GESTÃO HOSPITALAR EM TEMPOS DE CRISE: Mudanças Permanentes no Setor de Saúde

Por TRICIA MARCELA CRUZ SILVA GUERRA | 07/03/2025 | Saúde

GESTÃO HOSPITALAR EM TEMPOS DE CRISE:

 

Mudanças Permanentes no Setor de Saúde

 

 

Tricia Marcela Cruz Silva Guerra[1]

 

 

 

RESUMO

 

A necessidade de adaptação do setor hospitalar diante de crises sanitárias revelou a importância da implementação de novas estratégias e inovações para otimizar a gestão hospitalar. A pandemia da COVID-19 impôs desafios sem precedentes, exigindo soluções ágeis para a administração de recursos, garantindo a continuidade dos atendimentos e promovendo melhorias na assistência à saúde. A adoção de tecnologias emergentes e a reformulação dos fluxos hospitalares tornaram-se essenciais para aprimorar a eficiência do setor e assegurar um atendimento humanizado, mesmo em cenários de alta demanda. O objetivo deste estudo é demonstrar como estratégias inovadoras e o uso de novas tecnologias foram fundamentais para a resposta hospitalar à pandemia, explorando a implementação de modelos de gestão eficientes, otimização de recursos e impacto dessas mudanças para o futuro da saúde pública e privada. A coleta de dados foi realizada nas bases de dados eletrônicas no mês de fevereiro de 2025. As palavras-chave utilizadas foram "Gestão Hospitalar", "Inovações Tecnológicas", "COVID-19", "Eficiência Operacional" e "Resiliência na Saúde", sendo encontrados 17 artigos publicados, dos quais apenas 6 atenderam aos critérios estabelecidos para a elaboração desta pesquisa. Conclui-se que a pandemia de COVID-19 impulsionou mudanças na gestão hospitalar, promovendo inovação, digitalização de processos e otimização de recursos. O avanço da telemedicina e das TIC ampliou o acesso e a segurança nos serviços de saúde. Essas transformações deixaram um legado duradouro, reforçando a necessidade de investimentos contínuos para enfrentar futuras crises com maior eficiência.

 

 

Palavras-chaveGestão Hospitalar. Inovações Tecnológicas. COVID-19. Eficiência Operacional e Resiliência na Saúde.

 

 

ABSTRACT

 

The need for adaptation in the hospital sector during health crises has highlighted the importance of implementing new strategies and innovations to optimize hospital management. The COVID-19 pandemic imposed unprecedented challenges, requiring swift solutions for resource management, ensuring continuity of care, and promoting improvements in healthcare services. The adoption of emerging technologies and the restructuring of hospital workflows became essential to enhance the sector's efficiency and ensure humanized care, even in high-demand scenarios. This study aims to demonstrate how innovative strategies and the use of new technologies were fundamental to the hospital response to the pandemic, exploring the implementation of efficient management models, resource optimization, and the impact of these changes on the future of public and private healthcare. Data collection was conducted from electronic databases in February 2025. The keywords used were "Hospital Management," "Technological Innovations," "COVID-19," "Operational Efficiency," and "Health Resilience," yielding 17 published articles, of which only six met the established criteria for this research.

The findings conclude that adopting innovative strategies during the pandemic enabled a transformation in hospital management, making it more efficient and better prepared for future crises. Investments in technology, process digitization, and the restructuring of hospital protocols contributed to optimizing resources, improving the quality of care, and reducing the impact of hospital overload. This represents a significant legacy for the sector, reinforcing the importance of continuous innovation and resilience in healthcare administration.

 

Keywords: Hospital Management. Technological Innovations. COVID-19. Operational Efficiency and Health Resilience.

 

 

 

 

1 Introdução

 

Desde o começo do século XXI, o mundo tem vivenciado um crescimento na incidência de Emergências de Saúde Pública, que colocam à prova as instituições e serviços de saúde, evidenciando suas vulnerabilidades, seja devido a surtos de enfermidades já conhecidas ou ao aparecimento de novas patologias. Embora cada emergência sanitária apresente particularidades próprias, há aprendizados valiosos que podem ser obtidos a partir desses acontecimentos (Mantesso et al., 2024).

