GEOGRAFIA FLUMINENSE

Por MARCIO LUIS FERNANDES | 02/03/2020 | Geografia

INTRODUÇÃO

O estado do Rio de Janeiro possui uma geografia vibrante e dinâmica, principalmente em seu núcleo metropolitano – a cidade do Rio de Janeiro. Este dinamismo se deve, entre outras coisas, à posição de destaque do Rio de Janeiro ao longo da história política e econômica do Brasil. O objetivo deste trabalho é abordar as principais características da geografia fluminense, enfatizando suas especificidades regionais e suas distintas geografias pretéritas.

1 – ESTADO DO RIO DE JANEIRO: CARACTERÍSTICAS GERAIS

Neste primeiro tópico, abordaremos as principais características da geografia fluminense, a começar por seu contexto geográfico pretérito.

1.1 – As geografias de outrora – Em razão do rentável comércio do Pau-Brasil, o litoral fluminense atraiu colonizadores portugueses e franceses no século XVI. Em 1555, chegou à Baía de Guanabara uma esquadra comandada pelo francês Villegaignon, que fundou a França Antártica – um núcleo francês no Rio de Janeiro. Derrotados pelos portugueses liderados por Estácio de Sá, os franceses foram definitivamente expulsos em 1560. A vitória dos portugueses sobre os franceses marcou a origem da cidade do Rio de Janeiro, fundada em 1º de março de 1565.

1.2 – Povoamento – O processo de povoamento do estado do Rio de Janeiro ocorreu por meio de caminhos singulares: os caminhos do ouro que ligaram o estado fluminense a Minas Gerais; os caminhos do café no vale do rio Paraíba do Sul; os caminhos do açúcar do norte fluminense, entre outros caminhos. Resumindo, podemos dizer que – em seu processo de povoamento – o estado do Rio de Janeiro foi influenciado por quatro dos grandes ciclos econômicos brasileiros quais sejam o ciclo do Pau-Brasil (ainda no século XVI), o ciclo do açúcar (entre os séculos XVI e XVIII), o ciclo do ouro (entre os séculos XVII e XVIII) e o ciclo do café (entre os séculos XVIII e XIX).

1.3 – População – Com 17.200.000 habitantes, o Rio de Janeiro é o terceiro estado mais populoso do Brasil, depois de São Paulo e Minas Gerais. Vale salientar que 39% dos fluminenses (quase 7 milhões de pessoas) vivem na cidade do Rio de Janeiro.

1.4 – Área – Com uma área de 43.780.172 Km², o Rio de Janeiro é o terceiro menor estado brasileiro, ficando atrás apenas de Sergipe e Alagoas.

1.5 – Localização – O Rio de Janeiro, uma das 27 unidades federativas do Brasil, situa-se no Centro-Sul, mais especificamente na Região Sudeste do país, tendo como limites os estados de Minas Gerais (norte e noroeste), Espírito Santo (nordeste) e São Paulo (sudoeste), além do Oceano Atlântico (leste e sul).

1.6 – Organização político-administrativa – O estado do Rio de Janeiro é dividido em 92 municípios. Um deles é o município do Rio de Janeiro, a capital do estado fluminense.

1.7 – Vegetação - Na época do descobrimento do Brasil a Floresta tropical, chamada Mata Atlântica, cobria 97% do estado do Rio de Janeiro. De lá para cá a cobertura vegetal sofreu grandes modificações e as matas costeiras foram sendo devastadas, inicialmente pela extração de Pau-Brasil e depois para o fornecimento de material de construção e para intensa exploração agrícola. Das primeiras décadas do século XVII até o início do século XIX, a lavoura de cana-de-açúcar dominava a baixada fluminense em todo o contorno da baía de Guanabara até Araruama (FERNANDES, 2006). Hodiernamente, restam apenas 30% da cobertura vegetal original, principalmente nas elevações e nas áreas protegidas (SILVA, 2018).

