GESTÃO DA SALA DE AULA: FACTOR DE PROMOÇÃO DE UM AMBIENTE DE APRENDIZAGEM SIGNIFICACTIVA 

Faustino Moma Tchipesse

Resumo: O presente artigo tem como objectivo compreender a dinâmica da gestão da sala de aula, os principais factores de promoção de um ambiente de aprendizagem significativa dos alunos e a relação vital entre professor-aluno. Os objectivos do artigo visam analisar as práticas pedagógicas dos professores na sala de aula a luz das teorias de organização e gestão escolar, reflectir as concepções de gestão que se encontram presentes em suas acções pedagógicas. Pretende-se, dessa forma, contribuir para o processo de reconstrução de referenciais teórico-metodológicos que apoiem o trabalho pedagógico do professor na sala de aula. Importa recordar a relevância do conhecimento do professor para este estudo, na medida em que o docente não atua sozinho em sala. Ele deve estabelecer uma relação com os alunos, tanto no que diz respeito ao conjunto de regras e sanções, como no que diz respeito à incentivação e motivação feita pelo professor para seu aluno ficar mobilizado e assim despertar nele o foco para uma aprendizagem significativa. Na realização do mesmo, teve se como base nos estudos de gestão e a revisão bibliográfica.

Palavras-chaves: Sala de aula. Prática pedagógica. Democracia. Aprendizagem.

1.Introdução 

A gestão participativa na escola pública e privada tem sido um dos grandes calcanhares de Aquiles, sinalizando a origem de uma nova cultura escolar. Os professores são estimulados a participar, não apenas nas actividades de sala de aula, mas também na gestão escolar, que hoje, tem sido amplamente debatido e defendido no sistema educativo angolano. Neste contexto, pretendemos reflectir profundamente sobre o sentido e o realismo da gestão participativa na sala de aula, ou seja, compreender como deve ser a actuação do professor para que a perspectiva participativa seja assegurada como um pressuposto didáctico-pedagógico.

Em razão dessas determinações, parafraseamos Fonseca & Toshi (2004, p.54), este entendem que “o que mais se destaca é a centralidade da gestão e do gestor escolar, os quais devem responsabilizar-se não apenas pelo desenvolvimento do sistema escolar, mas também pela realização dos princípios fundamentais de igualdade de oportunidades educativas e de qualidade de ensino”. Importa ressaltar a relevância da reflexão desses autores, dentre outros, e não desejamos fazer parte dos estudos que consideram o gestor ou o professor como protagonista do sucesso ou fracasso educativo, sem levar em conta as condições efectivas do trabalho pedagógico. Todavia, não podemos desconsiderar que a gestão participativa pode assumir orientações pedagógicas distintas, até mesmo antagónicas no ponto de vista da sua aplicação, que induzem as diferentes práticas e que, no campo operacional, ela não está imune a contraposições.

2. Gestão da sala de aula

  O sucesso da aula depende da interacção entre todos, além de sua capacidade de se antecipar e se prepara para imprevistos. Acções realizadas pelo professor visam estabelecer e um ambiente ordenado e atencioso, no qual os alunos procuram engajar-se mais, a fim de obter uma aprendizagem significativa. Certamente, isso fará com que, o crescimento emocional e social da turma seja estimulado.

A gestão da educação, entendida como tomada de decisão, organização, direcção e participação, acontece em todos os âmbitos da escola. Segundo Ferreira (2008, p. 08), ela se desenvolve “especificamente, na sala de aula, onde concretamente se objectiva o projecto político-pedagógico não só como desenvolvimento do planejado, mas como fonte privilegiada de novos subsídios para novas tomadas de decisões”. 

O processo eficiente da gestão da sala de aula, implica a busca de objectivos comuns pela direcção da escola, professores e demais profissionais da educação e a tomada colectiva de decisões que orienta cada um a assumir com ética e responsabilidade sua parte na execução do acordo. 

