O primeiro caso de suicídio registrado nas fontes históricas foi o de Abimeleque, em 1367 A.C, na Palestina. Registrado no velho testamento bíblico Juízes 9-50.57. Obviamente, este não foi o primeiro suicídio cometido, mas é o primeiro que foi registrado e teve sua veracidade confirmada por pesquisadores.

Ao longo da história, a humanidade passou por fases de altos índices de suicídios. As piores foram:

- Êxodo hebreu no Egito 1279 A.C;

            Fase pelo qual os hebreus, que eram escravizados a mais de 400 anos fugiram do Egito e passaram aproximadamente 60 anos no Deserto.

- Período das invasões Bárbaras e Germânicas no império Romano IV D.C;

            Período marcado por atrocidades dos povos germânicos. As pessoas que pertenciam às cidades de domínio romano preferiam cometer suicídio ao ter que se submeter à tirania e violência dos países vizinhos.

- Média Tempestuas;

            Período marcado pela inquisição da igreja-peste negra-Gripe espanhola-mortes em praça pública. Este período foi tão sombrio que é conhecido popularmente como Idade das Trevas.

- Primeira Guerra Mundial

            ...Foi especificamente na Armênia, que era aliada do império Otomano, e por um erro de estratégia, foi massacrada pelos Italianos e Soviéticos. O motivo não era a perda da guerra, e sim por uma questão étnica muito antiga que envolve os Armênios e Italianos

- Final da Segunda Guerra Mundial

            ... Durante os períodos de derrota, nazistas preferiam a morte do que ter que ver a queda da raça Ariana.

Estes são alguns (poucos) momentos que tivemos altos registros de suicídio. Atualmente, ainda vivemos em períodos de guerras, de racismo, de fome, desastres ambientais, no entanto, os registros de suicídio caíram muito se compararmos com os mesmo problemas no século passado. Entende-se que a sociedade evoluiu e aprendeu a lidar com essas situações extremas. Paralelo a isso, temos uma nova variável: O aumento gradativo do suicídio no século XXI devido a problemas particulares, e não globais como nos séculos passados. Antes, quando havia uma alta nos índices de suicídio, eram suicídios coletivos, por razão de guerra, de resistência ou como forma de protesto. Nos dias atuais, podemos analisar que os altos índices de suicídio se dão devido: Violência doméstica, deslocamento social, violência sexual, fracasso profissional, fracasso acadêmico e violência sistêmica. Vamos separar alguns casos.

A Índia e a China são os dois países mais populosos do mundo e que lideram o Ranking de suicídio. Mas por que?

            - Na índia, 40,8% das mortes são suicídio. O número é assustador quando entramos a fundo nos dados e analisamos questões de gênero. 39,7% dos suicidas são mulheres. 25,2% são pro causa de violência sexual e 14,6 são por violência doméstica seguido de violência sexual.

            - Na China, 37,1% das mortes são suicídios. Em gênero, 30% são do sexo masculino. Homens entre 25 a 48 anos. O motivo? Péssimas condições de trabalho. Na China, o trabalho é praticamente escravo.

            - O Japão também está na lista. 18,5% das mortes são suicídios. A causa? O trabalho. Mas no Japão, a economia é praticamente administrativa. As pessoas trabalham 8 horas em um escritório e costumam levar trabalho pra casa.

            Consegue perceber a distinção dos casos? O suicídio deve ser estudado por médicos da mente ou por sociólogos? É uma questão de saúde ou de sociedade? O certo é que não podemos separar a questão da saúde e da sociedade. A psicologia e a sociologia devem trabalhar juntas, afinal, em cada país é uma situação diferente.

            O Brasil é o 8° país no Ranking de suicídio. A taxa é de 6,8%. A cada 2130 pessoas que cometem suicídio, 89 é no Brasil. Geograficamente, a região do Brasil que mais tem casos de suicídio é o Norte do Brasil. Em especial a população indígena. Se olharmos o estado que mais tem casos de suicídios, o Rio Grande do Sul lidera o Ranking nacional e continental. O motivo? Existe uma divisão econômica no Rio Grande do Sul que é conhecida como Metade-Sul. O Norte do RS foi colonizado por Italianos, Alemães, Russos e Poloneses. O Sul do RS, há 200 anos fazia parte do atual Uruguai, conquistou sua independência e se tornou a região da Cisplatina, mais tarde este pequeno país se anexou ao Brasil ganhando o nome de Rio Grande do Sul. Depois de sancionada a Lei Áurea, que colocava fim no regime escravista no Brasil, o Rio Grande do Sul continuou escravizando os Negros e os Indígenas, com o objetivo de reduzir a população negra e indígena no estado (pesquise sobre a traição de porongos). O Rio Grande do Sul foi o primeiro estado brasileiro a receber os imigrantes europeus, e isso era parte do plano de embranquecer o Brasil. Com o passar dos anos, os índios e negros foram perdendo suas terras e foram jogados para o lado Sul da Metade-Sul do RS, que é a região mais pobre do estado, enquanto o lado Norte da Metade-Sul é uma região extremamente desenvolvida e conhecida carinhosamente com a Europa-Brasileira. Essa situação histórica de segregação, que gerou pobreza, que gerou fome, que gerou violência, que gerou profundos problemas sociais, que gerou problemas de saúde mental e que 200 anos depois faz com que a população negra e indígena do Rio Grande do Sul (que é extremamente segregada no estado e desconhecida para o resto do Brasil) cria-se uma crise de identidade e consecutivamente gerassem altos índices de suicídio.

            Como estudioso da área das relações sociais no meio e dos dados estatísticos que a geografia coloca a minha disposição, concluo que o suicídio varia geograficamente. Em uma região é a violência, em outra é o trabalho, em outra é uma situação histórica. Voltando meu estudo ao presente estado do Rio Grande do Sul, concluo que o Rio Grande do Sul ainda vive por uma fase de embranquecimento da população. Afinal, por que um estado rico como o Rio Grande do Sul não investe para melhorar a situação socioeconômica da Metade-Sul? Por que, em pleno 2015 o Norte do RS é 100% alfabetizado enquanto 86% da população do Sul do RS se quer tem acesso à escola?

            Os casos de suicídios no Rio Grande do Sul, podem ser classificados como uma situação social premeditada. Parafraseando o geógrafo brasileiro Milton Santos “os casos de suicídio no Rio Grande do Sul, não são como uma doença que surge devido a falta de cuidados. O suicídio no Rio Grande do Sul é um projeto racista de redução da sociedade.”

 

 

 

Referências bibliográficas

Geografia das cidades, SANTOS, Milton. 1987. Editora USP.

2016, BBC News. JOAQUIN, Hernesto. Pg. 13-14-15

Periódicos CAPES, 2016

Ministério da Saúde (Portal)

Organização Mundial da Saúde (Portal)