Gilka Machado
Publicado em 04 de janeiro de 2008 por Marcelo Cardoso
Nascida no Rio de Janeiro em 12 de março de 1893, Gilka da Costa de Melo Machado ( Gilka Machado ) aqui também faleceu em 11 de dezembro de 1980.
Filha de um poeta e de uma atriz de rádio e teatro, casou-se também com um poeta, Rodolfo de Melo Machado, com quem teve dois filhos: Hélio e Eros Volúsia.
Em Paquetá, morou na Praia da Ribeira, atual Praia das Gaivotas, numa casa que existia em frente da atual Praça Dr. Lívio Porto e foi lá que escreveu Serenata e o Hino a São Roque.
Serenata
Ó Paquetá de
cismas e de
mágoas,
Ondas de Paquetá, suponho ao vê-las
Quando te vejo, à lua e ao sol, acesa,
Ó Paquetá das
águas
mansas,
ver a infância do mar;
e erro por teus caminhos solitários,
Em ti o mar
conserva a candura das crianças, pelas límpidas
noites, as
estrelas
sonho parques lendários,
tem gestos
indolentes
descem do céu, nelas se vêm
banhar.
Sonho-me uma princesa
com que
aconchegas, com que acaricias
exilada, sozinha,
a alma
indecisa dos convalescentes
e como, então, sinto que és toda minha,
das longas e
violentas agonias
!
que é minha tua esplêndida riqueza
!
Ó Paquetá dos
corações enfermos,
À tua sedução que alma
resiste,
Fazes com que te olhando imaginemos
Ó Paquetá dos
ermos
dias,
quem te não amará,
Toda uma floração primaveril
das horas sem
rumor e de noites vazias
! Ó
minha Paquetá formosa e
triste,
Debruar-te os extremos
Amo esses
teus recantos
Ó minha langue e linda Paquetá
?!
do arqueado céu febril,
De silêncio
macio e
inspirador
na hora extrema do poente;
Onde os
sonhos de amor são sempre
tantos
e que esfolhada, trêmula e esplendente,
Que julgo
tenha em ti seu reino o
Amor.
Em tuas mãos de esmeralda e anil !
Ó Paquetá dos
meus
deslumbramentos,
Teu vulto verde ao sonho me
convida; Que
encantamento paira nessas teias
Ó Paquetá dos
lentos
luares,
verde, ao fulgor solar,
das buganvílias que no espaço espalmas,
seduzem-me
esses teus lirismos
singulares, és esmeralda
rútila
embutida
de tal maneira enleias,
quando, aos
silêncios
quedos
no ouro do efervescente anel do
mar.
Pela visão as almas !
do
plenilúnio, lúbrica,
desmaias,
Guarda-te o mar, por certo,
e beijos de
astros mordem-te os
rochedos,
para remanso eternamente aberto
e volúpias de
luar lambem-te as praias
!
ao velho sortilégio das sereias.
Ó Paquetá
das rúbidas
papoulas,
Então, exposta à fúria das procelas,
Levantam-se as manhãs do amplo regaço
De juritis e
rolas no
ninho,
sugeres,
Paquetá,
de tuas águas, frescas e louçãs;
E de brisas
que têm maciezas de
carinho,
uma perdida nau de verdes
velas,
e, no mar e no
espaço,
E de ventos
brutais
que nunca, nunca mais
aportará.
nas praias, nas rechãs,
Em que te
transfiguras, em que
ficas,
há um cheiro quente e estranho,
aos raios,
cravejada de
punhais,
que encontro sempre dentro do teu banho:
da chuva
expondo as pedrarias
ricas.
o perfume do corpo das manhãs.
Ó Paquetá dos líricos anelos, / Ó Paquetá dos belos sonhos, / Que fazes olvidar desenganos medonhos! / Quisera em ti, divina, / Achar a morte e, pasma de beleza, / Carregando-te a imagem na retina, / Desfazer-me na tua natureza.
Cristais Partidos, seu primeiro livro de poesias, foi publicado em 1915, quando já era casada com o poeta Rodolfo de Melo Machado. Em 1917 publicou Estados de Alma e seguiram-se Poesias, Mulher Nua, O Grande Amor, Meu Glorioso Pecado, Carne e Alma, Sonetos e Poemas, Sublimação, Meu Rosto, Velha Poesia e Poesias Completas.
Em 1933, por um concurso da revista O Malho, foi eleita “a maior poetisa do Brasil”.
Poeta simbolista, produziu versos considerados escandalosos no começo do séc.XX, por seu marcante erotismo. Para o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos, ela foi a maior figura feminina do nosso Simbolismo, em cuja ortodoxia se encaixa com os seus dois livros capitais: Cristais Partidos e Estados de Alma.
Gilka Machado é Patrona da Cadeira Nº 25 da Academia de Artes, Ciências e Letras da Ilha de Paquetá, ocupada atualmente por Lygia de Andrade Barbosa.