Assim, a gestão em sala de aula, passa a ser a continuidade da gestão escolar, pois, é, neste espaço onde, com a orientação do professor, passam a  ser produzidos, manifestados e experimentados comportamentos que promovem o espírito do exercício da democracia.

Por outra, nesse espaço, os sujeitos serão levados a agir de forma colectiva e comprometida com os interesses colectivos. A gestão escolar é uma espécie de modelo educacional elaborado pelas instituições de ensino. O intuito é impulsionar e coordenar diferentes dimensões das habilidades, dos talentos e, também, da dita competência educacional, aprimorando o ensino. Antes de nos aprofundarmos propriamente nas vantagens e nas funcionalidades propiciadas pela gestão escolar, é necessário conceituar o que é gestão escolar, de modo a melhor definir aquilo que a caracteriza.

Vale ressaltar que tal conceito se diferencia de “administração académica” ou administração escolar. O objectivo da gestão escolar é aplicar princípios e estratégias essenciais para ampliar a eficácia dos processos dentro da instituição e, assim, promover uma consistente melhoria do ensino ofertado aos estudantes. Ao definir a gestão como elemento prioritário em seu escopo de acções, a escola adquire a capacidade de se concentrar na promoção do crescimento, da coordenação e da organização das condições básicas para afiançar um progresso sustentável.

Na gestão da escola, a preocupação é lidar com todos os aspectos pertinentes às rotinas educacionais. Seu foco primordial é a obtenção de resultados, de empenho na execução de uma liderança exemplar, de relevância do currículo e da participação activa dos pais.

Ferro e Ferreira (2013, p.5) explicam que o professor deve criar na sala de aula “um ambiente saudável, para isso, deve propiciar condições que favoreçam a construção, a criação e a investigação altiva […] é preciso oportunizar um ambiente educativo capaz de recriar condições de um processo de investigação”.

Partindo destas perspectivas, podemos observar que o ambiente escolar, precisamente, a sala de aula da escola visitada, está ainda muito longe desta visão de estímulo, investigação e interacção. A sala de aula é também o espaço no qual, em determinado tempo, se lida com os acontecimentos de outros tempos e espaços, com as histórias de vida dos sujeitos. A interacção entre os grupos dependerá do professor, de sua forma democrática de mediar as situações, possibilitando o crescimento de todos os integrantes do grupo.

Imagem 1. Sala de aula.

 

Fonte: autor (2020).

A sala de aula é o espaço-tempo privilegiado da comunicação didáctica de relação intersubjectiva e objectiva que, supõe a presença de sujeito interagindo entre si. Todavia, o professor e o aluno possuem diferentes níveis de compreensão da realidade, e o diálogo em aula, não deve ignorar este dado, mais sim incorporá-lo como elo de relação entre ambos, assente nos pressupostos éticos. Se observarmos detalhadamente a imagem, verificaremos que existe falta de espaço entre a secretaria do professor e o quadro. Por outra, os alunos que sentam em frente e os que ficam ao lado da janela e do armário, estão impossibilitados de ver tudo o que for escrito no quadro, pois, o ângulo de visão acaba ficando comprometido.

Para Teixeira & Reis (2012, p.164) é necessário existir “flexibilidade na colocação das carteiras, armário, das mesas e no agrupamento dos alunos assume um papel muito importante quando se considera o uso do espaço na sala de aula”. Ademais, os mobiliários devem ser objectos de reorganização, de acordo com a necessidade de trabalho do professor. Desta forma, dependendo da actividade, o professor poderá reorganizar o ambiente para possibilitar o desenvolvimento desta tarefa da melhor forma possível, seja ela individual, dupla ou grupal.

Figura 1.Gestão da sala de aula

 

Fonte: Elaborado pelo autor (2020).

