INTRODUÇÃO

A sociedade é composta por pessoas e segmentos específicos as quais participam e têm voz ativa. Aquelas que não estão dentro desse contexto são consideradas excluídas, geralmente por algum motivo aparente. Aqui entra em cena a discriminação, seja por raça, condição econômica, por ser homosexual,por ser de baixa estatura ou alto demais, por ser magro ou muito gordo (ROCHA, 2004).

Geralmente, as pessoas mais pobres vivem à margem do convívio dos grupos sociais, sendo privados de uma convivência cidadã. Muitas vezes o único tipo de convivência social para essa classe da população é através do esporte, que em qualquer classe social é entendido, acompanhado e procurado, principalmente o futebol, paixão nacional.

Leis, emendas e projetos para integração e inclusão social são preparados, implantados e, muitas vezes, atigem sucesso por estarem envolvidos com o esporte.

Mais do que comprovado, o esporte não contribui apenas para a saúde física, mas para a manutensão do bem estar biopsicossocial também. Através dele, cidadãos são formados e inseridos no contexto geral de uma comunidade.

Os jogos coletivos, em especial, caracteriza-se pelo cooperativismo em equipe, pela formação de companheirismo e união, respeito e aceitação, da vitória ou da derrota. Através disso, aquele indivíduo que era excluído de qualquer instrução de valores e convivência social, inicia a mudança de visão de si mesmo, das pessoas à sua volta, do lugar onde vive, aprende a se aceitar com valor, e, ainda, é mais fácil ser aceito pela sociedade.

O esporte além de melhorar a saúde e reduzir o estresse, é considerado como manifestação cultural e elemento disciplinador, contribuindo o aprendizado para viver em sociedade, aceitar os desiguais, perder e ganhar, reconhecer o melhor e o pior, o forte e o fraco (ROCHA, 2004).

Projetos sociais visando a inclusão envolvendo o esporte está crescendo e a tendência é crescer cada vez mais. Projetos assim têm mostrado resultados e comprovado que o esporte pode sim ser ferramenta de inclusão. Crianças sonham em se tornar grandes jogadores, que com incentivo e direcionamento adequado, poderão se engajar numa trajetória promissora, a do futebol profissional. Futebol esse que é assistido por olhos brilhantes e almejantes, pois através dele vários jogadores reverteram sua situação de pobreza e miséria em riqueza, fartura e, até mesmo, ostentação.

Grandes nomes do futebol vieram de origem humilde, jogavam "pelada" num campinho de terra batida. Mesmo que para poucos, o futebol é, ainda, um dos esportes que mais bem remunera no mundo.

A presente pesquisa bibliográfica possui três capítulos, onde no primeiro capítulo serão expostos um histórico geral do esporte, do futebol no mundo e sua chegada ao Brasil.

No seu segundo capítulo serão demonstradas definições sobre inclusão e esporte em sua totalidade, o uso do esporte como ferramenta para a inclusão social e como o esporte contribui para a formação de cidadãos e para a inclusão de pessoas que vivem à margem da sociedade.

A partir do terceiro capítulo será enfatizado o uso do futebol como perspectiva de ascensão social e profissional para crianças e jovens que sonham em se tornar um jogador de futebol rico e de sucesso. Relatará, ainda, como o futebol é usado como ferramenta para trabalhos de inclusão social de jovens e crianças de periferia e também como contribuiu muito para a ascensão social e financeira de alguns atletas e profissionais ligados a ele que vieram de uma infância pobre e sem recursos.

CAPÍTULO 1 – Um breve resgate histórico do esporte

Na antiga Grécia o que a própria religião não conseguia fazer, o provas atléticas se encarregavam, a união dos gregos. Pelo atletismo era cultuada a beleza, a estética e a força. Para as guerras era necessário vigor físico e força e seus representantes deveriam ser comparados a deuses terrenos. Lá foram criadas as olimpíadas, a referência mais forte de reunião esportiva. Na sua cultura, o esporte era equiparado com a religião, que perpetuava em estátuas a perfeição de seus atletas. Já na era em que encontramos a exata demonstração de capitalismo, onde os trabalhadores são substituídos por máquinas, o tempo ocioso aumentou o que seria destinado à prática do lazer.

Visto primeiramente como um momento de classes financeiramente privilegiadas passa a ser um motivo para esquecer o dia estressante de trabalho. Tendo o stress com mal do século o esporte entra para compensar a unilateralidade do trabalho, servindo como válvula de escape e relaxador para as tensões diárias. Essa atitude representa a união de rivalidade entre amigos, que demonstrado através de jogos coletivos faz com que seja criado um ambiente favorável para a sociabilidade, onde tímidos, fracos e sem resistência física tornam-se mais seguros e se ajustam com mais facilidade às pessoas.

O esporte é um poderoso meio de integração. Quando se vê um bom jogador, a atenção vai para o seu desempenho e não para seu porte físico, sua cor, sua religião ou conta bancária. Aqui entra o futebol, que entre poucas atividades faz reunir sem preconceitos tantas diferenças em um retângulo com linhas demarcadas (BORSARI, 1989).

Ele é um importante veículo de universalização dos esportes. Mais ainda que um agente socializador, o esporte é considerado, dentro da educação física, por Borsari (1989, p. 10) sendo como agente que ajuda o indivíduo no desenvolvimento não só do seu físico, mas também na sua formação intelectual e moral.

1.1 Histórico do Futebol no mundo

Vindo desde a pré-história o futebol passou por uma evolução progressiva, da utilização de variados tipos de bolas à implementação de regras para sua prática.

Segundo Borsari (1989), escritores daquela época o definiam sendo como um tipo de jogo com bola. O jogo era tão apreciado na China, que o imperador comemorava seu aniversário com uma partida do jogo. No ano 2006 a.C., ainda na China, eram regulamentadas as regras de um jogo usado para treinamento militar de soldados. Os gregos jogavam o "epyskiros" e o "harpaston", usado na educação atlética da juventude helênica e jogado com uma bexiga cheia de ar por duas equipes de 15 jogadores. Eles disputavam a posse de bola com os pés e tinham o objetivo de transpor a bola entre dois bastões altos ligados com um cordão de seda.

Dessas modalidades originaram-se várias outras como o "follis" praticado em Roma, que consistia em um jogo com bola usando as mãos. O "soule ou choule", jogado na França sendo às vezes praticado como lazer pela nobreza ou como disputa violenta entre os populares.

