compras, resolvi escrever, para contar algumas situações que poderão servir de reflexão.

Como sempre gostei de sair aos sábados pela manhã e caminhar no centro da cidade, aproveito para resolver o que não posso fazer durante a semana. Estaciono o carro em lugar estratégico e faço tudo que preciso a pé. Defino um roteiro conforme a minha listinha de tarefas, ando devagar e, às vezes, entro em lugares onde nem estava programado. Enfim, sou uma cidadã que gosta da sua cidade e curti ir às compras conforme as minhas posses.

Entretanto, essa curtição foi se perdendo, principalmente, ao longo dos últimos anos. Atualmente, vou ao centro da cidade quando não há alternativa. E por conta desta falta de alternativa, acabei indo ao centro da cidade, dias atrás. Precisava de uma televisão (a minha ficou sem som).

Passei por quatro grandes lojas, mas não consegui entrar em nenhuma delas. Afinal, não tinha como ouvir o que vendedor falava, mesmo porque tenho uma perda considerável no ouvido direito - mas nada que me impeça de conversar e ouvir em um ambiente “normal”.

Segui em frente e fui observando, ou melhor, tonteando com a estupidez dos sons “musicais” impostos aos meus ouvidos. Ninguém merece. Muito menos eu, com 67 anos e muito aprendizado. Desisti da televisão. Deixei esta tarefa para o meu marido que é mais feliz nas suas compras online.

Busquei um caminho menos barulhento e resolvi passar em outra loja, porque lembrei de comprar um quadro/giz para o meu neto. De longe, a loja onde tinha o tal quadro já dava sinais de sua existência com os mesmos recursos de marketing musical. Criei coragem - por amor ao meu neto - e fui procurar o quadro. A sorte é que ele estava lá no fundo da loja. Por um momento achei que ficaria livre do excesso de barulho, mas, para infelicidade dos meus ouvidos, ainda tive que escutar uma “música”, enquanto escolhia o quadro/giz. E como se não bastasse, a letra da tal música ainda vinha acompanhada do seguinte refrão: “Vai no banheiro pra gente se beijar”.

Olha, quando alguma coisa me deixa sobressaltada, eu costumo soltar a seguinte expressão:

 - Jesus toma conta!

E aí foi, então, o meu sobressalto:

- JESUS TOMA CONTA!!!!!!!!!!!!!!, de quem escreveu, de quem gravou, de quem comprou, de quem colocou em tão alto som e de quem foi obrigado a escutar, escandalosamente, essa “pérola”: “Vai no banheiro pra gente se beijar”.

Então, agora, vai aqui um conselho de uma professora e um curso de capacitação relâmpago, sem custos e de coração:

- Comerciantes que utilizam dessa estratégia horrorosa, colocando som na porta e/ou dentro da sua loja, sem nenhum controle de qualidade, sem respeito ao seu funcionário que trabalha nesta barulheira o dia todo, sem oferecer tranquilidade para o seu cliente fazer compras, com prazer. Por favor, busquem boas ideias, apurem o estilo musical, deem ao seus clientes a oportunidade de comprar ao som da boa música instrumental. Se preciso, procurem profissionais competentes para orientá-los nesta tarefa de atrair fregueses, que independe da idade e do gosto musical. É apenas a tarefa de inserir no seu estabelecimento comercial a simplicidade do bom senso e do bom gosto apurados, e que conquista todos os perfis de clientes.

Com certeza, existem muitas lojas que podem servir de referencial. São lojas que proporcionam o prazer de entrar e comprar, porque o som permite escolher, experimentar, conversar e ainda curtir o bom gosto musical com harmonia e equilíbrio.

O povo brasileiro agradece, porque ele merece educar e diversificar seu ouvido, sem ser agredido pelo som e pelo volume que não passam por critérios de qualidade.

E você, comerciante, de quebra, poderá contribuir na educação de uma cidade, proporcionando, na sua loja, o som de um bom repertório musical!

Lá, eu volto sempre.