No início de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao reconhecer a disseminação de um novo vírus, o SARS-CoV-2, causador da COVID-19, decretou Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional, caracterizando essa como a mais recente crise sanitária global (Rebello et al., 2024). O novo coronavírus foi identificado em 12 de dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, localizada na província de Hubei, na China. Devido à sua elevada taxa de transmissibilidade, a OMS declarou emergência em 30 de janeiro de 2020, conforme estabelecido pelo Regulamento Sanitário Internacional (RSI). Posteriormente, em 11 de março, a organização classificou a situação como pandemia, orientando os países membros a adotarem estratégias para conter a propagação do vírus e fortalecer seus sistemas de saúde. Entre as recomendações, destacou-se a estruturação de retaguarda hospitalar para atender casos graves, seguindo as diretrizes do plano estratégico de preparação e resposta operacional, elaborado para auxiliar os países na implementação de medidas eficazes no enfrentamento da crise (Santos et al., 2021).

O avanço da pandemia impôs desafios significativos às instituições de assistência à saúde, que enfrentaram uma mudança abrupta e inesperada nas rotinas e dinâmicas de trabalho dos profissionais. O crescimento da demanda, aliado ao risco crescente de contágio e à superlotação dos serviços de saúde, tanto públicos quanto privados, gerou preocupação entre profissionais e gestores, que se dedicaram a alertar as autoridades sanitárias sobre essa ameaça (Mantesso et al., 2024). Dentre os desafios enfrentados durante as transformações, tanto nas estruturas quanto nas equipes, destaca-se o agravamento da pandemia e as sucessivas "ondas" causadas pelo surgimento de novas variantes do vírus. Esse cenário foi influenciado pela baixa adesão ao distanciamento social, resultando no aumento de infectados que necessitavam de atendimento hospitalar. Como consequência, tornou-se essencial reorientar o planejamento tático e operacional da rede hospitalar para o cuidado dos pacientes com COVID-19 (Rebello et al., 2024).

Diante desse contexto, a gestão hospitalar, que já representa um desafio complexo, tornou-se um fator essencial na resposta à crise sanitária, assumindo a responsabilidade pelo gerenciamento de recursos físicos, humanos e estruturais. Essa gestão se mostrou uma ferramenta indispensável para a organização dos serviços e a proteção da saúde de pacientes e profissionais, sempre com a preocupação constante de assegurar assistência à população afetada. A administração hospitalar desempenhou um papel crucial nos esforços para atender à crescente demanda por cuidados, em meio ao risco iminente de escassez de recursos. Dessa forma, emergências sanitárias, como a pandemia de COVID-19, evidenciam a importância dessa atuação (Mantesso et al., 2024).

Além disso, as decisões no âmbito da saúde precisaram estar em conformidade com os princípios da gestão da qualidade, visando preservar os padrões de atendimento diante das exigências emergentes da pandemia. A reorganização das instituições de assistência, incluindo hospitais de referência, pode ser analisada com base na tríade proposta por Donabedian para a avaliação dos serviços de saúde: estrutura, processo e resultado (Rebello et al., 2024).

 

2 Impactos da COVID-19 na Gestão Hospitalar: Lições Aprendidas e Mudanças Permanentes

 

A gestão pode ser entendida como uma prática desenvolvida no cotidiano do trabalho, combinando ciência, arte e competência. Nesse contexto, a gestão se manifesta em três níveis, do abstrato ao prático: o nível das informações, o das pessoas e o da execução. Esses aspectos englobam a articulação de pensamentos, análise crítica, mediação de conflitos, tomada de decisões, implementação de ações e exercício da liderança para atender às demandas e exigências dos sistemas organizacionais (Castro et al., 2024).

No contexto da pandemia de COVID-19, a atuação do gestor tornou-se ainda mais essencial e desafiadora. A velocidade com que a doença se disseminou, seu alto potencial de transmissão, a escassez de evidências científicas sobre o vírus e a falta de tratamentos farmacológicos eficazes, bem como de vacinas, aumentaram a complexidade e a incerteza das estratégias de enfrentamento. Diante desse cenário, foi exigida dos gestores uma tomada de decisões ágil e assertiva (Castro et al., 2024).

A alta incidência de casos durante a pandemia levou ao surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2, agravando o colapso de diversos sistemas de saúde. Esse cenário evidenciou a urgência de retomar o atendimento a pacientes não acometidos pela COVID-19, bem como a continuidade dos cuidados para portadores de doenças crônicas. Diante disso, a necessidade de reorganizar os serviços, redistribuir tarefas e inovar nas práticas de assistência à saúde tornou-se essencial. Nesse contexto, a tecnologia ganhou relevância globalmente, sendo amplamente utilizada nas ações de saúde, no ambiente de trabalho, na educação e em transações financeiras e comerciais, entre outras áreas (Freire et al., 2023).

