HABILIDADES – Bolas e pregos
(Autor: Antonio Brás Constante)

Todo ser humano tem algum tipo de habilidade. Alguns para comunicação. Outros para as artes. Outros ainda para atividades manuais (no bom sentido). Mas existem habilidades que se expressam como minas de ouro nos dias de hoje, por exemplo, como o futebol. Mas que seriam impensáveis há uns dois mil anos atrás.

Naquela época, quando um certo pregador foi pregado por acharem que ele fazia pregações demais sobre coisas que não pegavam bem para seus governantes, pois eles eram muito apegados ao poder e não entenderam bem aquela história de distribuição de bens, de dar aos pobres, etc. (como acontece nos dias de hoje), resolvendo colocar um ponto final, ou melhor, uns pregos para resolver a questão e marcando com uma cruz o suposto fim daquela história. Ou seja, talvez jogar futebol não fosse algo visto com bons olhos por eles.

Se tentássemos lhes explicar que dominar um objeto redondo com os pés e chutá-lo entre duas traves seria considerado maravilhoso, possivelmente nos pregariam em algum lugar também. Por considerar aquilo uma blasfêmia, ou simplesmente porque gostavam de pregar os outros. Na concepção deles, o mais prazeroso no ato de se chutar alguma coisa, seria poder chutar a cabeça de algum adversário, estando o corpo dele unido a ela ou não.

Para se ter uma idéia das dificuldades de se explicar algo naqueles tempos, não adiantava nem ao menos ser legal com a população. E olha que o tal pregador se esmerou nisso. Prestou atendimento médico gratuito, alimentou os esfomeados com pães e peixes, executou feitos impossíveis como andar sobre as águas, e até animou festas fornecendo a bebida. Mas nada do que ele fez adiantou. Na hora de votar sobre quem deveria viver, o povo acabou votando errado (algo bem brasileiro) e mandou-o de volta para casa do pai dele.

Como não vivemos naquele tempo, hoje é preferível saber jogar futebol do que construir cruzes. Algo que pode ser considerado positivo em se tratando de evolução. Se bem que o ideal seria apreciar atitudes sociais, como acabar com a fome e as doenças que punem milhões no mundo inteiro. Mas quem sabe daqui a uns dois mil anos isto não acabe sendo mais valorizado. Por enquanto, ficamos com as lembranças do fiasco brasileiro na copa de 2006 na Alemanha, e vamos nos preparando para o circo das eleições deste ano de 2008.

Enfim, se ensinarmos nossos filhos o valor da dedicação, quem sabe até focando-a no futebol, fazendo com que aprendam a realizar malabarismos com os pés, desses que os jogadores fazem e que parecem passes de mágica. Esta magia não se espalhe por seus corpos, chegando ao cérebro de forma iluminada, para que este objeto muitas vezes esquecido, possa finalmente ser utilizado para algo bom, como melhorar o mundo. Ou simplesmente, para que eles consigam uma chance na seleção brasileira, algo que seria realmente bom... Ao menos para nossas próprias vidas.