FRIEDRICH W. J. Von SCHELLING: Encontro do homem com a natureza

Por Jorge Ribeiro[1]
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O encontro do homem com a natureza tem o mais intenso ímpeto de realidade e de potência de sentido. Quanto mais seja consciente da sua força, mais se ergue ao encontro a alta majestade da existência, que o universo seja o primeiro e o último, o verdadeiro, o autêntico e o inatacável, ele não o põe em dúvida, porque “a ciência da natureza tocaria o cume da perfeição si se espiritualizasse perfeitamente todas as suas leis naturais e as leis da intuição e do pensamento”.

O homem nasceu para

“exercitar todas as suas forças num mundo que age sobre ele e que lhe faz sentir a própria potência e, que pode agir de comando: entre ele e o mundo não se deve estabelecer um abismo, entre eles deve ser possível o contato e a ação recíproca, porque somente assim o homem se torna homem”[2].

É no mesmo princípio surgido a partir do fundamento da natureza que o homem está separado de Deus, é o homem quando faz a sua união com o Espírito ideal, aí está também o princípio do mal, despertado na criação, pela emanação do fundamento escuro da natureza, que é o espírito da divisão da luz e das trevas, ao qual o espírito do amor se contrapões com um ideal superior.

Segundo Schelling, o nascimento do Espírito inicia o reino da história, assim como com o nascimento da luz tem início o reino da natureza, dessa forma, um é ao outro analogia e explicação. Agora, o mal não é outra coisa que primeiríssimo fundamento da existência, e, na medida que tende a uma atualização em um ser criado, não é de fato mais que a superior potência do fundamento que atua na natureza.

Apesar da dada divisão espírito/ natureza, luz/ trevas, existe uma certa identidade no homem, ou melhor, “No homem se encontra todo o poder do princípio escuro e também toda força da luz. Nele se encontra o abismo mais profundo e o céu mais elevado, ou ambos centros”.

Não poderíamos entender essa dada identidade existente no homem se não fosse a clarificação posta ulteriormente. Isto significa que:

“A vontade do homem é o germe oculto na ânsia eterna, é o raio de vida divina aprisionado na profundidade, pois o homem tem em si um princípio independente com relação a Deus, e é com esse mesmo princípio que se transfigura em luz, porque nele surge, ao mesmo tempo, algo mais elevado, o Espírito, o qual em sua eternidade expressa a unidade ou a palavra na natureza[3].”

A diferença do animal irracional e de todos os seres infra- humanos, o homem tem, por natureza, uma certa capacidade de ser senhor de si mesmo. É livre até certo ponto: até onde permite a sua própria natureza. Nem a sua liberdade é absoluta, nem tão pouco é absoluta a sua falta de liberdade. Pelo seu caráter de soberania e de liberdade, Deus se realiza através do homem, a liberdade eterna adquire a si mesma no saber humano, a sabedoria absoluta conhece a si mesma na consciência do homem. O homem conhece Deus porque Deus mesmo se conhece nele: o conhecimento que o homem há do princípio é o conhecimento que o princípio tem de si através dele; a auto- consciência do princípio é alcançável da parte do homem somente si a sua consciência é auto- consciência do princípio.

A liberdade é a seu modo um peso para o homem, e dessa forma podemos considerá-la, pois não faz falta para ele que nos sentimos abrumados pela sua carga ou que nos sentimos sobrecarregados. Nossa própria natureza pode ser vista também   como um peso, é por vezes necessário que assim a vejamos afim que possa ter a liberdade como qualquer coisa de <<honroso>>.

O inconseqüente é carregar todo o peso sobre a liberdade e aliviar, em troca, a liberdade. É em virtude do homem que a natureza contém os sinais da desordem, que  não consiste tanto em uma negatividade, mas quanto da posição do homem que pode se estancar do centro e romper o vínculo das forcas divinas: de  fato, é na proximidade do homem, seu cume e fatio, que a  natureza manifesta a marca do mal, da confusão e do sofrimento.

A presença do mal é universal, e como o mal, é presente o erro, a enfermidade, a morte. O afastamento do homem da posição central porta a insubordinação da natureza, onde a sua decadência, evidente no fato que as suas leis não são patentes, mas escondidas, que nela domina o acaso, que é  inquieta e permanece a estar fechada em si, que essa contém elementos negativos, como o veneno, a enfermidade, a morte.

A natureza profunda das coisas não revela a própria natureza à natureza sensível imediata, na qual o universo aparece, mas não se faz entender. Na experiência sensível imediata o universo aparece na forma de aparecer enganador, de um aparecer segundo de qualquer coisa que esse não é, porque o sentido se atua como uma presa de contato imediato, e o que ele revela, e nos limites a que se revela, não pode não ser autêntico.

Dessa forma, podemos chamar natureza “a totalidade dos elementos objetivos do nosso saber, ao passo que o conjunto de todos os elementos subjetivos se diz EU ou inteligência. Em início os dois conceitos são antitéticos, pois na origem a inteligência é concebida como o puro representativo,  a natureza como o puro representável; a inteligência como o consciente[4] e  a natureza como o inconsciente. Entretanto, em qualquer sorte de saber é necessário o mútuo concurso de ambas”.

 

[1] Estudou Teologia, filosofia e antropologia. Professor na Faculdade Catolica de Feira de Santana - Bahia

[2]  Einleitung zu den Ideen  ( trad. Ita., in Luigi Pareyson, Shelling.  Presentazione e antologia, Torino, 1975. P. 138 ). A citação dessa obra faremos com Ideen.

[3]  Philosophische Untersuchugen Uber das Wesen der menschlichen Freiheit und die damit zusanmenhangenden Gegenstande.   ( Trad. Esp. de Helena Cortés e Arturo Leyte. Investifaciones filosoficas sobre la  eséncia de la libertad human y los objetos com ella relacionados. Antropos, Barcelona, 1989. P. 117).

[4] Quando recordamos um objeto já visto, quando imaginamos um objeto semelhante àquele que já vimos, exprimimos uma noção e o nosso exprimir ( ou seja, o nosso ato conhecedor) não termina imediatamente à coisa conhecida, não é intuitivo. Quando percebemos uma coisa presente, acolhemos-la sempre parcialmente, inadequadamente. O conhecer é, sim, originariamente um intuir, mas o nosso conhecer é sempre um intuir a espaço e um reconstruir fatigoso desse espaçamento da coisa conhecida. Si exprimíssemos a coisa conhecida em si  mesma, exprimimos-la totalmente, em tudo o que essa é.