Na sala de aula, o professor dá continuidade ao que foi definido colectivamente, realizando um trabalho que requer tanto solidariedade em compartilhar poder e responsabilidades, quanto capacidade de decisão. Outrossim, para exercer essas funções, seja na sala de aula seja no âmbito mais amplo da instituição escolar, da organização e gestão do trabalho escolar, o professor necessita ter conhecimentos sobre esse aspecto da educação (Ferreira, 2007). É importante também ressaltar que a organização dos espaço em sala de aula dependerá da actividade que será desenvolvida, Munsberg e Felicetti (2014, p.4) explicam que:

a organização da sala de aula depende dos objectivos estabelecidos para a situação de aprendizagem. É senso comum entre professores de que a disposição das carteiras em fileiras separadas é mais adequada quando o foco deve estar na exposição, na fala do professor. […] Já a disposição em fileira duplas e em quartetos ou sextetos favorece os trabalhos em grupos e as interacções entre os alunos. […] Nos últimos anos tem tido boa aceitação, entre as instituições que tomam conhecimento da alternativa, a disposição em “U”. Esta forma de organização do espaço da sala de aula contempla as proposições das diferentes disposições, desde que em situações de aprendizagem bem planejadas e bem conduzidas pelo professor.

Precisamos clarear que, o processo de reorganização do ambiente da sala de aula não ocorre de maneira aleatória, mas sim, com um propósito pedagógico que visa a um melhor processo de ensino aprendizagem do estudante e um melhor desempenho da actividade docente. A sala de aula é um espaço onde deve-se promover o diálogo permanente. Principais responsabilidades do professor na sala de aula:

O professor deve levar o aluno a comprometer-se com a apropriação dos conhecimentos e, com isso, despertar nele a consciência de que aprender é uma acção que não se torna possível apenas pela acção do professor, mas também por sua vontade reflexiva;

O professor deve estar consciente que, ao desenvolver seu trabalho, poderá atingir o desenvolvimento intelectual, ético e moral de seus alunos, consequentemente e isso permitirá elevar a percepção crítica do aluno sobre a realidade, visto que a relação de ensino- aprendizagem com o educando, deverá favorecer a análise de valores necessários ao convívio social.

Todo exercício pedagógico implica sempre um relacionamento intencional do professor com os alunos e dos alunos com o conhecimento, de forma que as actividades de ensino-aprendizagem resultem da interacção dos sujeitos entre si e com o objecto do conhecimento. Desta forma, o trabalho realizado na sala de aula exige do professor o compromisso e a ética para com os alunos, pois só assim será possível instrumentalizá-los para uma participação efectiva e eficiente da sociedade.

3. Dimensões Pedagógicas que integram o complexo gestão da sala de aula

A organização da sala de aula para a condução do trabalho didáctico, especialmente no que se refere à relação humana e à produção de conhecimento, exige do professor, além do domínio dos conteúdos programáticos, algumas condições e atitudes mínimas, como autenticidade, cooperação, determinação, solidariedade e respeito mútuo, enfim, comportamentos considerados democráticos. Isto porque, do nosso ponto de vista, a postura do professor será um argumento capaz de convencer o educando sobre a importância da escola e do trabalho ali desenvolvido para sua vida.

Precisamos destacar que a gestão e a organização da sala de aula dependem da elaboração de regras e procedimentos colectivos, do acompanhamento e da mediação dos comportamentos. Só assim será possível que a ordem seja alcançada na sala de aula, de modo a favorecer as actividades de ensino-aprendizagem. Também a adequação do espaço, para que os alunos construam o conhecimento, requer o envolvimento de todos e depende da forma como o professor realiza a gestão da sala de aula. Portanto, a aprendizagem dos conteúdos científicos e da vivência no contexto da escola não prescinde do diálogo, mais sim, da tomada de decisão do conjunto de sujeitos envolvidos no processo.