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3 Tecnologias na Saúde: Adaptação e Aprendizados da Pandemia

 

Diante do desequilíbrio gerado pelo aumento expressivo da demanda por internações em UTI e a oferta insuficiente desses leitos, os profissionais destacaram a necessidade urgente de reorganizar o ambiente hospitalar. Como resposta, diversas unidades redirecionaram setores específicos para a criação de UTIs exclusivas para pacientes com COVID-19. Paralelamente, foram abertos leitos adicionais para atender os pacientes encaminhados, sendo alocados conforme a gravidade do quadro clínico. Destaca-se que mudanças significativas na (re)organização e na classificação dos pacientes ocorreram continuamente, acompanhando as atualizações nos protocolos de biossegurança, nos mecanismos de transmissão e nas condutas clínicas da doença (Pereira et al., 2023).

A crescente demanda levou à expansão de leitos com suporte de terapia intensiva fora das UTIs convencionais, resultando na criação de áreas específicas para diferentes níveis de gravidade. O volume de pacientes foi tão elevado que se tornou necessário disponibilizar novos leitos equipados com toda a estrutura de terapia intensiva fora do ambiente tradicional da UTI. A ala amarela foi destinada a pacientes de enfermaria, enquanto a ala vermelha recebeu pacientes em estado grave, contando com todos os recursos de uma UTI, como bombas de infusão, ventiladores e monitores. Dessa forma, devido à alta demanda, foi imprescindível a abertura desses leitos de UTI em locais alternativos (Pereira et al., 2023).

Dessa maneira, a crise global desencadeada pela Covid-19 impôs desafios significativos à efetividade do acesso aos cuidados intensivos, pressionando o trabalho em saúde na alta complexidade. Verificaram-se diversos desdobramentos para lidar com a sobrecarga da infraestrutura de saúde, resultante do grande número de pessoas que evoluíram para quadros graves e necessitaram de atendimento intensivo (Pereira et al., 2023).

A utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) está presente de maneira quase universal em todos os artigos analisados na revisão, variando em relação à forma e à intensidade de seu emprego. O uso das TIC é justificado como uma estratégia para assegurar o distanciamento físico, considerando o alto potencial de transmissão do vírus da COVID-19 em ambientes fechados, como os serviços de saúde (Tureck et al., 2024). Houve uma considerável variação no tipo de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) adotada nos diferentes locais analisados nas investigações. A maioria dos estudos indicou o uso de chamadas telefônicas, aplicativos de mensagens por texto ou vídeo, SMS, plataformas eletrônicas para atendimento médico e redes sociais (Tureck et al., 2024). Essas tecnologias foram aplicadas tanto no atendimento quanto no monitoramento de pacientes com sintomas respiratórios e casos confirmados de COVID-19. Aplicativos de mensagens de texto ou SMS foram utilizados para o agendamento de consultas, triagem e acompanhamento de pacientes com COVID-19, bem como de indivíduos com doenças crônicas (Tureck et al., 2024).

Em diversas regiões, os aplicativos de mensagens desempenharam um papel fundamental tanto como ferramenta de comunicação individual quanto para a realização de reuniões online. Destacou-se, entre os municípios, a formação de grupos nesses aplicativos para diálogos e deliberações, favorecendo a troca ágil de informações e a rápida tomada de decisões (Meira et al., 2023).

As equipes passaram a utilizar o telemonitoramento para acompanhar casos suspeitos de COVID-19, garantindo o isolamento e monitorando sinais de agravamento dos sintomas. Inicialmente, a falta de infraestrutura e recursos nas unidades exigiu que os profissionais utilizassem seus próprios meios para realizar esse acompanhamento (Anéas et al., 2023). Apesar dos desafios estruturais e da carência de recursos para viabilizar o telemonitoramento e a teleconsulta nas UBS, a maioria dos entrevistados reconheceu a importância dessas ferramentas, defendendo sua incorporação permanente na rotina das equipes de saúde (Anéas et al., 2023).

Os relatos iniciais sobre o enfrentamento da pandemia apontam para a adoção de estratégias de monitoramento de casos suspeitos e confirmados por meio de chamadas telefônicas ou aplicativos móveis. Além disso, a implementação de ferramentas de telessaúde possibilitou a orientação da população em geral, funcionando como um mecanismo de triagem preliminar para avaliar a gravidade dos casos. Essa abordagem auxiliou na orientação dos usuários na busca por serviços de saúde, permitindo a priorização da demanda e otimizando a alocação de recursos (Freire et al., 2023).

