INTRODUÇÃO

Globalização e blocos econômicos é o tema do primeiro bimestre que deve ser desenvolvido junto aos alunos da SEEDUC-RJ na primeira série do ensino médio no âmbito da disciplina geografia. Entre as habilidades e competências a serem desenvolvidas neste período, destacam-se:

1 – Compreender a organização do espaço geográfico mundial considerando os aspectos históricos e geopolíticos do mundo no século XX: pós-Segunda Guerra; a Guerra Fria; as organizações políticas, econômicas e militares; o colapso do socialismo; as novas fronteiras;

2 – Compreender e analisar os fluxos e as redes – em diferentes aspectos e escalas – que estão envolvidos no processo de globalização;

3 – Discutir a importância da ciência e das tecnologias no contexto da globalização;

4 – Identificar as características do mundo contemporâneo e compreender os processos de fragmentação e exclusão em diferentes setores e escalas;

5 – Discutir questões das redes ilegais da globalização;

6 – Contextualizar o papel do Brasil no mundo globalizado;

7 – Relacionar a expansão do COVID-19 ao processo de globalização.

GLOBALIZAÇÃO

São duas as concepções mais comuns, concernentes ao que representa o processo de globalização: a primeira noção relaciona o citado fenômeno global ao processo de desenvolvimento do capitalismo. Seguindo esta vertente, podemos asseverar que o mundo começou a se “globalizar” entre os séculos XV e XVI – por ocasião da expansão marítima europeia. Neste contexto, a primeira fase do processo de desenvolvimento capitalista foi marcada pelo chamado capitalismo comercial, tendo como características principais, além da já citada expansão marítima europeia, a acumulação primitiva de capitais, a política mercantilista e o colonialismo (partilha da América). Durante a primeira etapa do processo de desenvolvimento capitalista, a riqueza de uma nação era mensurada a partir da quantidade de ouro e prata que o Estado conseguia acumular (metalismo). Por representar a nação hegemônica no esplendor desta etapa, a Inglaterra foi o país que melhor representou a “acumulação primitiva de capitais”.

 

A partir deste incremento, o Reino Unido protagoniza o alvorecer da segunda etapa do processo de desenvolvimento capitalista, qual seja o capitalismo industrial. Nesta etapa, a produção passa a ser condição indispensável para o desenvolvimento econômico de uma nação. Neste bojo, entre os séculos XVIII e XIX desenvolve-se a chamada “primeira revolução industrial”, sendo esta liderada pelo Reino Unido, e entre os séculos XIX e XX, eclode a “segunda revolução industrial”, sendo esta liderada por Estados Unidos e Alemanha. Nestas duas primeiras revoluções industriais, fala-se mais em desenvolvimento técnico (e não tecnológico). Enquanto a primeira revolução técnica foi marcada pelas indústrias têxteis, navais e siderúrgicas – tendo o carvão como principal fonte energética – a segunda foi marcada pelas indústrias químicas e automobilísticas. O carvão e as locomotivas da primeira revolução industrial, no segundo período técnico, vão sendo substituídos pelo petróleo, pela energia elétrica e pelos motores. Vale frisar que, durante o capitalismo industrial, o mercantilismo foi, igualmente, substituído pelo liberalismo e que, de igual modo, o colonialismo cede lugar ao imperialismo (partilha da África entre as potências imperialistas da Europa.

Durante o capitalismo industrial, algumas empresas tornaram-se grandes conglomerados. A concorrência de então passa e ceder lugar aos monopólios e oligopólios (trustes e cartéis). Assim, no bojo da Segunda Revolução Industrial – a partir de 1850 – inicia-se a terceira etapa do processo de desenvolvimento capitalista: o capitalismo financeiro monopolista. Esta fase é marcada pelo desenvolvimento e expansão das empresas multinacionais e pelo advento dos grandes bancos – que passam a financiar a produção. Com a crise de 1929 e a grande depressão que se seguiu na década de 1930, o Estado retorna para o campo macroeconômico com o intuito de impedir uma nova crise financeira. Emerge o keynesianismo em substituição ao liberalismo clássico.

 

Com a revolução técnico-científica, iniciada na década de 1970 – finalmente – tem o seu início a quarta e atual etapa do processo de desenvolvimento capitalista. Falamos da terceira revolução industrial ou revolução tecno-científico-informacional (SANTOS 2001; 2002) que suscitou o capitalismo informacional. Como o próprio nome sugere, nesta etapa, a informação e/ou o nível informacional passa a exercer papel preponderante para atores que almejam a hegemonia político-econômica, desempenhando o papel de principal matéria-prima. A revolução informacional, liderada por Estados Unidos e Japão, fez emergir a atual etapa do capitalismo. Esta fase hodierna tem como maiores representantes as indústrias/empresas atreladas ao ramo científico/tecnológico: informática, robótica, telecomunicações, entre outras. A política neoliberal que implica na redução do papel do Estado na economia, ou no Estado a serviço da economia dominante e o processo de globalização da economia, representam as principais características da quarta e atual etapa do capitalismo.