Certamente, quando o professor planifica as suas actividades pedagógicas, ele dispõe de maiores condições para assegurar a qualidade do exercício pedagógico. A função do professor é proporcionar condições para que o conhecimento seja adquirido pelo aluno e, para isso, ele deve administrar bem o tempo e o espaço escolar (o ritmo, as intervenções, participações, os imprevistos e os obstáculos), seleccionar correctamente os objectivos e as actividades curriculares, dosar os conteúdos e construir a convivência, sem jamais excluir os alunos que criam situações de conflito, que devem ser consideradas como uma oportunidade de aprendizagem, desde que se saiba tirar proveito delas.

O fazer pedagógico na sala de aula envolve, ainda, antecipação, ou seja, a previsão do tempo para o desenvolvimento do trabalho em todas as etapas. Desta forma, todas as actividades requerem a atenção e o acompanhamento do professor, que deve organizar e sequenciar os conteúdos, prevendo o tempo para a realização das actividades.

A acção educativa se caracteriza pela intencionalidade de garantir a construção de conhecimentos geral e diversificados e, por isso, pode ser entendida como gestão. O acto de ensinar é, também, uma «acção pedagógica e administrativa» ao mesmo tempo, já que envolve planificação do processo, organização, coordenação e supervisão. O novo conceito de gestão, o professor não abdica de sua autoridade, pelo contrário, faz uso dela, de forma aberta, para que os alunos ascendam a um nível elevado de assimilação dos conhecimentos sistematizados.

Figura 2. Dimensões pedagógicas da gestão da sala de aula

 

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Apesar do esforço para que a escola se preserve como instituição importante para a sociedade, consideramos que as reflexões apresentadas ampliam o foco da abordagem que espera lidar com os problemas que os professores vivem na sala de aula. Assim, compartilhamos o mesmo ponto de vista de Pimenta. De acordo com ela:

Podemos dizer que o trabalho docente é uma práxis em que a unidade teoria se caracteriza pela acção reflexão – acção [...] Este pensar reflecte o ser humano enquanto ser histórico, ou seja, o pensar do professor é condicionado pelas possibilidades e limitações pessoais, profissionais e do contexto em que atua (Pimenta, 2007, p. 38 -44).

A gestão da sala de aula são acções realizadas pelo professor para promover um ambiente de aprendizagem significativa, em que todos os estudantes se sintam seguros e estimulados a aprender.

Uma boa gestão de sala de aula é fundamental para atingir os grandes objectivos da escola- a aprendizagem significativa, a alegria critica e o desenvolvimento humano pleno de todos os alunos. É por meio da gestão da sala de aula que o professor busca compreender as seguintes perguntas: Como está o engajamento dos alunos? Quando é que os alunos estão mais motivados? Quais são as práticas pedagógicas que tiveram os melhores resultados? Em que momento os alunos participam de forma igual em trabalhos colectivos? Qual é a melhor forma de gerir os alunos indisciplinas? O quer fazer quando os alunos lutam na sala de aula?

As respostas para estas e outras perguntas constituem a razão da existência deste artigo. Pretendemos descrever os resultados preliminares referentes a problemática apresentada. Precisamos investigar as influências positivas e negativas que a gestão da sala de aula pode exercer sobre a qualidade do ensino. Acredita-se que a compreensão dessa dimensão do trabalho educativo permitirá encontrar elementos que impulsionem o aperfeiçoamento do ensino e da aprendizagem. Justifica-se a preocupação com essa temática pela pouca produção académica angolana que se dedique aos problemas quotidianos enfrentados pelos professores, no que diz respeito à gestão as actividades em sala de aula.

A gestão da sala de aula acontece em quatro dimensões pedagógicas: conhecimento da pratica pedagógica, conhecimento dos critérios de organização dos alunos em grupo/individual, fortalecimento das relações interpessoal, o conhecimento do uso das novas tecnologias. Todavia é, necessário respeitar as diferentes dinâmicas de gestão da sala de aula, e garantir que o professor conheça as suas principais responsabilidades sociais e académicas.

