GESTÃO ESCOLAR: CAMINHOS COMPARTILHADOS RESULTADOS AMADURECIDOS

Lorena Lima Ribeiro

Como bem coloca Gadotti (2007) a gestão democrática constitui-se como um princípio não só de ordem pedagógica, mas sobretudo constitucional , sendo assim, baseada em dois pilares que a sustentam que é a democracia representativa e a participativa.

A gestão democrática da educação faz parte das chamadas pedagogias participativas, uma vez que configuram-se como base de sustentação do processo de ensino aprendizagem. Isso significa que a participação de forma autônoma dos atores que compõem os espaços educacionais está relacionada sobretudo à criação de espaços de deliberação coletiva.

É importantes destacar que a gestão democrática não se restringe somente a escola, uma vez que está contida em todos os sistemas de ensino, nem tão pouco encontra-se separada de uma visão de educação. Portanto, entende-se que à mesma deve ser coerente com uma concepção democrática e emancipadora de educação. Sobre isto, FREIRE(1996) destaca sobre à importância e o reconhecimento da participação popular nas tomadas de decisões, frente as necessidades que se mostram presentes. No caso do contexto escolar, destaca-se a participação dos Conselhos, Colegiados e Grêmios estudantis, os quais constituem-se em instrumentos de sustentação prática de uma gestão dita democrática.

O grande desafio existente está na implementação de diálogos permanentes que precisam ser instaurados na cultura da escola como uma prática indissociável das demais, visto seu “poder” e força de promoção de mudanças, as quais podem ser significativas nas ações coletivas da escola.

Percebe-se que mesmo havendo um olhar de preocupação acerca da necessidade de implantação de novas formas de promover a democratização da gestão escolar e portanto do ensino, ainda assim, o reconhecimento dessa importância não tem se traduzido em uma sustentação prática, pois, a gestão democrática mais parece uma transferência de responsabilidades, que acabam trazendo como consequência, discursos equivocados, evidenciando-se dessa forma a ideia de “culpabilidade” dos docentes pelo mau desempenho dos estudantes.

Entende-se que não basta somente criar estratégias de avaliar os estudantes em relação aos conhecimentos que precisam ser consolidados no decorrer de sua formação, antes de mais nada é preciso avaliar sim, o que o sistemas de ensino estão de fato construindo em termos concretos. O que está sendo oferecido ao professor no que concerne a sua formação permanente, que instrumentos são indicados e avaliados pelos sistemas de ensino como importantes a partir das necessidades colocadas pela comunidade escolar. São questões que precisam ser melhor pensadas, refletidas, antes de serem avaliadas de forma vertical, não considerando, dessa forma a realidade que se apresenta.

Acredita-se que é importante a qualificação permanente da comunidade escolar, mas para que isso se concretize é necessária a compreensão e o entendimento sobre a necessidade de formação. Para se melhorar a participação de todos na escola é preciso antes de mais nada melhorar as condições que são oferecidas pelos sistemas de ensino para quem faz a gestão democrática e compartilhada.  De acordo com ANTUNES (2002), a gestão democrática exige também um planejamento democrático, em que não se restrinja somente a unidade escolar, mas a toda a comunidade que está envolvida no processo.

O objetivo da gestão escolar democrática é otimizar as práticas existentes nos espaços escolares, aumentando a eficiência do processo de ensino e aprendizagem, possibilitando assim a desburocratização das atividades desenvolvidas.

Outra questão muito importante e que deve-se ter um olhar e escutas voltados é sobre o perfil do gestor, pensa-se na necessidade de ter habilidades em aspectos que ultrapassam as questões de cunho pedagógicas, uma vez que é preciso dar atenção a escola como um todo.

Educação não é e nem podem ser vista como um “produto” que precisa ser vendido para se obter lucro. Ela  é o resultado de ações pensadas, analisadas, construídas, refletidas que na prática serão implementadas de forma positiva na vida de toda a comunidade escolar, principalmente dos estudantes. Deve-se a partir da gestão democrática buscar resultados sim, mas sobretudo o fortalecimento das ações da comunidade escolar, destacando a qualidade do currículo, o estímulo à participação da família na vida de seus filhos, a qualificação permanente dos professores, promovendo assim a ressignificação de suas práticas a partir de sua valorização e reconhecimento enquanto profissional que contribui para a promoção e consolidação de práticas educativas efetivas.