Nos quatro parágrafos anteriores, o objetivo foi descortinar uma das definições que tenta abarcar a globalização, entendendo o referido processo como uma das etapas do capitalismo. A segunda noção relacionada ao fenômeno global em tela define a globalização como um processo representado pelo desenvolvimento atrelado às redes de transportes e comunicações que possibilitaram a compressão do espaço-tempo. Neste cenário, principalmente após a derrocada socialista (1990), o capitalismo se expande por todo o planeta, tornando-se global: globalização da economia (FERNANDES, 2013). Sobre a compressão do espaço pelo tempo, observe a imagem abaixo:

 

 

AS REDES E OS FLUXOS DA GLOBALIZAÇÃO

A Globalização se consolidou com os avanços técnicos nas redes de transportes (aéreo, marítimo, ferroviário...) e comunicações (satélites, internet...). Cada vez mais o mundo vem constituindo uma intensa rede com fluxos de pessoas, capitais, informações e mercadorias. A própria troca instantânea de informações nos permite visualizar esses fluxos dentro das redes que compõem o mundo globalizado. Veja o exemplo da imagem abaixo onde é possível visualizar o fluxo mundial de pessoas relacionado ao transporte aéreo em 2018:

 

Por meio das redes de transportes, circulam os fluxos mundiais de pessoas (aéreo) e mercadorias (marítimo). Por meio das redes de comunicações, circulam os fluxos mundiais de informações e capitais (internet, satélites...). Veja na imagem abaixo os maiores e mais intensos fluxos mundiais:

 

OS BLOCOS ECONÔMICOS

Em uma economia globalizada e cada vez mais competitiva, a tendência é que alguns Estados e regiões se unam em torno de grandes mercados econômicos. O objetivo da formação destes blocos regionais é estreitar as relações comerciais com os países membros e, igualmente, se fortalecer diante de outros blocos e países isolados. Abaixo, os principais blocos econômicos do mundo:

 

 

O PAPEL DA GLOBALIZAÇÃO NO PROCESSO DE DISPERSÃO ESPACIAL DO NOVO CORONA VÍRUS (COVID-19)

 

Como vimos, a globalização representa a fase atual do capitalismo onde o sistema em tela - após séculos de expansão e fortalecimento - se mundializou. Entre as principais características da globalização econômica está a intensificação dos fluxos mundiais de pessoas que ocorrem, principalmente, entre os maiores centros globais em todos os níveis (mundial, continental, nacional, estadual, municipal...).

Assim, como o Covid-19 surgiu em um país importante do capitalismo globalizado (A China), ele se propagou velozmente pelos grandes centros da economia mundial que estabelecem relações de proximidade econômica com os chineses (Europa, América  Anglo Saxônica, Austrália e outras economias emergentes como o Brasil).

 

Dispersão especial do novo corona virus pelo mundo em 30 de janeiro de 2020.

 

Percebe-se que nas regiões não globalizadas (África, América Central, países pobres da Ásia...), não houve uma intensa proliferação do vírus como é evidente nos países centrais e emergentes. O mesmo fenômeno pode ser analisado nas escalas nacional, estadual e municipal.

Em relação ao Brasil, o epicentro da crise provocada pelo novo corona vírus está no coração econômico do país: o Centro-Sul - principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Dispersão especial do novo corona virus pelo Brasil em 16 de março de 2020.

No nível estadual, os infectados pelo Covid 19 se concentram - igualmente - no Grande Rio, a região mais próspera e populosa do estado do Rio de Janeiro.

 

Dispersão especial do COVID-19 pelo estado do Rio de Janeiro no dia 15 de março de 2020.

 

Na escala municipal, a maioria absoluta dos doentes se concentra na área nobre da cidade, a Zona Sul carioca.

 

Dispersão especial do corona virus no município do Rio de Janeiro em 15 de março de 2020.

Para efeitos de comparação, quando houve um surto de ebola em alguns países africanos, em 2014, a doença não se mundializou. Isso se explica pelo fato da inexpressividade das economias centro africanas no atual contexto do capitalismo.

 

Dispersão especial do surto de ebola pelo mundo em 2014.

 

A globalização atual, onde apenas os ricos são contemplados, é didaticamente explicada pela dispersão do novo corona vírus pelos ricos que viajam pelo mundo e levam consigo a doença para as regiões do mundo que ainda interessam ao capital.

 

REFERÊNCIAS

FERNANDES, Marcio Luis. Globalização e urbanização do Mundo: UERJ, 2013. Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/globalizacao-e-urbanizacao-do-mundo/136480. Acesso em 26/03/2020.

_____. O papel da globalização no processo de dispersão espacial do Covid-19. Disponível em: https://riodecoracaotour.com.br/o-papel-da-globalizacao-no-processo-de-dispersao-espacial-do-covid-19/. Acesso em 26/03/2020.

SENE, Eustáquio de; MOREIRA, João Carlos. Geografia Geral e do Brasil – volume 2. São Paulo: Scipione, 2019.