5. Professor e suas principais responsabilidades

O professor subverteu profundamente o seu ambiente de sala de aula, graças as novas invenções e descobertas científicas, mas, em retorno, estas inovações modificam o professor as suas maneiras de estar, de pensar, de agir e de fazer o seu trabalho pedagógico. Instituída pela Lei de Base do Sistema de Educação e ensino (LBSEE n.º32/20 de 12 de agosto & LBSEE n.º17/16 de 07 de Outubro), defende-se que a concretização de uma gestão participativa é, um dos factores indispensáveis à realização de um ensino de qualidade e a tradução de uma escola de confiança.

 A LBSEE, em vigor abre espaço para um debate sobre a valorização do professor. Para a classe docente, a sua valorização não depende do discurso, mais sim dos salários adequados, melhores condições de trabalho, redução do número de alunos na sala de aula. Com, isso, pretendemos compreender o sentido da democracia na escola, em particular na sala de aula, e sobre o papel do professor como gestor da sala de aula, ou seja, como tem sido e como deve ser sua actuação para que a perspectiva participativa seja assegurada.

A preparação de um professor pressupõe antever os problemas a enfrentar na sala de aula. A não observação deste elemento, os efeitos irá repercutir na identidade profissional podendo ser factor de crise de identidade. A crise de identidade e a crise da profissão docente apresenta uma relação muito estreita, com limites muito ténues entre os aspectos que as caracterizam. 

Hoje, é possível perceber que o professor demonstra estar confuso em muitos aspectos, pois, em muitos momentos surgem profissionais com a profissionalidade abalada, mal definida, em conflito com uma auto-imagem pouco expressiva e desvalorizada pela sociedade. Cabe recordar a relevância dos saberes docentes para este estudo na medida em que o professor não atua sozinho em sala. Santos Cunha (200, p.7)  apud Tchipesse  (2020 b, p. 134) diz que «o  acto de ensinar requer muitas habilidades, dentre elas, a de se conseguir controlar os alunos na sala de aula».   Ser professor é ter:

 Responsabilidade de desenvolver seu fazer pedagógico reconstruindo continuamente suas acções[…]. É ter capacidade de reforçar a decisão de aprender dos jovens e de estimular o seu desejo de saber, o que implica desenvolver as suas competências de aprenderem a pensar, a fazer, a ser, a conhecer e a conviver: é ser capaz de ensinar […] aprender com os alunos a pensar, a organizar, a experimentar e a trabalhar cooperativamente. Toda profissão afirma uma identidade, identidade profissional do professor é uma maneira de ser professor. Ferreira & Silva (2011, p.25) apud Tchipesse (2020b, p.172)

Isso significa que o professor, deve estabelecer uma relação vital entre alunos, família-escola, tanto no que diz respeito ao conjunto de regras e sanções, como no que diz respeito à incentivação e motivação feita para que seu aluno esteja mobilizado para a aprendizagem efectiva. “Ensinar é entrar em uma sala de aula e colocar-se diante de um grupo de alunos, esforçando-se para estabelecer relações e desencadear com eles um processo de formação mediado por uma grande variedade de interacções. (Tardif, 2002, p.165)”.Esta prática se torna significativa com a compreensão do conceito (saber docente).

Saber docente é um constructo social, pois ela consiste na actividade docente e na interacção permanente com outros indivíduos. O professor é o profissional que ao longo de sua formação desenvolve diferentes saberes. Precisamos dar uma nota á classe docente pelo seguinte: antes de ser professor, ele foi aluno e experimentou diferentes formas de se relacionar com o saber e as diferentes formas de ensinar de seus professores.

Nesse sentido, os saberes são mobilizados e utilizados pelo professor em sua actividade diária, tanto no espaço de sala de aula como em outros espaços da escola, são influenciados pelas relações do professor com estes saberes, por seus valores, pela relação com a turma e com outros pares que, mediadas pela sua actuação profissional, fornecem princípios práticos de actuação e solução para situações da comunidade escolar.

