GLOBALIZAÇÃO E SEGURANÇA ALIMENTAR - III
Por Romão Miranda Vidal | 10/02/2010 | SociedadeGLOBALIZAÇÃO E SEGURANÇA ALIMENTAR PARTE III
Artigo baseado em matéria elaborada por Jorge Enrique Robledo Castillo, professor titular da Universidade Nacional da Colombia. Senador eleito polo "MOIR" para o período 2002/2006
A SEGURANÇA ALIMENTAR deve ser concebida em um primeiro plano como uma ação que busca alimentar de forma prioritária toda a população nacional do país. Mantendo sempre em mente que esta mesma nação deve exercer prioritariamente, um política que busque uma forma de AUTO-SUFICIÊNCIA ALIMENTAR INTERNA, com objetivos definidos de produzir alimentos não só para as classes mais privilegiadas, mas também para as menos favorecidas. Mas neste mesmo diapasão produtivo, não se pode e nem se deve olvidar que existem necessidades inerentes de se manter duas políticas distintas em relação a AUTO-SUFICIÊNCIA ALIMENTAR INTERNA.
A política que apregoe e incentive o campo está aqui representada pelos produtores rurais, a não ser plantadores de "desertos verdes", como acontece nos estados nacionais produtores de soja, onde milhares de hectares são cobertos por esta leguminosa. Ou em outras situações como a cana, o café, a laranja, o reflorestamento e a pecuária de corte. Parece até esdrúxula esta afirmação.
Mas ela é se não justificável, pelo menos se mostra preocupante. De onde viria a "cesta básica" para alimentar todo este contingente de pessoas que trabalham nestes sistemas produtivos? O que parece uma utopia nos dias de hoje, passará a ser a necessidade do amanhã. Existe uma necessidade inerente para que o produtor de soja que olha para um lado e vê soja e para outro, mais soja, passe a se preocupar com a produção de outros gêneros alimentícios básicos, não só para si próprio, mas para toda uma comunidade ligada a este ou aquele sistema produtivo. Pode até ser entendido que para este produtor não se pareça concebível este tipo de atividade, uma vez que ele (depreende-se) tenha poder aquisitivo suficiente para manter a dispensa de seus familiares abastecida com a cesta básica.
E aí então surge a indagação. E os que para ele trabalham a que preço estariam adquirindo esta cesta básica?
De fato este tipo de problema não faz parte da administração social do produtor.
Mas é um fato que se faz presente no momento e tende a se agravar, ante duas novas variantes que passarão a existir. À medida que se tecnifica os sistemas produtivos, com a mecanização se fazendo presente em um ritmo alucinante, haverá uma situação de "dispensa" dos contingentes humanos antes utilizados, quer no plantio, no manejo e na colheita. Exemplo clássico é visto nos grandes projetos florestais. Praticamente todo mecanizado. E o que falar do setor de produção de grãos? Da cana-de-açúcar, da laranja, do café?
Então neste primeiro enfoque, temos a dispensa da mão-de-obra. Resultado: sem emprego e com fome. A segunda variante é que esta mão-de-obra sem emprego e com fome migrará para algum outro centro. E ali engrossará as filas dos "SEM-NADA E COM FOME". Não se trata aqui de nenhuma apologia à Reforma Agrária. Trata-se isto sim da adoção de políticas sociais em que o "volante", ou "bóia-fria", ou outra adjetivação que se queira usar, para matar a sua própria fome, com a produção que obter.
Mas deixando de lado estas duas situações e a proposta, temos ainda que nos ater a uma situação atual, na qual a SEGURANÇA ALIMENTAR passa a ter uma importância transcendental, ante um fato corriqueiro e comum nos municípios produtores de bens primários que compõem a cesta básica. Muitos municípios são produtores de milho, feijão, suínos, trigo, arroz, frangos, leite, só para citar alguns exemplos e estes produtos são praticamente proibitivos de serem adquiridos pelos munícipes ante o elevado preço com o qual se apresentam nas gôndolas dos supermercados. Qual a razão desta situação?
Simplesmente porque estes produtos são "exportados" para outros municípios, onde se agrega valor na sua transformação: milho em fubá e farinha de milho: o feijão é classificado e empacotado: o arroz é descascado, classificado e empacotado: frangos são abatidos e refrigerados ou congelados: leite é pasteurizado e ou transformado. Todos estes produtos então fazem um "passeio", são transformados e têm mais valores agregados e, finalmente, retornam às gôndolas e dificilmente à mesa do trabalhador que, de uma maneira sofre a pressão da tecnologia globalizada.
Neste exemplo reside a base da SEGURANÇA ALIMENTAR.
Imagine um país que venha perder a condição de alimentar o seu povo, Como ficará a sua soberania? Este é um risco que as grandes nações nem pensam em correr. Só de imaginar uma situação destas, tremem todas as estruturas. Mas temos ainda uma situação, que são as retaliações que uma nação produtora de alguns bens essenciais sofrerá caso se negue a vender para uma nação grandiosa. Existem, é lógico, posições neoliberais que apregoam que a SEGURANÇA ALIMENTAR é um problema de ordem mundial e que todas as nações devem produzir em conjunto para sanar a fome que mata e varre do mapa uma nação.
Mais ainda.
Não se importam com a origem e nem com a forma como estes alimentos são produzidos: transgênicos ou não: com emprego de mão-de-obra escrava ou de menores de idade ou não: com a destruição das matas e dos rios ou não: com a compactação e ou salinificação do solo pelo uso inadequado de formas de manejo. Para estes pensadores neoliberais, o importante é que se produza. E neste constante produzir é mais do que importante que ocorram duas situações: preço baixo de venda do produto primário e preço alto de venda do produto transformado, mesmo que seja para os seus concidadãos.
A teoria de que a população rural produz para suprir suas necessidades alimentícias básicas e de que o excedente desta ou destas produções venha a ser usado com uma forma de pressão junto aos grandes centros consumidores, pelo não abastecimento normal, vinculado a uma forma de coação, seja ela qual for, é uma forte arma na qual a SEGURANÇA ALIMENTAR, mais dia ou menos dia, passará a se defrontar.
Não resta dúvida de que as cidades surgiram e se desenvolveram em função das produções dos agropecuaristas.
Concluindo duas citações: Assumir o campo para dominar as cidades
As cidades não sobrevivem sem o campo.
Pensamentos de Mao Tse Tung e de um movimento social que invade terras produtivas.
Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.