1.8 – Clima – Por sua localização latitudinal, dentro da região intertropical, o clima fluminense é tropical – predominantemente quente e úmido. No entanto, dentro do Estado do Rio de Janeiro, a temperatura e a distribuição das chuvas pelos meses do ano variam, principalmente, de acordo com o relevo e com a proximidade do mar. Quanto maior for a altitude, mais baixa é a temperatura. Quanto mais perto do mar, mais amena será a temperatura. Desta forma, percebemos dentro do território fluminense, a predominância de três variantes climáticas: o clima Tropical Semiúmido (no interior do estado), o clima Tropical de Altitude (na região Serrana e em outras áreas elevadas) e o clima Tropical Úmido (ao longo do litoral).

1.9 – Relevo – O relevo do Estado do Rio de Janeiro apresenta escarpas, mares de morros, colinas, vales e uma extensa área de planalto que ocorre na região oeste do território. O ponto mais elevado do estado é o Pico das Agulhas Negras. Com 2.787 metros de altitude, a citada elevação compõe a Serra Mantiqueira (cadeia montanhosa que se estende por três estados do Brasil: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro). No estado é possível encontrar duas unidades de relevo distintas: a Baixada Fluminense (planície localizada na Região Metropolitana) e o Planalto Fluminense – localizado no interior do estado, na Região centro-sul. (FREITAS, 2020).

1.10 – Economia – O Rio de Janeiro possui o terceiro maior PIB (produto interno bruto) entre os estados brasileiros, ficando atrás de São Paulo e Minas Gerais. A economia do Rio de Janeiro tem como principal atividade econômica o setor industrial de onde 46% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado é proveniente. Apenas 0,7% do PIB do Rio de Janeiro é oriundo da agricultura. O comércio, o turismo e os demais serviços são responsáveis por 53,3% da economia estadual. A economia do estado gira em torno da extração do petróleo na Bacia de Campos (principal fonte de petróleo do país) e do setor de serviços, especialmente o setor de turismo. A capital Rio de Janeiro é um dos principais destinos turísticos no país e muitas cidades do litoral são famosas pelas suas praias, como Cabo Frio, Arraial do Cabo, Búzios e Saquarema. Além disso, o estado também possui cidades de grande valor histórico-arquitetônico, como Parati e Vassouras, que preservam muitas casas das épocas dos ciclos do ouro (século XVIII) e do café (século XIX), respectivamente. As regiões de serra (a chamada serra Fluminense) também têm grande frequência turística, especialmente nos meses de inverno. No mais, a capital fluminense abriga as sedes de importantes empresas brasileiras como a Petrobras, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, a Vale e a Rede Globo.

 

2 – OS DIFERENTES ESTATUTOS JURÍDICOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Nenhuma outra unidade federativa brasileira passou em sua história por tantos estatutos jurídicos, sobretudo em seu núcleo – a cidade do rio de janeiro – como o estado fluminense. A seguir, demonstraremos – de uma forma resumida – os diferentes estatutos jurídicos assumidos polo Rio de Janeiro, desde o início da colonização (em 1543), até o processo de fusão em 1975.

2.1 – 1543 – Início das Capitanias Hereditárias. O atual estado do Rio de Janeiro correspondia às capitanias de São Vicente (sul do estado), São Tomé (norte do estado) e Real (que correspondia ao atual núcleo metropolitano).

2.2 – 1565 – Depois de longas batalhas contra os franceses pelo domínio do território carioca, o português Estácio de Sá, finalmente, expulsa os gálicos e funda a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro no alto do Morro Cara de Cão no dia 1º de março de 1565.

2.3 – 1567 – Dois anos após a fundação da cidade do Rio de Janeiro, o seu sítio urbano é transferido para o alto do Morro do Castelo devido ao rápido adensamento populacional da área onde a cidade foi inaugurada.

2.4 – 1763 – transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro. Neste ano, a cidade do Rio é elevada à condição de capital do vice reinado português. Neste contexto, a cidade do Rio de Janeiro só ficava atrás de Lisboa na hierarquia das cidades responsáveis pela administração do vasto império colonial português espalhado pelo mundo (Europa, África, América e Ásia).