Depois de uma incursão reflexiva sobre o papel do professor na sala de aula, acredito que estamos em condições de reaver o conceito de Tardif. Este entende que “ensinar é, fazer escolhas constantemente em plena interacção com os alunos. Ora, essas escolhas dependem da experiência dos professores, de seus conhecimentos, convicções e crenças, de seu compromisso com o que fazem de suas representações a respeito dos alunos e, evidentemente, dos próprios alunos”. (Tardif, 2002, p.132).

Assim, os saberes experienciais ou saberes práticos do professor vão sendo construídos por diversos saberes originados nos diferentes contextos das instituições em que o professor actuou, e dos contactos com seus pares durante sua trajectória profissional.

Figura 3. Desafios do professor: sua postura apreciativa

 

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Além dos desafios elencados, o professor também precisa lidar com a imprevisibilidade das situações geradas em sala de aula, fazendo uso do saber pedagógico construído, para enfrentrá-las. As situações no relacionamento com seus alunos, ou mesmo entre eles, podem comprometer o ambiente ou o empenho colectivo no processo de ensino-aprendizagem. Frequentemente o professor precisa agir no calor da situação mobilizando todos os seus saberes construídos e acumulados de forma a resolver cada situação. 

O saber pedagógico que o professor vai construindo e adquirindo durante a sua prática profissional, é o próprio núcleo de sua competência profissional e a fonte de suas disposições para agir. Segundo (Tardif, 2002, p.54):

[...] os saberes experienciais surgem como núcleo vital do saber docente, núcleo a partir do qual os professores tentam transformar suas relações de exterioridade com os saberes em relações de interioridade com sua própria prática. Neste sentido, os saberes experienciais não são saberes como os demais; são, ao contrário, formados de todos os demais, mas retraduzidos, “polidos” e submetidos às certezas construídas na prática e na experiência.

Ser professor hoje é uma tarefa bem difícil, mas, prazerosa, pois ele precisa se dedicar muito, aos estudos, à pesquisa, ao seu desenvolvimento profissional e aos alunos. O bom professor deve apresentar as seguintes características: ser gentil; não gritar; se preocupa com os alunos; é divertido; ensina bem; é exigente consigo mesmo e com os alunos; briga, mas com motivos e toma decisões justas.

Para Tardif (2002, p.38-39) “os professores desenvolvem saberes específicos, durante o exercício de sua prática e baseado em seu trabalho quotidiano e no conhecimento do seu meio. Esses saberes surgem da experiência e são incorporados à experiência individual e colectiva sob a forma de hábitos e de habilidades de saber-fazer e de saber ser.” 

Indisciplina dos alunos na sala de aula: uma resposta da má aplicação dos princípios de gestão 

No quotidiano escolar são comuns as situações de conflito envolvendo professores e alunos. Turbulência e agitação motora, dispersão, crises emocionais, desentendimentos entre alunos e destes com o professor, preenchem a lista dos problemas vividos no ambiente escolar. Entende-se que ser professor, é saber viver, conviver, respeitar o aluno e aprender com ele. É um compromisso consigo mesmo. Este exercício impõe generosidade, responsabilidade, e comprometimento social. No ambiente escolar é, comum registar dinâmicas conflituais que, com frequência, deixará a todos desamparados e sem saber o que fazer. Entre estes temos a irritação, raiva, desespero e medo. São considerados manifestações, e tem promovido do meio social crise relacional. 