Em 1500, o jogo foi se tornando mais organizado disputado com 27 jogadores por equipe, respeitando regras e determinando posição para os jogadores. O descobrimento da América revelou também que outros povos praticavam um tipo de jogo com bola nas horas de folga, uma bola de borracha extraída de árvores.

O campo de disputa era uma praça, os jogadores eram distribuídos em formação de tática guerreira, com elementos destacados para o ataque, os corredores (alinhados em três grupos de cinco jogadores) outros cinco com funções de meio campo, os sacadores, os demais, com função essencialmente defensiva, quatro dianteiros e três zagueiros (BORSARI, 1989, p.11).

O jogo era brutal e sangrento, sempre terminando em algazarra e guerra entre os participantes. Isso fez com que os monarcas da época proibissem sua prática e exigissem novas regras.

Com o passar do tempo o jogo foi tomando rumo organizado e tendo regras elaboradas até que, Thomas Arnold, o diretor do Colégio Rudby, incentivou a criação do "dribliing game" ou apenas rudby", onde se permitia o uso das mãos e dos pés para tocar a bola. Somente em 1860 o "football" foi reconhecido e organizado em campeonatos entre os clubes, daí viu-se a necessidade de organizá-lo em regras padronizadas, durante a reunião na Taberna Freemason de Londres por onze clubes, fundando a "The Footbell Association".

1.2 Chegada do futebol no Brasil

No Brasil, em 1894, o futebol chegou através de Charles Miller, que chegando da Inglaterra, onde foi estudar, trouxe em sua bagagem bolas, camisas e outros materiais necessários para o jogo. O primeiro jogo oficial foi realizado em São Paulo no São Paulo Athletic Club. Daí em diante, outras equipes foram sendo organizadas por adeptos ao esporte e o país, em 1914 realizou seu primeiro jogo contra a Argentina, pela Copa Roca. Em seguida faz-se necessário criar a Confederação Brasileira de Desportos, para que reconhecida internacionalmente pudesse levar o Brasil para disputar o Campeonato Sul-americano. (GIGLIO, 2007)

Há autores que não defendem a monopolização da introdução do futebol no Brasil por apenas Charles Miller. Giglio (2007), em sua dissertação de mestrado, pela Faculdade de Educação Física, da Universidade Estadual de Campinas, relatou que o futebol não pode ser considerado instalado e divulgado no Brasil inteiro apenas por Charles Miller, principalmente pela extensão territorial que o país possui e por no início século XX a comunicação entre as regiões ser dificultada. O mérito de Miller é justo pelo fato de ele ter iniciado o futebol no São Paulo Athletic Club e por divulgar esse esporte em clubes de elite em São Paulo e fazer com que ele fosse praticado fora da escola. Há quem diga que Oscar Cox desempenhou o mesmo papel no Rio de Janeiro.

Anos mais tarde – Oscar Cox, em 1897 no Rio de Janeiro e Hans Nobling em São Paulo; Richard Woelckers e Johannes Minesman, no ano de 1900 no Rio Grande do Sul; e José Ferreira Junior, em 1901 na Bahia, contribuíram para a disseminação da mais nova modalidade esportiva brasileira. O alemão Hans Nobling trouxe uma bola da Europa na bagagem e o desejo de fundar um time e organizar campeonatos em São Paulo, onde o esporte ainda era um privilégio de ingleses e dos alunos do Colégio Mackenzie. Hans criou uma equipe constituída basicamente por descentes de alemães e fundou o Sport Club Germânia – atual Pinheiros. Já Oscar Cox é considerado um dos mais importantes responsáveis na disseminação do futebol no Brasil. No ano de 1901, ao retornar de sua temporada de estudos na Suíça, Oscar reuniu um grupo de amigos e fundou o Rio Team, na cidade do Rio de Janeiro. No ano seguinte, ajudou a fundar o Fluminense. Em pouco tempo, a pequena esfera redonda, ao ser cuidadosamente tocada de uma maneira diferente, fazia com que a nova mania conquistasse adeptos por diversos campos país afora, transformando o futebol num elemento altamente significativo e unificador da cultura brasileira" (MARQUES, 2006 p. 20).

O Brasil carrega a grande descoberta do futebol, Pelé. Hoje, a seleção e os clubes de futebol do Brasil são conhecidos mundialmente pelo grande sucesso no esporte. O Brasil, por ter participado e ainda participar dos maiores campeonatos internacionais projetou-se no cenário mundial através de suas vitórias consagradas. (BORSARI, 1989).

CRUZ, (2003 p.20) em seu livro cita bem como o futebol chegou ao Brasil: "Anos mais tarde nosso esporte se tornaria o espetáculo do século. Veio para a América, trazido pela burguesia, como entretenimento da aristocracia."

Ele ainda levanta como as classes inferiores aderiram ao esporte:

 

Em São Paulo tinha 64 mil habitantes. Em 1864, quando Charles Miller, desembarcou na Luz, maluco para organizar o primeiro racha, a população pulara para 192 mil pessoas. Gente que chegava da roça, principalmente negros que a Abolição "libertara" e gente que chegava de além-mar, principalmente carcamos atraídos pelo café (CRUZ, Antônio Roberto, 2003 p.59).

Rezer defende em sua teoria que o futebol foi disseminado entre a cultura popular como forma de diversão:

Alguns apontamentos históricos levam a crer que o Brasil, a partir do modelo social e econômico impostos por países considerados desenvolvidos (entre eles a Inglaterra), incorporou em seu contexto o avanço capitalista europeu. Desta forma, as poucas oportunidades de diversão das classes sociais mais inferiores, oportunizaram a disseminação da prática do futebol, que apresenta alguns marcos em sua popularização(REZER, 2003, p.30).

A popularização do futebol foi fácil pela versatilidade do jogo. O poder de improvisação que o futebol exerce nos jogadores facilita sua prática e, mais ainda, sua paixão, mesmo por aqueles que não possuem condições financeiras suficientes para adquirir o material necessário para jogá-lo. O futebol pode ser presenciado em qualquer lugar: praças, ruas, praias, terrenos baldios, fazendas, beiras de estrada, calçadas. Com bola de material fabricado ou não, bola de meia, que quica ou não, com traves de madeira, ferro ou até apenas marcas no chão, podendo ser jogado em qualquer clima, espaço e com qualquer quantidade de jogadores, sendo esses principiantes ou não (BORSARI, 1989).