 Não se pode falar em mudanças de pensamento, de ideias, sem contudo falar de questões estruturais, estas incidem diretamente em todo o processo de conhecer e a partir do mesmo modificar sua realidade. Como falar em estratégias eficazes de ensino com profissionais desestimulados, desvalorizados financeiramente, trabalhando em condições precárias, sem espaços apropriados, sem recursos que deveriam ser oferecidos pelos sistemas. Por outro lado, temos o estudante, em salas de aulas sem o mínimo de conforto, vivenciando em seus contextos as mais diferentes situações de vida. Mesmo que o discurso seja visto como repetitivo, ainda assim se faz necessário, afinal de contas os antigos problemas de outrora persistem.

Para a promoção de mudanças no espaço educacional com os “velhos” problemas ainda presentes é praticamente inviável á medida em que serão implantadas as inovações sem estrutura que as faça permanecer por muito tempo, pois, ao mascarar a realidade, o sistema mascara também sua incompetência e inabilidade para colocar na prática o que nem ele mesmo reconhece que é importante. Por isso, o trabalho colaborativo é visto como importante estratégia para minimização e ou resolução dos conflitos.

Á respeito do trabalho colaborativo, DAMIANI(2008) ressalta que  os chamados protocolos de gestão promovem uma diálogo mais aberto acerca das práticas da comunidade escolar, uma vez que servem de auxílio na busca por novas estratégias de trabalho, que podem proporcionar aos envolvidos resultados concretos, ações que poderão nortear os trabalhos das equipes tanto nos espaços da escola quanto nas Secretarias. Além de tudo, é fundamental que essas ações sejam compreendidas como modificáveis a partir do momento em que forem percebidas como não mais eficazes.

A flexibilidade de pensamentos e ações precisa existir á medida em que o diálogo torna-se uma prática cotidiana entre as equipes de trabalhos, sendo dessa maneira articulada às necessidades de todos, cujo objetivo maior consiste na harmonização das ações realizadas e sua efetivação através dos resultados dos estudantes no desenvolvimento de habilidades e competências observados através dos conhecimentos consolidados a cada momento de sua aprendizagem.

As questões interpessoais é um outro ponto relevante a ser destacado nessa leitura reflexiva que se faz da gestão democrática, pois, o processo de comunicação entre os envolvidos se faz necessário para a execução das atividades previstas. Gadotti (2007), aponta para a necessidade de um caminhar junto, mesmo com as diferenças de pensamento e concepções, ainda assim é possível através do compromisso e respeito ao que faz uma caminhada na mesma direção. Nesse caso, a direção é uma escola melhor para todos, onde todos possam colaborar com o que sabem fazer de melhor uns para os outros.

É preciso de certa forma considerar a complexidade existe nos espaços da escola, mas é preciso também considerar que as individualidades devem ser respeitadas e valorizadas, entendidas como importantes para a busca de melhores resultados para o processo de ensino aprendizagem dos estudantes.

A escola tem como um de seus papéis fundamentais a promoção das diferentes aprendizagens, considerando as diferenças, as condições e as possibilidade de todos, e é na formação de sujeitos independentes que a escola cumpre com seu papel de espaço de construção de pensamentos e ideias capazes de modificar realidades tornando seus estudantes protagonistas de sua própria história.

Nesse contexto, mais do que aprender a lidar com ideias, a gestão democrática da escola precisa saber lidar com as pessoas, são elas as grandes responsáveis pelas realizações as quais precisam acontecer para que todos sejam beneficiados com ações positivas e efetivas. A gestão é o coletivo da escola e com ela todos caminham fortalecendo pensamentos e concretizando ações.

 Referências

ANTUNES, Ângela. Aceita um conselho? Como organizar o colegiado escolar. São Paulo, Cortez/IPF, 2002.

DAMIANI, M. F. Entendendo o trabalho colaborativo em educação e revelando seus benefícios. Educar, nº 31. Curitiba: Editora UFPR, 2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GADOTTI, Moacir, 2007. Educar para um outro mundo possível: o Fórum Social Mundial como espaço de aprendizagem de uma nova cultura política e como processo transformador da sociedade civil planetária. São Paulo, Publisher Brasil.