É importante destacar a necessidade do professor trazer ao debate os princípios da dimensão ética na aula, pois é nela que a acção pedagógica é orientada, ela busca o princípio do respeito, da justiça, da benevolência, da caridade, da solidariedade que são promotores do diálogo. De acordo com Rios (2001) apud Tchipesse (2019, p.50) a dimensão ética do professor na sala de aula articula-se com:

Uma dimensão técnica, que diz respeito ao domínio dos saberes (conteúdos e técnicas) necessários para a intervenção em sua área e à habilidade de construí-los e reconstruí-los com os alunos;

Uma dimensão estética, que diz respeito à presença da sensibilidade na relação pedagógica e sua orientação numa perspectiva criadora;

c)   Uma dimensão política, que diz respeito à participação na construção colectiva da sociedade e ao exercício de direitos e deveres. 

Na sala de aula ocorrem mudanças importantes, tanto no perfil dos alunos, quanto no universo da escola, sendo precioso um diálogo diferente para ensinar alunos diferentes. É fundamental, ressaltar que as escolas não precisam somente de um currículo novo, mas de novas formas de conquistar a atenção dos alunos para o que está no currículo. O professor precisa ter ideias claras sobre como gerir as actividades, dentro e fora da sala de aula? 

A sala de aula enquanto espaço de comunicação didáctica, deve apresentar um projecto político pedagógico com as seguintes finalidades: a) Escola deve honrar o seu passado, manter viva a sua identidade e projectar-se no futuro como uma escola dinâmica, criativa e aberta à inovação; b) escola deve cultivar, promover e ensinar a valorizar o conhecimento, o estudo, a disciplina e a investigação; c) a escola deve promover uma educação para a cidadania ensinando os valores de liberdade, responsabilidade, cooperação, lealdade, respeito, autonomia, justiça, equidade e solidariedade.

Imagem 4. A sala de aula e o pátio escolar: espaço/tempo da comunicação didáctica

 

Fonte: Arquivos do Liceu nº 6075 km 44 (Município do Icolo e Bengo, 2019)

Embora os professores precisem buscar construir o espaço necessário ao desenvolvimento de seu trabalho, não compete só a eles forjar essas condições. Não podemos simplesmente culpar o professor, que já tem sido penalizado pela situação em que se encontra a educação. As práticas docentes, para serem transformadoras, precisam do respaldo de políticas educacionais comprometidas com o conjunto da sociedade, da qual professores e alunos fazem parte.

A concretização de uma escola pública democrática, como factor indispensável à realização de um ensino de qualidade, exige condições de trabalho para os professores. A valorização do professor compreende salários adequados (desafio), menor número de alunos na sala de aula (contexto), remuneração das horas dedicadas ao acompanhamento e recuperação dos alunos em desfasagem de conteúdos (perspectiva), maior apoio da direcção (realidade), acompanhamento do trabalho pela equipe pedagógica e maior integração família e escola (tendência).

Apesar do esforço para que a escola se preserve como instituição importante para a sociedade, consideramos que os resultados verificados correspondem às condições que foram oportunizadas aos professores. A postura apreciativa facilitou o olhar inclusivo dos professores do Liceu nº6075 km 44.

Entendimento dos professores do Liceu nº 6075 abre porta para a construção de vínculos com gestão eficiente da sala de aula. O que eles dizem sobre a sala de aula?

Lugar para manter e desenvolver um ambiente de trabalho seguro, calmo, agradável, acolhedor, onde os alunos se sintam bem e onde dê prazer estar, trabalhar, aprender e crescer;

Espaço para contribuir com o desenvolvimento pessoal, social e humano dos seus alunos e dos restantes sujeitos da comunidade educativa;

Local para desenvolver a comunicação e a cooperação entre os alunos, comunidade educativa e da escola com o exterior. Desenvolver a capacidade de argumentação e autonomia dos alunos, no sentido de se tornarem capazes de intervenções de cidadania. 

