O processo de concordata da General Motors deu um importante passo rumo ao seu final depois que a Justiça americana aprovou a venda dos ativos para a "nova GM", a empresa que será formada para administrar os "ativos bons" da montadora. A expectativa é que já nos próximos dias a GM possa sair da concordata – ela ingressou com o processo em 1º de junho.

A nova General Motors (GM) já está pronta para nascer na próxima quinta-feira (09 de julho) , depois do juiz Robert Gerber, da Corte de Falências e Concordatas dos Estados Unidos em Manhattan, aprovar no domingo a venda de quase todos os ativos da GM para uma companhia fundada pelo Tesouro americano, na qual os governos dos EUA E Canadá controlarão uma fatia de 72,5%.

O juiz Gerber emitiu um mandato de quatro dias aprovando a venda. Isso deverá permitir a saída da concordata de "uma nova GM" nesta quinta-feira (09 de julho), embora apelações possam adiar isso.

O juiz Gerber afirmou que a venda dos ativos, para um fundo bancado pelo governo dos EUA, é a única opção para salvar a principal montadora americana e que por quase 80 anos também foi a maior do mundo, até perder o posto em 2008 para a japonesa Toyota.

Nessa nova fase, a montadora terá 60,8% de seu capital nas mãos do governo americano.

Dessa forma a General Motors sairá do regime de concordata como uma empresa menor e mais viável financeiramente e que não poderá mais culpar a história, o destino ou seus sindicatos por qualquer fracasso.
Credores, aposentados e vítimas de acidentes se opõem à venda, temendo que seus direitos desapareçam com a criação da nova General Motors Company.

Apesar de credores já terem ingressado com uma ação recorrendo da decisão, a expectativa do governo é que a venda dos ativos seja concluída, o que deixaria o processo de concordata muito próximo do final – Washington deu prazo para que o negócio seja aprovado até sexta-feira sob o risco de suspender o financiamento.

Advogados de acionistas, sindicatos e grupos de defesa do consumidores afirmam que a venda beneficia a GM e o governo americano, deixando de lado os seus interesses.

A nova GM será formada pelos "ativos bons" da montadora, como as marcas Chevrolet, Cadillac e Buick e as operações em países como o Brasil. O governo americano, que já emprestou mais de US$ 50 bilhões para a montadora, terá cerca de 61% da empresa, enquanto o canadense, que também ajudou financeiramente, terá outros 12%. O restante ficará com o fundo de plano de saúde dos trabalhadores, acionistas e credores. Já a velha GM, que inclui marcas como Hummer, Saturn e Saab, será liquidada.

Em sua nova encarnação, a GM terá um número menor de marcas, operações mais enxutas e um ponto de equilíbrio nos resultados menor e mais realista, além de um balanço mais forte e sem o peso de grande parte de suas dívidas e obrigações com os planos de saúde dos funcionários.

A GM continua sendo uma grande montadora global, mas com mix maior de subsidiárias integrais e joint ventures, especialmente a Opel, seu braço europeu, na qual deverá ter participação de controle.

A posição da GM é que a companhia terá uma administração mais enxuta com tomadas de decisões mais rápidas. Ray Young, diretor financeiro, disse no mês passado, em uma apresentação da nova GM, que ela estará "bem preparada, mas o processo não será fácil".

As vendas receberão apoio de uma GMAC – sua financeira anterior – revigorada, com a qual a GM ainda tem laços próximos e que cuida do financiamento de uma grande parcela de veículos da Chrysler.

A GM planeja várias iniciativas para quando estiver operando formalmente. Vários novos diretores serão nomeados e o diretor-presidente, Fritz Henderson, sinalizou que pretende realizar uma ampla reorganização administrativa.

Os custos da GM estão sob controle, mas ela tem um trabalho de vendas considerável pela frente, uma vez que espera convencer os consumidores, afugentados pela concordata apoiada pelo governo, de que vale a pena comprar seus carros.

Uma campanha ambiciosa está sendo preparada para convencer os americanos de que a nova GM é uma mais ágil que fabrica veículos que merecem respeito. "Será o trabalho de marketing mais difícil da história", disse DeLorenzo.

De fato, a GM vem mostrando recentemente que pode fabricar carros de alta qualidade e desejáveis. Seu novo esportivo Chevrolet Camaro vendeu mais que o estabelecido Mustang da Ford em junho. Vários modelos recentes da GM - incluindo os sedans Chevy Malibu e Buick LaCrosse - foram bem recebidos pela imprensa especializada.

No entanto, a GM "continua tendo um problema de percepção", diz Rebecca Lindland, analista da IHS Global Insight. "E entrar em concordata não ajudou nem um pouco." Vários analistas já observaram que alguns desses veículos estariam vendendo mais se tivessem a marca Toyota em vez de GM.

Enquanto a GM e a Chrysler passavam pela concordata este ano, a Ford ganhou participação de mercado. Isso aconteceu porque houve uma melhoria em sua imagem, por ter evitado o plano de socorro do governo americano, e devido a uma carteira de produtos muito boa.

A condição recentemente adquirida pela GM de companhia controlada pelo governo poderá provocar outros problemas, segundo analistas, muito embora o presidente Barack Obama tenha prometido ficar de fora das decisões administrativas cotidianas da montadora.

Lindland prevê que a GM continuará sob pressão, especialmente do Congresso, controlado pelos Democratas, para que dê mais prioridade à questão ambiental e outras considerações que - embora admiráveis - poderão não levar de volta os compradores para as revendas GM.

Ela diz que os melhores e mais lucrativos veículos da GM "possuem características que Washington nem sempre aprecia".
 
Bibliografia
Jornal Valor Econômico de 07 de julho de /2009
Jornal do Brasil de 07 de julho de 2009
Jornal Folha de S. Paulo de 07 de julho de 2009