2.5 – 1808 – Por ter ficado do lado dos ingleses na guerra dos britânicos contra a França de Napoleão Bonaparte, Portugal foi invadido pelas tropas napoleônicas. Com isso, toda a corte portuguesa foge para o Brasil, aportando no Rio de Janeiro em 1808. Com a chegada da família real portuguesa, a cidade do Rio é elevada à capital do império português.

2.6 – 1815 – Criação da Província do Rio de Janeiro. Assim, o território que hoje representa o Estado do Rio de Janeiro passa a constituir a Província Fluminense.

2.7 – 1834 – Após a independência do Brasil – proclamada no dia 7 de setembro de 1822 – foi criado o município neutro onde hoje é a cidade do Rio, em 1834. Neste contexto, há a separação entre a cidade do Rio e a Província Fluminense de outrora. Assim, a cidade do Rio de Janeiro é elevada à condição de capital do império brasileiro.

2.8 – 1835 – Um ano após o divórcio entre a cidade do Rio de Janeiro e a Província Fluminense de então, a cidade de Niterói é elevada à condição de capital da Província do Rio de Janeiro.

2.9 – 1889 – Com a Proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil (República Velha), no dia 15 de novembro de 1889, a cidade do Rio – que até então era o Município Neutro – torna-se Distrito Federal. Com a mudança do regime monárquico para o governo republicano, o estatuto jurídico do país se modifica e a Província Fluminense se converte no antigo estado do Rio de Janeiro (sem o núcleo metropolitano atual).

2.10 – 1960 – Com a transferência da capital do país do Rio de Janeiro para Brasília, a metrópole carioca perde a sua capitalidade (LESSA, 2001). Neste ano é criado o antigo estado da Guanabara onde hodiernamente é o município do Rio.

2.11 – 1975 – Fusão entre os antigos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara e criação do novo estado do Rio de Janeiro, cuja capital volta a ser o núcleo metropolitano após 141 anos de separação entre o estado fluminense e a cidade carioca. Niterói perde a sua capitalidade e volta a ser apenas um dos 92 municípios do novo estado do Rio de Janeiro.

 

3 – AS REGIÕES DE GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O estado do Rio de Janeiro é composto por oito regiões de governo: Região das Baixadas Litorâneas, Região Centro-Sul Fluminense, Região da Costa Verde, Região do Médio Vale do Paraíba Fluminense, Região Metropolitana Fluminense, Região Noroeste Fluminense, Região Norte Fluminense e Região Serrana Fluminense. Neste terceiro e último tópico deste trabalho, sintetizaremos as potencialidades e características de cada uma das oito regiões fluminenses.

3.1 – Região das Baixadas Litorâneas – Mais conhecida como Região dos Lagos, é composta por doze municípios: Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio Bonito, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia, Saquarema e Silva Jardim. Tendo Cabo Frio como município âncora, destaca-se na região a atividade turística-veraneio e a produção de sal.

3.2 – Região Centro-Sul Fluminense – Formada por dez municípios (Três Rios, Areal, Comendador Levy Gasparian, Paraíba do Sul, Sapucaia, Vassouras, Paty do Alferes, Mendes, Miguel pereira e Engenheiro Paulo de Frontin), a Região Centro-Sul Fluminense localiza-se na área central do estado, onde se destaca o vala do Rio Paraíba do Sul. Comparando-se a outras regiões do estado, o Centro-Sul é uma das mais pobres e menos dinâmica economicamente.

 

3.3 – Região da Costa Verde – Situada no litoral sul do estado do Rio de Janeiro, é composta por três municípios: Paraty, Angra dos Reis e Mangaratiba. Nesta região encontra-se o único complexo termonuclear do país formado pelas usinas atômicas de Angra 1, Angra 2 e Angra 3. Além da geração energética, a Região da Costa verde se destaca pela atividade turística e pelas atividades naval e portuárias atreladas aos estaleiros e ao porto de Sepetiba.