A divulgação desse esporte foi muito mais difundida por ex-alunos praticantes de colégios e faculdades:

Os ex-alunos do São Luís de Itu dão farto exemplo disso. César de Oliveira, Valdemar Junqueira e Pulcro Brasil levaram o futebol a Uberaba e depois até o Brasil central; Arthur Ravache foi um dos fundadores do Sport Club Germânia, em 1899, e um dos pioneiros na organização do futebol paulista e brasileiro; CarlosSilveira, José e Vicente de Almeida Sampaio participaram da fundação da Associação Atlética Mackenzie, em 1898, e foram os divulgadores do jogo por todo interior do estado de São Paulo; Otho Behmer e João de Almeida, colegas de classe de Ravache, popularizaram o futebol na capital paulista entre pequenos proprietários, operários alemães e italianos, por volta de 1898; Silva Moraes, também colega de Ravache, divulgou o futebol nas fábricas da capital paulista e em Sorocaba; Mário César Gonzaga levou a tradição do futebol de Itu para o Nordeste, especialmente para a Faculdade de Medicina de Salvador (BA), onde, junto com José Ferreira Júnior, foi um pioneiro do futebol baiano (SANTOS NETO, 2002, p. 23-25).

CAPÍTULO 2 – O esporte e a inclusão social

2.1 Esportes e inclusão

O termo inclusão social é bastante discutido no meio literário e vários autores a defendem como sendo um meio para a diminuição das desigualdades sociais.

Conforme Mafra (2007 p. 1) escreveu em seu artigo:

Inclusão (compreender, abranger) Social (sociedade ou relativo a ela). Inclusão Social nada mais é que trazer aquele que é excluído socialmente por algum motivo, para uma sociedade que participe de todos os aspectos e dimensões da vida - o econômico, o cultural, o político, o religioso e todos os demais, além do ambiental.

Ela ainda reafirma sobre a quem a inclusão social é dirigida:

Quando dizemos inclusão não é somente para alunos portadores de necessidades especiais é para todos que de alguma forma sentem-se excluídos em alguma situação e que geralmente são os pobres, negros e pardos, crianças e idosos, mulheres, homossexuais entre outro"s (MAFRA, 2007 p. 2).

A inclusão pode ser trabalhada em vários aspectos da sociedade e usando diversos meios para que ela aconteça. Um dos meios que acredito ser eficiente é o esporte.

O esporte que conhecemos hoje é um produto das profundas transformações produzidas pela Revolução Industrial na Europa dos séculos XVIII e XIX. Houve relação entre o aumento do tempo de lazer, em parte induzido por esta Revolução e a difusão do esporte entre a população operária e urbana. A partir do final do século XIX, o movimento esportivo inglês estava pronto para ser exportado. Embaixadores, administradores coloniais, missionários, comerciantes, marinheiros e colonos encarregaram-se de difundir o esporte pelo mundo (BETTI, 1997, p.19 apud MARTINS et al., 2002).

A partir daí devemos reconhecer que disseminado o esporte tornou-se um fenômeno social:

Se aceitarmos o esporte como fenômeno social, tema da cultura corporal, precisamos questionar suas normas, suas condições de adaptação à realidade social e cultural da comunidade que o pratica, cria e recria" ( SOARES et al., 1998 p.70)

2.2 Esporte como meio de inclusão social

O esporte pode ser usado com vários objetivos: brincadeiras, recreação, entretenimento, aprendizagem, competição, mas nenhum dos objetivos supera o da inclusão social, é o que Rocha (2004 p.6) nos mostra em sua pesquisa:

No que diz respeito à sociedade em geral, as notícias na mídia são pródigas em informar o desenvolvimento de programas e mesmo de atitudes esparsas conduzidas por sociedades civis e religiosas, dando conta de que a oferta de equipamentos destinados à prática desportiva e a orientação de políticas públicas e programas bem conduzidos concorrem para disciplinar, afastar das drogas, diminuir atos de vandalismo, e reduzir ações predatórias sobre ospróprios públicos etc. enfim levando à sociabilização das crianças, jovens e adultos e ao plenoexercício da cidadania. Percebe-se, pois que o esporte, além do fator saúde, ao melhorar a função corpórea e reduzir o estresse, (este que é o grande mal da sociedade urbana moderna), tem também por objetivos: Ensinar a viver em sociedade; educar para viver junto; perceber a importância de aceitar os desiguais; fazer aprender a ganhar e a perder; reconhecer o melhor e o mais apto; e ainda mostrar ser necessário respeitar o mais fraco e o inábil. Conclui-se que sob variados aspectos o esporte como ciência e disciplina constitui uma verdadeira "ferramenta" a ser usada no esforço para a inserção social do indivíduo excluído.

O Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos, da Faculdade de Educação Física e Ciência dos Desportos, da Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em seu trabalho de pesquisa defendeu a inclusão social através do esporte sendo um dos melhores meios para atingir a classe de pessoas vitmas da desigualdade social. Pessoas que por falta de oportunidades ficam às margens do crescimento social, político, educacional e esportivo. Pessoas que tiveram acesso ao esporte quando criança e prtaticaram atividades físicas nesse sentido têm um diferencial em seu desenvolvimento não só motor, mas social, cognitivo, afetivo.(CAVALLI et all, 2007).

Para os autores da pesquisa o esporte é uma questão político-social, pois ele pode ser usado como instrumento de transformação social e emancipação humana.

Sobre esse pressuposto Tubino (1992 p. 40 ) afirma o seguinte:

O esporte deixou de perspectivar-se apenas no rendimento e conseguiu também incorporar os sentidos educativos e do bem-estar social. Em outras palavras, o esporte não é mais apenas uma prática motora que visa a competição ou o alto rendimento, mas quando bem objetivado, pode se tornar uma ferramenta imprescindível para a transformação social.

Na mesma medida, o autor ainda lembra que o esporte se não bem interpretado e explorado pode também influenciar de modo negativo:

O esporte, pelas suas particularidades e pelo fascínio que envolve e provoca, permite muitas vezes um mal uso de suas possibilidades de conteúdo, paradoxalmente, com as suas finalidades e até dos discursos de sua promoção como um dos melhores meios de convivência humana. Isto explica que os efeitos sociais negativos do esporte são, na verdade, utilizações tendenciosas do fenômeno esportivo (TUBINO, 1992 p. 40).

Cavalli (2007), em seu trabalho de pesquisa defende, ainda, que a criança ou adolescente que tem contato com o esporte produz transformações significantes e gratificantes em comunidades totalmente carentes de atenção e oportunidades. Gratificantes por gerar, através de projetos esportivos de cunho social, o bem estar das pessoas nele envolvidas não somente fisicamente, mas mental e socialmente.

