FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DA PSICOPEDAGOGIA

 

Greice Herédia Moura

A Psicopedagogia é uma área do saber científico relativamente nova, e por isso seu campo teórico e metodológico se constrói a cada dia dentro das clínicas e instituições através da pesquisa e reflexão.

Bossa (2007, p. 19) comenta que ao buscar construir um conceito para Psicopedagogia, à primeira vista o termo nos remete a uma aplicação da Psicologia à Pedagogia, porém “tal definição não reflete o significado que esse termo assume em razão do seu nascimento”, que foi a necessidade de uma melhor compreensão do processo de aquisição do conhecimento e aprendizagem devido às demandas do fracasso escolar e das dificuldades de aprendizagem.

A busca por compreender e resolver os problemas de aprendizagem em crianças portadoras de necessidades especiais surgiu na França, no século XIX. Médicos e educadores, preocupados com assuntos relacionados ao desenvolvimento humano construíram uma base sólida para as Ciências que irão sustentar o Psicopedagogia. A Pedagogia, a Psicologia, a Psicanálise, Psiquiatria, a Biologia, a Linguística, a Sociologia, a Filosofia, entres outras formam a base teórica para a prática psicopedagógica que se constrói hoje. (ANDION, 2010)

Segundo Bossa (2007), o termo Psicopedagogia curativa foi adotado por Janine Mery, psicopedagoga francesa, que teve forte influencia na formação da Psicopedagogia na Argentina, e consequentemente no Brasil. Esta aplicou a Psicopedagogia na forma de uma ação terapêutica no tratamento de crianças que apresentavam fracasso escolar.

Na Argentina a formação em Psicopedagogia surgiu há mais de trinta anos tendo nomes como o de Sara Paín, Jorge Visca e Alicia Fernández como referência para esse campo teórico se desenvolver também aqui no Brasil a partir da década de 70. (BOSSA, 2007)

A definição de um conceito de Psicopedagogia tem sido difícil, já que todo começo de uma atividade científica consiste primeiramente da descrição dos fenômenos e esta é uma área de conhecimento em formação (SILVA, 2010). Entretanto, vejamos agora algumas considerações dadas por importantes teóricos dessa área em busca de uma compreensão sobre o tema.

De acordo com Scoz (1992) a psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e que atua profissionalmente integrando diversos campos do conhecimento na ação interventiva.

Para Weiss (1994, p. 6), “a Psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores”.

Segundo Visca (1987), a psicopedagogia, que inicialmente foi uma ação subsidiária da Medicina e da Psicologia, perfilou-se como um conhecimento independente e complementar, possuídora de um objeto de estudo, de recursos diagnósticos, interventivos e preventivos próprios.

Para Bossa (2007), a Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se processa a aprendizagem, como essa aprendizagem varia evolutivamente e se modifica com a interferência de diversos fatores endógenos e exógenos, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las.

Neves (1991, p. 12) em sua análise destaca a similaridade da influência que possuem os aspectos biopsicossociais envolvidos no objeto de estudo da Psicopedagogia, para ela:

A Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos.

Fernández (1991) inclui no processo de investigação da aprendizagem outro personagem tão importante quanto o sujeito aprendente: o sujeito ensinante, e destaca a forte influência do vínculo estabelecido entre eles no desenvolvimento da aprendizagem. Esta autora fala ainda do lugar do corpo, da inteligência e do desejo na aprendizagem. Cabe ao psicopedagogo, portanto, investigar essas relações e considerá-las ao traçar o seu diagnóstico e intervenção.

De acordo com Bossa (2007), a Psicopedagogia hoje no Brasil possui dois campos de atuação, a Instituição e a Clínica. Nessas duas áreas, “o psicopedagogo, atua intervindo como mediador entre o sujeito e sua história traumática, ou seja, a história que lhe causou a dificuldade de aprender” (PORTO, 2006, p. 109). Apesar deste objetivo comum, a prática dentro de cada uma dessas áreas diferencia consideravelmente.

Na área Institucional busca a melhoria da qualidade do ensino no ambiente institucional, agindo de forma preventiva e interventiva. O trabalho preventivo pretende evitar as dificuldades de aprendizagem, utilizando-se da investigação Institucional de uma forma abrangente e detalhada, em cada setor e nas suas interelações funcional, metodológica e didática, visto ser este um ambiente dinâmico. Após a investigação, se necessário há a intervenção para que a Instituição se reestruture. Se não houver dificuldades presentes naquele momento, reforçasse os aspectos positivos e criam-se estratégias a fim de evitá-las (PORTO, 2006).

Na área Clínica atua investigando problemas relacionados a aprendizagem humana e intervindo junto ao sujeito, com o intuito de sanar suas dificuldades. Segundo Fernández (1991) o psicopedagogo ao atuar na clínica deve assumir uma atitude analítica, incorporando conhecimentos, teoria e saber, acerca do aprender, seja ao realizar uma escuta psicopedagógica, ao ler uma produção do cliente ou intervir junto a este. Essa intervenção psicopedagógica, segundo Paín (1985, p. 13), “volta-se para a descoberta da articulação que justifica o sintoma e também para a construção das condições para que o sujeito possa situar-se em um lugar tal que o comportamento patológico se torne dispensável”.

BIBLIOGRAFIA

ANDION, T. M. Jogo de areia: Intervenção psicopedagógica à luz da teoria piagetiana na caixa de areia. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010.

BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artmed, 2007.

FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada: Abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artmed, 1991.

NEVES, M. A. Psicopedagogia: um só termo e muitas significações. In: Boletim da Associação Brasileira de Psicopedagogia. V. 10, nº 21, 1991.

PAÍN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1985.

PORTO, O. Psicopedagogia Institucional. Rio de Janeiro: Wak, 2006.

SCOZ, B. J. L. Psicopedagogia: Contextualização, Formação e Atuação Profissional. Porto Alegre: Artmed, 1992.

SILVA, M. C. A. Psicopedagogia: A busca de uma fundamentação teórica. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

VISCA, J. Clínica Psicopedagógica: Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artmed, 1987.

WEISS, M. L. L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica. Porto Alegre: Artes Médica, 1994.