A sociedade é extremamente preconceituosa.

Estar desempregado, estar gordo, não ter curso superior, estar solteiro, não ter filhos ou ser corno, são estados em que nos encontramos em certos momentos de nossas vidas, durante um curto ou longo tempo ou até permanentemente, seja por imposição do destino ou por decisão pessoal.

O problema é encarar a vida social, passando uma dessas situações acima, ou (meu Deus do céu!) todas elas juntas.

Quando nos encontramos em um aniversário, por exemplo e estamos desempregados, sempre tem alguém que passa todo o tempo se gabando de ganhar uma fortuna vendendo alguma coisa ou que trabalha em três empregos.

O problema não é ter ou não sentimento de inveja por eles, ou mesmo ter uma depressão momentânea com a situação, o que enche o saco é que sempre nesses casos, tem alguém que te acha, mesmo escondido no pátio, atrás da maior folhagem da casa, com um copinho de cerveja na mão e te perguntam: "E você? Trabalha aonde?"

A vontade que temos é responder: "Sou cafetão da tua mãe!"

Resolvia o problema em uma fração de segundos. Mas não! Nós somos civilizados, embora, em certos momentos, morramos de saudades dos nossos ancestrais pré-históricos, que resolviam tudo com uma clava na mão.

Então, engolimos em seco, tossimos um pouco, tomamos um gole de cerveja, levantamos a cabeça e dizemos: "Estou fazendo uns trabalhos por conta, enquanto aguardo uma chamada de uma firma grande, nada importante!"

Eles te olham com aquele sorrisinho de padeiro que coloca meleca na massa do pão e dizem: "Sei!"

Não dá! Temos que evitar encontros sociais, enquanto estivermos desempregados, mesmo que alguém te diga que ali tem uma maior chance de fazer mais contatos.

Se a gente engordou é a mesma coisa, sempre tem alguém que chega em você e diz: "Mas você está gordo, hein!?"

Em seguida desfila um rosário de piadinhas sobre gordos que nem hiena ri.

Não tendo curso superior também, sempre tem uns papos sobre o último semestre e da terceira faculdade (quem mandou não saber jogar futebol!).

Se está solteiro, já te prepara para ouvir :"Não vai ficar titia solteirona a vida toda, né?"

Se não tem filhos, já vem a pergunta: "Vocês tem algum problema?" Dá vontade de responder: "Não. Nós só não queríamos que o nosso filho vivesse no mesmo mundo em que você vive!"

Pronto! Quem é o próximo?

Agora, quanto a ser ou estar corno, eu não posso escrever nada de concreto, pois não passei por essa experiência (que eu saiba), mas posso lhes garantir, que essas pessoas que discriminam a gente dessa maneira, certamente podem nos dar um belo relato pessoal sobre essa situação.

Sérgio Lisboa.