O autor ainda enfatiza em sua pesquisa que:

O esporte, quando analisado dentro de uma perspectiva social, acaba por tornar-se mais que uma ferramenta de aprendizagem. O esporte assume a função de um agente de transformação e/ou emancipação social a partir do momento que o mesmo gera modificações comportamentais, sociais e políticas tanto dentro como fora das quadras. Projetos esportivos sociais tratam-se, portanto, de um suporte tanto físico-mental quanto afetivo-social, para pessoas que poderiam nunca ter tido a oportunidade de crescimento que o esporte proporciona. Evidencia-se, assim, a importância da realização de projetos onde os alunos e professores são recompensados pela sua evolução como seres humanos que erram, acertam, mas, sobretudo, tentam. Sabe-se que as transformações, de um modo geral, não ocorrem da noite para o dia. Contudo, simples atitudes, como a de ensinar o valor real do ser indivíduo como pessoa pode ser o diferencial necessário para que seja dado o primeiro passo rumo a uma realidade mais humana (CAVALLI, 2007 p. 5).

Muito mais que teorias o esporte discutido mundialmente nem sempre atende às suas perspectivas na área política e social. Em um estudo aprofundado, a Organização das Nações Unidas reconhece:

Apesar de instrumentos internacionais advogarem o esporte como direito humano fundamental para todos, portanto não apenas um meio mas,também um fim em si mesmo, o direito ao esporte e à brincadeira é freqüentemente negado. Isto ocorre por causa da discriminação e pela negligência política, exemplificada pelo declínio nos gastos com a educação física e pela falta de espaços apropriados para o esporte. No plano do indivíduo, a prática esportiva é vital ao seu desenvolvimento integral promovendo sua saúde física, emocional e social. Essa fornece oportunidades de lazer e auto-expressão, benéficas a todos e em especial a jovens desfavorecidos. Fornece alternativa saudável a atividades prejudiciais como o uso de drogas e a criminalidade. Além de todos esses fatores, a prática de atividades físicas tem relação direta como a melhoria dos desempenhos acadêmicos de crianças e jovens. O objetivo das Nações Unidas de utilizar o esporte como aliado não é a criação de novos campeões ou o desenvolvimento do esporte, mas a utilização do esporte como facilitador da participação, da inclusão e da cidadania, inserindo-o em atividades mais abrangentes do desenvolvimento e da construção da paz (NAÇÕES UNIDAS, 2003 apud COSTA, 2006 p. 2 )

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Projetos sociais no esporte têm sido introduzidos como meio de inclusão e resgate social no Brasil, gerando resultados em diversos estados e municípios. O próprio Governo Federal tem mostrado através de estatísticas que projetos como o Projeto Segundo Tempo em apenas na sua fase de implantação, em 2005, atendia 516.7 mil crianças e adolescentes, em 2.681 núcleos no país (GOMES; CONSTANTINO, 2005).

Como forma de interação social e ainda mais, como manifestação da paz:

O esporte promove trégua temporária entre tensões das diversas facções...promove a comunicação, envolvendo as pessoas numa participação conjunta, oferecendo símbolos comuns a coletividade, justificando a solidariedade (CRUZ, 2003 p. 39)

O esporte é considerado como meio não só de inclusão, mas de interação em qualquer âmbito:

O esporte contribui para a integração regional e nacional, ao fomentar entre as pessoas de diferentes classes sociais, etnias, raças, religiões a partilha das emoções, transformando eventos em confraternizações, fatores de união, destacando-se entre os principais motivos de mobilização da vida moderna. Nesse aspecto o esporte mais popular do mundo tem importância fundamental na animação das comunidades periféricas no país, na luta que precisam empreender com urgência no esforço de auto-organização para superação da marginalização social e econômica" (CRUZ, 2003 p. 40)

Existem projetos relacionados ao esporte que possuem nomes reconhecidos pela sociedade e pelo poder público:

Há, atualmente, inúmeros projetos sociais que trabalham com comunidades carentes, onde, através de atividades esportivas, procuram promover transformações sociais e, assim, oferecer oportunidades para que se tornem cidadãos com perspectiva de futuro. Pode-se destacar o Instituto Ayrton Senna que faz um trabalho muito bem organizado e pautado na educação pelo esporte, onde a criança e o adolescente constituem o foco das atenções e o esporte é a ferramenta utilizada para transformar suas potencialidades em competências para tomar decisões sobre suas vidas e o mundo que os cerca (ONOE, 2006 p. 1).

Ex-jogadores investem nesses projetos por acreditar que o esporte é realmente uma ferramenta para a transformação social. Em destaque, podemos citar os projetos Fundação Gol de Letras, de Raí e Leonardo, Instituto Bola Pra Frente, de Jorginho e Bebeto e Fundação Cafu, de Cafu.

Existem outras iniciativas de projetos sociais desenvolvidas por ex-jogadores de futebol tetracampeões mundiais: o capitão Dunga, por exemplo, criou em Porto Alegre o "Instituto Dunga de Desenvolvimento do Cidadão", que desenvolve projetos e ações que utilizam o esporte como um instrumento para transformação social e conta com a ajuda do ex-goleiro Fabio Tafarel. O jogador Romário formalizou o início do "Instituto Romarinho", também com o objetivo de inclusão social pelo esporte (MARQUES, 2006 p.18).

Marques (2006 p. 32), em sua pesquisa teve a oportunidade de entrevistar alguns jogadores e discutir sobre as vantagens do futebol como ação social. No momento ele cita um trecho do que Ronaldo disse:

Tenho certeza que muita gente no passado queria fazer alguma coisa pelos mais pobres. Mas a realidade era outra. O dinheiro que o futebol movimenta hoje em dia proporciona a chance de o jogador colaborar de verdade com a vida das pessoas, não só marcando gols.

Maior desafio para os jogadores e ex-jogadores de manterem esses projetos é oferecer aos integrantes dele a real possibilidade de inclusão, não apenas criando escolinhas de futebol, que por si só já contribuem para a exclusão, tendo que destacar o que joga melhor ou pior. Segundo Marques (2006) aqueles que jogam bem e são encaminhados para os clubes para se profissionalizarem resulta, para a maioria que não foi escolhida,, em frustração para a criança, para a família e para os que depositaram confiança no projeto. Por isso a importância em planejar estratégias para que os ídolos esportivos possam ser espelhos e referência no exercício da cidadania.