Antes mesmo do surgimento do novo coronavírus, diversos fatores impulsionaram a expansão da telemedicina, incluindo os avanços tecnológicos nas áreas de comunicação e informação, favorecidos pelo uso crescente da internet de alta velocidade e pela ampliação dos registros em prontuários eletrônicos nos serviços de saúde. Nesse contexto, a telemedicina, também conhecida como telessaúde, apresenta diversas aplicações, como teleconsulta, telemonitoramento, telerregulação e teleorientação, entre outras. Atualmente, o termo telemedicina é frequentemente associado a conceitos como telessaúde e e-Health, embora suas distinções conceituais ainda sejam pouco precisas (Freire et al., 2023).

A adoção de novas tecnologias foi um dos legados deixados pela pandemia, representando tanto desafios quanto a introdução de um novo recurso de trabalho até então ausente (Anéas et al., 2023).

 

4 Considerações Finais

 

A pandemia de COVID-19 foi um marco desafiador para a gestão hospitalar, expondo fragilidades e impulsionando mudanças estruturais que se tornaram permanentes no setor de saúde. A necessidade de reorganizar rapidamente os serviços hospitalares, expandir leitos de terapia intensiva e gerenciar recursos escassos exigiu uma atuação ágil e estratégica dos gestores, que precisaram se adaptar constantemente às novas demandas impostas pelo cenário de crise. Além disso, a sobrecarga sem precedentes impôs desafios não apenas na ampliação da infraestrutura, mas também na adoção de tecnologias que permitissem um gerenciamento mais eficiente de pacientes e profissionais. O avanço da telemedicina e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) consolidou-se como uma das principais inovações do período, otimizando a assistência, reduzindo riscos de transmissão e ampliando o acesso equitativo aos serviços de saúde.

A crise também reforçou a importância da coordenação entre os diferentes níveis de atenção à saúde, da comunicação eficaz entre profissionais e da necessidade de políticas públicas bem estruturadas para lidar com emergências sanitárias. As lições deixadas pela pandemia evidenciaram a necessidade contínua de investimentos em infraestrutura, capacitação profissional e inovação tecnológica. Os impactos desse período vão além das dificuldades enfrentadas no auge da crise, pois moldaram a gestão hospitalar para o futuro. O fortalecimento da capacidade de resposta dos sistemas de saúde, a expansão do uso de tecnologias e a integração dos serviços são fundamentais para garantir uma assistência mais eficiente e resiliente em futuras emergências. Assim, a pandemia não apenas desafiou os modelos tradicionais de gestão hospitalar, mas também abriu caminho para um setor mais inovador, adaptável e preparado para os desafios do futuro.

 

5 Referências Bibliográficas

Mantesso, J. B. O., Oliveira, P. S., Carvalho, R. H. S. B. F., & Erazo-Chavez, L. J. (2024). Gestão hospitalar em situação de crise sanitária: O que aprendemos com a Covid-19? Contribuciones a las Ciencias Sociales, 17(9), e10368. https://doi.org/10.55905/revconv.17n.9-088 Acessado em 05 de fevereiro, 2025.

Rebello, P. D., Duarte, S. C. M., Araújo, J. L., Baixinho, C. L., Costa, A., & Silva, M. M. (2024). Análise qualitativa sobre a atuação e as experiências dos enfermeiros na gestão hospitalar frente à COVID-19. Ciência & Saúde Coletiva, 29(8). https://doi.org/10.1590/1413-81232024298.05052024. Acessado em 06 de Fevereiro, 2025.

Santos, T. B. S., Andrade, L. R., Vieira, S. L., Duarte, J. A., Martins, J. S., Rosado, L. B., Oliveira, J. S., & Pinto, I. C. M. (2021). Contingência hospitalar no enfrentamento da COVID-19 no Brasil: Problemas e alternativas governamentais. Ciência & Saúde Coletiva, 26(4), 19 de abril. https://doi.org/10.1590/1413-81232021264.43472020

Pereira, J. F. S., Oliveira, P. S., Lamy Filho, F., Alves, M. T. S. S. B., Carvalho, R. H. S. B. F., & Santos, B. B. (2023). Para além do imaginável: Experiências vividas por profissionais de saúde em UTI durante a pandemia da Covid-19. Physis, 33https://doi.org/10.1590/S0103-7331202333063


 


[1] Fisioterapeuta. Especialista em Geriatria e Gerontologia. Mestranda em Gestão de Cuidados da Saúde pela Must University. E-mail: tricia_marcela@hotmail.com

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