3.4 – Região do Médio Vale do Paraíba Fluminense – Constituída por 12 municípios (Volta redonda, Barra Mansa, Piraí, Itatiaia, Porto Real, Resende, Quatis, Rio Claro, Pinheiral, Barra do Piraí, Valença e Rio das Flores), a Região do Médio Vale do Paraíba fluminense destaca-se pela atividade industrial (principalmente em Volta redonda – município onde se localiza a CSN) e em menor grau pelo turismo (principalmente em Itatiaia).

3.5 – Região Metropolitana Fluminense – Composta por 19 municípios (Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Magé, Maricá, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Mesquita, Paracambi, Queimados, São Gonçalo, São João de Meriti, Seropédica e Tanguá), o Grande Rio é a região mais rica e dinâmica do estado. A principal característica desta região, portanto, é a concentração – tanto do ponto de vista demográfico quanto econômico – principalmente na capital do estado – a cidade do Rio de Janeiro.

3.6 – Região Noroeste Fluminense – Formada por treze municípios (Bom Jesus do Itabapoana, Italva, Itaperuna, Lage do Muriaé, Natividade, Porciúncula, Varre-Sai, Aperibé, Cambuci, Itaocara, Miracema, Santo Antônio de Pádua e São José de Ubá), a Região Noroeste fluminense se destaca por sua agropecuária diversificada: frutas (projeto frutificar), pecuária leiteira (Leite Glória, Leite Parmalat...) entre outros produtos do campo.

3.7 – Região Norte Fluminense – Constituída por nove municípios (Campos dos Goytacazes, São Fidélis, Cardoso Moreira, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra, Quissamã, Carapebus, Conceição de Macabú e Macaé), trata-se de uma tradicional região açucareira onde hoje se destaca a atividade petrolífera. Por meio da Petrobrás, aproximadamente 70% de todo o petróleo produzido no Brasil é extraído das grandes reservas petrolíferas localizadas na plataforma continental dos municípios de Campos dos Goytacazes e Macaé.

3.8 – Região Serrana Fluminense – Constituída por 14 municípios (Bom Jardim, Cantagalo, Carmo, Cordeiro, Duas Barras, Macuco, Nova Friburgo, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto, São Sebastião do Alto, Santa Maria Madalena, Sumidouro, Teresópolis e Trajano de Moraes), esta região apresenta altos índices de desenvolvimento econômico no que tange a produção agrícola, industrial e de serviços – principalmente em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo.

 

CONCLUSÃO

O estado do Rio de Janeiro é marcado por uma grande desigualdade (econômica, demográfica, política, social...) entre o seu núcleo metropolitano – a cidade do Rio de Janeiro – e o seu interior. Para entender a causa de tamanha discrepância, é necessário analisar o passado do estado fluminense onde se vê uma separação entre o interior e a capital por mais de 140 anos (de 1834 a 1975). Por isso, nesta síntese sobre a geografia fluminense, procuramos – além de destacar as características gerais do estado do Rio de Janeiro – abordar sua história política no intuito de entender a dinâmica espacial das distintas regiões do estado.

 

REFERÊNCIAS

FERNANDES, Marcio Luis. A Valorização do “Espaço” produzindo a valoração do “Lugar:” O caso de Ilha de Guaratiba – R.J. 2006. 56 f. Monografia (Especialização em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

FREITAS, Eduardo de. "Aspectos naturais do Estado do Rio de Janeiro "; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/aspectos-naturais-estado-rio-janeiro.htm. Acesso em 24 de fevereiro de 2020.

LESSA, Carlos. O Rio de Todos os Brasis: Uma Reflexão em Busca de Auto-Estima. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. 478 p.

RIBEIRO, Miguel Ângelo Campos. Geografia do estado do Rio de Janeiro. Gramma: Rio de Janeiro, 2011.

SILVA, Renato Cândido da. Vegetação do estado do rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://www.infoescola.com/geografia/vegetacao-do-rio-de-janeiro/. Acesso em 24/02/2020.

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