CAPÍTULO 3 –O futebol e sua perspectiva de inclusão e ascensão social

3.1 O uso do futebol como inclusão social

A marginalização social do povo é amenizada diante das inúmeras partidas de futebol improvisadas em qualquer espaço que dê para colocar duas traves eqüidistantes. Assim como Cruz (2003 p. 39) relata:

O povo que organiza sozinho, sua própria forma de lazer, entretenimento, vem acumulando uma vivência ao longo do último século cuja atividade esportiva, é apenas uma alternância que lhe sobrou no sentido de abrandar a amargura de sua vida de marginalizado social. Entre outras raras alternâncias, o brasileiro humilde prendeu-se a essa atividade e agarrado a ela, resistiu bravamente ocupando as áreas que sobram, ali organizando as atividades de lazer de ócio e sobrevivência. Organizando ainda sua vida, sua moradia, sua religião, sua sociedade.

Muitos esportes proporcionam a inclusão e a facilidade de sua prática sem muitos investimentos, mas nenhum supera o futebol. É ao redor dos campos de futebol que se formam as pequenas comunidades. Ele atrai os olhares, aumenta a paixão e mais ainda, faz brotar sonhos de uma carreira rica e famosa. "Por isso deve ser mais bem avaliado pelos governos e instituições sociais, como importante alternativa para projetos de inclusão" (CRUZ, 2003, p. 39).

O futebol quando incentivado, seja em periferias ou centros urbanos faz com que os seus praticantes se sintam valorizados em relação ao local em que vivem, dando-lhes o sentimento de pertencerem a uma sociedade integrada.

O Brasil possui um verdadeiro exército de pessoas capazes e dispostas a trabalharem nesse processo. Muitos têm usado o esporte mais atrativo e viável para as classes menos privilegiadas para inclusão na escola e como cidadão ativo. O futebol é o esporte que requer menos custo em seus equipamentos, comparados a outros esportes praticados no país. Projetos de inclusão oferecem oportunidades para jovens e adultos de comunidades organizadas pelo futebol e atende centenas de pessoas (BORSARI, 1989).

Cruz cita que em pesquisas realizadas em sociologia e urbanismo a criminalidade tende sempre a diminuir nas regiões em que a população tem acesso a áreas esportivas: "Transformar a utilização das áreas disponíveis para prática de futebol e demais esportes, contribuirá muito na humanização das periferias e subúrbio" (CRUZ, 2003 p. 54).

Ultimamente vivemos no meio de uma guerra declarada, a população tem medo e vive trancafiada em suas clausuras com receio de praticar esportes ao ar livre e ganhar uma bala perdida na cabeça. Chacinas, roubos a mão armada, tráfico de drogas, seqüestros longos ou relâmpagos. Os presídios se tornaram verdadeiros escritórios dos comandantes do crime. É um problemas de segurança nacional. Muitos, principalmente em época de eleições oferecem receitas mirabolantes para pelo menos minimizar essa situação, mas nenhuma medida será salvadora se não for aliada a um novo modelo de convivência.

Projetos na área do esporte vêm sendo desenvolvidos com sucesso em vários lugares do país: os Projetos Mangueira do Rio de Janeiro, Axé em Salvador, Rexona no Sul e Heliópolis/SP, ULBRA em Torres/RS, Emovidos pelo Futsal - Horizontina. Os esportes oferecidos nesses projetos, incluindo o futebol, tem o objetivo de contribuir de forma efetiva na criação de opções para a juventude, principalmente em áreas carentes, envolvendo os aspectos econômicos, culturais, sociais, étnicos e educacionais. "O esporte é superação acima de tudo. Isso inclui superar adversidades da vida cotidiana, servindo como importante alternativa para afastar as crianças da criminalidade e das drogas". (CRUZ, 2003, p. 28).Esses projetos são apenas modelos, mas muitos podem ainda serem criados e aprimorados no sentido de se organizar uma comunidade que conviva com as diferenças e aprenda a se respeitar não só como cidadãos, mas como pessoas (Idem, ibdem).

Como valorização do cidadão e da vida, o Deputado Eduardo Suplicy comentou:

O potencial transformador do esporte está contribuindo para a reversão do quadro de vulnerabilidade social. Refiro-me ao esporte aplicado não somente na atividade de alto rendimento, mas também no esporte que é capaz de educar e tornar crianças, jovens, adultos e idosos em verdadeiros cidadãos. Os novos caminhos traçados pelo Brasil mostram que o esporte é uma ferramenta fundamental no incremento da economia e ainda contribui para o desenvolvimento local (Jornal do Brasil, 2005, p.1).

É bem verdade também que o esporte já foi, e muitas vezes ainda é, meio de promoção política diante da imensa repercussão que ele causa e diante da chance que o candidato ou governante tem de atingir novos eleitores.

Na história política brasileira são inúmeros os casos de presidentes que associaram, de maneira positiva, seus nomes ao esporte, com a intenção de melhorar a sua imagem perante o povo. Aproximar e associar ao governo o sucesso e a imagem de destaque conquistada pela seleção brasileira nas Copas do Mundo, foi muito utilizada por aqueles que tinham interesses além do esporte (GIGLIO, 2007 p. 64 ).

Mesmo assim, direta ou indiretamente, o segmento político favorece a promoção do esporte e hoje, como em muitos outros projetos que não tem ligação política em sua essência, os líderes de Estado e Municípios adotam medidas de inclusão social através do esporte. Os projetos sociais que envolvem o esporte sempre dão resultados e são discutidos entre os autores que pesquisam sobre o assunto:

Os projetos sociais contribuem de forma significativa na transformação da realidade de comunidades carentes onde não há projetos governamentais efetivos. Através da introdução de atividades esportivas nesses ambientes, procura-se realizar um trabalho para a construção de cidadãos socialmente conscientes e participativos com as questões sociais que os cercam, procurando criar uma realidade com oportunidades de crescimento e perspectivas de futuro através da educação pelo esporte.(ONOE, 2006 p. 1)

3.2 Futebol como perspectiva de ascensão social

Muito antes que apenas uma atividade esportiva, o futebol como inclusão social não tem sido visto apenas como agente emancipador e transformador, mas como uma promessa de realização de sonho para muitos:

 

A maioria dos garotos de origem pobre no Brasil sonha em ser jogador de futebol. Afinal, num país com a oitava pior distribuição de renda do mundo, as chances de ascensão social são pequenas. A exemplo de jogadores como Romário e Ronaldo, que vieram de comunidades pobres e rapidamente ficaram milionários, muitos garotos querem seguir carreira nos gramados. De acordo com o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Marcelo Weishaupt Proni, o futebol foi e continua sendo uma das poucas formas de ascender socialmente no Brasil, principalmente porque, segundo ele, "nos últimos 20 anos, as possibilidades de mobilidade social diminuíram e a recessão econômica que atingiu o país na década de 80 reduziu as chances de ascensão social", diz. Segundo o antropólogo e professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, Marcos Alvito, as próprias famílias incentivam os jovens a seguirem carreira no futebol porque sabem que esta é umas das poucas maneiras de saírem da miséria. "Se o garoto tem talento, a família deposita nele toda a esperança de mudar sua situação financeira e social", diz. Nesses casos, é muito comum o jovem abandonar a escola para se dedicar exclusivamente ao futebol, com o consentimento da família (NUNES, 2007 pag. 01).

