GUERRAS PÚNICAS E ROMA IMPERIAL

 

Kaique Vieira Nunes*[1]

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Resumo: Considerações a respeito do que significaram as Guerras Púnicas e suas implicações na formação da mentalidade de se formar um Império no mundo romano. Também apresentar como esse ideal de expansão foi se adequando à estrutura social da época e a importância do Exército para alcançar o êxito em conquistar e expandir os domínios de Roma.

Palavras-chave: Roma, Guerras, Transição, Império.

 

  1. Modelos de Roma

O processo que leva a cidade de Roma a passar de uma Monarquia a uma República e posteriormente ao que se torna no inigualável Império Romano se dá de forma gradual e devido a vários conflitos internos e externos e as conquistas realizadas, além dos movimentos internos da própria população. População essa que também passou por algumas mudanças em suas estruturas sociais ao longo dos séculos da formação e consolidação da sociedade romana.

Desde o fim da submissão de Roma em relação ao domínio dos etruscos no período monárquico, já se fomentava ainda que forma implícita, a ideia de independência e “autonomia” da cidade por parte da aristocracia romana que não aceitava mais os mandos do rei. Esse ideal se fortalece durante a República onde o Senado, que era controlado pelos Patrícios, passa a legislar na cidade surgindo assim as leis que regulavam as questões internas e externas como por exemplo se era viável ou não atacar determinada cidade vizinha seja para dominá-la ou defender seu próprio território de potenciais invasores. Tem-se então, devido à riqueza acumulada dos aristocratas, o incentivo financeiro na força militar que serviria aos interesses dos mesmos nas decisões tomadas no Senado.

É nesse período republicano de Roma que se tem um assinalável fortalecimento de seu exército, o que contribuiu para o inicio da expansão em busca de territórios vizinhos para o desenvolvimento das atividades agrícolas e pecuárias. Esse crescimento das forças militares ainda não é comparável ao que se observa nos anos seguintes do avanço romano sobre os territórios que conquistaria posteriormente. No entanto, nesse período já é possível perceber o inicio de um pensamento “pré-expansionista” romano se é que podemos chamar assim, que se ampliará nos séculos seguintes, e principalmente com a conquista da península itálica, que coloca a cidade de Roma em um novo nível de grandeza no cenário europeu da Antiguidade. A República passa então a ter novos objetivos traçados pelos Senadores, e os Comandantes dos Exércitos passam a ter mais poder político em relação à tempos anteriores.

  1. O Exército romano e as conquistas

É certo que a força dos exércitos romanos e o destaque de seus comandantes na conquista de novos territórios é notável e influenciou de forma direta na marcha expansionista desenvolvida durante as batalhas contra a rival Cartago nas chamadas Guerras Púnicas, e sua continuação após a vitória sobre os cartagineses foi decisiva para o percebimento do novo ideal de expandir os territórios e dando o primeiro passo rumo ao que pode se chamar de Imperialismo.

Ao passo que Cartago era um rico e movimentado porto comercial do Mar Mediterrâneo, sua tomada passa aos romanos o controle dessas rotas de comércio e assim um “novo mundo” se mostra passivo de ser conquistado e adicionado ao domínio de Roma. Dessa forma, o Mediterrâneo que passa a ser chamado de “Mare Nostrum” é o caminho para expansão realizada de forma mais intensa posteriormente e que traz o contexto imperial definitivo ao mundo antigo, sob a égide da cultura romana.

Nota-se então, que a cada conquista, o Exército romano se fortalecia tanto com contingente quanto no investimento inserido na máquina militar para treinamento e adesão de novos soldados, inclusive dos novos povos em aliança e sob domínio romano. Esse crescimento exponencial do poder militar foi de suma importância para que Roma se tronasse o Império que veio a se concretizar dois séculos depois desses importantes combates que foram as Guerras Púnicas. No entanto, a forma como se desenrolaram esses conflitos apontam uma rivalidade cultural de fato dos romanos e dos cartagineses, e isso se denota pelo que ocorre depois da perda da guerra, onde Cartago é totalmente destruída pelos vencedores.

