Keyla Ferreira Mendes.

Não existe avaliação sem relação com o social e sem comunicação. Um indivíduo é um ser concreto, logo ele é transformador da sua vida pessoal e da sociedade da qual ele faz parte, pois o seu desenvolvimento está diretamente ligado às relações estabelecidas com outros sujeitos em um determinado tempo e espaço.

            A sociedade na qual vivemos visa a avaliação como um meio de resultado para se ter a certeza de que os objetivos têm sido alcançados. Ou seja, a avaliação tem sido um instrumento de controle social. No entanto, esse modelo de avaliação tradicional tem contribuído apenas para selecionar os indivíduos e classificá-los quanto a sua nota alcançada. A avaliação deve ser um processo cauteloso que documenta e analisa as tarefas educacionais, já que se compreende que cada sujeito possui a sua própria trajetória.

            No Brasil, as pesquisas referentes ao método avaliativo têm sido executadas somente para os ensinos Fundamental, Médio e Superior, deixando de fora a avaliação da Educação Infantil. Em vista disso, vale ressaltar que a avaliação não acontece somente no âmbito escolar, mas sim em todos os ambientes da sociedade, uma vez que a postura e o comportamento das pessoas ditam o perfil delas em qualquer relação estabelecida.

            Segundos os estudos de Luckesi (1995), as notas, a evasão, as reprovações e aprovações são, por vezes, mais significativas para a escola do que o conhecimento repassado e adquirido. A pedagogia do exame tem valido mais do que a pedagogia do ensino-aprendizagem. Sendo assim, o medo da reprovação e das notas baixas tem sido também a maior preocupação dos estudantes, e a construção do conhecimento que deveria ser a prioridade na vida escolar passa a exercer um papel secundário. Ou seja, o importante é alcançar a média e passar de ano.

            O fato que explica o porquê de não existir muitos estudos acerca da avaliação educacional de crianças de zero a cinco anos se dá pelo fato de que a Educação Infantil só passou a ser reconhecida como um direito a partir da Constituição Federal de 1988, a qual garante creche e pré-escola às crianças dessa faixa-etária. Além disso, a Educação Infantil é uma escolha da família, portanto, não-obrigatória. Assim sendo, a avaliação neste grau é um tanto quanto informal e subjetiva, já que a atribuição de notas e conceitos não é um fator obrigatório como passa a ser nos graus posteriores.

              O sistema não oferece condições para que a escola cumpra com o seu papel pelo fato de que o capitalismo visa mão de obra barata e cidadãos disciplinados, moldados somente para exercer ordens de superiores. Nessa perspectiva, a educação brasileira tem formado cidadãos aptos para o trabalho mecanicista, no qual os estudantes são orientados e instruídos a não serem críticos de modo que a única saída seja aceitar qualquer função que lhe dê pelo menos um prato de comida. Para quem não possui nada, a única solução é se submeter às condições que contrariam os direitos do homem. Quando o sistema de avaliação rotula as crianças e os jovens, quem ganha com isso são os donos das grandes riquezas que se perpetuam no poder por meio da exploração do mais fraco.

            Por muito tempo a criança foi vista como um sujeito sem direitos. No entanto, hoje, os pequenos conquistaram esse reconhecimento, conforme registrado na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente, os quais afirmam que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente o direito à vida, à saúde, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar além de protegê-las sobre quaisquer atos de violência.

            Mesmo com essas conquistas, sabemos que as crianças não têm usufruído desses direitos, uma vez que a mortalidade infantil no país é um fato alarmante. Além do mais, mesmo que o direito à vida fosse uma realidade, sabemos que os demais direitos também têm sido ausentes na vida delas. Ainda é comum vermos crianças fora da escola, nos semáforos, no meio de condições precárias no que se refere à moradia e saúde, além dos altos índices de criminalidade nos quais uma parte significativa é composto por crianças e adolescentes.

            A criança não está tendo a oportunidade de viver a sua infância de maneira lúdica e fantástica, pois desde cedo elas têm se submetido aos ensinos precoce da vida adulta, no que se refere à produção e ao consumo em massa, independente do sexo, cor, e condição social. Esse desrespeito que compromete a infância é prejudicial ao desenvolvimento afetivo, emocional, social, motor e cognitivo.

            Observar o cotidiano das crianças é a melhor maneira de vivenciar o contexto que elas vivem. Esse acompanhamento à realidade, é para Ludke (1986) o melhor método que aproxima o professor e a criança, assim como os desenhos produzidos por elas, pois é por meio destes que o adulto saberá de que forma a criança tem enxergado o mundo, já que ela é capaz de atribuir significados e construir a sua própria perspectiva às suas diversas experiências. Esse recurso proporciona ao professor um maior número de informações sobre o olhar da criança.