 

A perspectiva de ascensão social através do esporte pode ser muito bem exemplificada pela história do jogador Denilson:

 

Na família de Denilson há casos de gente que não passou pela peneira. Dois primos, que a parentela jura serem tão bons de bola quanto o atacante do Real Betis, são hoje motoristas de lotação. Se não tivesse sido descoberto por um olheiro do São Paulo aos 13 anos, Denilson provavelmente estaria na mesma situação. Ele passou a morar no clube de segunda a sexta-feira. Treinava seis horas por dia. Quando os outros iam para o chuveiro, ficava sozinho no campo por mais meia hora, ensaiando dribles e embaixadas. Com 16 anos, assinou seu primeiro contrato, com um salário de 700 reais. Era quase a soma dos vencimentos do pai operário e da mãe empregada doméstica. Com o dinheiro ajudou a reformar a casa em que a família vivia em Diadema, na Grande São Paulo. Logo que começou a ganhar dinheiro de verdade, realizou um sonho da mãe: revestiu a casa toda de mármore – pisos e paredes. "Eu sempre limpava o mármore da casa das patroas e só imaginava o dia em que ia ter isso na minha", diz a mãe, Amélia de Oliveira, que atualmente mora com o filho em Sevilha, na Espanha. O salário mensal de Denilson é hoje 910 vezes maior que a renda per capita de Diadema, cidade onde nasceu (TEICH, 2002 p. 5).

Os meninos empoeirados que jogam "pelada" em campos de terra batidos espalhados pelas cidades sempre procuram, antes mesmo de formar um time completo, se nomearem idealizando ser um dos craques do futebol brasileiro e mundial. Giglio, em sua pesquisa relata através de um trecho do documentário dura e antagônica realidade dos meninos que sonham emtransformar o sonho de criança em realidade transmitido pela rede Bandeirantes:

 

Qual o sonho que embala o menino? Ser jogador de futebol, dar uma vida melhor aos pais, sair do anonimato para os holofotes de um grande centro. Atravessar um dos poucos túneis abertos entre as desigualdades sociais do país. São imagens ainda turvas as que voam pelas asas da imaginação juvenil. Garotos que ainda brincam de ser criança, enquanto esperam por uma chance de ser o adulto que sonham ser. Garotos nutridos pela esperança e que nutrem esperanças. Desfilar categoria por gramados, Brasil adentro, mundo afora. Sonho que caminha com os passos de chuteiras coloridas e com o estilo emprestado dos ídolos, como uma brincadeira de: quem quero ser quando crescer? Sutil esperança que aparece no toque carinhoso em camisas mais famosas. O sonho que esbarra com a dura realidade. [...]. O melhor a que se permitem esses garotos: sonhar (GIGLIO, 2007 p. 146).

 

Assim crianças crescem entronizando em seu cotidiano o sonho de ser um grande jogador, espelhado em seu ídolo no esporte:

O sonho de muitos meninos brasileiros certamente passa pelo esporte mais popular do planeta. [...] o futebol está presente no imaginário do povo brasileiro. Freqüentemente, jogadores são eleitos ídolos e passam a servir de modelo para a sociedade"(GIGLIO, 2007 p.119)

Esse sonho continua sendo alimentado não somente pela vontade de ser um jogador profissional, mas de poder participar de times da primeira divisão e ganhar muito dinheiro para praticamente esquecerem-se das privações que sofreram quando crianças. (GIGLIO, 2007)

Há um conceito comum na sociologia brasileira segundo o qual os únicos meios fortes de ascensão social dos pobres, sobretudo os de pele mais escura, são o futebol, a música e o narcotráfico. A chance de um brasileiro com idade entre 20 e 32 anos chegar ao cargo de capitão da seleção brasileira é de 1 para 17 milhões. É bem mais fácil, por exemplo, ganhar no concurso da Supersena, cuja probabilidade de vitória é de 1 para 12 milhões. A carreira de um jogador de futebol começa pelas peneiras, o processo de seleção de jovens talentos dos grandes clubes. No Corinthians, de cada 5.000 adolescentes são selecionados quarenta, dos quais apenas três se tornarão profissionais. No Flamengo, dos 25.000 que tentam a cada ano, 250 passam para a fase de treinos e dez viram de fato jogadores. O processo depende bastante de persistência. Cafu foi recusado doze vezes nas peneiras dos grandes clubes paulistas. Ronaldo, o Fenômeno, foi barrado no Flamengo. Rivaldo foi dispensado pelo técnico de juniores do Santa Cruz, do Recife (TEICH, 2002 p. 4).

Segundo Giglio (2007 p. 112) a experiência de Cafu "é "vendida" como a possibilidade de sucesso, de que o sonho é possível para todos e que é preciso persistir muito para conseguir resultados no futebol".

O futebol também contribui, e muito, para a economia do país, fazendo com que mais dinheiro circule, gera empregos e novas oportunidades.

Nessa perspectiva, destacamos um possível papel do futebol no processo de desenvolvimento social do país. No aproveitamento do seu carisma, o jogador de futebol torna-se uma liderança que pode produzir grandes transformações. Estamos descrevendo um certo tipo de liderança, que são esportistas, especificamente atletas de futebol profissional, que emergem numa sociedade com grau de reconhecimento, que são identificados dessa forma e que se identificam também assim, pois possuem vários recursos de poder: prestígio social, muito dinheiro, mas não só isso, desenvolvem também a capacidade, o poder de "fazer" dinheiro, ou seja, fazer capital econômico (MARQUES, 2006p.15).

Todos de alguma forma ficam envolvidos com o futebol, principalmente na época de grandes campeonatos como a copa do mundo. O futebol, para os brasileiros é uma identificação pessoal.