  1. Cultura romana, cultura do mundo

Ainda no contexto da Guerra contra Cartago e de busca pela hegemonia no Mediterrâneo, é importante ressaltar que é com a vitória nesse conflito que Roma ganha força econômica, política e militar, o que é decisivo na continuidade da busca por novos domínios. É nesse processo que a cultura romana passa a ser difundida nas regiões conquistadas e também pegando para si aspectos das distintas culturas que iam encontrando no caminho por onde marchavam. Essa aculturação promovida pelos romanos é responsável por formar o pensamento ocidental antigo a principio, e mais tarde tornando a cultura de Roma na “cultura do mundo” por assim se dizer.

Esse imaginário romano de absorver os fatores culturais do mundo ao seu redor, de trazer para si os intelectuais de outras cidades, a arquitetura avançada de outros povos, os modelos estéticos e visuais das vestimentas que lhes agradavam e outros aspectos da cultura, talvez tenha sido inicialmente o que deu base para instalação do Império nos locais recém-conquistados e ainda contar com apoio dos mesmos. Embora Cartago não tenha tido esse tipo de relação em decorrência da rivalidade já citada, a construção romana de um domínio imperial com uma pluralidade de culturas não seria possível sem a aculturação, por vezes de caráter forçado por vezes não. Evidentemente que esse processo ocorre paulatinamente na sociedade em questão.

“Ao despertar nos Romanos a consciência do seu imenso potencial, as Guerras Púnicas incitaram-nos também a escrever a sua própria história; por isso, este é um dos conflitos mais bem documentados do mundo antigo. Todavia, os relatos que subsistiram até aos nossos dias são exclusivamente gregos ou romanos, não havendo nenhuma narrativa que nos forneça o ponto de vista cartaginês dos acontecimentos.”[2]

Certamente, a mentalidade romana se transforma a respeito do que se podia conquistar e a ideia de formar um Império se torna cada vez mais nítida no cenário pós-guerra e vitória contra os cartagineses. Observa-se também o desejo de contar a sua própria história, e coloca-se em questão a grandeza que agora almejavam para Roma. Essa mentalidade vai se desenvolvendo com o passar do tempo e se fortalecendo a cada conquista romana até se consolidar de fato. Assim se inicia e progride o pensamento romano de formar um Império e de tornar-se uma potência do mundo antigo.

 

Considerações finais

Talvez o propósito inicial dos romanos não fosse a expansão total de seus domínios, não pode-se afirmar com certeza, mas com a vitória sobre a poderosa Cartago ao final das Guerras Púnicas, o imaginário romano ganha novas dimensões e a expansão territorial e posterior Imperialismo se torna então uma “Ideia Disponível” em Roma. Esse ideal é reforçado a cada conquista, e o modo como é feita o processo de colonização e difusão da cultura romana vai tornando cada vez mais viável e possível o surgimento do Império Romano como de fato ocorre. Cabe aqui dizer que o Império é uma continuidade ou resultado de uma série de conquistas que tem as guerras púnicas como ponto chave no percebimento do potencial econômico, político e militar de Roma na marcha rumo ao domínio de grande parte da Europa e do Oriente.

Bibliografia consultada

Gouveia Monteiro, João. (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Centro de História da Sociedade e da Cultura). História de Roma Antiga. Vol. I: Das origens ao final da República. Disponível em: http://www.uc.pt/chsc/recursos/jfgm/jgm2.pdf Acesso em: 20 de Outubro, 2015.

Grimal, Pierre. “O mundo romano no fim da República”  “ nascimento do Império”  “ O século de Augusto” . In O Império Romano. Lisboa, Edições 70. 1993.

Rouland, Norbert. “A república revolução de direita”  “A nova classe dirigente”  “O imperialismo e a revolução” . In Roma democracia impossível? Os agentes do poder na urbe romana. Brasília, UnB, 1997.

Garraffoni, Renata Senna. “Guerras Púnicas”. In História das Guerras. Org. Magnoli, Demétrio. São Paulo, Contexto, 2008.

*Acadêmico do curso de História da Universidade Estadual do Goiás.

[2] João Gouveia. História de Roma Antiga. Vol. I: Das origens ao final da República, p 1-2.