O professor deve tornar a sala de aula mais dinâmica, mais criativa e aberta à inovação. Deve promover a diferenciação pedagógica e, por meio da prática de ensino desenvolver a autonomia do aluno. É preciso não perder de vista que “é na escola e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão. O professor é um ser conformado que existe com outros seres na totalidade […] é aquele que tem a responsabilidade de conquistar a confiança dos alunos, pais e encarregados de educação” (Enoque, 2013 p.97). Assim, compartilhamos o mesmo ponto de vista de Pimenta. Este defende que:

podemos dizer que o trabalho docente é uma práxis em que a unidade teoria se caracteriza pela acção reflexão – acção [...] Este pensar reflecte o ser humano enquanto ser histórico, ou seja, o pensar do professor é condicionado pelas possibilidades e limitações pessoais, profissionais e do contexto em que atua (Pimenta, 2007, p. 38 - 44).

Apesar dos limites e dificuldades, as mudanças educativas dependem dos múltiplos factores que atuam de forma sistemática. No entanto, vale lembrar que «reconhecer o carácter sistemático» não significa que seja necessário ou possível modificar tudo ao mesmo tempo. Significa antes que, em determinado momento, é preciso responsabilizar-nos pelas consequências da modificação de um elemento específico sobre os restantes factores.

O trabalho pedagógico não é a simples ocupação do tempo em uma actividade qualquer, mesmo cansativa, mas a dedicação à missão com todas as capacidades e a tempo pleno, «é um meio de santidade». O professor deve entregar-se à missão com perspicácia, mansidão, bondade e prudência, capacidade aconselhar e corrigir, vigiar e acolher, optimismo e dignidade, entusiasmo e imparcialidade, severidade e vitalidade, simpatia e amorovolezza. Para D.Bosco (1877) apud  Favoro (2014, p.64)  o educador “é uma pessoa que consagra-se ou doa-se ao bem dos jovens/alunos, por isso deve estar pronto a enfrentar toda dificuldade, todo trabalho para conseguir o seu fim”. Para isso, deve «fazer-se amar se quiser fazer-se respeitar». Mais, os alunos não só sejam amados, mas saibam, vejam que são amados. É importante desenvolver uma personalidade que reconheça o potencial de aprendizagem dos estudantes, certamente isso vai elevar a sua dimensão ética, cultural. Por meio da operosidade incansável, o professor aprenderá com os alunos a fazer bem todas as coisas com simplicidade e medida.

6. Considerações Finais 

Depois de uma incursão pedagógica, podemos concluir que a gestão participativa, ao mesmo tempo em que reflecte a oposição ao centralismo e ao autoritarismo, traz novos enfoques para a organização e gestão do trabalho escolar e pedagógico.

É mister ainda salientar que para construirmos uma gestão verdadeiramente participativa faz-se necessário, do ponto de vista da organização e gestão do trabalho escolar, não só nos envolvermos na discussão, no diálogo, na tomada de decisões e nas acções colectivas, mas também analisarmos os principais interesses do colectivo. A prática pedagógica deste tipo de gestão, encontra apoio na linha de base de aplicação da pedagogia preventiva de Dom Bosco «charitas benigna este, patiens; omnia sperat, omnia sustinet». Vale ressaltar que, toda acção do professor deve ter como princípio basilar a «caridade», pois ela é, “benigna e paciente, tudo sofre, mas espera tudo e suporta qualquer incómodo” tal como defende Dom Bosco nos seus escritos. Outrossim, as diferentes concepções de organização e gestão do trabalho pedagógico, abrem espaço para criar oportunidades de transmissão e apropriação dos conhecimentos historicamente produzidos pelos teóricos. Todavia, é necessário que os profissionais da educação tenham clareza dos objectivos da educação e das finalidades que deverão direccionar o seu trabalho didáctico-pedagógico.

A gestão participativa, abarca aspectos muito diferentes e a sua realização não depende apenas da escola e dos professores, mais sim, de todos agentes educativos. Apesar dos professores precisarem buscar construir o espaço necessário ao desenvolvimento de seu trabalho, não compete só a eles forjar essas condições. Isso significa que não podemos culpar os professores, pois estes já, têm sido penalizados pela situação em que se encontra a educação.

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