O mundo inteiro conhece o futebol brasileiro cinco vezes campeão mundial, representado nos gramados de diversos países. Em viagens de turismo ou negócios, todo brasileiro é dentificado como um indivíduo que possui laços de pertencimento ao país do samba e do futebol. Os ídolos do futebol brasileiro ficam eternizados na mente de diversas gerações em diferentes países. Todos se beneficiam com os rendimentos econômicos proporcionados pelo futebol brasileiro: os clubes, os jogadores, os empresários, os patrocinadores, as redes de televisão, as cervejarias, as empresas de marketing esportivo, as marcas esportivas. Todos conquistam cifras invejáveis com o espetáculo do futebol, com exceção das comunidades populares de baixa renda, onde nasceram e cresceram os jogadores de futebol – exatamente os principais atores do espetáculo (MARQUES, 2006 p. 30).

Os grandes craques do futebol que hoje são reconhecidos como melhores do mundo e são exportados para fora do país para defender times europeus também já foram apenas sonhadores. Muitos deles tiveram uma infância com poucos recursos financeiros, passaram por várias dificuldades e enfrentaram várias "peneiras" antes de serem escolhidos e contratados por algum clube.

Teich (2002, p. 1), em sua matéria publicada na revista Veja, mostra que grandes craques têm origem humilde e passaram muitas dificuldades financeiras até chegarem aonde chegaram:

Os jogadores da seleção brasileira têm uma trajetória comum. São brasileiros excepcionais que saíram de uma infância quase sempre muito pobre e se tornaram, além de ídolos, donos de uma fortuna surpreendente. Cafu, o capitão da seleção, morava num bairro miserável da periferia de São Paulo, o Jardim Irene. De seus amigos de pelada, dois foram mortos pela polícia e um terceiro, que era vigilante, por bandidos. Quatro estão presos por roubo e outro, motoboy de profissão, foi assassinado quando tentava evitar que roubassem sua motocicleta. Hoje no Roma, Cafu ganha 1,8 milhão de dólares por ano. Há dez anos, Rivaldo vendia doces no Recife e criava galos de rinha para ajudar no sustento da família. Como jogador do Barcelona, recebe 6,5 milhões de dólares por ano. Gilberto Silva tinha um salário mensal de 117,30 reais numa fábrica de caramelos em Lagoa da Prata, cidade mineira onde nasceu. Ganha agora 400 vezes mais no Atlético Mineiro e, com o prestígio de um pentacampeão mundial, vislumbra um rendimento de 100.000 dólares por mês no futebol europeu.

Anos atrás os jogadores também conseguiam ascensão financeira através da profissionalização no futebol, mas nada pode ser comparado aos nossos dias. Os jogadores agora também têm muito mais compromisso e responsabilidade, pois os seus patrocinadores, grandes empresas privadas que financiam milhões, não exigem apenas grande desempenho nos gramados, mas uma conduta de vida sem mácula e que sirva de exemplo para os torcedores. Isso sem citar o quanto a exigência física e de treinamento antigamente era mais branda e menos exigente do que hoje. Na época de craques como Pelé e Jairzinho os treinamentos eram basicamente todos coletivos, quase que uma coreografia. Hoje, além de habilidade, resistência física e treinamento o jogador para se profissionalizar e obter sucesso necessita ter grande obstinação e disciplina. (idem, ibdem).

A garotada brasileira chega aos clubes com bom domínio de bola, mas com deficiências alimentares, dentes cariados e baixíssima escolaridade. Os clubes cuidam de melhorar a alimentação, providenciam tratamento dentário e até insistem para que estudem. Existem coisas, porém, que são inteiramente pessoais: talento com a bola, o que é relativamente fácil de encontrar no Brasil, e determinação e disciplina, que só os melhores têm (TEICH, 2002 p.3).

Os craques que conseguiram reverter sua situação de miséria em riqueza através do futebol com persistência e garra, muitas vezes tendo que alternar os treinos com subempregos, a exemplo de Gilberto Silva e o goleiro Marcos:

Filho de um lavrador muito pobre do interior de Minas Gerais, Gilberto Silva alternou tentativas de vencer no futebol com trabalhos de servente de pedreiro e operário em fábrica. Só em 1996, aos 20 anos, conseguiu se firmar no América. O goleiro Marcos também tem origem rural. É filho de um agricultor e se criou num sítio nos arredores de Oriente, cidade de 5.800 habitantes a 472 quilômetros de São Paulo. Era o caçula de seis filhos e desde pequeno jogava futebol descalço com os irmãos no sítio. Queria atuar no meio de campo, mas os irmãos não deixavam, com medo de que se machucasse. Nasceu ali um goleirão. Aos 17 anos, passou no teste de seleção para os juniores do Palmeiras. Tornou-se titular há quatro anos. Seu salário inicial de aproximadamente 2.000 reais saltou para os atuais 60.000 reais. Há dois anos, comprou todas as terras em torno do sítio do pai, formando uma fazenda de 86 hectares e 300 cabeças de gado" (TEICH, 2002 p. 6).

E dinheiro faz a diferença para a maioria dos jogadores. Tomamos os exemplos de Rivaldo e Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho:

Rivaldo mandou asfaltar com dinheiro do próprio bolso seis ruas no acesso à casa dos pais, num conjunto de residências populares construído pela Cohab, na década de 70, em Paulista, no Grande Recife. [...] O dinheiro do futebol fez diferença na infância de Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho, que hoje joga no Paris Saint-Germain e ganha 300.000 dólares por mês. Mas foi o irmão Assis, onze anos mais velho e hoje atleta na França, o primeiro a fazer sucesso. Ele tirou a família da Vila Nova, um dos bairros mais pobres de Porto Alegre, e ajudou Ronaldinho a entrar para a escolinha do Grêmio, aos 7 anos" (TEICH, 2002 p. 5 - 6).

Para uma escala oficial de jogadores para uma competição, há técnicos que, além da habilidade do jogador, considera sua capacidade de esforço, perseverança e lealdade, assim foi o critério que Luiz Felipe Scolari usou em 2002:

Quando escolhia os jogadores que levaria para a Ásia, o técnico Luiz Felipe Scolari deu atenção especial à capacidade de esforço, perseverança e lealdade de cada um dos convocados. São traços que, se acompanhados de talento, levam, na opinião do técnico, ao sucesso (TEICH, 2002 p. 7).