            O professor desde o início é quem elabora a construção das atividades que serão desenvolvidas pelas crianças. Nesse ínterim, nada é planejado a partir do dos interesses e das necessidades dos pequenos. Em vista disso, o professor é quem determina de que maneira o trabalho deve ser executado. No entanto, é recomendado que a criança também tenha um papel fundamental na elaboração das atividades, uma vez que as atividades precisam ser atrativas para elas também, e não simplesmente uma realização de trabalho dentro da sala de aula. As atividades escolares são vistas como funções importantes, enquanto as brincadeiras são vistas como passatempo, e ocupam um plano secundário.

            A avaliação infantil pode ocorrer de duas maneiras na escola: de um modo formal, no qual é atribuído nota ou conceito que classificam as crianças; e de um modo informal, o qual avalia todo o processo desde a elaboração das atividades às atitudes dos menores.

            A ideologia do trabalho como um ato supremo é estabelecida quando a brincadeira não tem um significado importante para o capitalismo. No entanto, esquece-se de que essa ação não tem de ser benéfica para esse sistema político e sim para a infância da criança.

            Carvalho diz que no mundo do trabalho não existe espaço para as brincadeiras, justificando que nessa ação não há nada benéfico para o capital. A sociedade não tem dado espaço para que o homem desenvolva a sua arte, pois a arte também é uma ciência que está entrelaçada ao pensamento crítico. Logo, todo aquilo que ameaça os interesses da tirania é censurado ou mal visto pela sociedade.

            Na Educação Infantil é muito comum que o acumulo de conhecimento e o acumulo de conteúdo escolares sejam mais valorizados do que as manifestações intelectuais. Por esse motivo é que a fantasia, o sonho, o lúdico, a brincadeira e outras formas de expressões artísticas são recorrentemente ignoradas.   

            A pré-escola é um sistema que tem ocupado a função de preparador para a ingressão no Ensino Fundamental. Os próprios pais valorizam mais o conhecimento e as informações adquiridas na escolinha do que as descobertas e as produções artísticas dos filhos. Ou seja, quando mais cedo a criança aprender a ler e a escrever, ela será vista como um crânio para aquela idade. Isso nos faz refletir sobre o valor da Educação Infantil.

            A Educação Infantil não necessita forçar o ensinamento precoce do Ensino Fundamental para que ela seja bem vista. Para isso existem os diferentes níveis pelos quais as crianças passarão e adquirirão conhecimentos mais profundos. Por isso, nesse primeiro estágio é de suma importância que as crianças tenham a inocência no olhar e nas mãos para sonharem e moldarem o mundo que elas quiserem.

            O lúdico é importante em todo o processo educativo, até mesmo para os adultos, pois a dinâmica é uma dimensão humana. O uso de técnicas e brinquedos em sala de aula torna o aprendizado mais atrativos e desperta o interesse. As crianças são muito visuais, então as cores também são de extrema importância nesse processo.

            O espaço físico onde a criança se encontra deve ser acolhedor, visto que a ausência da família é um problema que abala o emocional e a estrutura psicológica dos menores. Na ausência dos familiares a escola acaba desempenhando essa função, onde muitas vezes o ambiente escolar é também um refúgio.

            A ideia de que o acumulo de informações e conhecimentos são a garantia da aprendizagem rodeiam o nosso sistema educacional falho, e não se há uma previsão de mudança. A avaliação deve ser utilizada a favor da criança e não como uma ferramenta de punição. A avaliação tem de ser um instrumento positivo tanto para os mais novos quando para os mais velhos, de modo que não haja comparações, nem julgamentos, tampouco classificações, mas sim uma organização de trabalho que proporcione a todos um ambiente prazeroso que favoreça o crescimento saudável.   

As crianças se tornam estudantes a partir do momento que elas entram na escola. É muito difícil para um corpo cheio de energia que acabou de sair de uma creche onde realizava brincadeiras lúdicas, corria, brincava com outras crianças, pulava, dormia... ter de se comportar e permanecer sentado em uma cadeira durante quatro horas. Muitas vezes as crianças não compreendem o porquê dessa transição. Sentem-se como se perdessem a liberdade. Passam agora pelo processo de alfabetização, e quem não se “comporta” não recebe tal recompensa, não vai ao parque, etc.

O ser humano deve respeitar o tempo das coisas, pois tudo tem um momento certo para se desenvolver. Desde a flor que desabrocha à construção de um arranha-céu. O ser humano necessita viver cada fase de sua vida de maneira plena de modo que tenha boas recordações para serem expostas posteriormente. A antecipação das etapas acaba por comprometer a qualidade do momento em que se vive. Respeitar o tempo é uma virtude sábia daquele que possui amor a vida.