A escolha é uma das mais duras lutas enfrentadas por aqueles que desejam se profissionalizar no futebol. Os meninos que buscam ingressar no profissionalismo do futebol passam por várias "peneiras" e mesmo assim correm o risco de algum dos seus concorrentes possuírem indicação e passar na sua frente, mesmo às vezes não jogar tão bem assim. Quando passam pelas fases de classificação para fazer parte de algum clube, os garotos enfrentam outro difícil obstáculo: a falta da família. Há casos em que o garoto passou por todas as fases, mas desistiu por saudade da família. Muitos também já dentro do clube atuando em sua categoria foram dispensados antes que se profissionalizassem.

O incentivo que esses garotos recebem conta muito para o sucesso ou insucesso na carreira. Os pais, principalmente, almejam que o filho siga a carreira profissional porque sabem da possibilidade de ascensão social. A exemplo do garoto Jean Carlos Chera, que aos nove anos já é contratado pelo Santos. Ele não passou por "peneira". Seu pai apenas divulgou um vídeo na Internet de seu filho jogando bola, o que despertou o interesse de clubes e empresários. (GIGLIO, 2007)

Os que avançam na carreira, não importam de onde vieram sempre se lembram de suas origens:

O jovem abdica de tantas coisas em busca do sonho e encontra o amparo na família. É ela que será lembrada, juntamente com os amigos e o local da infância, caso o sucesso seja atingido. Os jogadores que viram ídolos e heróis evocam constantemente a infância cheia de dificuldades e, muitas vezes, pobre, como forma de resgatar os tempos difíceis e salientar que foram importantes para atingir o sucesso (GIGLIO, 2007 p.115)

AÇÕES FINAIS

Uma das identidades nacional, o futebol teve uma trajetória histórica envolvendo nomes famosos e gente do anonimato. O uso desse esporte como lazer, brincadeira, passa tempo, sendo amador ou profissional, sempre terá destaque em qualquer região do Brasil e no mundo. Milhões de pessoas param de quatro em quatro anos para acompanhar o desempenho da seleção na copa do mundo.

Todas as formas de uso do esporte são válidas. Mas nenhuma delas é tão preciosa como seu uso para a inclusão social, e porque não a ascensão social? São apenas conseqüências que o esporte pode resultar. Do amadorismo ao profissionalismo, todos que têm a bola nos pés um dia sonharam em ser um jogador de futebol profissional. Seja por qualquer motivo: amor pelo esporte, que é algo nato do brasileiro, por fama ou dinheiro.

Eles já crescem vendo bola, brincando com bola, rolando bola, jogando bola, dando bola e ganhando bola. O garoto sem recursos financeiros que tem esse sonho, que recebe o apoio da família e em alguma instância da sua comunidade participa de escolinhas e projetos que envolvem o futebol alimenta o sonho de entrar nos dos grandes gramados. Participa de peneiras, passam ou são reprovados, mas nem isso faz com que eles deixam de se espelharem nos seus ídolos futebolísticos.

A perspectiva que o futebol proporciona principalmente às camadas menos privilegiadas da população chama a atenção, especificamente, de crianças e jovens, sem citar o quanto os pais almejam a vida profissional para o filho regada pela promessa de ascensão financeira e social. O que, ainda, faz com que "olheiros" fiquem atentos aos meninos que se empenham e deposita toda sua esperança no esporte para aproveitarem e quem sabe agenciar um grande jogador de futebol.

Mesmo sabendo da árdua caminhada até o sucesso muitos meninos enfrentam os obstáculos, mas os mais determinados e obstinados chegam até o propósito final: clubes da primeira divisão, seleção brasileira e quem sabe jogar fora do país. Alguns nem mesmo sequer jogou no Brasil primeiramente, passaram direto para o estrangeiro mostrando que o seu valor também é dado lá fora, mesmo quando por aqui não acontece. Passar por todas as etapas causa angustia, pois é uma caminhada sem resultados certos. Às vezes dá, às vezes não. Tentando é que perceberá o resultado.

A realidade dos atletas que não conseguem atuar por equipes grandes e muito menos atingir a condição de ídolo e herói é muito diferente e distante desse reduzido número de jogadores que gozam do privilégio de desfrutar tudo o que o futebol profissional pode oferecer, em termos financeiros. Aos excluídos desse círculo restrito de altos ganhos permanece o sonho, não mais de ser jogador profissional, mas de um dia chegar a um clube grande, atingir uma estabilidade financeira e quem sabe ser ídolo e herói de uma torcida (GIGLIO, 2007 p. 146).

Como no Brasil tudo sempre acaba em samba ou música, até o futebol entra na dança, como na música do Grupo Skank: "Bola na trave não altera o placar, bola área sem ninguém pra cabecear, bola na rede pra fazer o gol, quem não sonhou, em ser um jogador de futebol?" (REIS, 1998)

Mesmo assim, sendo através de sonho ou de incentivo de outros, o sucesso pode chegar como recompensa do esforço, habilidade e profissionalismo. Mas, não devemos esquecer que o esporte só é instituído por pessoas que dele entende e estuda as melhores formas de aplicar sua aprendizagem. Os profissionais que se preocupam com a metodologia do esporte e suas peculiaridades para a melhor assimilação e aprendizagem da criança são os maiores responsáveis para o futuro delas, principalmente as que se profissionalizam nele. Os educadores físicos, profissionais formados em Educação Física, devem desempenhar seu papel como mediador entre a criança e o esporte não apenas fazendo dele um atleta, mas o formando como pessoa e como cidadão ativo e pensante.

Em projetos sociais o professor de educação física realiza o trabalho de incentivador e serve como exemplo para muitos. Colocar em prática seus conhecimentos teóricos na formação de pessoas é o que ele mais desempenha, pois através do esporte valores são resgatados, princípios são revistos e paradigmas são formados, reformados ou quebrados. Esse é o papel do professor dentro da inclusão, fazer com que através do esporte as pessoas possam se reconhecer, conhecer seu valor, suas habilidades e seus limites, reconhecendo e aceitando o outro, suas diferenças e potencialidades.

Os jogadores que aproveitaram sua condição social melhorada para financiar projetos sociais que realizam o resgate social através do esporte têm até hoje contato com educadores físicos em seus treinos e equipes. Através desses educadores a habilidade que possuíam foi aperfeiçoada pelo conhecimento fisiológico e metodológico que o treinador possui e aplicou em seus treinamentos. É realmente indispensável a formação específica do professor para o trabalho em educação física e em trabalhos que envolvam o esporte, mas mais ainda é necessariamente imprescindível o repasse desses conhecimentos no processo de inclusão de forma humana.


REFERÊNCIAS

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